ISSN 0798 1015

logo

Vol. 40 (Nº 5) Ano 2019. Pág. 11

Concepções de Paulo Freire acerca das teorias da aprendizagem

Conceptions of Paulo Freire about learning theories

LIRA, Joselma Dantas Braga de 1; SILVA, Luciene Santos da 2; SANTOS, Juliene Matias dos 3; QUEIROZ, Rucenita Leite de 4; BITTENCOURT, Anne Karenina 5; GOMES, Italo Bruno 6; COUTINHO, Diogenes José Gusmão 7

Recebido: 16/09/2018 • Aprovado: 20/12/2018 • Publicado 11/02/2019


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Revisão da literatura

4. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

O objetivo desta pesquisa partiu da necessidade dos professores ampliar o seu conhecimento em função do querer apender. Dessa forma, a experiência de aprender torna-se difícil para algumas crianças, implicando em um sentimento de desvalorização e baixa estima, com prejuízo do seu desenvolvimento global. Partindo deste pressuposto, sentiu-se a necessidade em escrever sobre a temática em xeque e seguindo uma linhagem freiriana, busca-se estratégias e novas discussões sobre as teorias da aprendizagem e o porquê de muitos indivíduos não conseguirem avançar neste processo.
Palavras chiave: Teorias de Aprendizagem. Ensino. Desenvolvimento. Dificuldades

ABSTRACT:

The objective of this research was based on the need of teachers to expand their knowledge in function of wanting to understand. In this way, the experience of learning becomes difficult for some children, implying a feeling of devaluation and low esteem, with prejudice of their overall development. Based on this assumption, we felt the need to write about the theme in question and following a Freirian lineage, we are looking for strategies and new discussions about the theories of learning and why many individuals fail to progress in this process.
Keywords: Learning Theories. Teaching. Development. Difficulties

1. Introdução

Todo ser humano nasce com a capacidade de apender, podendo desenvolver esta capacidade ao longo de toda a sua vida. Alguns aprendizados não necessitam de um professor (Firdaus, 2017). Os reflexos e instintos são o ponto de partida da aprendizagem, o que vai sendo melhorado à medida que a criança é exposta a outras pessoas que já adquiriram tais capacidades. Outros aprendizados, por representarem conquistas da cultura humana, devem ser passados de forma estruturada para que possam ser adequadamente absorvidos pela criança.

A leitura e a escrita, assim como o cálculo, os esportes e as artes mais elaboradas representam os principais exemplos, sendo parte do que chamamos de aprendizado escolar. Obviamente, entre estes dois polos, há uma gama de variações entre um aprendizado mais intuitivo e o ensinado, mesmo porque, sempre há aqueles que aprendem sozinhos e os que só com outrem. E, esses na verdade, estão reproduzindo por imitação erros e acertos, experimentação e incorporando de forma autodidata o conhecimento socialmente construído.

 O que se deve entender é que aprender exige tanto o aparato biológico, a prontidão neurocognitiva, quanto o ensino, mais ou menos estruturado e os estímulos ambientais. “O aprendizado escolar é uma etapa essencial ao desenvolvimento intelectual da criança” Giusta (2013, p. 13). É na escola que ela receberá conhecimentos que a tornarão apta a ingressar, plenamente, na sociedade. Aprender neste sentido, representa uma mistura complexa de diversos elementos, e, quando um indivíduo apresenta problemas para desenvolver sua aprendizagem, todas essas facetas precisam ser analisadas, a fim de melhor conduzir este indivíduo.

Neste ponto, a escola encontra seu importante papel, na preparação do currículo escolar (Grollios, 2016), levando em consideração à flexibilização do currículo, a contextualização, a aplicação no cotidiano prático do aluno, o exercício, os exemplos de cunho regional e local, auxiliando assim no processo de ensino e aprendizagem. A educação também tem seu papel social e político (Lázaro, 2016), trazendo discussões pertinentes do cenário da sociedade, podendo influenciar na formação de cidadãos críticos. Madero (2015) cita também a importância da escola na formação ética, moral, através também do ensino religioso.

O modelo de Paulo Freire é uma alternativa viável em inúmeros países (Abdullah et al., 2016), várias idades (Clark, Seider, 2017), em diferentes áreas do conhecimento (Eadon-Sinkinson, 2017), no ensino superior (Kolb, Kolb, 2017), infantil, fundamental e médio (Morrison, 2016), gerando mudanças significativas em modelos educacionais em todo o mundo (Gadotti, 2017).

