Vol. 39 (Nº 09) Ano 2018 Pág. 31
Roseli de Araujo BRITO 1; Laura Araujo de BRITO 2; Maura Rejane de Araújo MENDES 3; Melise Pessôa Araujo MEIRELES 4
Recebido: 03/11/2017 • Aprovado: 08/12/2017
RESUMO: O objetivo desse trabalho foi fazer o levantamento etnobotânico das comunidades envolvidas com o Distrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos do Piauí (DITALPI). Foi calculado o valor de uso (VU) para todas as espécies e o fator do consenso do informante (FCI) e importância relativa (IR) para as espécies medicinais. Foram entrevistadas 22 pessoas através de questionários semiestruturados. Mencionaram-se 70 taxa, distribuídos em 67 gêneros e 36 famílias. A principal fonte de utilização das plantas é na alimentação humana (36,3%). |
ABSTRACT: The aim of this work was to evaluate the ethnobotanical survey of surrounding communities involved with Irrigation District of Tabuleiros Litorâneos do Piauí (DITALPI). The use value (VU) for all species, plus the informant consensus factor (FCI) and relative importance (IR) for the medicinal species were calculated. Semi-structured questionnaires were applied to twenty-two people form the surrounding communities. There were mentioned 70 taxa, distributed in 67 genera and 36 families. The main source of plant utilization is in human food (36.3%). |
O uso/conhecimento dos vegetais pelos povos, além da relação homem e planta, tem sido observado a milhares de anos (AZÊVEDO et al., 2010; CUNHA et al., 2015 e LEITE et al., 2015). Vários são os potenciais de usos, como para a alimentação, construção, remédios, ornamentação, entre outros (FERREIRA, PASA E NUNEZ, 2016). De acordo com Sousa, Araújo e Lemos (2015), foi através da utilização desses vegetais que os homens buscaram formas para aperfeiçoar sua qualidade de vida, bem como ampliar as suas chances de sobrevivência.
No Brasil, a flora tem sido objeto de estudos a partir da época colonial, devendo-se a Correia (1926/1978) um dos primeiros trabalhos dedicados à investigação de cunho geral sobre todos os tipos de plantas de interesse econômico. Franco (2005), relata que os estudos etnobotânicos realizados no Brasil foram mais comuns com indígenas na região amazônica, devido à grande variedade natural de plantas e diversidade de cultura.
O surgimento das pesquisas etnobotânicas serve para nos ajudar a entender a afinidade entre as pessoas e as plantas, com a observação de forma criteriosa dos usos vegetais feitos pelos seres humanos, e a importância que estes recursos podem representar para a sociedade que desfruta de tal uso (BASTOS, 2012). No Nordeste, a Etnobotânica tem sido objeto de estudo de vários autores (por exemplo, ALBUQUERQUE e ANDRADE, 2002; ALMEIDA, 2011; SILVA, REGIS e ALMEIDA, 2012; CARVALHO, 2013; CAVALCANTE e SILVA, 2014; RODRIGUES e ANDRADE, 2014; NASCIMENTO et al., 2015; BRANDÃO, 2016). Para o Piauí, talvez pela alta riqueza cultural do Estado, aliada à diversidade da vegetação, tem crescido o interesse nesse resgate de importância econômica (Franco, 2005; Oliveira, 2008; Aguiar, 2009; Sousa, Araújo e Lemos, 2015; Farias, 2016).
Tais estudos podem ainda ajudar no resgate de informações de plantas em locais onde o aumento da agricultura e a devastação intensa de áreas antes preservadas continuam ocorrendo, a exemplo do que acontece no Distrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos (DITALPI), onde a maior parte da vegetação nativa foi substituída por extensas plantações irrigadas, especialmente de acerola orgânica (Malpighia emarginata DC.). Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi fazer o levantamento etnobotânico nas comunidades envolvidas com o DITALPI.
