Espacios. Vol. 37 (Nº 33) Año 2016. Pág. 20
Fernando Batista Bandeira da FONTOURA 1; Milton Luis WITTMANN 2; Laércio Rogério FRIEDERICH 3; Tiago SCARANO 4
Recibido: 21/06/16 • Aprobado: 22/07/2016
3. A contribuição da pedagogia e a sociedade do conhecimento
5. Alguns resultados levantados
RESUMO: Este estudo apresenta, em uma abordagem teórica e crítica envolvendo o quanto, atualmente, os instrumentos estruturais de planejamento da prática docente estão deixando a desejar para promover a formação profissional na fase inicial, que integra a educação contábil, bem como levantar as dificuldades enfrentadas pelos alunos no processo de aprendizagem da contabilidade. Tanto o aluno apresenta deficiência ao longo de seu processo de formação, desde o começo da escola no ensino básico, quanto o professor negligencia, muitas vezes, as aulas de disciplinas introdutórias do curso, perpetuando a exclusão de um processo de aprendizagem efetivo e condizente com a vida profissional, que consolida a ética alienada pela rotina sem reflexão. Predomina dessa forma o desconhecimento do potencial de cada um, que é manifesto no paradigma da tarefa que prioriza o fazer sem elaborar um pensamento integral que contemple a razão de cada passo (Khun, 2005), o porquê de cada escolha e, sobretudo o entendimento acerca do papel profissional de cada individuo. A visão da educação desenvolvida no estudo, a partir da realidade dos alunos, reforçada a uma visão critica do professor, ilustrando a realidade para os alunos, promovendo uma nova consciência e identificando seu papel de inventor de situações das mais variadas, na utilização de recursos específicos que podem ser conhecidos na formação de atividades de cunho didático para uso técnico. |
ABSTRACT: This study presents a theoretical and critical approach involving as currently the structural instruments of teaching practice planning are leaving desire to promote vocational training in the initial phase, which includes the accounting education and raising the difficulties faced by students in the learning process of accounting. Both the student has disabilities throughout their training process, from the start of school in primary school, and the teacher neglects often classes of introductory course subjects, perpetuating the exclusion of an effective and consistent process of learning professional, consolidating ethics alienated by routine without reflection. Predominates in this way the ignorance of the potential of each one, which is manifest in the task paradigm that prioritizes do not prepare a comprehensive thinking that contemplates the reason for each step (Khun, 2005), why each choice and above all understanding about the professional role of each individual. The vision of education developed in the study, from the reality of the students, strengthened to a critical view of the teacher, illustrating the reality for students, promoting a new awareness and identifying the inventor of paper situations the most varied, the use of resources specific that can be known in formation of didactic activities for technical use. |
Nos últimos anos, as Ciências Sociais Aplicadas, entre elas a Contabilidade e a Administração, sofreram inúmeras transformações desencadeadas pelas mudanças ambientais, politicas e sociais pelas quais a humanidade tem passado. Essas mudanças estão alicerçadas basicamente em um mercado que se apresenta cada vez mais competitivo, gerando a necessidade de promover a formação profissional com capacitação, para além do fazer atividades, mas na possibilidade de saber pensar sobre o que é feito tecnicamente. Tudo isso justifica a relevância de se dirigir para a educação profissional a partir da qualidade da formação de docentes preparados para esses novos desafios.
Bayma (2005) ressalta que educar é muito mais que encher uma vasilha vazia. É ascender uma luz na mente das pessoas, ensinar a pensar para utilizar conceitos em fatos cada vez mais diversificados pela vida cotidiana do mundo do trabalho.
Bayma (2005), salienta que atualmente é possível considerar que um estudante de nível médio pode ter mais informações em termos científicos que Aristóteles, Platão e, possivelmente, Galileu Galilei, pois o mesmo tem acesso a muitas informações de maneira muito rápida e com enorme facilidade. Assim, para muitos, esta é a diferença entre experiência, prática e repetição sem agregar conhecimentos. Entretanto, a reflexão sobre o que se sabe é muito reduzida, pois esse acesso à informação se estabelece, na maioria das vezes, através da tecnologia que está cada vez mais disponível, como é o caso da Internet, dos ‘sites’ de busca, das redes sociais, entre outras.