Diante dessas questões e inquietações, foi que se buscou descrever sobre a temática da teoria da aprendizagem na visão freiriana com ênfase nas dificuldades do processo de ensino e de como a criança deve ser alfabetizada sem que sejam atropeladas nem queimadas etapas deste processo, identificando-se em sala de aula as causas do não aprender que impedem a evolução do indivíduo no delinear de sua trajetória escolar, interferindo assim, na desenvoltura do desenvolvimento integral do mesmo.

2. Metodologia

O presente trabalho trata-se de uma revisão sistemática de literatura de caracter integrativo, de cunho qualitativo, utilizando artigos e livros da literatura. De forma qualitativa pretende-se descrever as teorias e práticas a luz de Paulo Freire no tocante a aprendizagem (FLICK, 2009).

A revisão integrativa permite um entendimento amplo dos estudos anteriores e uma análise sistemática do que se tem publicado na literatura sobre a temática. Trazendo discussões aprofundadas e contrapondo teorias (MENDES et al, 2008). As buscas foram realizadas nas bases de dados eletrônicos da Scientific Electronic Library Online (Sci-ELO), e livros acadêmicos. Foram utilizados os seguintes termos de busca: “Paulo Freire”, “teorias freirianas”, “pedagogia de Paulo Freire”, “processo de aprendizagem”.

3. Revisão da literatura

3.1 Concepções de Paulo Freire acerca das teorias da aprendizagem

Paulo Freire, considerado o mais célebre educador brasileiro, reconhecido internacionalmente pelo seu método de alfabetização de adultos, também desenvolveu o pensamento pedagógico e sempre se mostrou assumidamente político por considerar que a educação transforma o homem e o objetivo mais amplo é fazer o aluno um ser pensante e consciente, levando-o a entender sua situação e promovendo o processo de sua própria libertação (Pena et al., 2018).

Em seus escritos, Freire criticava a ideia de que ensinar é transmitir o saber, pelo fato de que para ele o dever do docente é garantir, possibilitar, promover, gerar e manter os conhecimentos de mundo e da vida. Para este autor, não valia a concepção de que o aluno necessita só de condições facilitadoras para o auto aprendizado, prevendo assim, para o professor, um papel diretivo e informativo, pois media a relação entre o aluno e o conhecimento, mas não como verdade absoluta, “mesmo porque ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas. Os homens são educados entre si mediados pelo mundo” (Zluhan, Raitz, 2014, p. 432).

Diante dessa premissa também se destaca que o aluno alfabetizado ou não, chega à escola, trazendo sua cultura que não é melhor nem pior do que a do professor. Existe uma necessidade de se compreender que ambos atores sociais Professor e aluno devem aprender no processo de ensino e aprendizagem, através de ligações afetivas, o que permite ao aluno se expressar perante os fatos, teorias e aprendizagens. Essa é uma das grandes inovações da pedagogia freiriana, considerar que o sujeito é fruto da criação cultural, nunca é individual (Rugut, Osman, 2013).

Assim como Vygotsky, Freire (1987), também diz que a valorização da cultura do aluno é a chave para o progresso da conscientização preconizado e este é dado ênfase em seu método de alfabetização formulado inicialmente para o ensino de adultos, onde propõe-se a identificação e catalogação das palavras chave do vocabulário dos alunos, ou seja, as palavras geradoras. Elas deverão promover condições, oportunizar experiências da vida comuns e significativas para os integrantes da comunidade e realidade dos alunos.

Partindo deste pressuposto, Freire sugeriu que o professor deve trabalhar a palavra e representação visual do objeto que ela designa. Os mecanismos de linguagem serão estudados depois do desenvolvimento em sílabas das palavras geradoras (Pena et al., 2018). O conjunto expressões e palavras devem construir e gerar possibilidades silábicas e permitir o estudo de todas as situações que podem ocorrer durante a leitura e a escrita. Assim, o aluno é levado a ler o mundo, aprende a ler a realidade, quebrando o silêncio e transformando a realidade como sujeito de sua própria história. (Freire, 1987).

O referido autor pontua ainda a ideia de que tudo está em permanente transformação e interação. Por isso, destaca-se que seu ponto de vista baseia-se na concepção do ser humano como histórico e inacabado, bem como sempre pronto a aprender. Contudo, Freire (1987, p. 43), defende um ensino que valorize: “o homem, desenvolva suas capacidades e corresponda com a própria natureza do ser humano que é de se humanizar dentro da sociedade, configurando-se participante e principalmente transformador de uma realidade injusta e discriminatória”.

