José Henrique Souza y André Tosi Furtado
A década de 1990 apresentou uma elevação brutal das importações brasileiras, sobretudo a partir de 1992. As exportações também se elevam, mas a um ritmo bem menor, o que resultou nos enormes déficits comerciais a partir de 1995.
A política antiinflacionária pós 1994 baseada na valorização cambial e na abertura comercial levou a uma aceleração no crescimento das importações. O cenário montado após a implantação do Plano Real implicou em uma situação competitiva nova para as empresas nacionais. Vários setores industriais não se prepararam para enfrentar a concorrência de produtos estrangeiros, muitas vezes mais baratos e de qualidade superior. A falta de competitividade da indústria nacional, agravada pela valorização da taxa de câmbio após 1994, teve como resultado o fechamento ou perda de competitividade externa de inúmeras empresas brasileiras. Desempenho decepcionante também ocorreu com as exportações.
A partir de 2002, porém, a situação comercial brasileira começou a melhorar. O país passou a ter saldos comerciais positivos passando a atingir 1% das exportações mundiais em 2004, conforme pode ser observado na tabela 01.
Tabela 1 Comércio Externo Brasileiro e Exportações Mundiais de Mercadorias 1997/2004(US$ 1000.000 preços correntes
|
|
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
Mundo |
Exportações |
5.577.407 |
5.496.187 |
5.706.796 |
6.446.612 |
6.185.752 |
6.481.167 |
7.546.225 |
9.123.515 |
Mundo |
Importações |
5.725.300 |
5.664.589 |
5.902.078 |
6.705.874 |
6.467.558 |
6.718.225 |
7.818.462 |
9.458.265 |
Brasil |
Exportações |
52.994 |
51.140 |
48.011 |
55.086 |
58.223 |
60.362 |
73.084 |
96.474 |
Brasil |
Importações |
64.996 |
60.600 |
51.671 |
58.631 |
58.351 |
49.603 |
50.697 |
65.904 |
Participação do Brasil nas Exportações Mundiais |
0,95 |
0,93 |
0,84 |
0,85 |
0,94 |
0,93 |
0,97 |
1,06 |
Fonte: Word Trade Organization. Elaboração dos autores
Entretanto, essa situação mais favorável do mercado externo brasileiro desperta indagações a respeito do comportamento externo de segmentos industriais que podem ser considerados como de “segurança para a saúde pública”. Uma questão que se coloca é qual o saldo comercial dos ramos industriais que produzem bens para a saúde no Brasil? A tabela 02 abaixo mostra que o comportamento do comércio externo brasileiro de produtos médicos não vem demonstrando grande sucesso. Vem ocorrendo uma elevação do déficit comercial e aumento da dependência externa em relação a produtos médicos o que sugere que pode estar ocorrendo uma perda gradativa de competitividade e destruição de segmentos industriais.
O comércio entre nações cresceu acentuadamente nas últimas décadas, sobretudo nos últimos cinco anos. O comércio entre países a preços correntes partiu de US$ 58,00 bilhões em 1948 para mais de US$ 9,5 trilhões em 2004. Na tabela 03 pode-se observar que, entre 1997 e 2004, as exportações mundiais de mercadorias cresceram mais de 160%. Nas exportações mundiais os produtos médicos participam com menos de 4%. Em 1997 os produtos médicos respondiam por 2,08% do comércio internacional e chegando a 3,4% em 2003 e 3,38% em 2004.
Aproveitando a expansão acelerada do comércio internacional de produtos médicos o Brasil conseguiu elevar seu volume exportado de forma significativa. Entre 1997 e 2004 as exportações de produtos médicos cresceram mais de 91%. Ocorre que a forte expansão das exportações brasileiras de produtos médicos não diminuiu o déficit do segmento. Dada a enorme diferença entre o que o Brasil importa e exporta o comportamento do saldo negativo, por volta de US$ 1,9 bilhão, é determinado quase que exclusivamente pelo movimento das importações.
O Brasil acumula déficit comercial nos 4 grupos pesquisados. A situação é particularmente grave nos grupos medicamento e produtos farmacêuticos que registram déficits crescentes. Em produtos farmacêuticos o déficit chegou a US$ 800 milhões e medicamentos a quase US$ 1,0 bilhão em 2004 apesar das exportações de remédios terem crescido mais de 140%.