Especificamente em relação aos cursos de Ciências Sociais aplicadas, inúmeros cursos de Ciências Contábeis e Administração foram abertos no Brasil, nos últimos dez anos o que leva a necessidade de pesquisa e ampla discussão sobre a didática e a metodologia do ensino contábil. O profissional da área caracteriza-se por ser prático e o curso de Ciências Contábeis não tem disciplinas voltadas para o ensino, apesar de o CFC (Conselho Federal de Contabilidade) prever que o magistério e a pesquisa estão entre as prerrogativas do contador. Assim, o problema desta pesquisa está na questão: Quais são os fatores determinantes das dificuldades pertinentes á aprendizagem do acadêmico de contabilidade na fase inicial de sua formação?³
Portanto, este estudo tem como objetivo central desencadear uma discussão sobre o ensino de contabilidade, principalmente no que se refere à alfabetização contábil, mais especificadamente, o conteúdo da disciplina de Introdução a Contabilidade nos cursos de Contabilidade e Gestão Empresarial.
Pretende-se rever a visão sobre o ensino e a pedagogia no seu sentido amplo, fazendo uma relação com a aprendizagem da contabilidade introdutória e seus fins, numa perspectiva cotidiana e crítica. Como recurso inicial, pretende-se partir da revisão bibliográfica, com caráter analítico de cunho explicativo, para levantar hipóteses partindo da necessidade de reflexão e mudança imposta pelo ambiente empresarial. Assim, as dificuldades enfrentadas nas salas de aula podem estar identificadas em duas perspectivas básicas, que ilustram as hipóteses deste artigo:
H1. Alunos com grau de dificuldade significativo para abstrair os conceitos para a vivência prática e cotidiana;
H2. Professores que utilizam recursos em sala de aula sem explica-los ( contextualizá-los) e tampouco sem levar em conta se os alunos já os conhecem.
Contudo, identifica-se a emergencial necessidade de uma tentativa de discussão teórica sobre o tema, visto que o profissional da contabilidade deve buscar novos entendimentos e habilidades bem como o resgate de uma educação profissional de qualidade para adequar-se a estes novos desafios.
O professor, por sua vez deve se qualificar cada vez mais e compreender seu papel para além das aulas que priorizem conteúdo técnico, mas que resgate as interfaces reflexivas da prática profissional cotidiana. Ainda, este professor deve repensar as ações pertinentes ao profissional devendo rever conceitos tanto quanto padrões de tomadas de decisões, que revisem a ética e os atalhos das estratégias operacionais de ser contador nos dias de hoje.
Conjuga-se no passado o tempo em que o conhecimento técnico e a boa oratória eram considerados qualificações suficientes. Hoje o docente deve ter formação integral, base pedagógica e não ensinar exaustivamente através de aulas meramente expositivas e repetitivas, sendo que o mercado de trabalho já demanda por outras competências e estas práticas já não atendem mais as necessidades emergentes.
O artigo faz uma discussão crítica analisando os efeitos coisificadores da sociedade industrial (MARCUSE, 1973; RAMOS, 1996; ADORNO E HORKHEIMER, 1985), apresentando uma discussão sobre as competências essenciais, a contribuição da pedagogia e a sociedade do conhecimento, busca de novos métodos e um levantamento empírico com estudantes na fase inicial dos cursos de administração e Ciências Contábeis da Universidade de Santa Cruz do Sul.
Neste momento o que se pretende é abordar o aporte teórico para viabilizar a análise de dados, trazendo algumas abordagens que representam o pensamento pedagógico contemporâneo. Em função das diversas mudanças ambientais é pertinente articular uma reflexão sobre as mudanças no perfil do docente para adequação a estas novas necessidades.
Para uma breve contextualização histórica, apresenta-se os macro paradigmas sociais que se referem a organização da produção com reflexos para o mercado em uma era que apresenta-se de múltiplas possibilidades com oportunidades multidimensionais. (TOFFLER, 1995; HARVEY, 1992; TENÓRIO, 2007; MARCUSE, 1973; BASTOS, 2014; ETGES E DEGRANDI, 2013).
No quadro 01, demonstra-se a evolução dos modelos de produção com impacto na sociedade nas práticas de acumulação capitalista e consequentemente nas formas e abordagens educacionais devido as novas características sociais e educacionais.
O quadro conceitual propõe como último estágio o pós-industrialismo ou neo-taylorismo/fordismo, visto que os modos de produção mesmo que flexibilizados ainda apresentam características fordistas e principalmente Tayloristas. Harvey (1992) também adverte que uma sociedade pós-industrial ou até pós-capitalista ainda está no campo da aparência e não de fato pela longa caminhada unidimensional principalmente quando se analisa a dimensão ambiental com impacto nos processos educacionais.