Para isso, se faz necessário que primeiramente haja uma modificação das relações afetivas e socioculturais dentro da práxis pedagógica, sendo o docente e o discente agentes ativos no processo de aprendizagem, gerando formas mútuas de significações e ressignificações.  Ambos, sujeitos do processo em que crescem juntos. Ainda de acordo com Freire (1987, p.46): “aquele que se apropria do aprendido transformando-o em apreendido, com o que pode por isso mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existentes, e concretas”.

Assim, vale destacar que:

Este é um pensar que percebe a realidade como processo, que capta em constante definir e não como algo estático. Não se dicotomiza a si mesmo na ação. Banha-se permanentemente de temporalidade cujos riscos não teme (Freire, 1987, p. 47).

O autor supracitado diz também que, todo esse processo está caracterizado pelo domínio da concepção plena de educação. Educar passa a ser concebido como um ato de depositar todo um saber para o aluno. E assim, é pertinente que se complemente este raciocínio destacando que:

Falar da realidade como algo passado, estático, compartimentado e bem-comportado… nem sendo a suprema inquietação desta educação… nela o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa é encher os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados de totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. (Freire, 1987, p. 33).

Também é de extrema importância destacar que dentro do contexto de educação de massas, exclusão escolar, desfragmentação e desarticulação da comunidade com a escola, Freire dá sua contribuição para a formação desta sociedade ao construir um projeto educacional libertador. Nele, o autor destaca a importância da indissociação da elaboração e promoção de aprendizagem da leitura e da escrita, bem como da politização humana (Lázaro, 2016; Mayes et al., 2017).

Nesta perspectiva, frisa-se que:

Não existe educação neutra. A educação é uma construção e reconstrução contínua de significados de uma realidade. Ela prevê a ação do homem sobre essa realidade. …portanto, sua ação e reflexão podem alterá-la, relativizá-la ou transformá-la. (Freire, 1987, p. 48).

Portanto, considera-se que o espaço da sala de aula precisa ser democrático, dialógico e criativo para poder fluir e a escola possa se tornar viva. Afinal, é possível aprender a ser democrata com métodos que produzam o autoritarismo. Neste contexto, a educação precisa ser compreendida ao mesmo tempo como um ato político, como um ato de conhecimento e como um ato criador e mais eficaz. (Gadotti, 1996; Gadotti, 2017; Ryynänen, Nivala, 2017).

Sendo assim, caminha-se na visão de que ensinar busca indagar, constatar e intervir. Ensinar é um ato que precisa por si só de apropriação de inúmeros conhecimentos, e exige uma constante troca de saberes. Nesse processo, ocorre o respeito aos saberes empíricos, saberes de mundo, vivencias e experiências, troca de informações novas, lidando de forma digna com o senso comum e a capacidade de criar, criticar e crescer de cada um (Halman, Baker, 2016). Para Freire (1987), a verdadeira aprendizagem é aquela que transforma o sujeito. Os saberes ensinados são reconstituídos pelos educandos e educadores. É a partir de uma ressignificação do eu pensante, inovador, critico, criador, indagador,  que os atores da comunidade escolar inacabados crescem (Griffiths, Görsev, 2016). Dentro deste contexto, é pertinente frisar que “nas condições de verdadeira aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador igualmente sujeito do processo”. (Freire, 1996, p. 26).

O educando, passa a ser ator e atuante no processo de formulação do conhecimento, tendo o docente como mediador em todo o processo. Ele passa a ser visto como gente e não mais como objeto, fazendo parte do processo do ensino-aprendizagem numa concepção progressivista, buscando alcançar o conhecimento incessantemente de forma autônoma e prazerosa (Selingo,2016).

3.2. Teoria e prática: conceitos e concepções

Freire (1987), se refere à teoria como um contemplar, sendo fiel a etimologia da palavra e é o mesmo que ver, observar. Para Freire, a teoria é a concepção da vida e da sociedade de forma prática, onde o homem se insere, lê a realidade e pode resinificar a mesma.

Assim, é pertinente frisar que:

De teoria na verdade precisamos nós. De teoria que implica uma inserção na realidade, num contato analítico com o existente, para comprová-lo, para vivê-lo e vivê-lo plenamente, praticamente. Neste sentido, é que teorizar é contemplar. Não no sentido distorcido que lhe damos, de oposição à realidade. (Freire, 1987, p.93).