Equipamentos de diagnósticos e instrumentos médicos apresentam déficits decrescentes. Tal melhora decorre da diminuição das importações e da expansão das exportações, sobretudo de instrumentos médicos que ampliou as exportações em 157,7%.
Tabela 2 Balança Comercial Brasileira de Produtos Médicos: 1997/2004 em US$ 1000 a preços correntes
EXPORTAÇÕES |
||||||||
GRUPOS |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
Farmacêuticos |
119.182 |
111.911 |
106.962 |
113.367 |
108.795 |
101.579 |
111.106 |
156.027 |
Medicamentos |
98.109 |
136.231 |
170.855 |
152.916 |
168.423 |
184.103 |
202.015 |
237.880 |
Equipamentos |
8.272 |
8.647 |
7.072 |
7.843 |
8.816 |
10.562 |
11.117 |
11.021 |
Instrumentos |
41.552 |
48.265 |
46.806 |
52.560 |
54.543 |
72.044 |
81.844 |
107.109 |
Total |
267.115 |
305.054 |
331.695 |
326.686 |
340.577 |
368.288 |
406.082 |
512.037 |
IMPORTAÇÕES |
||||||||
Farmacêuticos |
672.857 |
659.626 |
821.435 |
766.194 |
851.049 |
870.514 |
834.542 |
963.054 |
Medicamentos |
788.564 |
946.705 |
1.129.083 |
1.038.061 |
1.059.129 |
1.060.336 |
1.051.544 |
1.234.627 |
Equipamentos |
356.610 |
421.242 |
271.615 |
225.554 |
337.951 |
249.565 |
170.926 |
209.155 |
Instrumentos |
220.944 |
210.761 |
159.186 |
190.620 |
205.823 |
187.096 |
161.196 |
191.258 |
Total |
2.038.975 |
2.238.334 |
2.381.319 |
2.220.429 |
2.453.952 |
2.367.511 |
2.218.208 |
2.598.094 |
SALDO |
||||||||
Farmacêuticos |
(553.675) |
(547.715) |
(714.473) |
(652.827) |
(742.254) |
(768.935) |
(723.436) |
(807.027) |
Medicamentos |
(690.455) |
(810.474) |
(958.228) |
(885.145) |
(890.706) |
(876.233) |
(849.529) |
(996.747) |
Equipamentos |
(348.338) |
(412.595) |
(264.543) |
(217.711) |
(329.135) |
(239.003) |
(159.809) |
(198.134) |
Instrumentos |
(179.392) |
(162.496) |
(112.380) |
(138.060) |
(151.280) |
(115.052) |
(79.352) |
(84.149) |
Total |
(1.771.860) |
(1.933.280) |
(2.049.624) |
(1.893.743) |
(2.113.375) |
(1.999.223) |
(1.812.126) |
(2.086.057) |
Fonte: UNCTAD/WTO/ITC, 2004, 2005 e 2006.
