Espacios. Vol.29 (2) 2008. Pág. 20

A indústria de produtos hospitalares e a infra-estrutura de apoio no interior do estado de São Paulo

The industry of hospital products and the support infrastructure in the inward of São Paulo's State

La industria de productos hospitalarios y de infraestructura de apoyo en el interior del estado de São Paulo

José Henrique Souza y Josmar Cappa


5 - As Empresas Brasileiras de Produtos Médicos na Região Próxima a Viracopos

Os dados da RAIS apresentados na tabela 09 demonstram a concentração de empresas ligadas ao ramo da saúde no Estado de São Paulo. Este estado tem predominância de empresas de materiais e instrumentos médicos, mas, em termos absolutos concentra mais empresas do que qualquer outro estado, nas cinco classes de fabricantes. Os dados da RAIS demonstram que o Estado de São Paulo concentra mais de 45% dos fabricantes de produtos médicos do país. Das 2.620 empresas encontradas na RAIS, 1.187 estão em solo paulista. O segundo estado que mais tem fabricantes, Minas Gerais, é sede de apenas 267 empresas.

Prevalecem em todos os estados as empresas fabricantes de aparelhos e instrumentos para usos médico-hospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos (37,3%). Tal tendência, entretanto, é mais acentuada nos estados do Paraná e Santa Catarina com 55,4% e 47,8%, respectivamente. Rio de Janeiro e Goiás têm uma participação grande de fabricantes de medicamentos e, também, de instrumentos.

Tabela 9- Número de Empresas Industriais e de Manutenção de Produtos Médicos Por Estados

Classes: Fabricantes de...

TOTAL

MG

RJ

SP

PR

SC

RS

GO

Produtos farmoquímicos

197

17

37

52

16

11

15

15

Medicamentos para uso humano

647

68

81

256

34

25

47

35

Materiais para usos médicos, hospitalares e odontológicos

411

50

27

198

33

16

20

14

Aparelhos e instrumentos para usos médico-hospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos

1.154

117

76

541

108

55

80

37

Aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto equipamentos para controle de processos industriais

211

15

13

140

4

8

25

0

Total

2.620

267

234

1.187

195

115

187

101

Fonte: Rais. Elaboração dos autores.

Utilizando uma segunda fonte de dados (cadastro da Abimo e de Fornecedores), concentrando o estudo no Estado de São Paulo e apenas em empresas produtoras de equipamentos e insumos médicos, isto é, exceto medicamentos, também pode-se notar o alto grau de concentração regional dessas indústrias. As empresas brasileiras de produtos médicos, exceto medicamentos, estão concentradas no estado de São Paulo (cerca de 75% dos fabricantes do país). Nesse estado foram identificadas 325 empresas e, aumentando o detalhamento para o nível de municípios, observa-se que, 192 delas (45%) estão na capital. O segundo município paulista com mais fabricantes é Ribeirão Preto com 18 empresas (4,16%), seguido de Campinas com 11, Barueri com 10 e Rio Claro, também com 10 empresas.

Considerando um polígono próximo à Viracopos compreendendo a Região Metropolitana de São Paulo e as cidades no entorno de Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto e São Carlos encontram-se 304 (70,2%) das 433 empresas de produtos médicos localizadas por nossa pesquisa.

Tabela 10 - Polígono Paulista de Fabricantes de Produtos Médicos

Cidade

Número de fabricantes

% do Total Nacional

São Paulo

192

44,3%

Ribeirão Preto

18

4,2%

Campinas - Região Metropolitana

14

3,2%

Barueri

10

2,3%

Rio Claro

10

2,3%

Diadema

7

1,6%

Guarulhos

6

1,4%

Osasco

6

1,4%

São Carlos

6

1,4%

São Caetano do Sul

5

1,2%

Cidades com três fabricantes: Amparo, Cotia e São Roque

9

2,1%

Cidades com dois fabricantes: Itu, Mogi das Cruzes, Piracicaba e Sorocaba

8

2,0%

Total Regional

304

70,2%

Total Nacional

433

100,0%

Fonte: pesquisa dos autores

É conhecido o fato de que a concentração industrial pode ter impactos positivos na cadeia produtiva, especialmente se ocorre especialização e vínculos com agentes de apoio (instituições de classe, ensino, pesquisa, crédito e governo). Um número significativo de empresas que atuam em torno de uma atividade produtiva principal pode se beneficiar de uma infra-estrutura comum de apoio e da ampliação de fornecedores de insumos, máquinas, materiais, serviços industriais ou pesquisas universitárias. Pode-se tratar, nesse caso, da formação de um Arranjo Produtivo Local (APL).

Cassiolato e Szapiro (2003) acrescentam outras condições favoráveis, como, por exemplo: mão-de-obra qualificada; atividades correlacionadas; articulação externa para escoar a produção e captar tecnologia; interdependência entre as empresas e demais agentes; cooperação, solidariedade e reciprocidade e instituições locais capazes de promover o desenvolvimento, a inovação e o fluxo de informações sobre tecnologia e mercado.

A região do “polígono paulista de fabricantes de produtos médicos” concentra perto de 300 empresas e importantes centros formadores de mão-de-obra especializada tanto de nível técnico quanto superior. A área também conta com infra-estruturas de apoio à distribuição e ao contato com o mercado externo, grande número de hospitais e a presença de renomados centros pesquisa. A concentração de poder de compra, infra-estrutura e capacidade produtiva nessa região é um fator favorável para o avanço externo das empresas de produtos médico-hospitalares. O problema, portanto, é saber como o poder público poderia otimizar equipamentos como Viracopos, a infra-estrutura viária e a oferta tecnológica, a demanda hospitalar e a capacidade produtiva da indústria local de bens para a saúde humana.

O desenvolvimento industrial envolve o “upgrading” tecnológico de produtos ou processo, a entrada em atividades novas, crescimento do conteúdo local e controle de tarefas industriais tecnologicamente mais complexas. Para isso, a indústria local precisa entrar em segmentos mais sofisticados e que apresentem maiores riscos, curvas de aprendizagem, valor agregado e possibilidades expansão futura, como os dados internacionais do comércio de produtos médicos demonstram.

O apoio público, a exemplo do que ocorre nos países europeus e em países em desenvolvimento como Coréia e China, pode viabilizar a ampliação do uso da infra-estrutura física e humana necessárias à capacitação tecnológica empresarial. Disponibilizar serviços de apoio técnico, de informação e de pesquisa, desenvolvimento e transporte pode reduzir a vulnerabilidade das empresas brasileiras de produtos médicos. Caso contrário, essas indústrias podem tender a se dedicar apenas à fabricação de produtos de baixo conteúdo de conhecimento, ou as mudanças na fronteira logística e tecnológica mundiais continuarão a solapar as vantagens competitivas já adquiridas.

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