El emprendedor brasileño en el mapa tecnológico de países en desarrollo
Sieglinde Kindl da Cunha, Yára Lúcia Mazziotti Bulgacov y Maria Lucia Figueiredeo de Mesa
As empresas de base tecnológica se destacam pelo uso de novas tecnologias e pela capacidade de lançar produtos novos no mercado. Portanto, neste item usam-se esses dois indicadores para verificar o potencial de inovação dos alguns países selecionados, considerando esses indicadores como representativo dos empreendimentos de base tecnológica. Para analisar o potencial de mercado os indicadores utilizados são números de concorrentes no mercado e consumidores no mercado externo (exportação).
Entre os países que realizaram a pesquisa GEM em 2008, o Brasil apresenta-se com uma das mais baixas taxas de lançamento de produtos novos e de uso de tecnologias disponíveis a menos de 1 ano no mercado, indicando um baixo potencial de inovação dos empreendimentos brasileiros. Somente 3,3% dos empreendimentos têm capacidade de lançar produtos novos.
Para os empreendimentos iniciais o Brasil é o 41º, e para os empreendimentos já estabelecidos é o 37º em um ranking de 42 países. O interessante é que os empreendimentos iniciais dos países da América Latina (Chile, Argentina, Uruguai e Peru) são os primeiros no ranking de lançamentos de produtos novos para os consumidores. Para o Chile 40% dos empreendimentos iniciais lançam produtos novos, Argentina e Uruguai 30% e Peru 29%. Para os empreendimentos já estabelecidos essa posição se altera, mas continua elevada para estes países. O Chile é o primeiro país do ranking, com 43% de empreendedores lançando produtos novos, a Argentina com 28% e Peru com 21%.
Gráfico 1.
Proporção dos empreendimentos iniciais e estabelecidos que lancem produtos
novos para todos os consumidores por países selecionados - 2008
Fonte: GEM 2008.
O gráfico 1 mostra que, com exceção do Chile, Colômbia e Rússia, em todos os demais países selecionados o potencial de lançamento de produtos novos é menor nos empreendimentos estabelecidos que nos estabelecimentos iniciais. A maior taxa de lançamento de produtos novos na Rússia pode ser explicada pela necessidade de atualização tecnológica dos empreendimentos já estabelecidos após a exposição de suas empresas a concorrência do mundo capitalista. O Chile aparece como destaque na América Latina, pois tanto os empreendimentos novos como os empreendimentos já estabelecidos apresentam uma elevada taxa de lançamento de produtos novos. O perfil da economia chilena tem apontado para uma grande especialização em produtos de alto valor agregado em alguns nichos do mercado internacional, tais como pescados, vinhos e frutas. Esses empreendimentos buscam através do uso de novas tecnologias e de diferenciação dos produtos penetrarem competitivamente no mercado internacional.
A pior posição é a do Brasil, que se apresenta com baixíssimas taxas de lançamento de produtos novos tanto nos empreendimentos iniciais como nos estabelecidos.
Com relação aos países do BRIS, a Rússia e a África do Sul apresentam taxas de lançamento de produtos novos para todos os consumidores acima de 20%, estando também entre as 10 primeiras posições no ranking dos países pesquisados pelo GEM. Somente a Índia entre os países selecionados é que apresenta baixa participação de produtos novos lançados no mercado (10%), embora a proporção seja bem superior a do Brasil (3%).
Gráfico 2.
Proporção de Empreendimentos iniciais e estabelecidos que utilizem tecnologias
disponíveis no mercado a menos de 1 ano, por países selecionados - 2008
Fonte: GEM 2008.
O Brasil também apresenta a mais baixa proporção de uso de tecnologias novas em relação aos países selecionados (gráfico 2), somente 1,7% dos empreendimentos iniciais e 1,6% dos empreendimentos estabelecidos usam tecnologias com menos de um ano no mercado. No caso de uso de novas tecnologias também se destacam o Chile com 31%, Índia com 28% e África do Sul com 25%.
Os países da América Latina que se destacam com as maiores taxas de uso de novas tecnologias são o Chile e a Colômbia com respectivamente 31% e 18% dos empreendimentos iniciais. No entanto, o Chile tem um baixo índice de uso de tecnologias novas em empreendimentos estabelecidos. Nos países do BRIS a Índia apresenta uma proporção de 28% e a África do Sul 25% de empreendimentos que usam tecnologias novas. Na Índia também o índice de uso de novas tecnologias pelos empreendimentos já estabelecidos é muito baixo.
Em relação ao uso de tecnologias novas o Brasil também apresenta a mais baixa proporção quando comparada a aos países selecionados (gráfico 3), somente 1,7% dos empreendimentos iniciais e 1,6% dos empreendimentos estabelecidos usam tecnologias com menos de um ano disponível no mercado. No caso de uso de novas tecnologias o Chile mais uma vez se destaca com 31%, a Índia com 28% e a África do Sul com 25%.
Gráfico 3
Indicadores de lançamentos de novos produtos e uso de novas tecnologias
nos empreendimentos iniciais e estabelecidos em países selecionados
da América Latina e nos países do BRIS. America Latina BRIS
Fonte: GEM 2008
Utilizando o modelo de Potencial de Inovação e risco dos empreendimentos, que cruza as informações sobre o grau de conhecimento dos produtos no mercado com o uso de tecnologias disponíveis ou novas, este item fará um mapa da posição tecnológica dos empreendimentos em países selecionados da América Latina e do BRIS. (CUNHA, 2009)
A figura 2 mostra claramente que tanto em relação ao uso de novas tecnologias como em relação à novidade dos produtos dos empreendimentos iniciais e estabelecidos, o Brasil quase desaparece frente a concorrentes da América Latina e do BRIS. Esta é uma situação preocupante em economias baseadas em conhecimentos e em um mercado globalizado, onde a competitividade depende claramente do potencial inovador dos empreendimentos frente a seus concorrentes no mercado internacional.