Nesta perspectiva, ao enfatizar o caráter contemplativo da teoria, Paulo Freire promove o sujeito homem dentro do processo de realidade. Este autor deixa claro que teoria é sempre a reflexão que se faz do contexto concreto, e deve-se partir sempre de vivencias e de oportunidades em que o ser humano vice, e na realidade em que se insere. O homem sofre a necessidade de compreender o que está em sua volta e pode entender essa realidade de forma critica e prática, não destituída de verdades e de senso comum. É uma realidade concreta que não pode ser mudada, mas a partir dela podemos entender e refletir nossa práxis, transformar nossa vida, e a educação para Freire tem esse papel primordial (Cherrington, 2017).

É elucidativa a visão de Freire no que se refere à prática. Freire (1983), diz que é necessário não só conhecer o mundo, é preciso transformá-lo. Conhecer para este autor: “não é um ato passivo do homem frente ao mundo, é antes de tudo, conscientização, envolve intercomunicação, intersubjetividade, que pressupõe a educação dos homens entre si mediatizados pelo mundo, tanto da natureza como da cultura”.

Sendo assim, vale destacar também que:

A prática não pode ater-se à leitura descontextualizada do mundo. Ao contrário, vincula o homem nessa busca consciente de ser, estar e agir no mundo num processo que se faz único e dinâmico, melhor dizendo, é apropriar-se da prática dando sentido à teoria. A práxis, porém, é ação e reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Portanto, a função da prática é a de agir sobre o mundo para transformá-lo (Freire, 1983, p. 40).

Contudo, vê-se que a relação entre teoria e prática está no centro do conhecimento e da organização do dialogo do processo de ensino e aprendizagem, o que não significa necessariamente uma identidade entre elas (Halabia, 2016). Apresentam-se também como movimento de interdependência pelo fato de uma não existir sem a outra e tudo se relaciona. Portanto, o prático e o teórico passam por uma reflexão teórica na educação, no ponto de tocar a realidade no seu mais amplo aspecto, podendo maximizar o processo de aprendizagem, modificando a postura do homem com o conhecimento.

E é ainda o jogo dessas relações do homem com o mundo e do homem com os homens, desafiando e respondendo ao desafio, alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser em termos de relativa preponderância, nem das sociedades nem das culturas. E, na medida em que cria, recria e decide, vão se confirmando as épocas históricas. É também criando e decidindo que o homem deve participar destas épocas (Freire, 1983, p48).

A base de entender a importância da teoria ligada a prática é o cerne da questão pedagógica que tem sua realidade na dualidade homem X mundo. O importante é que no processo de ensino, o planejamento seja dado com ênfase nesse processo de relacionar o conteúdo teórico e sua aplicação prática, de forma a contextualizar e deixar o conteúdo passível de uma aplicação no dia a dia do aluno (Higgs, 2016; Roux, Becker, 2016). Com isso, ainda deve-se dar ênfase a relação existente entre teoria e prática sobre uma visão dicotômica pelo fato de que:

É preciso que fique claro que a teoria do fazer, onde não se propõe nenhuma dicotomia de que resultasse que este fazer se dividisse em uma etapa de reflexão e outra, distante, de ação. Ação e reflexão e ação se dão simultaneamente (Freire, 1983, p. 149).

Diante tal afirmativa, fica exposto que as ideias freirianas servem como norte para a visão do processo educacional e da reação entre teoria e prática, com foco na reflexão, criticidade, reconhecimento de mundo, e tudo isso permeia a formação do docente, suas experiências e práxis.

3.3. Diálogo como interação social numa visão freiriana

O educador Paulo Freire deixou um ideário de experiências marcado por uma sistematização diferente na forma de alfabetizar baseado nos círculos populares de cultura, também conhecido nos dias atuais por educação popular. Assim deu relevância à valorização do diálogo como fundamento necessário para garantir a libertação do educando e o direito à educação básica (Roux, Becker, 2016).

Neste cenário, Freire (1996), via a educação em duplo plano instrumental, capaz de preparar a população técnica e cientificamente para o mercado de trabalho, e que atendesse as necessidades concretas da sociedade. Para tal, elaborou uma proposta conscientizadora de alfabetização de adultos, cujo principal objetivo comporta a leitura do mundo e as experiências do educando. Desta forma, sua proposta de alfabetização partia da realidade de vida do aluno para o aprendizado da técnica de ler e escrever.

Freire acreditava que as palavras são molas geradoras para acelerar o processo de alfabetização de adultos, no qual ele tanto acreditava que mudaria o destino de cada indivíduo, no momento em que a leitura passasse a fazer parte do seu mundo.

