Espacios. Vol. 37 (Nº 30) Año 2016. Pág. 17
Andriele De Prá CARVALHO 1; Sieglinde Kindl da CUNHA 2; Luciano Ferreira LIMA 3; Danielle Denes CARSTENS 4
Recibido: 30/05/16 • Aprobado: 28/06/2016
2. Institucionalização e teoria institucional
3. Institucionalização e teoria da inovação
4. Contribuições da teoria institucional para teoria da inovação
RESUMO: O presente artigo possui como objetivo realizar uma revisão teórica entre a abordagem sócio-técnica da teoria da inovação e a teoria institucional a fim de elucidar as semelhanças, bem como pontuar as diferenças entre estas duas frentes teóricas. Por meio de uma revisão da literatura, identificou-se os principais pontos que fundamentam a Teoria Institucional, bem como a Teoria da inovação. Por fim, faz-se um comparativo entre as duas teorias e levanta-se alguns pontos de contribuição da teoria institucional na teoria da inovação. |
ABSTRACT: This paper has as objective to perform a theoretical review of the socio-technical approach to innovation theory and institutional theory to elucidate the similarities and differences between these scoring two theoretical fronts. Through a literature review, we identified the main points underlying the Institutional Theory and the Theory of innovation. Finally, it is a comparison between the two theories and rises some points contribution of institutional theory in the theory of innovation. |
O ambiente projeta nas organizações a necessidade de se definirem estratégias de ação, exercendo pressões que as influenciam a fim de garantir a sobrevivência e a legitimidade. A teoria institucional é baseada na noção de que, para sobreviver, as organizações devem convencer seu público de que são entidades legitimadas e merecedoras de suporte (Meyer & Rowan, 1991). Para ganhar essa legitimação, organizações criam mitos sobre si mesmas, por meio da perpetuação de símbolos e atividades cerimoniais e histórias sobre estas atividades (Mizruchi & Fein, 1999).
A Teoria Organizacional e suas contribuições teóricas auxilia o entendimento e análise da organização, trazendo diferentes perspectivas para diferentes compreensões. A teoria então surge como norteadora para definir as diferentes abordagens sobre a relação organização e ambiente (Hatch & Cunliffe, 2006). Dessa forma, a institucionalização de Sistemas Inovadores, pode ser explicada pela Teoria Institucional e suas contribuições teóricas. De acordo com Scott (2008) setores institucionais são setores sociais nos quais predominam um conjunto de regras e normas que controlam a conduta, definindo padrões, modelos normativos e estruturais, que podem ocorrer de quatro formas: coerção, normalização, indução e mimetismo organizacional, que se relacionam para explicar a legitimação.
Este estudo aborda em um primeiro momento a Teoria Institucional, seu papel e as bases teóricas que influenciam os estudos organizacionais. Na sequência aborda a Teoria da Inovação visando explicar a importância da Teoria Institucional e sua contribuição teórica para analisar as instituições e legitimidade, para compreensão do estudo de inovação nas organizações. Assim, o objetivo deste artigo é analisar a Inovação sob a ótica da Teoria Institucional, ou seja, o papel das instituições na Teoria da Inovação. As fontes de dados mais relevantes foram artigos sobre o tema de inovação e da teoria institucional.
Para atingir este objetivo, o presente artigo está dividido em cinco seções: a primeira parte consiste na presente introdução, a segunda parte é formada pela fundamentação teórica sobre os temas de institucionalização, teoria institucional e teoria da inovação; a terceira parte aborda o tema da teoria da inovação e a quarta parte trata da análise dos resultados a partir dos dados levantados. Já as considerações finais e recomendações consistem da última parte do estudo.
A teoria institucional é uma continuação e extensão da revolução intelectual iniciada durante os anos 60 do século passado, que introduziu a conceituação de sistemas abertos no estudo das organizações. Uma década depois, os pesquisadores começaram a reconhecer os efeitos significativos de organizações associados com o aumento de forças culturais e sociais: o ambiente institucional. Organizações eram vistas como sendo mais do que sistemas de produção; eram sistemas culturais e sociais (Scott, 2001). Os artigos de Meyer e Rowan (1977) e de DiMaggio e Powel (1983) foram seminais para este crescimento da teoria institucional, que desde então, abrangem uma grande variedade de fenômenos no campo dos estudos organizacionais (Tolbert & Zucker, 1999).
A teoria institucional de base sociológica, assim como outras, constitui um todo coerente, representa tanto uma visão de mundo (ontologia) quanto o conhecimento proveniente da relação entre o sujeito e o objeto (epistemologia). Funda-se nos pressupostos, ou seja, delimita quais são os níveis de apreensão do que considera realidade, bem como define as suas categorias analíticas (Hessen, 2000).