O Presente estudo foi realizado na área do Distrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos do Piauí (DITALPI), localizado na cidade de Parnaíba. O local fica na BR 343 que liga o município de Parnaíba ao de Buriti dos Lopes. O clima local, segundo a classificação de Köppen, é do tipo AW’ (tropical chuvoso). As chuvas distribuem-se de janeiro a março, com precipitação média de 1.280 mm e temperatura média anual de 27ºC (DNOCS, 2005).
Na região vivem basicamente proprietários de lotes de terra, e alguns agricultores que trabalham por diárias e residem temporariamente no local. Na área do DITALPI a principal atividade praticada é a agricultura irrigada, principalmente para o cultivo orgânico da espécie Malpighia emarginata DC. (acerola), destinada à comercialização para indústria farmacêutica, e em menor escala para alimentação. Outras culturas como Anacardium occidentale L. (caju), Cocos nucifera L. (coco), Manihot esculenta Crantz (mandioca), Citrullus vulgaris Schrad. ex Eckl. & Zeyh (melancia), Carica papaia L. (mamão), são também produzidas, embora, neste caso, nem todas orgânicas. Foram entrevistadas 22 pessoas entre proprietários e agricultores.
As informações etnobotânicas e socioeconômicas foram coletadas da população local apenas após a submissão e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CONEP e CEP/UESPI; CAAE: 30859314.4.0000.5209). Inicialmente foram realizadas conversas com as pessoas da comunidade para explicar o motivo da pesquisa em questão e a importância da contribuição delas para o estudo em foco. Assim que ficaram esclarecidas as dúvidas foi solicitada a permissão das mesma para participar da pesquisa através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Em seguida, após a assinatura do Termo, foram coletadas as informações necessárias e compiladas na forma de questionário. Foi utilizado o método de amostragem por “bola-de-neve”, através do qual uma pessoa que tinha sido entrevistada indicava um informante-chave da comunidade que detinha um maior conhecimento da flora local e que podia colaborar com o estudo (BAYLEY, 1982). Também foi empregada a técnica de “turnê-guiada” na qual as plantas citadas pelos entrevistados eram coletadas acompanhadas pelo próprio informante (BERNARD, 1988).
Todas as espécies citadas com potencial etnobotânico foram coletadas e passadas pelo processo de herborização conforme metodologia usual em trabalhos de botânica (MORI et al., 1989). A identificação das espécies foi realizada primeiramente por consultas à literatura especializada disponível e por comparação com exsicatas depositadas no Herbário Graziela Barroso (TEPB) e também no Herbário Delta do Parnaíba (HDelta), ambos pertencentes à Universidade Federal do Piauí (UFPI). As espécies foram classificadas em famílias de acordo com o sistema Angiosperm Phylogeny Group III (APG III, 2009). Os nomes científicos atribuídos às espécies vegetais foram conferidos no site da Flora do Brasil, (floradobrasil.jbrj.gov.br) evitando assim possíveis erros de grafia.
Após a aplicação dos questionários foram realizadas novas entrevistas, agora com pranchas de fotos coloridas, incluindo todas as espécies citadas. Nesta etapa, que teve como objetivo medir a suficiência amostral das entrevistas, o público alvo foram os informantes-chave, ou seja, aqueles que detinham um maior saber sobre a flora local. Apenas após o reconhecimento dessas espécies vegetais foi realizada a tabulação dos dados.
O cálculo do valor de uso (VU), para a análise quantitativa, utilizado para medir a importância das plantas para a população estudada, foi feito pela aplicação da fórmula proposta por Phillips e Gentry (1993) modificado por Rossato et al. (1999). Onde VU=Ui/n; em que: Ui=número de citações de uso, mencionados por cada informante, n=número total de informantes. O valor de uso calculado envolveu as categorias de uso em geral.
Para cada espécie medicinal citada, foi calculada a importância relativa (IR), baseando-se na proposta de Bennett e Prance (2000), onde IR=NSC+NP, na qual NSC=NSCE/NSCEV e NP=NPE/NPEV. NSCE é o número de sistemas corporais tratados por uma determinada espécie, NSCEV o número total de sistemas corporais tratados pela espécie mais versátil, NPE o número de propriedades atribuídas para uma determinada espécie e NPEV o número total de propriedades atribuídas à espécie mais versátil. O valor máximo do IR obtida por uma espécie é no máximo 2.