Quadro 01
Estágios do desenvolvimento social e tecnológico
ESTÁGIOS |
CARACTERÍSTICAS |
PRORIEDADE E TERRITÓRIO |
Pré-industrial |
Produção artesanal Agricultura rudimentar Terra como poder social e econômico |
Vinculada ao artífice Produção e mercado territorilizado Território pertencente à Famílias e clãs |
Industrial Taylorista/fordista |
Produção planejada e rotinizada Produção em massa Capital como poder social |
Proprietário do capital Processos de produção Territórios e mercados transnacionais |
Pós- industrial ou Neo-taylorista/Neo-fordista |
Processos de produção pós-industrial ou Neo-taylorista Autopoiese Inovação, mudança e conhecimento como poder social |
Propriedade sob investidor Ambiente globalizado Territórios, processos e mercados multidimensionais e multiescalares |
Fonte: Adaptado de Harvey (1992); Toffler (1995); Etges e Degrandi (2013);
Barquero (2001); e Bell (1977, 1973); Tenório (2004).
Percebe-se que, à luz das Revoluções Científicas de Thomas Kuhn (2005) quando o mesmo retrata os paradigmas como a forma de vermos o mundo, pode ser objeto de comparação com os estágios do desenvolvimento das organizações (Quadro 01). Estes estágios se moldaram na forma da sociedade perceber as organizações e como estas e suas partes se organizam frente aos pressupostos institucionalizados. O cartesianismo do século XVII e XVIII e o positivismo do século XIX, foram teorias imanentes que deram suporte ao modelo de organizações voltadas à rotinização de processos e divisão do trabalho, ou seja, o modelo taylorista/fordista de produção, que apresenta como principal efeito colateral, segundo Morin (2011), um pensamento unidimensional e mutilador do homem como ser social após um período de industrialização em massa.
Marcuse (1973) contribui para esta contextualização histórica ao mencionar que passamos de uma era pré-tecnológica para uma era tecnológica supersimbólica, com efeitos em todos os ambientes sociais e a educação é um ambiente que tem sido atingido por estas transformações.
Cabe ressaltar quando se fala na rotinização do Taylorismo/fordismo e nos efeitos colaterais das teorias positivistas não se despreza toda a evolução técnica e científica também trazida neste processo. Apenas está se fazendo uma análise ontológica com viés para os processos educacionais e para formação profissional nas ciências sociais aplicadas.
Dessa maneira a educação profissional, bem como os profissionais de ensino superior devem buscar novas competências pedagógicas e novas reflexões principalmente no que se refere às ciências socialmente aplicáveis que passam por profundas descontinuidades.
Para melhorar este entendimento cabe lembrar que entender a ciência é tão relevante quanto interpretar as práticas de mercado, porque ambas representam saberes afins conforme descreve Kuhn4 (2005, p. 20-24), a ciência é:
(...) a reunião de fatos, teorias e métodos reunidos nos textos atuais, então os cientistas são homens que, com ou sem sucesso, empenharam-se em cumprir com um ou com outro elemento essa constelação científica (...) a ciência normal desorienta-se seguidamente. Isso ocorre quando os membros de uma profissão não podem mais se esquivar das anomalias que subvertem a tradição existente da prática cientifica.
Cabe ressaltar ainda que Gil (1999 apud BAYMA, 2004) faz uma análise sob a ótica do corpo discente, através de levantamentos realizados com estudantes ao longo dos cursos. Nesses é comum verificar que a maioria das criticas em relação aos professores refere-se à falta de didática. Por outro lado, os alunos apresentam inúmeras limitações de entendimento, pois o histórico escolar de ensino básico já apresenta deficiências desde a alfabetização e, portanto, a leitura textual já vem com sintomas de uma comunicação verbal e escrita muito aquém do que se espera de alunos de nível superior.
A própria avaliação é ainda subjetiva e isso aponta para uma cultura educacional que não reflete a realidade de capacidade dos estudantes ao longo dos anos de escola até a faculdade. Entretanto, os alunos percebem o descaso de alguns professores que priorizam o conteúdo sem saber trabalhar a forma de ensinar adequadamente, sem assim entender as dificuldades dos mesmos por não saberem identificar perfis de aprendizagem que são diversos e singulares para cada estilo cognitivo em cada aluno que esteja participando das aulas.