Neste sentido, um dos principais pressupostos da teoria institucional de base sociológica diz respeito à construção social da realidade (Berger & Luckmann, 1985), na qual a consciência dos indivíduos ocorre de forma intersubjetiva através de uma complexa inter-relação de processos institucionais. Portanto, difere do indivíduo da economia neoclássica, o qual é dotado de uma racionalidade pragmático-utilitarista, bem como daquele alienado, por aqueles que detêm o capital, o domínio das condições materiais, no materialismo histórico dialético.
Berger e Luckmann (1985) argumentam que a realidade é socialmente construída, que “a ordem social é um produto humano, ou, mais precisamente, uma progressiva produção humana” (Berger & Luckmann, 1985, p. 76). As transações econômicas são frutos das relações sociais, sujeitas as padronizações impostas pela institucionalização. Se as negociações são feitas de determinadas formas e não de outras é porque existe uma ordem social. De acordo com Berger e Luckmann (1985, p. 77) “toda atividade humana está sujeita ao hábito. A institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação recíproca de ações habituais por tipos de atores, têm sempre uma história, da qual são produtos. [...] Dizer que um segmento da atividade humana foi institucionalizado já é dizer que este segmento da atividade humana foi submetido ao controle social (Berger & Luckmann, 1985, p. 79-80).
As unidades de análise na Teoria Institucional são os campos organizacionais e as populações de organizações. Os pressupostos básicos podem ser elencados como segue: 1. A realidade é socialmente construída; 2. As organizações são a concretização/materialização das instituições; 3. As organizações possuem estruturas e práticas similares porque buscam legitimidade.
Na Teoria Institucional de base sociológica, as organizações e suas transações, em um ambiente de incerteza, não buscam somente a racionalização de processos e gastos, mas, também, a legitimidade através de estruturas e práticas organizacionais similares ao do campo organizacional. A perspectiva institucional, de acordo com Carvalho, Vieira e Lopes (1999, p. 6), “abandona a concepção de um ambiente formado exclusivamente por recursos humanos, materiais e econômicos para destacar a presença de elementos culturais: valores, símbolos, mitos, sistema de crenças e programas profissionais.”
Scott e Davis (2008, p. 151) argumentam que “Weber foi um dos primeiros teóricos sociais a chamar a atenção para a importância central da legitimidade na vida social”. No entendimento de Silbey (como citado em Rossoni, 2009, p. 26), Max Weber, ao tratar o fenômeno da legitimidade, busca “explicar as origens da obediência e da ordem social, não somente a partir do entendimento da coerção ou da promessa de recompensas, mas pela aceitação de um comando ou restrição em face do senso de obrigação e da necessidade moral.”
Há várias vertentes do institucionalismo em diversos campos do conhecimento (Guarido & Costa, 2012). No entanto, o institucionalismo organizacional de base sociológica traz grandes contribuições para o estudo das organizações, expressando os valores sociais. No entendimento de Carvalho, Vieira e Lopes (1999, p. 7) “os ambientes técnicos e institucionais sustentam diferentes racionalidades: num ambiente técnico o ‘racional’ é o que permite às organizações serem eficientes, produzir bens ou serviços aceitos pelo mercado e assim lograr os seus objetivos; num ambiente institucional, por sua vez, a ação racional está representada nos procedimentos capazes de proporcionar legitimidade no presente e no futuro organizacional.”
Através do desenvolvimento teórico, dependendo do posicionamento ontológico e epistemológico, pode-se explicar, representar, sintetizar, fazer previsões ou realizar inferências acerca da realidade. A teoria institucional passou por várias transformações, no que se refere à sua episteme, proporcionando, deste modo, diferentes olhares sobre os fenômenos sociais. Cabe destacar que, alguns constructos tornaram-se centrais na literatura sobre as organizações, como por exemplo: ambiente institucional, legitimidade, isomorfismo e campo organizacional, os quais elevaram a reflexão ao patamar das complexas relações socioculturais.
No que se refere ao isomorfismo, fenômeno organizacional identificado e nominado por Dimaggio e Powell (1991, 2007), existe, de fato, uma surpreendente homogeneidade de formas e práticas organizacionais (Dimaggio & Powell, 1991, 2007). A concepção racionalista da realidade organizacional baseia-se no pressuposto que as organizações são orientadas por objetivos e pela busca por eficiência. Todavia, as organizações constituem a concretização das interações socioculturais e cognitivas, as quais buscam legitimidade em um determinado contexto social. O que, de certo modo, na perspectiva do institucionalismo organizacional, explica a adoção de práticas organizacionais semelhantes.
Segundo Guarido (2008, p. 18), “num campo organizacional, na acepção de DiMaggio e Powell (1983), há tendência de conformidade com as características ambientais, promovendo o isomorfismo estrutural entre organizações.” Existem três mecanismos de mudança isomórfica institucional: “(1) o isomorfismo coercitivo, que provém da influência política e do problema da legitimidade; (2) o isomorfismo mimético, que resulta de respostas padrão à incerteza; e (3) o isomorfismo normativo, associado à profissionalização” (Dimaggio & Powell, 2007, p. 121).