Foi também calculado, para a categoria medicinal, o Fator de Consenso dos Informantes (FCI), através da fórmula FCI = nar – na /nar – 1, adaptada de Trotter e Logan (1986), onde: nar = somatório de todos os usos registrados por cada informante para uma categoria; na = número de espécies indicadas naquela dada categoria.
As categorias de doenças ou sintomas seguiu a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) organizados de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2000) e somente em seguida calculados o Fator de Consenso dos Informantes (FCI).
Foram identificadas 70 taxa, distribuídos em 66 gêneros e 38 famílias. Fabaceae foi a mais numerosa (12,8% do total de espécies), seguida por Anarcadiaceae, Lamiaceae e Poaceae com 5,7%, cada (Tabela 1). A família Fabaceae também teve destaque em outros estudos etnobotânicos (FRANCO e BARROS, 2006; OLIVEIRA, BARROS e MOITA NETO, 2010; ROQUE e LOIOLA, 2013; FREITAS et al., 2013; VIEIRA, SOUSA e LEMOS, 2015; FARIAS, 2016). O destaque dessa família, citado nas entrevistas, pode estar relacionado a ampla distribuição da mesma na região Nordeste, com consequente maior ocorrência de usos.
O resgate do conhecimento empírico evidenciou que a principal fonte de utilização das plantas é na alimentação humana (37%), seguida pela medicina popular (33%), uso ornamental (11%), extração de madeira (9%), melífera (4%), forragem (3%), biocombustível, tóxica e como quebra-vento nas culturas (com apenas 1%, cada). No estudo realizado por Silva, Lopes e Barros (2013), em duas comunidades rurais de Campo Maior – PI, a categoria alimentícia foi a mais utilizada pelos moradores. Outros estudos sobre etnobotânica no estado do Piauí destacaram o uso medicinal como o mais citado, tais como o de Bastos (2012) e Farias (2016).
Tabela 1
Espécies úteis citadas pelos entrevistados da comunidade do Distrito de Irrigação
dos Tabuleiros Litorâneos do Piauí, Parnaíba, Piauí,
VU = Valor de uso e IR= Importância relativa das espécies medicinais.
Família/ espécies |
Nome vernacular |
Hábito de crescimento |
Categoria de uso |
VU |
IR |
Acanthaceae |
|||||
Asystasia gangetica (L.) T.Anderson |
acistácia |
Erva |
ornamental |
0,045 |
------ |
Justicia pectoralis Jacq. |
anador |
Erva |
medicinal |
0,045 |
0,39 |
Amaranthaceae |
|
||||
Dyphania ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants |
mastruz |
Erva |
medicinal |
0,23 |
1,18 |
Anacardiaceae |
|
||||
Myracrodruon urundeuva Allemão |
aroeira |
árvore |
medicinal |
0,23 |
1,60 |
Spondias mombin L. |
cajá |
árvore |
alimentícia |
0,045 |
------ |
Anacardium occidentale L. |
Caju |
árvore |
alimentícia, medicinal, melífera e biocombustível |
0,68 |
0,93 |
Mangifera indica L. |
manga |
árvore |
alimentícia |
0,50 |
------ |
Annonaceae |
|
||||
Annona muricata L. |
graviola/ araticum |
árvore |
alimentícia |
0,14 |
------ |
Annona squamosa L. |
Ata |
árvore |
alimentícia |
0,14 |
------ |
Apiaceae |
|
||||
Daucus carota L. |
cenoura |
Erva |
alimentícia |
0,09 |
------ |
Coriandrum sativum L |
coentro |
Erva |
Alimentícia |