O que os alunos verbalizam muito é que os professores não sabem dar aula. Ou seja: na verdade não se empenham em empregar didáticas alternativas ou até tradicionais com um planejamento prévio, que é pertinente e essencial para a qualidade do processamento das informações até atingir a capacidade de aprendizagem em sua integridade.
A alteração nos métodos de ensino deve ser motivada pela própria necessidade de outras competências exigidas em especial para a ciência contábil. Sabe-se que, atualmente o que predomina é a quantidade de informação, memória do capital intelectual ou do marketing como alguns autores preferem. Isso interfere substancialmente na prática e entendimento da Contabilidade e consequentemente no ensino profissional da área.
O mercado não consegue mais medir seus ativos somente por métodos quantitativos, visto que o patrimônio das organizações de grande porte está cada vez mais atrelado a ativos intangíveis, o que demanda do profissional da contabilidade a necessidade de ser cada vez mais substantivo além de ter o forte referencial técnico e quantitativo que sempre foi característico da área.
Se percebe, através da prática do magistério que o aluno do curso de Ciências Contábeis, em especial, também precisa ser fortemente conscientizado sobre estas novas necessidades, visto que a educação bancária (FREIRE, 2005), não atende mais estas demandas e em muitas turmas vemos que o pensamento do acadêmico esta no entendimento que fora do método das partidas dobradas não existe salvação.
O docente deve então, cada vez mais socializar seu plano de aula para que os alunos fiquem mais conscientes da necessidade de se abordar os assuntos propostos no plano das disciplinas pertinentes ao currículo pleno, seguindo sempre o intuito de construir conhecimento com visão crítica necessária para formação integral do profissional.
Assim, percebe-se também que a alfabetização contábil possui algumas particularidades no que se refere ao ensino em cursos de Ciências Contábeis e Administração, como por exemplo, saber diagnosticar os recursos adequados a cada situação problemática que o mercado traz como demanda em cada serviço especifica e especialização para atuação técnica pertinente.
No caso do curso de Administração, o acadêmico não tem a necessidade especifica de aprender a fazer propriamente dito, mas sim, interpretar as demonstrações contábeis, bem como o conceito sobre o patrimônio e suas alterações. Logo, a forma de ensinar nos referidos cursos passa por substancial diferença e o educador bancário às vezes não se da conta desta situação elementar.
Para ter acesso a uma melhor qualidade de vida e para que a formação profissional atenda a necessidade urgente de um pensamento voltado à capacidade de autogestão, de entendimento de sustentabilidade o que deve ser melhorado é o processo de promoção do conhecimento.
Maturana (1998) diz que o verdadeiro conhecimento não leva ao controle ou a tentativa de controle, mas leva ao entendimento, à compreensão de uma harmônica e ajustada adaptação à realidade que é perneada por diversas leituras teóricas, sobre a vida profissional que exige algo a mais que saber fazer, mas que contemple a reflexão dos porquês de fazer de uma forma e não de outra. Para ele, conhecer é viver, viver é conhecer. Diz ainda que todo conhecer é uma ação efetiva que permite a um ser vivo continuar sua existência no mundo que ele mesmo traz a tona ao conhecê-lo.
Desta forma, é preciso progredir no campo da ciência e da tecnologia, das ciências sociais e humanas para garantir a qualidade a nível humano, é preciso melhorar também o sistema de valores. Assim, a sabedoria consiste, exatamente, na intima aliança entre conhecimentos e valores.
É essencial considerar que as mudanças substanciais que a sociedade tem passado bem como a Contabilidade (por ser uma ciência socialmente aplicável), desencadeiam inevitáveis alterações que levam a necessidade de uma educação profissional diferente do paradigma do século passado que não contemplava a reflexão básica do ser profissional. Ou seja, se fazia o que tinha que ser feito sem rever o porquê.
Loureiro (2004) discorre sobre a era do conhecimento como uma possibilidade de processo geral do trabalho através do processamento binário de informação e do conhecimento permitindo substituir todo tipo de trabalho de rotina. Do mesmo modo, o trabalhador taylorizado, seja na fábrica ou no escritório poderá agregar novas possibilidades de desenvolver o seu trabalho a partir de um critica sobre o que lhe compete fazer. Portanto esse trabalhador é capaz de criar um processo de atividades cotidianas totalmente novas.( ADORNO E HORKHEIMER, 1985)
E é esse o foco deste ensaio: discutir a intervenção do docente que pode sugerir oportunidades aos alunos (futuros profissionais atuantes no mercado de trabalho) que construam sempre uma nova ética profissional, respeitando as normas, mas criando estratégias alternativas de tornar exequível o que identifica como essencial ser criado e desenvolvido para a geração de novas culturas de produção.