Os fenômenos analisados pela teoria institucional de base sociológica não estão estritamente relacionados com os atores individuais (o indivíduo ou a organização), uma vez que, o campo, o isomorfismo, a legitimidade, o decoupling, o cerimonialismo, a institucionalização, etc., são fenômenos provenientes das interações sociais ao longo do tempo.
Scott (1995) distingue analiticamente entre três componentes básicos das instituições (normativo, regulativo e cognitivo), demonstrados no quadro 1, cada um dando promoção para uma distinta base de legitimação.
Quadro 1
Três pilares das instituições
|
Pilares |
||
Regulativo |
Normativo |
Cognitivo |
|
Base de conformidade |
Obediência |
Obrigação social |
Aceito como verdade |
Mecanismos |
Coercitivo |
Normativo |
Mimético |
Lógica |
Instrumentalidade |
Conformidade |
Ortodoxia |
Indicadores |
Regras, leis e sanções |
Certificação Credibilidade |
Predomínio Difusão |
Base de legitimidade |
Legalmente sancionado |
Moralmente governado |
Culturalmente sustentado Compreensível Reconhecível |
De “Institutions and organizations” por Scott, 2001, p. 52.
Os três pilares das instituições são definidos por Scott (2001) como facetas que fortalecem e reforçam as estruturas. O pilar regulativo envolve a capacidade de se estabelecerem regras, inspecionar a conformidade a elas e, se necessário, manipular sanções (recompensas ou punições) com o objetivo de influenciar o comportamento futuro. Além de regras e leis, outros ingredientes são centrais ao pilar regulatório, tais como força, medo e utilidade (Scott, 2001).
O pilar normativo enfatiza regras normativas que introduzem uma dimensão prescritiva, avaliativa e obrigatória à vida social. Sistemas normativos incluem valores e normas. Os valores especificam o que é desejável ou preferido juntamente com a construção de padrões com os quais as estruturas existentes ou o comportamento pode ser comparado; já as normas especificam como as coisas deveriam ser feitas, definindo significados legitimados aos valores adotados. O pilar normativo define metas e objetivos e designa quais são as maneiras mais apropriadas para atingi-los (Scott, 2001).
No pilar cultural-cognitivo a ênfase é dada para a existência e interação entre os atores. Símbolos (palavras, sinais, gestos) moldam os significados que atribuímos aos objetos e atividades. As estruturas cognitivas são constituídas de compreensões internalizadas de cada ator, a partir de sua interpretação da realidade social em que atua. Os papéis sociais proporcionam diferentes interpretações subjetivas do ator, cujas características sociais variam de acordo com o tempo e o espaço (Scott, 2001). Esse contexto possui similar entendimento na Teoria Sócio-técnica da Inovação.
A articulação entre os três mecanismos na análise do processo de transformação é relevante em qualquer sociedade; contudo o peso específico de cada mecanismo depende do contexto de cada sociedade. Em sociedades com forte tradição democrática e com alto nível de competição na oferta de bens e serviços, por exemplo, a tendência é que predominem os mecanismos miméticos e normativos de pressão para a estabilidade e mudança (Machado-da-Silva & Golçalves, 1999).
Cada um desses três elementos leva à legitimação, que é uma condição envolvendo alinhamento cultural, suporte normativo ou consonância com regras ou leis relevantes (Scott, 1995). O fato de uma organização ser legitimada ou não é determinado pelos observadores da organização, sendo que todos os stakeholders participam deste processo, avaliando um ou outro aspecto da organização.
As inovações buscam aprimorar cada vez mais a capacidade produtiva e adaptativa das organizações, mas para isso devem levar em conta o paradigma atual que abrange as suas relações (Geels, 2010). A Teoria da Inovação possui três principais abordagens, que de acordo com Coenen e Lopez (2008) são: Sistema Setorial de Inovação, Sistema Tecnológico de Inovação e Sistema Sócio-Técnico. Um sistema de inovação é definido como redes de organizações e instituições que desenvolvem, difundir e utilizar inovações (Markard & Truffer, 2008).
A dinâmica da abordagem sistêmica no sistema setorial de inovação se dá em uma abordagem estática, inovação como resultado das redes entre atores (primários ou secundários) e instituições em determinado tempo e espaço. O sistema setorial de Inovação é um setor com atividades que unificam os esforços. Essa dimensão setorial é citada na obra de Schumpeter, por admitir a dimensão da atividade produtiva como um elemento a ser considerado sob a perspectiva de distintos setores industriais, condicionados de forma diferente em um mesmo ambiente (Zucalotto, 2004). O Sistema Setorial de Inovação descreve analiticamente diferenças e similaridades na estrutura, organização e limite entre os setores, buscando identificar o que afeta a inovação, desempenho e a competitividade entre países nos diferentes setores, primando por melhorias nas políticas públicas (Malerba, 2002). Ou seja, possui um recorte transversal, visão estática e dentre seus atores estão as instituições regulativas.
