El emprendedor brasileño en el mapa tecnológico de países en desarrollo
Sieglinde Kindl da Cunha* , Yára Lúcia Mazziotti Bulgacov** y Maria Lucia Figueiredeo de Mesa***
Recibido: 13-07-2009 - Aprobado: 01-10-2009
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RESUMEN: Este trabajo objetiva analizar el potencial de la innovación del emprendedor brasileño basado en la comparación de las condiciones emprendedoras de los países latinoamericanos con a las condiciones emprendedoras de los BRIS (Brasil, Rusia, India y Sudáfrica). Para eso, se utiliza el modelo potencial de innovación y riesgo, que adapta la matriz de mercado tecnológico de Thukral (2008) a las informaciones de potencial de innovación según la investigación GEM (Global Entrepreneurship Monitor). El emprendorismo brasileño está localizado en el extremo inferior del mapa tecnológico mundial. Las razones del bajo potencial tecnológico de los emprendimientos en Brasil se deben más a los factores sociales y ambientales que a los factores tecnológicos. Palabras claves: emprendedorismo, tecnología, países en desarrollo |
Este artigo tem por objetivo analisar o potencial de inovação do empreendedorismo brasileiro. Para tanto, compara-se as condições empreendedoras do Brasil em relação aos países da América Latina e do BRIS (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul), e identificam-se as características inovadoras, as fragilidades e potencialidades de implantação e desenvolvimento de empreendimentos inovadores no Brasil. Para a análise comparativa do Brasil em relação aos países selecionados utiliza-se a metodologia que relaciona o nível de conhecimento do produto lançado no mercado com o uso de novas tecnologias para classificar e caracterizar o empreendimento brasileiro.
Esse artigo está organizado em quatro seções. Após esta breve introdução será apresentado os conceitos utilizados neste artigo sobre empreendedorismo e inovação, destacando as características do empreendedorismo e da inovação nos países emergentes. A terceira parte deste artigo apresenta a metodologia e o modelo de potencial de inovação utilizado para a elaboração do mapa tecnológico dos países em desenvolvimento. A quarta seção analisa o empreendedorismo e a inovação nos países em desenvolvimento a luz dos conceitos do modelo desenvolvido para análise do mapa tecnológico e das informações da pesquisa GEM 2008. Por último, apresentam-se as considerações finais, comentando sobre as possíveis causas do baixo potencial inovador do empreendedorismo no Brasil em relação aos países me desenvolvimento.
Neste item será apresentado o conceito de empreendedorismo e inovação, as características dos novos empreendimentos em países em desenvolvidos de acordo com o modelo de Figueiredo (2004) e o modelo proposto para análise do mapa tecnológico dos empreendimentos inovadores e para a análise do potencial de mercado dos empreendimentos em países emergentes.
Para Schumpeter (1982), o empreendedor é o agente essencial do processo de desenvolvimento e sua ação consiste em realizar algo que normalmente não é feito na trajetória comum da rotina dos negócios. Inovação é chave para a criação de novas demandas por produtos e serviços e o empreendedor é o agente que inicia novos negócios para explorar essa inovação. O empreendedor é o “indivíduo” que destrói a ordem econômica existente por meio da introdução de novos produtos e serviços, criando novas formas organizacionais, abrindo novos mercados ou explorando novos materiais.
“Chamamos de ‘empreendimentos’ à realização de combinações novas; chamamos ‘empreendedores’ aos indivíduos cuja função é realizá-las. Esses conceitos são a um tempo mais amplos e mais restritos do que no uso comum. Mais amplos, porque em primeiro lugar chamamos ‘empreendedores’ não apenas aos homens de negócio ‘independentes’ em uma economia de trocas (...) mas a todos que de fato preenchem a função pela qual definimos o conceito, mesmo que sejam (...) empregados ‘dependentes' de uma companhia, como gerentes, membros da diretoria, etc. (...) não é necessário que ele deva ser conectado permanentemente com uma firma individual” SCHUMPETER, 1982, p.54).
A ação empreendedora, ao mesmo tempo em que responde pela geração de novas riquezas no sistema capitalista, também destrói os capitais obsoletos, as velhas estruturas e instituições, gerando instabilidades (através de desajustes na oferta, demanda e preços), causando redistribuição de riqueza e realocação de recursos. Ou seja, o conceito de empreendedor e da ação empreendedora se sustenta na força da destruição criadora, no conflito entre velhos e novos capitais, nas mudanças das estruturas sociais, culturais e político-institucionais.
Para Schumpeter (1982) o empreendedor não pode ser confundido com o gerente, administrador, empresário ou capitalista. Gerenciar, tomar decisões de rotina, fazer um negócio crescer de forma contínua não caracterizam uma ação empreendedora e sim a rotina de um gerente ou administrador. A organização de um novo negócio, utilizando tecnologias e rotinas já existentes no mercado, é caracterizada como uma ação empresarial e não uma ação empreendedora.
Os inovadores schumpeterianos são aqueles que lançam produtos novos para todos os mercados, que usam tecnologias desconhecidas, com expectativa de exportação e criação de empregos. São estes empreendedores que geram inovações radicais e incrementais e que são transformadores da economia e sociedade. Esse tipo de empreendedor está sempre vinculado: a um sistema de inovação, a ambientes com laboratórios avançados, a grupos de pesquisadores vinculados a universidades e incubadoras tecnológicas. Além disso, dispõe de apoio institucional tais como financiamento, assessoria e consultoria, apoio técnico e mão de obra especializada. Na sociedade do conhecimento, a realização de empreendimentos inovadores depende de ambientes propícios a inovação, e de políticas públicas (indústrias e tecnológica) fortemente focadas para reduzir os obstáculos e dificuldades iniciais da implantação do empreendimento.