Na tabela 03 é possível notar que o segmento de produtos para a saúde cresceu de forma intensa. De 1997 a 2004 o volume exportado a preços correntes quase triplicou passando de US$ 115 bilhões para mais de US$ 309 bilhões, isto é 3,38% das exportações mundiais (US$ 9,15 trilhões). Se a taxa de crescimento anual das exportações repetir o que ocorreu entre 2001 e 2004 é provável que as exportações em 2005 tenham chegado a US$ 370 bilhões. Somente remédios e produtos farmacêuticos juntos chegaram a ser o sexto grupo de produtos com o maior valor exportado entre 2002 e 2003 (2,67% das exportações mundiais). Perderam apenas para veículos, petróleo, válvulas e transistores, equipamentos de telecomunicação e computadores (Unctad, 2005: 177)
Tabela 3 - Exportações Mundiais de Produtos para a Saúde 1997-2004 em US$ 1000 a preços correntes
GRUPOS [1] |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
Medicamentos |
54.535.188 |
64.568.800 |
73.054.359 |
75.149.581 |
96.735.728 |
123.662.585 |
149.595.517 |
184.273.066 |
Farmacêuticos |
27.311.184 |
28.679.670 |
30.686.225 |
31.189.517 |
35.008.393 |
40.415.843 |
49.810.238 |
59.436.561 |
Instrumentos |
21.469.495 |
22.779.337 |
24.591.790 |
25.575.498 |
28.450.309 |
30.428.982 |
37.638.415 |
43.617.079 |
Equipamentos |
12.607.737 |
13.431.979 |
13.657.986 |
14.400.049 |
15.245.453 |
16.435.705 |
19.522.719 |
22.481.035 |
TOTAL |
115.923.604 |
129.459.786 |
141.990.360 |
146.314.645 |
175.439.883 |
210.943.115 |
256.566.889 |
309.807.741 |
Exportações Mundiais [2] |
5.581.000.000 |
5.498.000.000 |
5.712.000.000 |
6.449.000.000 |
6.183.000.000 |
6.482.000.000 |
7.551.000.000 |
9.153.000.000 |
Participação nas Exportações Mundiais |
2,08% |
2,35% |
2,49% |
2,27% |
2,84% |
3,25% |
3,40% |
3,38% |
Fonte: [1] UNCTAD/WTO 2004 , 2005 e 2006
Fonte: [2] Word Trade Organization. 2006
Na a indústria de produtos para a saúde o maior volume corresponde a medicamentos com cerca de 60% das exportações (tabela 04). Em seguida estão os segmentos de produtos farmacêuticos (19,18%), instrumentos médicos (14,08%) e Equipamentos de diagnóstico (7,26%). Perto de US$ 184 bilhões do comércio internacional de produtos médicos se devem às exportações de medicamentos inclusive veterinários.
Elaboração do autor
----
Tabela 4 - Exportações Mundiais de Produtos Médicos 1997-2004 (% de cada Grupo)
GRUPOS |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
Medicamentos |
47,04 |
49,88 |
51,45 |
51,36 |
55,14 |
58,62 |
58,31 |
59,48 |
Farmacêuticos |
23,56 |
22,15 |
21,61 |
21,32 |
19,95 |
19,16 |
19,41 |
19,18 |
Instrumentos |
18,52 |
17,60 |
17,32 |
17,48 |
16,22 |
14,43 |
14,67 |
14,08 |
Equipamentos |
10,88 |
10,38 |
9,62 |
9,84 |
8,69 |
7,79 |
7,61 |
7,26 |
TOTAL |
100,00 |
100,00 |
100,00 |
100,00 |
100,00 |
100,00 |
100,00 |
100,00 |
Fonte: UNCTAD/WTO 2004 , 2005 e 2006.
As exportações de produtos médicos cresceram em média 15,27% entre 1997 e 2004. Manteve uma média de crescimento próximo a 20% nos últimos quatro anos estudados (tabela 05), taxa superior ao crescimento das exportações mundiais totais, das exportações mundiais de manufaturados e do PIB mundial. Também foi superior aos 12,1% que o setor apresentou nas décadas de 1980 e 1990 (Unctad, 2004: 93).
As taxas de crescimento das exportações de produtos médicos diferem segundo o segmento. Entre 1997 e 2004 as vendas internacionais de medicamentos cresceram mais de 300%. Entre 2001 e 2004 os grupos de produtos farmacêuticos e de instrumentos médicos triplicaram enquanto as exportações de Equipamentos de diagnóstico superaram 178%.
Tabela 5 - Comércio Mundial Total, de Manufaturados e de Produtos Médicos: 1997-2004: taxa anual de Crescimento
GRUPOS [1] |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
Média 1997/04 |
Crescimento 1997/04 |
Medicamentos |
|
18,40% |
13,14% |
2,87% |
28,72% |
27,84% |
20,97% |
23,18% |
19,30% |
337,90% |
Farmacêuticos |
|
5,01% |
7,00% |
1,64% |
12,24% |
15,45% |
23,24% |
19,33% |
11,99% |
217,63% |
Instrumentos |
|
6,10% |
7,96% |
4,00% |
11,24% |
6,95% |
23,69% |
15,88% |
10,83% |
203,16% |
Equipamentos |
|
6,54% |
1,68% |
5,43% |
5,87% |
7,81% |
18,78% |
15,15% |
8,75% |
178,31% |
TOTAL |
|
11,68% |
9,68% |
3,05% |
19,91% |
20,24% |
21,63% |
20,75% |
15,27% |
267,25% |
Comércio Mundial [2] |
0,22% |
-3,13% |
2,26% |
9,93% |
-7,28% |
3,18% |
13,76% |
18,96% |
4,74% |
164,00% |
Exportações de Manufaturados [2] |
4,64% |
2,26% |
3,33% |
10,06% |
-3,81% |
5,39% |
15,50% |
19,69% |
7,13% |
|
PIB Mundial [2] |
3,40% |
2,11% |
2,87% |
3,84% |
1,33% |
1,57% |
2,33% |
3,70% |
2,64% |
|
Fontes: [1]: UNCTAD/WTO 2004 , 2005 e 2006.