Já o Sistema de Inovação Tecnológica é sustentado na teoria evolucionista, analisa a trajetória de uma tecnologias (análise do ciclo de vida), considerando seu nascimento, evolução e maturidade, e foco nas inovações incrementais. O Sistema Tecnológico de Inovação é definido em termos de conhecimentos e competências. Consiste na dinâmica do conhecimento e competências, podem ser regional, internacional e nacional. A unidade organizacional é a principal responsável pela inovação (Coenen & Lopez, 2008).
A abordagem sócio-técnica é construtivista, foca a transição tecnológica e inovações radicais. busca os elementos principais constituintes da organização, inclui: artefatos, conhecimentos, capital, cultura, etc. A inovação se dá pela interação de muitos processos e atividades, traz elementos, redes e nichos que são desenvolvidos a partir do momento em que são legitimados. Ou seja, reflete desde o aprendizado experimental, a viabilidade de regras, cognição, práticas locais, para chegar às regras formais e regulações do ambiente (Geels, 2010).
Essa busca por inovações decorrem dos institutos ou setores que influenciam esses novos projetos e recebem também influências, de forma a tornar a inovação uma das preocupações principais em todo mundo (Coenen & Lopez, 2012). Nesse sentido, no quadro 2, são apresentados os conceitos de instituição para as três abordagens de inovação listadas.
Quadro 2
Instituição nas abordagens de Inovação
Abordagem |
Conceito |
Atores |
Instituições |
Sistema Setorial de Inovação |
Baseado no produto ou grupo de produto, envolve múltiplas tecnologias e não é geograficamente limitado. |
Empresas heterogêneas e com foco principal.
|
São como postos de sinalização para inovação, foco na regulação e cognitividade. ênfase contextual ao invés de estrutural. |
Sistema de Inovação Tecnológica |
Baseado no domínio da tecnologia, envolve diferentes setores, não geograficamente limitado.
|
Empresas heterogêneas e com foco principal |
São como postos de sinalização para inovação, foco na regulação e cognitividade. ênfase contextual ao invés de estrutural. |
Sistema de Inovação Sócio-Técnica |
Baseado na função da sociedade, envolve múltiplos setores industriais e tecnologia. Com frequência é geograficamente limitado (principalmente nacionalmente) |
Analisam primeiramente informações de network. |
São como postos de sinalização para inovação, abordagem reguladora, normativa e cognitiva, regime analisado em nível agregado, nichos. |
De “Comparing systemic approaches to innovation for sustainability and competitiveness, por Coenen & Lopez, 2008
A teoria Institucional explica às inovações, em conformidade com as instituições cognitivas e pela busca da legitimidade, visando que as empresas sejam aceitas. Essa legitimidade constitui um mecanismo que liga o comportamento organizacional com sistemas de crenças e opiniões públicas, no qual a mudança ocorre em resposta às pressões institucionais (Geels, 2010).
Ainda de acordo com Geels (2011) os paradigmas da inovação apresentam características importantes. A primeira delas é que possui objetivos intencionais e dirigidos, demonstrando determinismo; a segunda é que seus benefícios são para fins coletivos e não individuais, por isso a questão da legitimidade e pressões das instituições; a terceira é que são agregadas em sua maioria em grandes empresas onde possui maior influência de pressões institucionais. Denota-se assim que essas transições implicam interações, construções sociais, mercado, tecnologia, discurso e opinião pública.
As Inovações sofrem influências do sistema, são promulgadas através de redes de relações sociais e não por intermédio de eventos. A inovação é um processo de aprendizagem social interativo, sendo resultado de uma construção social que interage com as instituições e processos do ambiente, gerando novas vertentes baseadas nas pressões do ambiente Esta abordagem reconhece também que certos padrões de interação são mais pronunciados que outros, em virtude de leis, regras, normas e rotinas, ou seja, pela influência de outras instituições. Em suma, para esta teoria um sistema de inovação é definido como redes de organizações, instituições e seus componentes (Geels, 2010).
Nesse contexto, Hatch e Cunliffe (2006) traz a importância de compreender a visão do indivíduo, como ele interpreta sua realidade, abrange as ações, significados e valores. Ou seja, as organização em prol da inovação como uma cultura, exercendo um papel ativo no desenvolvimento de interpretações compartilhadas de suas experiências para a legitimidade.