A escola que vemos na atualidade esta ainda muito atrelada aos conceitos do século passado onde se tinha como objetivo formar trabalhadores para a fábrica ou para o escritório para realizar tarefas, onde nada se podia mudar. A escola de Frankfurt demonstrou que os meios de comunicação visavam tornar esse tipo de trabalhador, na hora do laser tão pensante quanto na hora do trabalho.
O processo de pensamento cristalizado que foi o paradigma predominante até pouco tempo e que influenciou o desenvolvimento dos métodos de ensino tem que ser revisado e avaliado, numa hermenêutica nova (interpretação da interpretação), numa perspectiva do real, que esteja submersa a capacitação dos profissionais que poderão futuramente atuar no mercado com posições mais claras e objetivadas pela visão critica e vigilante de seus papéis no mundo do trabalho. Isso justifica a dificuldade tanto por parte dos docentes como por parte dos alunos para a adequação ao novo modelo da era do conhecimento baseado na socialização, no entendimento sistêmico, na gestão da mudança entre outros fatores que necessitam de adequação de mentalidade e novos métodos de ensino-aprendizagem.( MARCUSE, 1973; MORIN, 2011).
Várias vezes são ressaltadas, de forma veemente, múltiplas necessidades de mudanças, a partir de métodos que no sentido literal significam: forma de fazer. No caso, é pertinente rever o pensamento bancário de Freire que opera na base da rotina, que não interpreta as necessidades do ambiente, mas isto sim o meio educacional como um organismo aberto que deve ser constantemente reeditado, revisto e recriado. Então, quais seriam as novas formas de abordagem para tentar minimizar um passivo educacional na área de formação técnica?
É relevante citar um exemplo de como fazer uma abordagem mais socializada no ensino introdutório de contabilidade partindo da premissa básica de utilizar termos que os alunos entendam, que não estejam fora de sua realidade para não criar um ambiente em que o alfabetizando contábil não se sinta deslocado, sem entender o que ouve ou sentindo-se diminuído por não se identificar com nada do que está sendo trazido em aula.
Quebrar mitos e ensinar com simplicidade é fundamental para aproximar o aluno da realidade podendo inclui-lo no meio acadêmico para devolvê-lo ao mercado de trabalho com um novo olhar sobre o papel profissional a partir das circunstancias de indivíduos que ele conhece e poderá interferir de maneira profissional e tecnicamente adequada.
Para Cardoso (2007), para desenvolver o raciocínio, devemos pensar em nosso cotidiano. O que você faz com seu salário? Quando paga suas contas? Decide comprar um bem, ou uma casa, um carro, ou uma roupa. Ao fazer essas comparações pode ser que se atinja a meta fundamental de socializar o ensino nunca partindo de modelos prontos, empresariais, pois se pretende abordar a alfabetização na área contábil. Todos os eventos pessoais citados fazem parte da vida das pessoas e tem relação com a contabilidade.
Se trazidos ao ambiente acadêmico de sala de aula pelo docente, os fatos relatados pelo docente podem mobilizar sentimentos de confiança, de unidade, onde os alunos se identifiquem com os exemplos abordados de situações cotidianas que correspondem às escolhas pessoais de consumo bem como os perfis profissionais futuros que podem integrar uma ética profissional concretamente subjetiva sem perder a noção de indicadores, de características especificas para a aplicação das teorias contábeis introdutórias e fundamentais para a prática profissional adequada.
Talvez partindo da realidade dos alunos com exemplos construídos com mais debate, a metodologia de ensino da contabilidade fique menos pesada. Estas ações estão sugeridas por Cardoso (2007) no qual este tipo de postura de um professor deixa a aula mais participativa e ações simples como esta podem melhorar a interação e aproximação da realidade do aluno que ainda não sabe os conceitos básicos necessários para ser alfabetizado na área contábil, tanto para sequencia no curso de Ciências Contábeis, como para entendimento macro para o curso de Administração, formando, assim um profissional mais integral e supostamente mais adequado para as novas demandas profissionais da área.