3.4. Método Paulo Freire como prática docente

Pode-se dizer que o método Paulo Freire consiste em três momentos e estes estão entrelaçados. São eles:

-Investigação temática – professor e aluno buscam no universo vocabular onde vive as palavras e temas centrais de sua biografia. Etapa esta considerada da descoberta dos temas e das palavras geradoras relacionadas com a vida cotidiana dos alfabetizandos e do grupo social a que pertencem. Tais palavras são selecionadas em função da riqueza silábica, do valor fonético e principalmente em função do significado social, trazendo a cultura do aluno para dentro da sala de aula. 

-Tematização – professor e aluno codificam e descodificam esses temas, buscando seu significado social, valorizando conhecimento empírico e vivências cotidianas do contexto de vida do aluno e de suas famílias.

-Problematização – momento onde busca-se superar uma primeira visão mágica, por uma visão crítica, partindo para a transformação do contexto vivido. Nesta ida e vinda do concreto para o abstrato e do abstrato para o concreto, volta-se ao concreto problematizando, descobrindo limites e possibilidades existenciais captadas na primeira etapa. (Freire, 1996).

Assim, deve-se destacar também:

O educador deve ser o portador da consciência mais avançada de seu meio. Necessita possuir antes de tudo a noção crítica de seu papel, isto é, refletir sobre o significado de sua missão profissional, sobre as circunstâncias que a determinam e a influenciam e sobre as finalidades de sua ação (Pinto, 2003, p. 48).

Portanto, torna-se indispensável o caráter de encontros de consciências no processo de ensino, para a transmissão de consciências críticas e ativas. “A educação neste sentido, é fator de ordem consciente determinado pela consciência social e objetiva do sujeito de si e do mundo”, diz Pinto (2003, p. 48).

Em meio a tal realidade, o alfabetizando adulto é visto como detentor do saber, no sentido do conceito de cultura e sujeito da educação, nunca objeto dela, já que esta se concretiza em um diálogo amistoso entre os sujeitos educadores e educandos. O conhecimento passa a ser fruto de uma realidade  prática, orgânica e integral, que deve ser conhecida e lida pela mente do educando e do educador.

Freire critica a educação bancária que considerava o analfabeto ignorante. Trabalha a questão das famílias fonéticas dando margem para a leitura e a escrita. Trazendo para os alunos os termos mais coerentes com sua realidade, de forma a fazer possível o dialogo entre o saber e o educando.

Freire também contempla uma forma interdisciplinar de educação, onde o principal objetivo é a libertação dos oprimidos, sua humanização por meio da ação cultural libertadora, ele critica a educação mecanicista, que cria um exercito de pessoas não pensantes.

Dentro deste contexto, é pertinente destacar que essa premissa está presente no método nas diferentes situações como no caso do educador e educando, vice e versa, e o objeto do conhecimento, entre a natureza e a cultura. Também vale destacar que a educação tem como objetivo promover ampliação da visão do mundo pelo dialogo.. “A atitude dialógica é antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar” (Freire, 1987, p. 81).

3.5. Proposta interventiva à luz da teoria da aprendizagem na visão de Paulo Freire

Sobre a ênfase dada à importância das teorias da aprendizagem é pertinente que se destaque que Paulo Freire não desenvolveu uma teoria da aprendizagem, mas seus postulados sobre a pedagogia problematizadora e transformadora lidam com a realidade do homem como ator principal, não de forma neutra. Assim, o homem é um ser no mundo e com o mundo. E nessa perspectiva, a teoria da aprendizagem é a construção humana para interpretar um conhecimento específico chamado de aprendizagem. Representa o ponto de vista de um autor sobre como interpretar as variáveis em relação a esta temática (Dunham, 2018).

A seguir, será apresentada uma proposta interventiva baseadas nos escritos de Paulo Freire os quais darão subsídios para o professor trabalhar em sala com alunos portadores ou não de dificuldades de aprendizagem e melhorar sua técnica de ensino, ressignificando o processo educativo. Inicia-se tal proposta apresentando-se os objetivos traçados na teoria da aprendizagem e como estas influenciam no desenvolvimento do indivíduo como um todo. Em seguida aos objetivos, segue-se a metodologia e a avaliação.

-Verificar como as principais teorias da aprendizagem influenciam no processo educacional brasileiro, considerando os aspectos epistemológicos, sociais e políticos da inter-relação do indivíduo;

-Discutir questões que envolvam dificuldades de aprendizagem e técnicas de intervenção e prevenção;

-Caracterizar e discutir temáticas voltadas aos modelos das teorias da aprendizagem humana e suas nuances;

-Analisar as concepções da aprendizagem, identificando quais modelos são determinantes para que a mesma se desenvolva.