Para sobreviver, as organizações devem acomodar expectativas institucionais, mesmo que essas expectativas tenham pouco a ver com noções técnicas de conclusão de performance (D'Aunno, Sutton, & Price, 1991; Dimaggio & Powell, 1991; Scott, 1998).
Pensando nos arranjos organizacionais em termos de ações ou arquétipos, Greenwood e Hinings (1996) dão uma definição robusta de mudança radical e convergente. A mudança convergente ocorre dentro dos parâmetros de práticas arquétipas existentes. Já a mudança radical, em contraste, ocorre quando a organização muda de uma prática em uso para outra.
O isomorfismo e as pressões da convergência institucional conduzem as organizações a adotarem a mesma forma institucional, ou seja, o “contexto institucional impõe práticas para organização” (Dimaggio & Powell, 1991, p. 27).
O foco da teoria neoinstitucional não está sobre a organização individual, mas sobre uma categoria ou rede de organizações, e essa afirmação é muito relevante quando aborda-se a visão de sistemas de inovação. Apesar de muitos dos primeiros trabalhos empíricos serem baseados em organizações individuais, ou estudos de caso, teoristas neoinstitucionais tratam organizações como uma população dentro do campo organizacional. Esses teoristas ressaltam que o contexto institucional é feito de interligações organizacionais verticalmente e horizontalmente e que as pressões e prescrições dentro desse contexto aplicam-se a todas as classes de organizações relevantes (Hinings & Greenwood, 1988).
A realidade organizacional não pode ser compreendida na sua totalidade e complexidade, neste sentido as teorias oferecem explicações de alguns aspectos dos objetos analisados, localizando-os no espaço e no tempo. As teorias proporcionam vários olhares sobre determinados fenômenos. Cada teoria possui um conjunto de pressupostos, os quais lhes direcionam o foco, bem como condicionam a interpretação.
Não se pode afirmar categoricamente, muito menos negar. Tem-se que empreender uma investigação minuciosa das principais diferenças teóricas, bem como manter a preocupação com a possibilidade de convergência ou complementaridade explicativa. Para tanto, os dogmas e a “camisa de força” da academia devem ser abandonados.
A teoria Institucional possui papel convergente com a teoria da inovação. Assim, de acordo com Weber e Hemmeskamp (2005) várias características do ambiente institucional tendem a adaptar-se ao surgimento e evolução das inovações sustentáveis. Não é apenas novas empresas que acompanham o desenvolvimento de novas tecnologias, mas várias outras camadas de instituições são geralmente criadas, transformadas e abandonadas neste processo.
Dessa forma, esses sistemas de inovação, frente às pressões institucionais, abordam a inovação como seu fator chave, pois está situado dentro de um determinado contexto que sofre e recebe influencias do meio e das relações entre multiníveis (nível dos nichos, do regime e do ambiente). Este fenômeno pelo qual as organizações estruturam-se as exigências do ambiente, refletindo uma realidade socialmente construída é explicado pela teoria institucional através das práticas isomórficas (Pugh & Hichson, 2004).
Diante dessas práticas, o papel das instituições na teoria da inovação também tem sido amplamente analisado e categorizado, pois de acordo com Weber e Hemmelskamp (2005) inovações e tecnologias não podem existir sem instituições. Seguindo a definição de instituições como padrões de comportamento habitual, podemos ver que esses padrões são necessários na existência de qualquer atividade produtiva. Denota-se assim que a contribuição da teoria institucional para analisar as instituições e legitimidades são importantes para a Teoria da Inovação.
A literatura de inovação, no entanto, utiliza de forma difusa e heterogênea os conceitos da teoria institucional, considerando as abordagem: Sistema Setorial de Inovação, Sistema de Inovação Tecnológica e Sistema Sócio-Técnico. A teoria institucional fundamenta a análise sistêmica da inovação, utilizando as contribuições teóricas sobre distinções entre instituições formais e informais, reguladora, normativa e tipos cultural-cognitivos das instituições, bem como os diferentes níveis institucionais (Geels, 2011).
Na abordagem dos Sistemas Setoriais de Inovação – SSI e dos Sistemas de Inovação tecnológica as instituições enfatizam as noções de organizações informais: como hábitos, convenções e rotinas reguladoras da vida social e econômica, como padrões habituais de comportamento, incorporando conhecimento, em contraste com a natureza codificada das organizações formais. Essas instituições reguladoras respeitam as regras formais do jogo que condicionam o comportamento e interação regular. Elas determinam o que é permitido e o que não é permitido e, portanto, muitas vezes apoiado por sanções. Salienta-se aqui as ideias de North (1990) que afirmam que as instituições são as regras do jogo e as organizações os jogadores.
