The industry of hospital products and the support infrastructure in the inward of São Paulo's State
La industria de productos hospitalarios y de infraestructura de apoyo en el interior del estado de São Paulo
José Henrique Souza y Josmar Cappa
O quadro descrito sugere que uma política pública de apoio aos fabricantes nacionais de produtos médicos é uma necessidade. Não se trata, obviamente, de políticas intervensionistas ditadas de cima para baixo, como já ocorreu no passado. É possível o trabalho em conjunto do governo com a iniciativa privada. O Estado pode desenvolver novas estruturas de governo e relacionamento com os agentes econômicos restabelecendo a capacidade de governo e eliminando o clientelismo, a corrupção, a ineficiência e o intervencionismo. Já as empresas podem criar um modelo de competitividade sistêmica na qual toda a cadeia de suprimentos esteja voltada para a obtenção da eficiência e da inovação. Para isso, as empresas de material médico-hospitalar necessitam desenvolver inter-relações com o sistema nacional de inovação, isto é, com as instituições de pesquisa, ensino e treinamento, e com as consultorias privadas, instituições de crédito e as redes de fornecedores de intermediários, bens de capital e serviços.
É possível promover um ambiente inovador com regulamentos e pressões competitivas provenientes da busca por inovações pelos fabricantes, dos mercados interno e externo, do governo, dos hospitais e das agências reguladoras. As exigências e o estabelecimento de padrões de qualidade de produtos e processos de fabricação promovidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são exemplos de boas medidas nessa direção. O incentivo às atividades tecnológicas e de pesquisa e extensão para pequenas empresas também podem receber a atenção do setor público.
Muitas pequenas e médias empresas necessitam de informações básicas sobre o mercado nacional e externo que podem ser disponibilizadas através de estudos encomendados por Ministérios ou agências de financiamento e fomento. A exemplo do que ocorre em países desenvolvidos o Estado pode encomendar estudos setoriais ou pesquisas pré-comercial para disponibilizar às empresas.
Incentivar Arranjos Produtivos pode criar rotinas coletivas de inovação e difusão tecnológica, melhoria no “design” e diminuição nos custos da produção e logística. Também pode incentivar a interação entre as empresas favorecendo as micros e pequenas produtoras de bens finais ou de peças, partes, componentes e serviços. A colaboração entre empresas é fundamental para o avanço tecnológico, para diminuir custos, melhorar o processo produtivo e facilitar a inovação.O trabalho conjunto entre empresas também diminui as desconfianças e ativa o desenvolvimento de parcerias estratégicas.
Grande parte do consumo de produtos para saúde, da oferta tecnológica e do financiamento às empresas está sob controle do Estado. Assim, o governo brasileiro possui condições excelentes para melhorar a integração produtiva da indústria de material médico-hospitalar já instalada no Brasil. Por meio do financiamento público é possível incentivar a difusão tecnológica, a especialização industrial e as conexões entre a demanda, a tecnologia das universidades e dos centros de pesquisa e a capacidade produtiva local.
O desenvolvimento produtivo e tecnológico do segmento industrial de bens para a saúde requer investimento em pesquisa, financiamento ao capital de risco, incubadores de tecnologia, estímulo à concentração das empresas e, muitas vezes, encomendas pioneiras. Por isso, a política de compra do Estado pode ser, também no Brasil, um instrumento eficaz para gerar demanda, testar e desenvolver bens e serviços estratégicos, desde que seja transparente, temporária e reservada a segmentos estratégicos.
Para que as empresas do setor de produtos médicos possam evoluir e conquistar fatias cada vez maiores nos mercados nacional e internacional é preciso o estabelecimento de canais eficazes de abastecimento e de escoamento. Além disso, infra-estruturas como os Centros de Distribuição de Produtos Brasileiros no Exterior (CDs) e o apoio para que as empresas nacionais obtenham registros internacionais na Europa e Estados Unidos também são importantes fatores de competitividade dos fabricantes brasileiros (Akitaya, 2006 e MDIC/ASCOM, 2006).