0,09 |
------ |
Apocynaceae |
|
||||
Catharanthus roseus (L.) G.Don |
boa noite |
Erva |
medicinal e ornamental |
0,18 |
0,39 |
Araceae |
|
||||
Dieffenbachia sp. |
comigo ninguém pode |
subarbusto |
ornamental |
0,09 |
------ |
Arecaceae |
|
||||
Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore |
carnaúba |
árvore |
madeireira |
0,045 |
------ |
Cocos nucifera L. |
Coco |
árvore |
alimentícia |
0,60 |
------ |
Roystonea sp. |
palmeira imperial |
árvore |
ornamental |
0,045 |
------ |
Asparagaceae |
|
||||
Sansevieria trifasciata Hort. ex Prain |
espada de são Jorge |
subarbusto |
ornamental |
0,045 |
------ |
Asteraceae |
|
||||
Lactuca sativa L. |
alface |
Erva |
alimentícia |
0,045 |
------ |
Bignoniaceae |
|
||||
Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos |
Pau d'arco roxo |
árvore |
madeireira e melífera |
0,09 |
------ |
Bromeliaceae |
|
||||
Ananas comosus (L.) Merr |
abacaxi |
subarbusto |
alimentícia |
0,18 |
------ |
Cactaceae |
|
||||
Cereus jamacaru DC. |
mandacarú |
arbusto |
medicinal |
0,09 |
0,39 |
Caricaceae |
|
||||
Carica papaia L. |
mamão |
arbusto |
alimentícia |
0,14 |
------ |
Combretaceae |
|
||||
Combretum mellifluum Eichler. |
mufumbo |
arbusto |
madeireira e medicinal |
0,09 |
0,39 |
Costaceae |
|
||||
Costus spicatus (Jacq). Sw |
cana da índia |
subarbusto |
medicinal |
0,045 |
0,39 |
Crassulaceae |
|
||||
Bryophyllum pinnatum (Lam.) Omen |
corona |
Erva |
medicinal |
0,045 |
0,78 |
Cucurbitaceae |
|
||||
Cucurbita pepo L. |
Abóbora/ jerimum |
Erva |
alimentícia |
0,18 |
------ |
Cucumis anguria L. |
maxixe |
Erva |
alimentícia |
0,045 |
------ |
Citrullus vulgaris Schrad. ex Eckl. & Zeyh |
melancia |
Erva |
alimentícia |
0,14 |
------ |
Davalliaceae |
|
||||
Nephrolepis sp. |
samambaia |
Erva |
ornamental |
0,09 |
------ |
Euphorbiaceae |
|||||
Codiaeum variegatum L. |
dinheiro |
arbusto |
ornamental |
0,045 |
------ |
Croton sp. |
mameleiro |
arbusto |
madeireira e medicinal |
0,09 |
0,78 |
Manihot esculenta Crantz. |
mandioca/macaxeira |
arbusto |
alimentícia, forrageira e tóxica |
0,36 |
------ |
Fabaceae |
|||||
Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm. |
amburana de cheiro |
árvore |
medicinal |
0,14 |
0,78 |
Piptadenia macrocarpa Benth. |
angico preto |
árvore |
medicinal |
0,045 |
0,39 |
Pityrocarpa moniliformis (Benth.) Luckow & R.W.Jobson |
catanduva |
árvore |
madeireira |
0,045 |
------ |
Poincianella gardneriana (Tul.) L.P. Queiroz |
catingueira |
arbusto |
madeireira, medicinal e melífera |
0,23 |
0,39 |
Phaseolus vulgaris L. |
feijão |
subarbusto |
alimentícia |
0,41 |
------ |
Hymenaea courbaril L. |
jatobá |
árvore |
medicinal |
|
0,39 |
Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P. Queiroz |
jucá |
árvore |
medicinal |
0,18 |
0,93 |
Bauhinia ungulata L. |
mororó |
arbusto |
madeireira e medicinal |
0,14 |
0,39 |
Mimosa caesalpinifolia Benth. |
sabiá/ unha de gato |
árvore |
madeireira |
0,23 |
------ |
Lamiaceae |
|||||
Hyptis suaveolens (L.) Poit. |
bamburral |
subarbusto |
melífera |
0,09 |
------ |