Instituição nesta abordagem teórica abrange mais regras informais que se seguem a partir de processos de socialização e expectativas socialmente desejáveis. Eles conferem valores, deveres, responsabilidades, que definem o que é certo e o que é errado. Instituições cognitivas são as regras que constituem a natureza da realidade e os quadros através do qual significado ou sentido é feito. garciNesse sentido, essas formas institucionalizadas na Teoria da Inovação, explicadas pela Teoria Institucional, atuam como placas sinalizadoras e trazem à tona uma visão determinista em que o mercado define o que as organizações devem fazer e orientam seu comportamento, moldando o processo de inovação (Barbieri, Vasconcelos, Andreassi, & Vasconcelos, 2010).
Por conseguinte, a influência das instituições em sistemas de inovação e dos sistemas de inovação tecnológicos, são reguladoras e cognitivas, através de códigos, normas e regulamentos para produtos e tecnologias. A teoria da inovação apresenta a aprendizagem como uma capacidade cognitiva de transformar através da imitação ou reprodução, que é expressa por meio de ajustes de representação de usuários, rotinas e expectativas compartilhadas. A teoria da inovação afirma que os concorrentes perceberão os ganhos adicionais do inovador e o imitarão. Esta relação se repete, na medida em que o processo de imitação está ligado ao processo de inovação em uma sequência (Barbieri et al., 2010).
Os avanços, estagnação ou retrocesso nos Sistemas de inovação ocorrem pelo descompasso entre a evolução das instituições de a estrutura produtiva e tecnológica. De forma geral existe um descompasso entre a velocidade das inovações em relação as instituições. Segundo Malerba, SSI e TIS podem ser considerados sistemas de empresas centradas e as principais responsáveis pela inovação. "As empresas são os principais agentes na geração, adoção e uso de novas tecnologias, são caracterizadas por crenças específicas , expectativas, objetivos, competências e organização, e são continuamente envolvidas em processos de aprendizagem e acumulação de conhecimento" (Malerba, 2004, p. 390). Os atores nessas abordagens não se limitam exclusivamente as empresas, mas também inclui organizações não-empresariais , tais como universidades , organizações financeiras, agências governamentais , autoridades locais e assim por diante , considerados atores secundários . SSI e TIS utilizam-se de vasta gama de modos formais e informais de cooperação e interação entre os atores. A distinção entre os jogadores (organizações) e as regras do jogo (instituições), tornou-se comum na maioria dos estudos de sistemas de inovação SSI.
Assim, a institucionalização, que para a teoria da inovação nesta abordagens é importante para o desenvolvimento organizacional, toma o processo de aprendizado e de mudança nos modelos institucionais em uma visão evolucionista e determinista, que influencia os movimentos de mudança para lidar com o grau de incerteza do processo inovador, expondo certa estabilidade (Geels, 2010).
As instituições, nessa concepção estão interligas as formas diferenciadas que assumem as ações e o conhecimento - entendida como a transmissão de conhecimentos conceitos, valores mitos rituais, teorias e relatos entre gerações – atuando como meio de redução de incertezas comportamental e do ambiente, elevando o grau de confiança (Strachman & Santos, 2005)
Para esta teoria as instituições significam a continuação do processo capitalista, ou seja, necessárias para dar continuidade aos avanços. Incorporam a influencia institucional como fator que ordena e regula o comportamento, enfocando a forma como esses agentes percebem a realidade, como enxergam as transformações e como aprendem. Deixam de incorporar de forma mais sistêmica as instituições e a veem por uma perspectiva evolucionária (Geels, 2010).
Explicações econômicas recaem exclusivamente sobre isomorfismo competitivo ou mimetismo direcionado pela crença racional de que a nova prática irá aumentar a performance econômica. O isomorfismo competitivo pode explicar o comportamento dos adotantes iniciais de uma nova prática, mas não dá um bom relato de como a prática se espalha com o tempo. Segundo alguns institucionalistas, uma vez que o número de firmas que adotam uma inovação aumenta, maior será o número de futuros adotantes, especialmente em ambientes de incerteza. É mais propício de ser um resultado de isomorfismo institucional ou firmas adotando uma nova prática porque é percebida como sendo legitimada, mesmo se os benefícios de performance ainda sejam incertos (Dimaggio & Powell, 1983).
Enquanto uma inovação organizacional pode ter suas origens em certos princípios racionais, ela se torna institucionalizada com o tempo e continua a ser usada pelas organizações mesmo se os benefícios econômicos não são muito claros (Garcia-Pont & Nohria, 2002).
A questão é que a inovação tem o poder de influenciar e criar oportunidades às organizações, e o institucionalismo é uma forma de explicar e obter essa legitimidade (Dimaggio & Powell, 2007) , na qual as inovações buscam a legitimidade mais do que incrementar seu desempenho, ou seja, adotam a inovação para aumentar sua legitimidade. Assim, o isomorfismo explica o fato de organizações espelharem-se em outras organizações que elas percebem como mais legítimas, surgindo até mesmo organizações que inovam inconscientemente apenas através da busca por legitimidade.