[2]: WTO. International Trade Statistic 2005.
Mesmo em momentos de baixa no comércio mundial de manufaturados, como em 2001, as vendas internacionais de produtos médicos mantiveram uma alta taxa de crescimento. Entre 1980 e 2001 as exportações do segmento de produtos médicos cresceram acima das exportações de produtos manufaturados, 12,1% contra 8,8%, respectivamente (Unctad, 2004: 93) o que revela uma elasticidade renda maior do que a dos manufaturados.
Entre 1997 e 2004 vários países aproveitaram o grande dinamismo no mercado de produtos médicos para elevar suas exportações, como foram os casos da Espanha, China, México e Canadá. Mesmo países de economias menores, como Grécia, Costa Rica, República Tcheca e Malásia aproveitaram o bom momento do comércio mundial de produtos médicos para ultrapassar os volumes exportados por economias industriais maiores e mais complexas como a Rússia e o Brasil.
Na tabela 06 pode-se ver que apenas 10 países controlavam 80,41% das exportações de produtos médicos em 2004. Somente nove países exportavam acima de US$ 10 bilhões. Alemanha, Estados Unidos, Bélgica, Reino Unido, Suíça, França, Irlanda, Holanda e Itália controlam 77% do volume exportado. Nesse grupo não se encontram vários países desenvolvidos[i] o que revela que o nível de concentração nas exportações do segmento de produtos médicos é superior ao nível de concentração do valor agregado do setor manufatureiro. Segundo a UNCTAD (2004: 89), os países desenvolvidos são responsáveis por 73,6% do valor adicionado do setor manufatureiro enquanto os nove países citados acima controlavam 73,74% das exportações de produtos médicos em 1997 e 77% em 2004.
Em termos de volume importado (tabela 07) os Estados Unidos, o maior comprador, em 2004, importou mais de US$ 50 bilhões, cerca de 16% de todos os produtos médicos importados no mundo. Dos dez maiores importadores, oito estão entre os 10 maiores exportadores. Considerando os dez maiores exportadores e os dez maiores importadores somente Japão e Estados Unidos não pertencem a União Européia. Esses dados refletem, para o setor de produtos médicos, o fato de que grande parte do comércio internacional ocorre entre países ricos e que participam de blocos econômicos.