Plectranthus barbatus Andrews. |
boldo |
erva |
medicinal |
0,60 |
0,93 |
Mentha x villosa Huds. |
hortelã |
erva |
medicinal |
0,32 |
1,86 |
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. |
malva |
erva |
medicinal |
0,18 |
1,21 |
Liliaceae |
|||||
Aloe vera (L.) Burm. f. |
babosa |
erva |
medicinal |
0,09 |
0,39 |
Allium schoenoprasum L. |
cebola |
erva |
alimentícia |
0,14 |
------ |
Malpighiaceae |
|||||
Malpighia emarginata DC. |
acerola |
arbusto |
alimentícia e medicinal |
1,27 |
0,39 |
Malvaceae |
|||||
Hibiscus rosa-sinensis L. |
Flor de hibisco |
arbusto |
ornamental |
0,045 |
------ |
Abelmoschus esculentus (L.) Moench |
quiabo |
subarbusto |
alimentícia |
0,045 |
------ |
Musaceae |
|||||
Musa paradisiaca L. |
banana |
arbusto |
alimentícia e quebra vento |
0,18 |
------ |
Myrtaceae |
|||||
Eucalyptus globulus Labill. |
eucalipto |
árvore |
medicinal |
0,09 |
0,39 |
Psidium guajava L. |
goiaba |
arbusto |
alimentícia |
0,14 |
------ |
Olacaceae |
|||||
Ximenia americana L. |
ameixa |
arbusto |
alimentícia e medicinal |
0,36 |
0,93 |
Oxalidaceae |
|||||
Oxalis sp. |
azedinha |
erva |
alimentícia e ornamental |
0,045 |
------ |
Poaceae |
|||||
Echinochloa polystachya (Munth) Hitchc. |
capim canarana |
subarbusto |
forrageira |
0,09 |
------ |
Pennisetum purpureum Schum. |
capim elefante |
arbusto |
forrageira |
0,045 |
------ |
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf |
capim santo/ capim limão |
erva |
alimentícia e medicinal |
0,45 |
1,61 |
Zea mays L. |
milho |
arbusto |
alimentícia |
0,27 |
------ |
Punicaceae |
|||||
Punica granatum L. |
romã |
arbusto |
alimentícia e medicinal |
0,09 |
0,39 |
Rhamnaceae |
|||||
Ziziphus joazeiro Mart. |
juá |
árvore |
alimentícia |
0,045 |
------ |
Rosaceae |
|||||
Rosa sp. |
rosa |
subarbusto |
ornamental |
0,045 |
------ |
Rubiaceae |
|||||
Morinda citrifolia L |
noni |
subarbusto |
medicinal |
0,045 |
0,39 |
Rutaceae |
|||||
Citrus aurantium L. |
laranja |
arbusto |
alimentícia e medicinal |
0,18 |
0,78 |
Citrus limonum Risso. |
limão |
arbusto |
alimentícia e medicinal |
0,32 |
0,78 |
Solanaceae |
|||||
Capsicum chinense Jacq. |
pimenta de cheiro |
subarbusto |
alimentícia |
0,045 |
------ |
Capsicum frutescens L. |
pimenta malagueta |
Subarbusto |
alimentícia |
0,09 |
------ |
Lycopersicum esculentum Mill. |
tomate |
subarbusto |
alimentícia |
0,09 |
------ |
Verbenaceae |
|||||
Lippia alba (Mill). N. E. Br. |
Erva cidreira |
subarbusto |
Alimentícia e medicinal |
0,68 |
1,75 |
Zingiberiaceae |
|||||
Zingiber officinalis Roscoe |
gengibre |
erva |
alimentícia e medicinal |
0,18 |
1,32 |
Tais conhecimentos sobre as plantas e seus usos foram herdados em grande parte dos pais e avós ou somente dos pais (Figura 1). Outros trabalhos (BASTOS, 2012; CHAVES et al., 2014; SILVA et al., 2015) também demonstram que a maioria do conhecimento sobre o uso das plantas foi herdado através dos pais e dos avós ou somente dos país, comprovando assim, que a maior parte do repasse dos saberes acerca dos usos das plantas continuam sendo entre o berço familiar.