Geels (2004) elaborou extensivamente sobre as dimensões regulativa , normativa e cognitiva das instituições . Ele sugere que para análises de curto prazo , o quadro institucional deve servir como uma constante em relação ao forte efeito estruturante sobre o comportamento dos atores, muito em linha com o caminho que as instituições são tratados em SSI e TIS .
O Sistema-sócio técnico utiliza a comunidade inter-organizacional como unidade de análise, entendida como grupos sociais que compartilham de uma particular percepção e selecionam agendas, normas e preferências. Cognição, ações e interações dos agentes são moldados pelas instituições, que incluem normas , rotinas , hábitos comuns, práticas estabelecidas , regras, leis , normas e assim por diante. As instituições podem variar entre as que impõe regras para os atores e as que regem a interação entre eles (tais como contratos), também varia das mais formais (leis de patentes, ou regulamentações específicas) até as mais informais (tradições e convenções).
A TST é, em contrapartida, muito ambiciosa quando se trata de uma variedade de instituições e estruturas institucionais que leva em consideração. No entanto, para a análise de longo prazo, ou seja, em caso de transição de um sistema sócio-técnico para outro , ele argumenta que a atenção deve ser dada à aprendizagem social e mudança institucional. À luz da distinção acima mencionada entre regimes e nichos ele argumenta que as estruturas institucionais existentes criam path-dependence e lock-in em vigor ST- sistemas (ou seja, regimes ). Nichos, pelo contrário , são " locais onde é possível afastar-se do regime de regras existentes. O aparecimento de novas vias tem sido descrito como um processo de desvio conscientes, onde nichos fornecem o locus para este processo. Isso significa que as regras em nichos tecnológicos são menos articuladas e clara " (Geels, 2004, p. 912) . À luz desta abrangência conceitual ele reconhece, porém, que a complexidade desse quadro impõe desafios consideráveis para torná-lo operacional para a pesquisa empírica. As análises históricas, obviamente, fornecem uma maneira útil para a frente enquanto que as análises de mudança institucional contemporânea pode revelar-se mais complicado.
Os efeitos das inovações desruptivas que ocorrem no nível dos nichos, causam desarranjos e desajustes no sistema produtivo, gerando pressões sobre as instituições e regras e nas estratégias dos atores estabelecidos. O realinhamento entre e o novo arranjo depende da forma como os conflitos são resolvidos, ou seja a capacidade de adaptabilidade dos diferentes adores, instituições e setores. A capacidade de adaptabilidade não pode ser determinada somente pela capacidade dos setores as novas tecnologias, mas como o setor ao longo do tempo enfrenta as incertezas sóciotécnicas e a ambiguidade que emergem com as novas tecnologias e de sua coevolução com as estruturas e instituições. Esse processo exige um longo prazo de negociações passo a passo (Dolata, 2013).
Dolata (2013, pp. 115-116), destaca ainda que: “A constelação sociotécnica existente não se desintegra; ao contrário ela se expande substancialmente através da absorção e incorporação das oportunidades tecnológicas alternativas”. Portanto, a aprendizagem social tem recebido mais atenção na abordagem STS que nas abordagens SSI e TIS. Em parte, isso tem a ver com as ligações mais fortes com as teorias sociológicas, em comparação com a orientação econômica mais pronunciada da SSI e TIS . De acordo com Geels ( 2004) aprendizagem social refere-se à reprodução ou transformação das capacidades cognitivas, normativas e normas reguladoras através da imitação ou através da troca de experiências. Isto se manifestou por meio de ajustes de representações de usuários , rotinas ou expectativa compartilhada. A tendência relativa em favor da aprendizagem tecnológico (SSI e TIS) ou aprendizagem social (STS) repercute claramente o grau de novidade que é estudado.
Assim, o reconhecimento do aspecto cognitivo e de uma abordagem do construtivismo social, em que no institucionalismo o conhecimento define a interpretação que o indivíduo faz da sua realidade é incorporado na abordagem teórica sócio técnica da inovação, que também, assim como o institucionalismo volta a atenção para o exame dos elementos da rede relacional e dos sistemas culturais, que modela e sustentam a estrutura e ação da organização.
Ou seja, assim como na Teoria Institucional na abordagem sócio-técnica, instituições são estruturas sociais que atingiram alto grau de flexibilidade, compostas pelos elementos do isomorfismo, dando estabilidade e significado a vida social, uma concepção socialmente construída e legitimada. Uma consequência fundamental do isomorfismo institucional, de acordo com a teoria institucional, é a legitimidade organizacional, a aceitação de uma organização por seu ambiente externo (Dimaggio & Powell, 1983; Meyer & Rowan, 1977).