Tabela 6 - Os 10 Maiores Exportadores de Produtos para a Saúde e o Brasil: 1997-2004 em US$ 1.000
|
País |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
% do Total 2004 |
% acumu-lada |
1 |
ALEMANHA |
16.820.298 |
19.886.120 |
20.511.787 |
18.288.120 |
24.409.274 |
23.961.305 |
32.366.302 |
44.463.909 |
14,35% |
|
2 |
ESTADOS UNIDOS |
17.690.145 |
19.382.232 |
21.615.210 |
24.085.995 |
27.646.772 |
28.002.149 |
31.996.911 |
37.790.422 |
12,20% |
26,55% |
3 |
BÉLGICA |
5.808.287 |
6.482.577 |
7.743.794 |
8.135.367 |
10.779.220 |
23.151.953 |
27.320.987 |
32.966.508 |
10,64% |
37,19% |
4 |
REINO UNIDO |
10.716.737 |
11.553.105 |
11.833.923 |
12.601.590 |
14.976.228 |
17.279.700 |
21.938.921 |
25.319.151 |
8,17% |
45,36% |
5 |
SUIÇA |
9.083.759 |
10.805.042 |
12.384.047 |
11.575.185 |
14.427.021 |
16.984.144 |
20.145.118 |
24.650.257 |
7,96% |
53,32% |
6 |
FRANÇA |
9.497.919 |
11.035.266 |
11.939.957 |
12.098.540 |
14.964.214 |
17.507.340 |
21.091.398 |
23.976.232 |
7,74% |
61,06% |
7 |
IRLANDA |
4.496.200 |
5.975.093 |
6.394.448 |
6.248.978 |
9.481.269 |
16.544.674 |
18.537.749 |
22.948.215 |
7,41% |
68,47% |
8 |
HOLANDA |
5.934.430 |
5.720.504 |
6.851.209 |
7.062.277 |
7.515.069 |
9.411.853 |
12.217.843 |
15.811.899 |
5,10% |
73,57% |
9 |
ITÁLIA |
5.435.320 |
5.956.824 |
6.657.403 |
7.473.472 |
8.544.028 |
10.309.664 |
11.818.147 |
12.945.284 |
4,18% |
77,75% |
10 |
SUÉCIA |
3.937.150 |
4.488.400 |
4.822.080 |
4.754.213 |
4.973.004 |
5.568.148 |
7.608.417 |
8.255.483 |
2,66% |
80,41% |
32 |
BRASIL |
267.115 |
305.054 |
331.695 |
326.686 |
340.577 |
368.288 |
406.082 |
512.037 |
0,17% |
|
Fonte: UNCTAD/WTO 2004 , 2005 e 2006.
Os 10 maiores importadores compraram 60% dos produtos médicos comercializados no mercado internacional em 1997 e 70% em 2004. Apenas 30, de um total de 179 países importaram, em 1997, 87,26% de todos os produtos médicos negociados no mercado externo e mais de 91% em 2004. Cinco países, Estados Unidos, Bélgica, Alemanha, Reino Unido e França, importaram metade de todos os produtos para a saúde em 2004. Desse modo, está aumentando o já elevado grau de centralização da produção, da competitividade e do poder de compra de produtos para saúde.
A Irlanda, com exportações de quase US$ 23 bilhões e importações de menos de US$ 3 bilhões, apresentou um saldo comercial no segmento de mais de US$ 20 bilhões em 2004. Na outra ponta os Estados unidos exportando cerca de US$ 37 bilhões e importando acima de US$ 50 bilhões chegaram a um déficit de quase US$ 13 bilhões no último ano pesquisado. A maior economia do planeta saiu de um superávit de mais de US$ 3,2 bilhões em 1997 (o quarto maior) para o maior saldo negativo entre 179 países em 2003 e 2004.
Nos Estados Unidos somente a indústria de remédios é responsável por um déficit que pulou de US$ 1,9 bilhão, em 1997, para mais de US$ 13,7 bilhões de em 2004. A única indústria que apresenta saldo positivo constante é a de produtos farmacêuticos. A indústria de Equipamentos de diagnósticos regrediu de um superávit de US$ 1,2 bilhão para um déficit de US$ 256 milhões. O mesmo ocorreu com instrumentos médicos que saiu de um superávit de US$ 2,7 bilhões para um déficit de US$ 703 milhões.