Figura 1
Conhecimentos adquiridos dos informantes da comunidade do Distrito
de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos do Piauí, Parnaíba, Piauí
A maioria das espécies citadas pelos moradores é cultivada nos quintais das casas (75,7%). A maior parte dessas plantas é de pequeno porte, 28,6% são herbáceas e 25,7% arbustivas. O porte herbáceo também foi citado em outros estudos como sendo predominante (ARAÚJO e LEMOS 2015; RÊGO et al., 2016). A predominância no DITALPI, provavelmente está relacionada à maioria das plantas serem cultivadas nos próprios quintais dos entrevistados, além da facilidade de cultivo desses vegetais.
Das plantas alimentícias, as partes mais consumidas mencionadas foram frutos (69,7%), folhas (18,2%), raiz e sementes (6,1%, cada). Nascimento et al. (2015) em um estudo sobre plantas alimentícias espontâneas conhecidas pelos moradores do Vau da Boa Esperança, município de Barreiras, Oeste da Bahia, Nordeste do Brasil também citaram o fruto como sendo a parte mais consumida das plantas alimentícia.
No uso medicinal, as partes das plantas mais utilizadas foram folhas (34,4%), cascas (31,3%), frutos (18,8%), caule e raízes (6,2%, cada) e sementes (3,1%). As formas de preparo dos remédios naturais caseiros dessas plantas são os chás por infusão (36,0%) e decocção (18,0%), sucos (13,0%), pó (8,0%), in natura, lambedor, sumo e banho (5,0%, cada), garrafadas e maceração (2,5%, cada). Os chás também estão como sendo as principais formas de preparo em outros trabalhos realizados no estado do Piauí (FRANCO, 2005; AGUIAR, 2009). A utilização principalmente das folhas foi observada em diversos outros estudos do Nordeste (FRANCO e BARROS 2006; OLIVEIRA, BARROS e MOITA NETO 2010; SILVA, REGIS e ALMEIDA, 2012; MACÊDO, RIBEIRO E SOUSA, 2013; BAPTISTEL et al., 2014; CAVALCANTE e SILVA 2014; ARAÚJO e LEMOS 2015; VIEIRA, SOUSA e LEMOS, 2015; SANTOS e PADRÃO, 2016; SANTOS et al., 2016).
As espécies alimentícias mais citadas foram Malpighia emarginata DC. (acerola), Anacardium occidentale L. (caju), Cocos nucifera L. (coco), Mangifera indica L. (manga) e Phaseolus vulgaris L. (feijão). O maior número de citações dessas plantas pode ser devido à área do DITALPI produzi-las para o consumo e também para a comercialização, com isso havia um maior contato das pessoas com essas espécies. Entre as medicinais mais citadas estão Plectranthus barbatus Andrews (boldo), Lippia alba (Mill.) N. E. Br. ex Britton & Wilson (erva cidreira), Cymbopogon citratus (DC). Stapf (capim-limão), Mentha x villosa Huds (hortelã) e Dyphania ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants (mastruz). Destas, Lippia alba e Plectranthus barbatus estiveram entre as espécies medicinais mais citadas no estudo realizado por Araújo e Lemos (2015) em Curral Velho, Luís Correia, Piauí e também no trabalho de Bandeira, Silva e Brito (2015), em Jatobá do Piauí.
Os maiores valores de uso foram registrados para Malpighia emarginata (VU = 1,27), Anacardium occidentale e Lippia alba (0,68), Plectranthus barbatus, Cocos nucifera e (VU = 0,60 cada). O menor valor de uso registrado foi de 0,045 para Lactuca sativa L. (alface), Justicia pectoralis Jacq. (anador), Spondias mombin L. (cajá), Morinda citrifolia L. (noni), dentre outras. No trabalho de Farias (2016) na comunidade Lagoa da Prata, Parnaíba Piauí, as espécies Anacardium occidentale, Lippia alba e Plectranthus barbatus também estão entre as que alcançaram maiores valores de uso.
