Espacios. Espacios. Vol. 30 (1) 2009. Pág. 5
Comunidades Virtuais como Ambiente Potencializador de Estratégias Mercadológicas: Locus de Informações e Troca de Experiências Vivenciadas
Virtual Communities as Environment Builders for Marketing Strategies: Locus for Information and Exchange of Real Experiences
Comunidades virtuales como ambiente propiciador de estrategias metodológicas: Locus para la información e intercambio de experiencias reales
Nelsio Rodrigues de Abreu, Renata Francisco Baldanza, Luiz Henrique de Barros Vilas Boas y Ricardo de Souza Sette
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“A Revolução Industrial foi para os produtores o que a Revolução Digital é para os consumidores” (Kucuk, Krishnamurthy, 2007, p. 47). Na internet, a tecnologia empregada funciona como força impulsionadora da criatividade humana, da imaginação, devido à visibilidade e à disponibilidade de material que circula na rede, permitindo que a comunicação se intensifique, ou seja, as ferramentas promovem o convívio, o contato, enfim, uma maior aproximação entre as pessoas, entre outras tantas possibilidades.
Observou-se neste estudo que, os membros de comunidades virtuais sobre turismo realizam trocas de informações espontaneamente, apresentando dados e suas experiências sobre produtos e serviços turísticos aos demais participantes. Desse modo, gera-se um debate interativo sobre o tema em questão e cada um toma sua decisão de consumir ou não determinado produto/serviço turístico, levando em consideração as informações obtidas, suas exigências e expectativas, suas referências e experiências pessoais, dependendo do seu nível cultural. Neste novo contexto, os participantes podem ter voz ativa e liberdade de argumentação, dependendo exclusivamente de seu empenho e vontade de participar de forma interativa e argumentativa nos assuntos de seu interesse.
Os resultados obtidos também demonstram que, os membros de comunidades virtuais participam desta nova modalidade de interação social buscando alternativas para desenvolver novos conhecimentos e novas amizades e, além das trocas pessoais de informações. Também discutem suas experiências sobre determinados produtos ou serviços, objetivando trocar informações, sugestões e contra-argumentar com as empresas e não somente receber uma mensagem publicitária para aquisição de um produto ou serviço, sem a possibilidade de análise ou comparação. Verificou-se assim que, a internet potencializa a troca de informações entre consumidores, bem como com as empresas, ou seja, as interações ocorridas em comunidades virtuais sobre turismo influenciam no processo de tomada de decisão de consumo de produtos/serviços turísticos dos integrantes da comunidade virtual.
Apesar do enfoque turístico deste estudo, a discussão a seguir, não precisa, necessariamente, ficar restrita ao segmento turístico, devendo ser adequada aos tipos produtos ou serviços à área de interesse dos participantes de comunidades virtuais. Percebe-se, atualmente, uma maior ênfase nos relacionamentos de interatividade nas transações comerciais entre vendedores e consumidores, em que este último faz uso das novas tecnologias para sua evolução e aplicabilidade. Portanto, uma nova abordagem deve ser criada para atender às expectativas deste exigente e bem informado público que constitui as comunidades virtuais de consumo. Nesse sentido, o uso de comunidades virtuais procurar ir além da promoção de relacionamento, mas, principalmente, a interatividade em tempo real e fornecimento de informações, sem, necessariamente, estar se tentando vender ou transacionar algum objeto, e sim, compartilhar informações.
Desse modo, trabalha-se com a informação qualificada - as experiências vivenciadas –, no qual as pessoas buscam a experiência do outro - o relato desta experiência, assim, as pessoas não são seduzidas pelo excesso de informação encontrada em sites especializados. As pessoas não perdem o senso crítico de que a informação pode ter sido construída tendenciosamente para influenciar o consumidor - abordagem do marketing transacional em sites especializados. Enquanto que a informação obtida por meio de outros membros da comunidade virtual é distinta das encontradas em sites especializados, pois não serão omitidos fatores positivos e negativos do produto/serviço turístico discutido/analisado.
A diferença com o marketing transacional é a forma na transmissão da informação. Na natureza transacional, a mensagem apenas informará aspectos positivos, ou seja, informar e não necessariamente retratar, enquanto na comunidade virtual são disponibilizadas informações dos pontos positivos e negativos, permitindo ao consumidor escolher e preveni-se de estratagema de empresários antiéticos. Estas informações são disponibilizadas por outras pessoas que passam credibilidade, porque, a princípio, as pessoas não teriam razões para mentir.
O ponto central deste argumento é que a informação é obtida de pessoas implicadas no processo da geração da mesma, pois elas transmitem informações com autoridade, devido à experiência vivencial da situação - dados concretos. Estas informações devem ser exploradas pelas empresas e disponibilizadas aos seus visitantes, dando, assim, credibilidade e liberdade de escolha em participar e interagir com a empresa e com os demais participantes da comunidade virtual.
Estas formas interativas de comunicação e informações propiciam ao segmento turístico um grande diferencial estratégico, no momento que começarem a dialogar com seus consumidores e, ao mesmo tempo, que têm a possibilidade de acompanhar o diálogo entre os consumidores por meio de comunidades virtuais. Justamente por a informação ter sua origem em fonte supostamente neutra, ela manifesta-se menos filtrada por mecanismos de percepção, como a exposição seletiva a mensagens e a dispersão de atenção, fenômenos mais comuns nas informações provenientes de campanhas publicitárias.
Diante do exposto, as comunidades virtuais tornam-se adequadas para a efetivação, uma vez que elas possibilitam não somente o contato direto entre a empresa e o cliente, mas também a interação entre cliente/cliente. Outro ponto a ser considerado é que, além da possibilidade da aquisição de informações imparciais por parte dos clientes, as próprias empresas podem se beneficiar e utilizar essas informações, que relatam anseios e expectativas, para aprimorar seus produtos ou serviços e oferecê-los de forma satisfatória, ou mesmo reparar algum possível erro. Uma vez que, como se constatou neste estudo, as comunidades são fontes de informação e se estes dados forem captados adequadamente, servirão de insumos para inovar na formulação de estratégias mercadológicas, que podem ser aplicadas não somente no setor turístico, mas também em outros ramos de atividade.
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