Tabela 7 - Os 10 Maiores Importadores de Produtos para a Saúde e o Brasil: 1997-2004 em US$ 1.000
|
País |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
% do Total 2004 |
% acumulada |
1 |
ESTADOS UNIDOS |
14.413.156 |
17.437.460 |
21.014.532 |
23.146.349 |
28.029.219 |
35.748.626 |
44.484.106 |
50.785.707 |
16,28% |
|
2 |
BÉLGICA |
4.688.297 |
5.841.733 |
6.550.650 |
7.120.607 |
9.976.972 |
22.467.896 |
27.373.363 |
34.412.555 |
11,03% |
27,32% |
3 |
ALEMANHA |
9.998.904 |
11.529.695 |
12.098.783 |
11.906.864 |
14.185.212 |
21.207.897 |
25.107.584 |
31.342.868 |
10,05% |
37,37% |
4 |
REINO UNIDO |
6.815.314 |
7.376.175 |
8.460.278 |
9.217.154 |
11.432.309 |
13.796.153 |
16.676.028 |
19.706.148 |
6,32% |
43,68% |
5 |
FRANÇA |
7.992.632 |
9.401.423 |
9.988.572 |
10.042.945 |
11.762.354 |
13.557.907 |
16.384.343 |
19.381.661 |
6,21% |
49,90% |
6 |
ITÁLIA |
6.153.638 |
6.944.122 |
7.860.656 |
7.671.387 |
8.819.927 |
10.682.058 |
12.995.587 |
15.356.772 |
4,92% |
54,82% |
7 |
HOLANDA |
4.892.445 |
4.759.927 |
6.024.717 |
5.896.102 |
7.068.871 |
8.932.149 |
10.694.641 |
14.091.968 |
4,52% |
59,34% |
8 |
SUIÇA |
4.058.554 |
4.691.199 |
5.629.328 |
5.830.554 |
7.484.860 |
8.966.454 |
10.577.577 |
12.571.272 |
4,03% |
63,37% |
9 |
JAPÃO |
7.263.496 |
6.675.237 |
7.855.496 |
8.404.895 |
8.919.379 |
9.207.823 |
10.147.386 |
11.700.195 |
3,75% |
67,12% |
10 |
ESPANHA |
3.370.120 |
3.888.470 |
4.573.261 |
4.616.950 |
5.412.183 |
6.887.347 |
8.720.473 |
9.988.148 |
3,20% |
70,32% |
24 |
BRASIL |
2.038.975 |
2.238.334 |
2.381.319 |
2.220.429 |
2.453.952 |
2.367.511 |
2.218.208 |
2.598.094 |
0,83% |
|
Fonte: UNCTAD/WTO 2004 , 2005 e 2006.
O Brasil ocupa a vigésima quarta posição entre os importadores de produtos médicos e a trigésima segunda posição entre os exportadores. Exporta apenas 0,17% de todos os produtos médicos negociados entre países, mas importa 0,83% desses mesmos produtos (tabelas 06 e 07). Tal desequilíbrio torna o país um dos mais deficitários do mundo. Conforme pode ser observado na tabela 09 o Brasil só não tem um saldo negativo maior do que dez países entre 179.
Tabela 8 - Os Maiores Saldos Positivos 1997-2004 em US$ 1.000
|
Saldo 1997-2004 em US$ 1.000: total dos grupos 541, 542, 774 e 872 |
||||||||
|
País |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
1 |
IRLANDA |
3.246.339 |
4.595.502 |
4.715.680 |
4.214.040 |
7.174.001 |
14.077.965 |
15.673.393 |
20.071.087 |
2 |
ALEMANHA |
6.821.394 |
8.356.425 |
8.413.004 |
6.381.256 |
10.224.062 |
2.753.408 |
7.258.718 |
13.121.041 |
3 |
SUIÇA |
5.025.205 |
6.113.843 |
6.754.719 |
5.744.631 |
6.942.161 |
8.017.690 |
9.567.541 |
12.078.985 |
4 |
REINO UNIDO |
3.901.423 |
4.176.930 |
3.373.645 |
3.384.436 |
3.543.919 |
3.483.547 |
5.262.893 |
5.613.003 |
5 |
SUÉCIA |
2.122.756 |
2.542.241 |
2.704.458 |
2.891.096 |
2.957.128 |
3.119.988 |
4.772.344 |
5.054.516 |
6 |
FRANÇA |
1.505.287 |
1.633.843 |
1.951.385 |
2.055.595 |
3.201.860 |
3.949.433 |
4.707.055 |
4.594.571 |
7 |
DINAMARCA |
1.650.816 |
1.528.798 |
2.122.048 |
2.179.752 |
2.528.659 |
2.742.511 |
3.479.453 |
3.833.553 |
8 |
HOLANDA |
1.041.985 |
960.577 |
826.492 |
1.166.175 |
446.198 |
479.704 |
1.523.202 |
1.719.931 |
9 |
INDIA |
339.122 |
320.585 |
502.670 |
648.926 |
655.035 |
927.285 |
1.169.453 |
1.342.944 |
10 |
ISRAEL |
258.830 |
317.086 |
242.725 |
210.562 |
415.272 |
500.578 |
459.435 |
1.181.645 |
Fonte: Elaboração dos autores.