Quanto à metodologia, esta centra-se no propósito de que o processo de aprendizagem ou mesmo o aprender pode ser definido de forma sintética de como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento, considerando aspectos fundamentais como a situação estimuladora, a pessoa que aprende e a resposta que recebe do meio social baseia-se também na premissa de que os professores devem atentar para toda e qualquer dificuldade para aprender e traçar metas e planos de intervenção para melhor trabalhar com estes alunos em sala.

No que se refere ao processo de avaliação em termos de teorias da aprendizagem, deve-se considerar que este deve ser um processo global, dinâmico, pessoal, gradativo, acumulativo e contínuo. O professor em sala, deve fazer uso desse processo para melhor desenvolver seu ato de ensinar e respaldar o de aprender na busca de ressignificar a aprendizagem (Merriam, 2017).

Cabe ao professor também em relação ao processo de avaliação da aprendizagem, deixar o aluno envolver-se em conflitos cognitivos e exprimir os seus pontos de vistas, transformar ideias em palavras, desenhos, construções, ou em qualquer outra coisa que possa ser compreendida pelo outro, criar várias formas de transferir para o aluno a responsabilidade pela aprendizagem, planejar o tamanho dos grupos de modo a manter os diálogos significativos e úteis para o desenvolvimento do indivíduo, porém, se a avaliação estiver interligada ao ensino e ocorrer através da observação do professor.   

A auto avaliação é utilizada como ferramenta para as atividades significativas, decorrente de um comportamento intencional. “O aluno quando bem orientado, também sabe dizer quais são seus pontos fortes, o que aprendeu e em que precisa melhorar”, destaca Haydt (2004, p. 147). Na escola, a auto avaliação é utilizada para que o aluno entenda sua realidade, sua práxis e possa mudar ou transformar sua realidade.

Considera-se ainda como sendo objetivo do processo educativo, o desenvolvimento do senso de responsabilidade e do espírito crítico. Assim, é preciso que a escola crie oportunidade para que os alunos pratiquem a auto avaliação, começando por analisar a si mesmos, através do conhecimento de onde errou e acertou, podendo modificar seus próprios pensamentos e atos. Isso leva a uma mudança social e cultural significativa. “A avaliação não tem um fim em si mesmo, mas é um meio a ser utilizado por alunos e professores para o aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem” (Haydt, 2004, p. 55).

Desta forma, compreende-se que avaliar consiste em determinar em que medida os objetivos estão sendo alcançados. Portanto, a avaliação é funcional, pois se realiza em função dos objetivos estabelecidos pelo professor. E estes precisam ser especificados de forma clara e precisa para que possam contribuir para a eficácia do processo ensino aprendizagem.

4. Conclusões

Sabe-se que a fantástica função de aprender envolve processos complexos e um determinado número de condições e oportunidades adequadas. Nessa função, do ponto de vista biológico, o Sistema Nervoso Central é a figura fundamental. Ele permite a coleta e armazenagem de dados e seu uso subsequente na alteração do comportamento. Ele permite que o indivíduo construa um pequeno modelo de universo em sua mente, formando seu comportamento baseado em modelos.

Foi baseado nesses modelos que sugeriu que buscou-se ampliar os conhecimentos acerca das causas do não aprender dos indivíduos e os prejuízos causados na vida dos mesmos, pelo fato do desenvolvimento humano das pessoas com dificuldades apresentar-se lento porque o cérebro deste indivíduo está programado para atividades sofisticadas e complexas, que envolvem raciocínio, linguagem e o amadurecimento das emoções.

Viu-se com esta pesquisa também que a estimulação é a ginástica que o cérebro precisa para desenvolver suas conexões neurais. A grande capacidade de aprender faz com que o comportamento do ser humano seja extremamente variado. E assim, compreende-se que do ponto de vista neurológico, nenhuma ação se repete exatamente como as anteriores, significando dizer que o ser humano é um eterno aprendiz.

Com esta pesquisa pode-se observar que além do que fora citado, deve-se destacar ainda que a aprendizagem põe em jogo uma relação integrada entre o indivíduo e o seu meio, ou seja, coloca uma relação inteligível entre condições externas e condições internas, desencadeando um processo sensório neuropsicológico entre a situação e a ação. E neste processo, a maturação deve desempenhar um papel vital para o desenvolvimento inicial deste indivíduo.