As espécies medicinais mais versáteis, quanto aos usos, determinados através do cálculo de Importância Relativa, foram Mentha x villosa (IR = 1,86), Lippia alba (IR = 1,75), Cymbopogon citratus e Myracrodruon urundeuva Allemão(IR = 1,60). Rodrigues e Andrade (2014) também relataram em seu trabalho na comunidade de Inhamã, Pernambuco que Lippia alba e mentha x villosa apresentaram maiores IR. Na zona urbana de Cajueiro da Praia, Piauí, Santos et al. (2016), citaram Cymbopogon citratus comouma das que apresentaram maior versatilidade de usos.
Myracrodruon urundeuva foi registrada por Oliveira, Barros e Moita Neto (2010), com destaque quanto ao uso. Na década de 80 houve grande extração das cascas de desta espécie, com rumores de que essa planta curaria o câncer, a retirada das cascas não era adequada, resultando na morte de um grande número de indivíduos da espécie (CHAVES, 2005), tornando a espécie ameaçada de extinção pelo Ministério do Meio Ambiente em 2008 (MMA, 2008).
As categorias de sintomas ou doenças que obtiveram os maiores índices foram doenças do aparelho circulatório (I00-I99), FCI=1,00, doenças do aparelho digestivo (K00-K93), FCI=0,79; doenças do aparelho geniturinário (N00-N99), FCI=0,67; sintomas e sinais gerais (R50-R69), FCI=0,62; doenças do aparelho respiratório (J00-J99), FCI=0,61 e lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98), FCI=0,33. As categorias que apresentaram menores índices foram neoplasias (C00-D48), doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90), FCI=0.
Com exceção da categoria de doenças relacionadas ao aparelho geniturinário (N00-N99), as outras categorias que obtiveram maiores valores de FCI no DITALPI também foram encontradas no trabalho de Araújo e Lemos (2015) na comunidade de Curral Velho, Luís Correia, Piauí. Em outra área próxima, em estudos realizados por Santos et al. (2016) doenças do aparelho circulatório e doenças do aparelho respiratório também estiveram entre as categorias que alcançaram maiores FCI.
A comunidade local afirma recorrer às plantas dos seus quintais para fazer determinados tipos de chás no momento que necessitam curar enfermidades e também alguns alimentos para complementar a alimentação da família. Entretanto, relatam que a cada dia que passa as pessoas estão afastando-se da medicina popular devido recorrerem aos medicamentos farmacêuticos, por acharem mais eficientes que os naturais.
O Distrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos, por ser um local de grande importância para produção agrícola da região necessita de estudos que resgatem os conhecimentos adquiridos pelos povos tradicionais, que possam auxiliar na tomada de decisões que garantam a manutenção e o uso sustentado dos recursos naturais.
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1. Graduada em Agronomia pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI; Endereço: Av. Nossa Senhora de Fátima, s/n, Bairro Nossa Senhora de Fátima, CEP 64202-220; Parnaíba/PI/Brasil; E-mail: roseliaraujob@gmail.com
2. Graduada em Agronomia pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI; Endereço: Av. Nossa Senhora de Fátima, s/n, Bairro Nossa Senhora de Fátima, CEP 64202-220; Parnaíba/PI/Brasil;; E-mail: laura.araujobrito@hotmail.com
3. Professora do curso de Biologia da Universidade Estadual do Piauí-UESPI; Endereço: Av. Nossa Senhora de Fátima, s/n, Bairro Nossa Senhora de Fátima, CEP 64202-220; Parnaíba/PI/Brasil; E-mail: maurarejane@phb.uespi.br
4. Professora do curso de Biologia da Universidade Federal do Piauí-UFPI/CSHNB; Endereço: Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, s/n, Rua: Cícero Eduardo, Bairro: Junco, CEP 64600-000; Picos/PI/Brasil; E-mail: melisepessoa@yahoo.com.br