Segundo a literatura sobre inovação (LALL, 2005; BELL E PAVITT, 1993; FIGUEIREDO, 2004), a capacidade de inovação de um empreendimento é evolutiva, ou seja, está armazenada, acumulada em quatro componentes:
Para Figueiredo (2004) as empresas em países em desenvolvimento que estão iniciando a sua trajetória de acumulação de capacidade tecnológica, normalmente seguem uma seqüência do tipo “investimento-produção-inovação”. O investimento inicial ocorre através de tecnologias já conhecidas e disponíveis no mercado. As empresas inovadoras dos países desenvolvidos que acumularam em sua trajetória capacidades tecnológicas, seguem a seqüência “inovação-investimento-produção”.
Figueiredo (2004) apresenta um modelo descritivo da trajetória das capacidades tecnológicas dos empreendimentos em economia emergentes, muito próximas às características do empreendedor brasileiro. O modelo apresenta uma trajetória dos empreendimentos classificada em três níveis de competências: básico, intermediário e avançado.
Os novos empreendimentos em sua fase inicial (básico) desenvolvem capacidades rotineiras, isto é, capacidade de usar ou operar novos processos de produção, sistemas organizacionais, produtos, equipamentos e projetos de engenharia. Esses empreendimentos seguem uma trajetória do tipo “investimento-produção-inovação” no qual o investimento inicial ocorre através da aquisição de tecnologias já conhecidas e disponíveis no mercado. Ou seja, as novas empresas empreendem basicamente através da aquisição de maquinarias, equipamentos e plantas industriais, possuem um baixo nível de conhecimento tácito e baixo nível de experiências adquiridas, ainda encontram-se em fase de implementação e desenvolvimento de rotinas organizacionais, gerenciais, procedimentos, processos e fluxos de produção e são raros os casos de empreendimentos que possuem laboratórios de P&D.
As empresas novas e em desenvolvimento adotam inovações quando percebem oportunidades de negócio, ou quando estão sob pressão de clientes e fornecedores. Além disso, o fato das empresas já estabelecidas no mercado terem um baixo coeficiente de uso de novas tecnologias é típico do padrão de industrialização das economias emergentes, cujos investimentos se sustentam na importação de máquinas e equipamentos já disponíveis no mercado internacional ou tecnologias difundidas em nível nacional.
Bell e Pavitt (1993) argumentam que essas firmas buscam acumular e aprofundar conhecimentos, habilidades e experiência para desenvolver uma trajetória de mudança incremental nos recursos, processos e produtos, potencializando sua capacidade de adquirir tecnologias de outras firmas e economias.
A imitação em um pequeno negócio com potencial de inovação é vista somente como um estágio da empresa iniciante rumo a níveis incrementalmente mais elevados de capacidade tecnológica. Estes empreendedores desempenham nas economias emergentes um papel fundamental no processo de catching up, e podem ser foco de uma política nacional de apoio ao desenvolvimento do empreendedorismo, através de políticas de financiamento, infra-estrutura de P&D, incentivos fiscais a inovação, políticas de cooperação e desenvolvimento tecnológico, políticas de desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais - APLs.
A capacidade inovadora das novas empresas depende de fatores vinculados ao acúmulo de capacidades tecnológicas, da estrutura de mercado, da organização do setor em que atuam e do sistema de inovação no qual estão inseridas.
As empresas inovadoras buscam ambientes propícios a formação de redes de empresas, redes de empresas com universidades e instituições de pesquisa, sistema normativo de estímulo e proteção à ação empreendedora e inovadora, fontes de financiamento, políticas de apoio ao desenvolvimento tecnológico e políticas macroeconômicas propícias ao desenvolvimento numa perspectiva de médios e longos prazos.
A introdução e a difusão das inovações vinculam-se a mecanismos de interação da empresa com o seu ambiente, no qual o aprendizado tecnológico está baseado no intercâmbio contínuo de informações entre produtores e usuários.
O desenvolvimento tecnológico avança e consolida-se através do intercâmbio de informações tácitas e codificadas. As práticas cooperativas apresentam-se como alternativas as empresas novas e em desenvolvimento: viabilizando as competências que são complementares ao conhecimento interno, aumentando sua eficiência produtiva e potencial inovativo; facilitando a identificação e a exploração de novas oportunidades tecnológicas e reduzindo os riscos impostos pela incerteza dos investimentos em P&D e as turbulências do mercado.
Sob as perspectivas econômica evolucionária, a inovação é entendida como sendo um processo que resulta de complexas interações em nível local, nacional e mundial entre indivíduos, firmas e outras organizações voltadas para a busca de capacitação tecnológica. A inovação vista pelas perspectivas das interações resulta no conceito de Sistema de Inovação, desenvolvidos iniciamente por Lundvall (1995) e Freeman e Peres (1998), entendido como os ambientes local ou nacional que possibilitam o desenvolvimento sistêmico e interativo do crescimento da inovação e da difução de tecnologia. Nesse conceito o desempenho inovativo não depende somente do desempenho das empresas e intituições, mas da forma como elas interagem e cooperam, gerando a longo prazo uma relação de aprendizado, conservação do conhecimento acumulado e capaciatação tecnológica das empresas e do sistema como um todo.