O aeroporto industrial envolve um complexo arranjo legal entre a Infraero, a Receita Federal e a Câmara de Comércio Exterior. Por representar um entreposto aduaneiro na zona primária dos terminais aeroportuários classificados pela Infraero como internacionais, são realizados, nele, o primeiro pouso e a última decolagem de aeronaves estrangeiras, conforme determinações da International Civil Aviation Organisation (ICAO). Trata-se de uma área do aeroporto destinada para a instalação de empresas, especialmente aquelas que operam no sistema “just-in-time”. O aeroporto industrial contempla espaços físicos para manutenção, reparos e pinturas em aeronaves e para os chamados “caminhos de um dia” (one day walk); ou seja, redes internacionais de distribuição entre centros industriais ou pólos tecnológicos que permitem negociar peças, partes e componentes. É o caso, por exemplo, da rede formada por Toledo, Atlanta e Dallas nos EUA (Jarach,2001 ; Marques, 2002). Também pode intercambiar produtos perecíveis permitindo que a colheita esteja à disposição dos consumidores de outros países no dia seguinte à colheita.
No aeroporto industrial os custos de produção das empresas são reduzidos devido à ausência de gastos com seguro e à suspensão ou redução de impostos e tarifas que incidem sobre a movimentação local e internacional de bens. Além disso, a redução do tempo de produção com a dispensa dos desembaraços aduaneiros (embarque, desembarque e liberação de cargas), o aumento do número de vôos internacionais com a ampliação do mercado facilitam os negócios para as empresas que necessitam atender seus clientes com maior rapidez e eficiência. Um centro de negócios e serviços, no interior da cidade aeroportuária, completa uma infra-estrutura de suporte aos negócios como: salas para conferências, teleconferências, reuniões, salas vip e hotéis.
O Aeroporto Internacional de Viracopos, na condição de maior centro cargueiro da América Latina, representará um novo elemento para as estratégias que poderão ser adotadas pelas empresas instaladas no Brasil, especialmente aquelas diretamente ligadas ao comércio internacional. Hoje, os aeroportos exercem novas funções como centro produtivo (aeroporto industrial) e de negócios e serviços. Fazem parte do processo produtivo de diversos segmentos econômicos ao oferecerem, com rapidez e eficiência. apoio logístico e de comunicação.
A região de Campinas, além de contar com o Aeroporto Internacional de Viracopos, conta com um complexo sistema de rodovias e ferrovias. Assim, o dilema entre rapidez no ar, oferecido pelo transporte aéreo, e a lentidão na terra, provocada pelos congestionamentos nas rodovias das grandes cidades, fica reduzido. Nessa área, as empresas brasileiras de produtos médicos podem contar com uma vantagem competitiva no mercado internacional de produtos médicos. Entretanto, é preciso uma estratégia de desenvolvimento das exportações que envolva o apoio público e incorpore tanto assistência tecnológica, técnicas em estratégia exportadora e uma otimização da infra-estrutura viária disponível.
De acordo com os dados organizados por essa pesquisa, nota-se uma concentração de fabricantes de produtos médicos na região de influência direta do Centro Cargueiro de Viracopos. Nessa região, a infra-estrutura tecnológica e de transporte associada à expansão da estrutura de serviços tecnológicos e certificação pode promover a competitividade das empresas nacionais. O Aeroporto Internacional de Viracopos, por suas dimensões e possibilidades pode viabilizar uma nova expansão tecnológica e produtiva regional. Atualmente, as indústrias brasileiras do setor médico continuam apresentando uma considerável perda de competitividade. O apoio da infra-estrutura tecnológica e de transporte que essa indústria vem recebendo em países desenvolvidos e emergentes e a distância tecnológica das empresas brasileiras frente aos seus concorrentes externos demonstram que ainda há um longo caminho pela frente em termos de trabalho conjunto entre o Estado, a iniciativa privada e os principais elementos do sistema nacional de inovação.