Figura 2 Potencial de inovação e risco dos empreendimentos em países selecionados.
Fonte: GEM 2008, adaptado de Cunha, 2008.
A economia brasileira não é mais em uma economia fechada e protegida dos competidores inovadores internacionais. Hoje a posição brasileira no mercado mundial depende em grande parte do enfrentamento das questões do desenvolvimento sustentável. Não é com esse perfil de empreendedor que o Brasil irá enfrentar a competição violenta da China, Índia, Chile, isso sem falar dos países que já dominam o mercado mundial.
Sabe-se que os problemas sociais de desemprego e renda é que tem gerado um perfil de empreendedor brasileiro que busca solução para a miséria em atividades de baixo valor agregado. Esse empreendedor por necessidade está desprovido de informações sobre tecnologias e mercado, além de não dispor de recursos e de apoio financeiro, não possui formação e informação sobre a atividade empreendedora.
Os indicadores utilizados para analisar o potencial de mercado dos empreendimentos foram: número de concorrentes no mercado e consumidores externos (exportação). O indicador de quantidade de concorrentes mostra a estrutura de mercado do empreendimento. Se existem muitos concorrentes há indicações de uma estrutura de mercado concorrencial que se caracteriza por pequenos empreendimentos que concorrem por preço, que oferecem produtos conhecidos por todos no mercado, e usam tecnologias difundidas e maduras. Empreendimentos com poucos concorrentes estão em mercado mais oligopolizados, que se diferenciam dos concorrentes ofertando produtos diferenciados pelas inovações incrementais e usam tecnologias ou processos novos. Quando não existe concorrente no mercado, o empreendimento que esta lançando um produto novo e com novas tecnologias ganham poder de monopólio temporário que vai aos poucos se diluindo pela imitação e a entrada de concorrentes atraídos pelo lucro inicial do monopolista.
O outro indicador é o do potencial de exportação do empreendimento. Alguns empreendimentos iniciam suas atividades focadas nas exportações (75% a mais de consumidores externos, segundo a classificação do GEM). Esses empreendimentos de forma geral buscam competir no mercado através da inovação na corrida das vantagens competitivas internacionais. Outros empreendimentos buscam atender tanto o mercado interno como externo de forma complementar (25% a 75% dos consumidores externos), alternando fazes propicias para o mercado nacional ou internacional. E por último encontramos aqueles empreendedores que iniciam suas atividades focadas somente no mercado local e regional (menos de 25% de consumidores externos).
Para a comparação internacional do potencial de mercado, relacionam-se os dois indicadores por países da America Latina e do BRIS. Os resultados desta relação encontram-se na figura 3.
Figura 3 Potencial de mercado dos países selecionados em 2008
Fonte: GEM 2008, modelo adaptado de Cunha, 2008.
No quadrante 1, estão mapeados o Peru, Equador, Bolívia, México, Colômbia, Peru, Brasil e Índia. Os empreendimentos dos países neste quadrante são caracterizados por empresas em mercados concorrenciais, que concorrem via preço, normalmente pequenos empreendimentos induzidos pela necessidade de complementação de renda familiar ou por desemprego do chefe de família. São empreendimentos que não incorporam inovações de produtos e processos, que normalmente utilizam tecnologias maduras de fácil acesso e difundidas no mercado. Outra característica importante dos empreendimentos dos países desse quadrante é que oferecem produtos e serviços para o mercado local e regional, e não possuem expectativas de exportação. O Brasil é o país do quadrante 1, cujos empreendimentos têm menor expectativa de exportação, enquanto que na Índia o empreendimento tem maior expectativa de exportação. Todos os países no quadrante 1 possuem baixa renda per capita e elevada concentração de renda e, portanto, a maior parte dos empreendedores busca no empreendedorismo por necessidade uma alternativa de sobrevivência.
No quadrante 2 aparecem a Argentina, Chile e Rússia, países esses cujos empreendimentos se caracterizam por poucos concorrentes no mercado, são empresas que oferecem produtos com algum tipo de inovação e diferenciação de produtos e serviços. No entanto, os empreendimentos desses países ainda estão focados no mercado local ou nacional, principalmente a Rússia e a Argentina, uma vez que o Chile aparece com um maior coeficiente da abertura, que os demais países desse quadrante.
No quadrante 3 aparece o Uruguai e a África do Sul cujos empreendimentos apresentam um maior coeficiente de exportação e encontra-se em mercados mais oligopolizados, oferecendo produtos e serviços com inovações incrementais e mais diferenciados. Nenhum país selecionado aparece no quadrante 4.
Algumas especificidades devem ser destacadas em relação aos empreendimentos com alta expectativa de exportação dos países selecionados (Gráfico 4). No México os empreendimentos iniciais têm baixa expectativa de exportação, enquanto os empreendimentos estabelecidos apresentam expectativa de exportação bem mais elevada. Isto pode ter vinculação com as empresas maquiladores ou a forte relação do México com a economia americana, favorecendo a exportação dos empreendedores com maior experiência no mercado. A Rússia e a Índia também possuem maior expectativa de exportação dos empreendimentos estabelecidos em relação aos iniciais. Na África do Sul, Uruguai e Chile os empreendimentos iniciais e estabelecidos possuem elevada expectativa de exportação. Enquanto que no Brasil tanto os empreendimentos iniciais como os estabelecidos possuem expectativa de exportação extremamente baixa.
Gráfico 4 Empreendedores com expectativa de exportar entre 75 e 100% da produção.
Fonte: GEM 2008
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