Pode-se notar que o que diferencia o Brasil dos demais países cronicamente deficitários é que seu saldo negativo não vem se agravando. Canadá, Espanha, Japão e Austrália praticamente dobraram seus déficits em 7 anos. Itália, Estados Unidos e Turquia mais que triplicaram seus saldos negativos no mesmo período.
A estrutura das exportações brasileira é semelhante à do comércio internacional de produtos médicos. Porém, é mais acentuada para produtos farmacêuticos e instrumentos médicos do que o mercado mundial. Essa distribuição sugere que o Brasil consegue se inserir nos segmentos com menos tecnologia e engenharia incorporada. Nos segmentos que demandam grandes investimentos em P&D e engenharia, como medicamentos e Equipamentos de diagnóstico, o Brasil não se sai tão bem.
Tabela 9 - Os Maiores Saldos Negativos 1997-2004 em US$ 1.000
|
País |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
164 |
BÉLGICA |
1.119.990 |
640.844 |
1.193.144 |
1.014.760 |
802.248 |
684.057 |
-52.376 |
-1.446.047 |
165 |
REP. TCHECA |
-735.325 |
-636.898 |
-671.254 |
-647.240 |
-728.723 |
-927.312 |
-1.249.658 |
-1.499.151 |
166 |
REP. COREIA |
-919.435 |
-376.937 |
-660.939 |
-771.046 |
-958.791 |
-1.233.809 |
-1.406.268 |
-1.689.540 |
167 |
HONG KONG |
-1.721.324 |
-1.639.143 |
-1.494.820 |
-1.488.701 |
-1.516.034 |
-1.458.997 |
-1.493.020 |
-1.705.048 |
168 |
PORTUGAL |
-667.608 |
-751.838 |
-972.508 |
-821.537 |
-957.502 |
-1.174.936 |
-1.539.045 |
-1.877.083 |
169 |
BRASIL |
-1.771.860 |
-1.933.280 |
-2.049.624 |
-1.893.743 |
-2.113.375 |
-1.999.223 |
-1.812.126 |
-2.086.057 |
170 |
ITÁLIA |
-718.318 |
-987.298 |
-1.203.253 |
-197.915 |
-275.899 |
-372.394 |
-1.177.440 |
-2.411.488 |
171 |
GRÉCIA |
-1.155.263 |
-1.218.394 |
-1.288.460 |
-1.129.418 |
-1.083.175 |
-861.531 |
-1.923.326 |
-2.483.450 |
172 |
POLÔNIA |
-1.305.700 |
-1.625.436 |
-1.531.642 |
-1.643.716 |
-1.909.982 |
-2.090.287 |
-2.383.515 |
-2.709.298 |
173 |
TURQUIA |
-929.253 |
-1.305.410 |
-1.396.373 |
-1.452.722 |
-1.379.278 |
-1.751.085 |
-2.332.634 |
-3.110.776 |
174 |
AUSTRALIA |
-1.413.232 |
-1.648.586 |
-1.745.770 |
-1.628.946 |
-1.492.648 |
-2.186.185 |
-2.635.984 |
-3.577.746 |
175 |
FED. RUSSA |
-2.502.807 |
-2.198.004 |
-1.341.319 |
-1.613.620 |
-2.550.737 |
-2.134.863 |
-3.067.115 |
-3.666.183 |
176 |
JAPÃO |
-1.968.814 |
-1.504.699 |
-2.085.239 |
-2.251.648 |
-2.882.082 |
-3.037.435 |
-3.175.524 |
-3.694.741 |
177 |
ESPANHA |
-1.534.001 |
-1.785.356 |
-2.306.590 |
-2.198.093 |
-2.604.159 |
-2.787.991 |
-3.666.400 |
-4.471.845 |
178 |
CANADA |
-2.036.382 |
-2.481.099 |
-3.127.224 |
-3.565.864 |
-3.991.797 |
-4.374.302 |
-4.910.415 |
-5.199.485 |
179 |
ESTADOS UNIDOS |
3.276.989 |
1.944.772 |
600.678 |
939.646 |
-382.447 |
-7.746.477 |
-12.487.195 |
-12.995.285 |
Fonte: Elaboração dos autores.
[i] Como Canadá, Espanha, Japão e Suécia.