Nesta senda o professor deve estar atento a questões organizacionais como socializar o plano de ensino, fazer ajustes e adequações no decorrer das aulas, diversificar as metodologias de ensino e avaliação, sendo indicado dinâmicas, exercícios aplicados, visitas técnicas, resolução de problemas entre outras metodologias.
O objetivo principal com a aplicação deste estudo é identificar as principais dificuldades encontradas pelos acadêmicos da área das Ciências Sociais aplicadas no processo de aprendizagem, possibilitando uma análise sobre a forma de ensino que vem sendo desenvolvida com os acadêmicos. O levantamento dos dados realizou-se através de questões relacionadas aos docentes e os discentes destas áreas, apresentando seu ponto de vista em relação aos próprios e aos professores que passam seus conhecimentos a fim de contribuir para a formação de um novo profissional devidamente capacitado. A aplicação deste questionário deu-se em alunos dos cursos de Ciências Contábeis e Administração da UNISC- Universidade de Santa Cruz do Sul campus Sobradinho.
A universidade possui estes dois cursos em sua grade desde o início de seus trabalhos, formando a cada ano dezenas de acadêmicos que buscam aperfeiçoar seus conhecimentos através de uma formação profissional. Com os conhecimentos obtidos, o mercado de trabalho fica mais próximo dos alunos, garantindo assim sucesso profissional. Com a crescente procura por estes cursos, a universidade estendeu seus trabalhos pelo estado, chegando a quatro campus fora da sede,onde em três deles são oferecidos dentre outros, estes dois cursos objeto de estudo.
Durante o semestre letivo, disponibilizou-se o questionário aos alunos que de forma rápida e direta responderam as questões que dão suporte ao presente trabalho. Para a aplicação do questionário, consultou-se 55 acadêmicos onde destes 29 alunos do curso de Administração e 26 de Ciências Contábeis. As perguntas aplicadas aos dois cursos foram exatamente às mesmas, estas relacionadas primeiramente ao docente e sua forma de ensino, metodologia e aplicação dos conhecimentos adquiridos em aula ao mundo real das empresas.
Já em relação aos discentes as questões estavam vinculadas ao ponto de vista de cada um aos conteúdos, seu interesse pela aprendizagem e a contribuição do ensino anterior seja ele básico ou secundário na sua atual formação acadêmica. Através de respostas objetivas, os questionários foram respondidos, onde também foi possível compartilhar as razões que os desmotivaram a aprendizagem da contabilidade durante o ensino das disciplinas.
Através da apuração das respostas dos 55 acadêmicos dos cursos de Ciências Contábeis e Administração. Construiu-se uma tabela que representa a visão dos alunos nas dificuldades de aprendizado em relação ao docente.
Tabela 1- Dificuldades de aprendizado em relação ao docente.
QUESTÕES |
SIM |
% |
NÃO |
% |
TOTAL |
% |
Planejamento e disponibilidade de materiais |
52 |
94,5% |
3 |
5,5% |
55 |
100% |
Contextualização e aplicabilidade |
50 |
90,9% |
5 |
9,1% |
55 |
100% |
Debate e participação em aula |
48 |
87,5% |
7 |
12,5% |
55 |
100% |
Fonte: elaborado pelos autores.
Observa-se desta forma que em relação ao docente das disciplinas em análise (Contabilidade I e Introdutória) os acadêmicos mostram-se satisfeitos com a maneira em que são conduzidas e apresentadas as aulas bem como seu desenvolvimento e aplicação no cotidiano. Pode-se perceber que os mesmos apresentam espaço para a realização e participação em debates e discussões dos temas, mas ainda esse percentual encontra-se em desvantagem se comparado com as demais questões relacionadas ao docente.
Talvez a queda na participação dos alunos em aula, seja acarretada pelo fato anteriormente citado de que atualmente, os docentes não aplicam os acontecimentos do cotidiano em suas aulas, continuando assim com a sistemática de ensino do século passado onde se buscava formar funcionários para trabalhar em fábricas ou escritório sem autonomia para novos pensamentos, trabalhando na mesmice e sem agregar conhecimento ou aperfeiçoa-lo em seu local de trabalho.
Já as questões relacionadas ao discente e seu interesse, experiência e até mesmo sua formação no ensino básico e/ou secundário possuíram respostas conforme demonstrado na tabela a seguir.
Tabela 2- Dificuldade de aprendizado em relação ao discente.