Por fim, pode-se concluir que o crescimento neste sentido, se refere a um tipo de mudança gradual e pode ocorrer com ou sem um processo maturacional subjacente. Portanto, fica evidente que um trabalho sistemático e metódico modifica o comportamento, estabelecendo a aprendizagem. Também deve-se destacar que o avanço das neurociências é de grande importância para o entendimento das funções corticais superiores envolvidas no processo complexo que é o de aprender e suas interfaces.

 Assim, a proposta freiriana é a de que deve-se investigar as condições nas quais a aprendizagem humana pode ser otimizada ao máximo, onde o professor deve tentar não só entender como a cognição e a consciência humana nascem da atividade do cérebro, assim como dominar a sequência pela qual ocorrem os eventos neuromaturacionais da criança enquanto cresce, se desenvolve e aprende.

Referências bibliográficas

Abdullah, Durakoglu., Baykal, Bicer. & Beyhan, Zabun. (2013) Paulo Freire’s Alternative Education Model, The Anthropologist, 16:3, 523-530, DOI: 10.1080/09720073.2013.11891378

Cherrington, A. (2017). Positioning a Practice of Hope in South African Teacher Education Programmes. Educational Research for Social Change, 6(1), 72-86. http://dx.doi.org/10.17159/2221-4070/2017/v6i1a6

Dunham, Nicola. A Discussion on Student Use of Theoretical Frameworks for the Analysis of Discourse and Policy within ECE. Journal of Advances in Education Research, Vol. 3, No.1, February 2018 https://dx.doi.org/10.22606/jaer.2018.31001

Eadon-Sinkinson, H. Drama, Creativity, and Critical Pedagogy. Prism: Casting New Light on Learning, Theory and Practice. Vol. I (1): pp. 182-194. 2017

Ercole, F.F., Melo, L.S., Alcoforado, Constant, C.L.G., Revisão Integrativa versus Revisão Sistemática. Revista Mineira de Enfermagem, v. 18, n. 1, p. 1-26, 2014.

Firdaus, F.A.,  Mariyat, A. Humanistic Approach In Education According to Paulo Freire. At-Ta’dib. Vol. 12. No. 2, December 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.21111/at-tadib.v12i2.1264

Flick, U.W.E., Introdução à Pesquisa Qualitativa. 3. Ed. Porto Alegre. Artmed. 2009. 405p.

Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

____________. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

____________. Educação como prática da Liberdade. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

Gadotti, Moacir. Paulo Freire. Uma bibliografia. São Paulo: Cortez, 1996.

Gadotti, M. (2017). The global impact of Freire's pedagogy. In M. Q. Patton (Ed.), Pedagogy of Evaluation. New Directions for Evaluation, 155, 17–30.

GIUSTA, Agnela da Silva. Concepções de aprendizagem e práticas pedagógicas. Educ. rev. [online]. 2013, vol.29, n.1 [cited  2018-08-02], pp.20-36Haydt, Regina C. C. Avaliação do processo Ensino-aprendizagem. 6ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2004.

Griffiths, Carol., and Görsev, İnceçay. 2016. “Styles and Style-Stretching: How are They Related to Successful Learning?” Journal of Psycholinguistic Research 45, no. 3: 1–15.

Grollios, Georgios. Paulo Freire and the Curriculum. (New York: Routledge. 2016).

Halabia, R. The dialogical approach: education for critical consciousness. 3rd International Conference on Higher Education Advances, HEAd’17 Universitat Politecnica de Valencia, Valencia, 2017 ` DOI: http://dx.doi.org/10.4995/HEAd17.2017.5471

Halman, M,, Baker, L., Ng, S. Using critical consciousness to inform health professions education: A literature review. Perspectives on Medical Education. 2017;6(1):12-20. doi:10.1007/s40037-016-0324-y.

Higgs, P. (2016). The African renaissance and the transformation of the higher education curriculum in South Africa. Africa Education Review, 13(1), 87–101. doi: 10.1080/18146627.2016.1186370

Lázaro, J.A. The Relationship between Education, Politics and Society in the Thought of Paulo Freire: A Reflection about Mozambique’s Education System. Rev. Int. de Form. de Professores (RIFP), Itapetininga, v. 2, n.2, p. 159-169, 2017.

Madero, Cristóbal. Theological dynamics of Paulo Freire’s educational theory: an essay to assist the work of Catholic educators. International Studies in Catholic Education, 2015 Vol. 7, No. 2, 122–133, http://dx.doi.org/10.1080/19422539.2015.1072953

Mayes. E., Bakhshi, S., Wasner, V., Cook-Sather, A., Mohammad, M., Bishop, D.C., Groundwater-Smith, S., Prior, M., Nelson, E., McGregor, J., Carson, K., Webb, R., Flashman, L., McLaughlin, C., Cowley, E. (2017). What can a conception of power do? Theories and images of power in student voice work. International Journal of Student Voice, Volume(1).

Merriam, S.B. Adult Learning Theory: Evolution and Future Directions. PAACE Journal of Lifelong Learning, Vol. 26, 2017, 21-37.

Morrison, Jeffrey. "Pedagogical Dialogue: A Study of Pedagogical Dialogue in a Multicultural Education Theory Course.." Dissertation, Georgia State University, 2017. http://scholarworks.gsu.edu/eps_diss/160

Kolb, A.Y., Kolb, D.A., ELTHE: Experiential Learning Theory as a Guide for Experiential Educators in Higher Education. A Journal for Engaged Educators, Vol. 1, No. 1, pp. 7–4400. 2017.

Pena, A.C., Nunes, M.F.R., Kramer, S. Human formation, world vision, dialogue and education: the present relevance of Paulo Freire and Martin Buber. Educação em Revista|Belo Horizonte|n.34|e172870|2018

Pinto, Álvares Vieira. Sete lições sobre a educação de adultos. 13ª edição. São Paulo: Cortez, 2003.  

Roux, C., & Becker, A. (2016). Humanising higher education in South Africa through dialogue as praxis. Educational Research for Social Change, 5(1), 131–143.

Rugut, E.J., Osman, A.J. Reflection on Paulo Freire and Classroom Relevance. American International Journal of Social Science Vol. 2 No. 2; March 2013

Ryynänen, S. Nivala, E. Empowerment or emancipation? interpretations from finland and beyond. SIPS - pedagogía social. Revista Interuniversitaria (2017), 30, 33-46.Zluhan, M.,R., Raitz, T.,R., A educação em direitos humanos para amenizar os conflitos no cotidiano das escolas. Rev. bras. Estud. pedagog. (online), Brasília, v. 95, n. 239, p. 31-54, jan./abr. 2014

Selingo, J.J. 2016. There Is Life After College: What Parents and Students Should Know About Navigating School to Prepare for the Jobs of Tomorrow. New York: HarperCollins. Kindle edition

Shelby Clark & Scott Seider (2017) Developing Critical Curiosity in Adolescents, Equity & Excellence in Education, 50:2, 125-141, DOI: 10.1080/10665684.2017.1301835


1. Doutoranda em Ciências da Educação – Pedagoga/ Psicopedagoga Institucional e Clínica/ Psicopedagoga Voluntária Instituto Espaço Vida/ Coordenadora de Estágios e Relatórios Supervisionado/ Estágio Laboratorial em Neuropedagogia/ Membro do Núcleo TCC/ Professora Artigo/ Monografia FACOL. Psicopedagoga Institucional e Professora de Pós-Graduação FACOL- ALPHA. Professora de Sala AEE. e-mail: joselmadantas2010@hotmail.com

2. Doutoranda em Ciências da Educação – Pedagoga/ Psicopedagoga Institucional/ Clínica CEAM – Professora Pós-Graduação – ALPHA. Neuropedagoga – Professora de Sala de AEE. e-mail: llucy_@hotmail.com

3. Bacharela em Gastronomia e Segurança Alimentar/ Pós-Graduada em Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentos. Pós-Graduada em Gestão e Docência do Ensino Superior/ Graduanda em Gestão da Qualidade/ Coordenadora e Professora do Curso Superior Tecnólogo em Gastronomia em EAD do Grupo Ser Educacional. Doutoranda em Ciências da Educação. e-mail: julienematias1@yahoo.com.br

4. Doutoranda/ Psicóloga/ Pedagoga/ Psicopedagoga/ Coordenadora e Professora de Pós-Graduação da Faculdade ALPHA. e-mail: rucenitaqueiroz73@gmail.com

5. Professora do PPG da Faculdade ALPHA-Recife/PE. Fonoaudióloga,  E-mail: fonoannekarenina@hotmail.com

6. Professora do PPG da Faculdade ALPHA-Recife/PE. Psicólogo, neuropsicólogo,  E-mail: ibg.psico@gmail.com

7. Professor Dr. do PPG da Faculdade ALPHA-Recife/PE e do Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA-Recife/PE. E-mail:  gusmao.diogenes@gmail.com


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 40 (Nº 5) Ano 2019

[Índice]

[Se você encontrar algum erro neste site, por favor envie um e-mail para webmaster]

revistaESPACIOS.com