QUESTÕES |
SIM |
% |
NÃO |
% |
TOTAL |
% |
Houve dificuldade pela falta de experiência |
44 |
80% |
11 |
20% |
55 |
100% |
Houve falta de motivação e interesse no inicio |
14 |
25,5% |
41 |
74,5% |
55 |
100% |
Houve superficialidade nos conteúdos iniciais |
25 |
45,5% |
30 |
54,5% |
55 |
100% |
Houve passivos educacionais na formação básico-secundária |
33 |
60% |
22 |
40% |
55 |
100% |
Fonte: elaborado pelos autores
Pode-se observar que a falta de experiência na área contábil torna os alunos inseguros em relação ao aprendizado das disciplinas. Cerca de 80% deles afirmam sentir alguma dificuldade no entendimento e até mesmo na linguagem utilizada pelo docente para abordar os conteúdos em sala de aula.
Em relação à motivação pelos estudos e o aperfeiçoamento do aprendizado, os acadêmicos desmotivados ao estudo apresentaram razões como falta de conhecimento dos termos e da linguagem contábil utilizada nas aulas, descaso com a matéria bem com sua importância no decorrer do curso. Embora o percentual de alunos que se dizem desmotivados ser baixo, as razões apresentadas por eles e descritas anteriormente nos faz refletir sobre a forma de ensino trabalhada e que este artigo busca esclarecer.
Esta desmotivação e despreparo dos jovens para com o aprendizado contábil pode ser entendido como uma consequência da ineficiência dos docentes ao introduzir a matéria aos mesmos, e até mesmo o desconhecimento de como abordar assuntos de extrema importância na vida acadêmica e profissional a alunos que sequer ouviram falar em termos básicos utilizados na contabilidade como Débito e Credito.
Outro número relevante esta relacionado com a dificuldade no aprendizado encontrado pelos acadêmicos devido à superficialidade no ensino básico e secundário. Essa informação é o reflexo da educação, onde o ensino que deveria ser preparatório para a universidade, não atende a esta necessidade mínima e traz dificuldade aos alunos não somente destes cursos ligados principalmente ao levantamento e a interpretação de dados e informações para o desenvolvimento das organizações a que estão vinculados, mas também nos demais cursos onde se faz necessária uma melhor preparação destes futuros profissionais.
A aplicação deste questionário junto aos acadêmicos possibilitou o levantamento das dificuldades encontradas junto ao docente e ao próprio discente no aprendizado da contabilidade. Dificuldades estas que se relacionam tanto com a forma de ensino, planejamento e contextualização das aulas quanto ao interesse, inexperiência e despreparo enfrentado pelos alunos.
Analisando os dados encontrados, pode-se observar que as dificuldades no aprendizado da contabilidade podem ser reflexo dos passivos educacionais na formação do futuro acadêmico. O ensino anterior (médio) não atende as exigências mínimas para que os alunos possam ingressar no ensino superior com a capacidade de entendimento e compreensão dos termos e formas de ensinamento necessárias para seu pleno entendimento dos assuntos debatidos em aula.
Claro, não se pode querer que escolas repassem aos seus alunos e exijam a obrigatoriedade de que os mesmos distingam Ativo de Passivo, por exemplo. Esse conhecimento ele receberá ao ingressar no curso superior. Cabe a escola, ao menos retratar alguns fatos e termos que este futuro acadêmico irá se deparar no decorrer da academia, e até mesmo no trabalho que irá exercer.
Questões como estas podem ser resolvidas, ou melhor, tratadas com a inclusão destes nos debates sobre temas de relevância acadêmicos. Embora os números mostrem que a disponibilidade dos materiais ocorre de forma satisfatória, ainda resta o aprofundamento nos conteúdos contábeis iniciais, o que certamente contribuirá para um melhor desempenho destes futuros contadores e administradores junto à realidade de suas empresas.
O objetivo do estudo fundamentou-se em um levantamento qualitativo das dificuldades de aprendizado na faze inicial dos cursos de administração e contabilidade, sendo basicamente uma pesquisa de percepção, para entender e refletir sobre as novas formas e necessidades educacionais de uma sociedade pós tecnológica. (Marcuse, 1973)
Assim, a visão da educação deve partir da realidade dos alunos, reforçando a visão critica do professor no sentido de tentar ilustrar a realidade para os alunos, promovendo uma nova consciência e identificando seu papel de inventor de situações das mais variadas, na utilização de recursos específicos que podem ser conhecidos na formação de atividades de cunho didático para uso técnico.
Este tema não poderia ser esgotado neste artigo, pois sugere ainda inúmeros debates futuros podendo assim melhor ampliar a visão teórica da pedagogia na área de contabilidade bem como até na administração. Cabe reforçar e carência de pesquisas que abordem ao assunto, o que aponta a necessidade de futuros questionamentos sobre esse tema.
A qualidade do ensino brasileiro é um tema complexo, porque requer não só nas áreas aqui discutidas, novas possibilidades de prática docente para além da didática, mas numa elaborada maneira de ver o aluno na sua singularidade, respeitando limitações propondo novas reflexões sem esquecer que a linguagem em sala de aula é essencial que ocorra numa equivalência de termos e situações.
É imprescindível que o professor saiba construir de maneira criativa e sensível cada aula com exemplos cotidianos e mobilizando a constante participação dos alunos para incluí-los na vida profissional com um entendimento para além do fazer, o que se entende ser mais adequado às novas exigências do perfil de um profissional vinculado às ciências sociais aplicadas de forma geral.
O ensaio fez uma discussão das novas necessidades educacionais com uma breve contextualização histórica e social ancorada na escola de Frankfurdt, sem pretensão de generalização ou esgotar o tema o que inclusive seria uma grande contradição em função do exposto.
ARAÚJO, Oliveira Aneide; Medeiros, Paulo; LIMA, Diogo. Dificuldades de aprendizagem de custos e alternativas de superação. Natal/RN: Revista Interface, v.2, n 01, jan./jun., 2005.
BASTOS, Lustosa Rogério. Marcuse e o homem unidimensional: pensamento único atravessando o estado e as instituições. Katál, Florianópolis, v. 17, n. 01, p. 111-119, jan/jun 2014.
BARQUERO, Vázquez. Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização. Porto Alegre: Fundação da Economia e Estatística, 2001. 280 páginas.
BELL, Daniel. Las contradicciones culturales del capitalismo. Alianza, Madrid, 1977, 264 p.
BELL, Daniel. The coming of Post–Industrial Society/D. 1973.
BAYMA, Fátima. Educação corporativa: desenvolvendo e gerenciando Competências. Fundação Getúlio Vargas. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
CARDOSO, Ricardo Lopes. Contabilidade geral. São Paulo: Atlas, 2007.
ETGES, Virgínia E. DEGRANDI, José O. Desenvolvimento regional: a diversidade regional como potencialidade. Revista Brasileira de Desenvolvimento Regional: Blumenau,vol. 01, n 01, abril, 2013, p. 85-94.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
KUHN Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2005.
HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.
HORKHEIMER, Max e ADORNO, W. Theodor. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos.Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1985.
LOUREIRO, C.F.B; Trajetória e fundamentos da educação ambiental. São Paulo: Cortez, 2004.
MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. Tradução de Giasone Rebuá. 1973
MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. De máquinas e seres vivos. Autopoiese, a organização do vivo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
TENÓRIO, Guilherme F. Tecnologia da Informação transformando as organizações e o trabalho. Rio de Janeiro. Editora FGV, 2007. 216 p.
_________ . Tem razão a administração? ensaios de teoria organizacional. Editora Unijuí, 2° Edição, 2004 136p
TOFFLER, Alvin. “Powershift”, as mudanças de poder: um perfil da sociedade do século XXI pela análise das transformações e natureza do poder. Rio de Janeiro, Record, 1995, p.613.
1. UNISC. Email: fbfontoura@unisc.br
2. UNISC. Email: wittmann@profwittmann.com.br
3. UNISCEmail: laerciof@unisc.br
4. UNISC. Email: UNISCtiagoscarano@hotmail.com
5. Realizou-se um levantamento das dificuldades enfrentadas pelos acadêmicos em Ciências Contábeis da UNISC- Universidade de Santa Cruz do Sul, baseados nas dificuldades em relação ao próprio acadêmico e em relação ao docente com os alunos matriculados nas disciplinas de contabilidade introdutória e contabilidade I no ano de 2014 e 2015. Um estudo parecido que faz para deste referencial foi elaborado por Araújo, (2005), para a área de contabilidade de custos.
6. Considera-se aqui esse autor um epistemólogo que trabalha com muita propriedade a questão dos paradigmas e a miopia que algumas ciências, em especial as naturais tiveram na história de sua evolução, bem como as dificuldades para se tomar medidas diferentes diante descontinuidades.