As instituições são relevantes para a condução de sistemas inovadores, pois a interação ocorre entre instituição e organização, e entre estas e as instituições, influenciando e moldando a conduta do indivíduo e das organizações assim como as interações entre eles. (Tolbert & Zucker, 2006).
As instituições para a Teoria Institucional são seu objeto de análise principal, já para a teoria da Inovação, instituições não são o objeto central de análise. Possui uma visão mais evolucionária para a abordagem de Sistema setorial de inovação e Sistema tecnológico de inovação, focando o desenvolvimento em processos deterministas, baseados nas relações entre as instituições e a busca por mudanças e inovações em um processo mais prescritivo para a busca por eficiência e concorrência no mercado. E possui uma visão mais social e congnitiva na abordagem sócio-técnica, que mesmo não sendo as instituições seus processos centrais de análise, é um elemento importante para entender o processo dinâmico de crescimento, desenvolvimento e inovação tecnológica. Ou seja, a institucionalização, é o que define o andamento e repercussão dos sistemas inovadores com abordagem sócio-técnica.
Quadro 3
Relações entre Teoria Institucional e Abordagem de Sistema setorial de Inovação
e Inovação Tecnológica e Sistema Sócio-Técnico da Inovação
Teoria Institucional e Abordagem de Sistemas Setoriais de Inovação e Inovação tecnológica |
Teoria Institucional e Abordagem sócio-técnica |
- Contribuições teóricas sobre distinções entre instituições formais e informais, reguladora, normativa e tipos cultural-cognitivos das instituições. - Placas sinalizadoras, trazem à tona uma visão determinista em que o mercado define o que as organizações devem fazer e orientam seu comportamento. - Toma o processo de aprendizado e de mudança nos modelos institucionais em uma visão evolucionista. - Incorporam a influência institucional como fator que ordena e regula o comportamento, enfocando a forma como esses agentes percebem a realidade, como enxergam as transformações e como aprendem. |
- Cognição, ações e interações dos agentes são moldados pelas instituições , que incluem normas, rotinas , hábitos comuns, práticas estabelecidas , regras, leis , normas e assim por diante. - Utiliza a comunidade inter-organizacional como unidade de análise, entendida como grupos sociais que compartilham de uma particular a percepção e selecionam agendas, normas e preferências . - Em mudanças de longo prazo a atenção deve ser dada à aprendizagem social e mudança institucional. - Reconhecimento do aspecto cognitivo e de uma abordagem do construtivismo social - Volta a atenção para o exame dos elementos da rede relacional e dos sistemas culturais, que modela e sustentam a estrutura e ação da organização. - As estruturas cognitivas são constituídas de compreensões internalizadas de cada ator, a partir de sua interpretação da realidade social em que atua. - Instituições são estruturas sociais que atingiram alto grau de flexibilidade, compostas pelos elementos do isomorfismo, dando estabilidade e significado a vida social, uma concepção socialmente construída e legitimada que ocorre quando as normas são aceitas na coletividade. |
Elaborado pelos autores.
Tolbert e Zucker (1983) descrevem uma inovação institucionalizada por uma “legitimação gradual”, ou o nível cumulativo de adoção. Para os autores, a adoção antecipada é direcionada para resolver problemas específicos e, desse modo, é uma função de características organizacionais. Mas, com o passar do tempo, essas características perdem seu poder de predizer a adoção, e o que explica a adoção subseqüente é o aumento da pressão institucional, mensurada pelo nível cumulativo de adotantes. Quando uma inovação não é institucionalizada por legitimação gradual, efeitos institucionais regionais e locais surgem como determinantes chaves de adoções anteriores e posteriores.
Teoria da inovação torna-se determinista e objetivista à medida que visa o aumento de eficiência e adaptabilidade, mas é explicado pela Teoria Institucional à medida que as inovações vão além do impulsionamento por desempenho e fogem das exigências técnicas da tarefa, mas sim buscam a legitimidade como processo social explicado pelo isomorfismo, em que as instituições conferem estabilidade e significado ao comportamento humano, conforme visualizado na Teoria Sócio-Técnica da Inovação. A Teoria Institucional tem a capacidade de explicar muitas das forças do ambiente que agem na organização por pressões sociais e culturais, aspectos corroborados pela teoria sócio-técnica da inovação.
As instituições, explicadas pela Teoria Institucional são importantes para o entendimento da Teoria da Inovação. Para aquela teoria, instituições são expressões sociais, são vistas como o entendimento da construção social, elas são adaptativas e originárias em um processo que busca equilíbrio frente às pressões sociais. É um conjunto de práticas que definem o comportamento de um grupo e possuem significados que os legitimam. Ou seja, as instituições atuam como placas sinalizadoras à Teoria da Inovação e Sustentabilidade.
Estas inovações buscam além do desempenho organizacional, a legitimidade, ao incorporar valores como organismos adaptáveis às pressões sociais. As bases teóricas da teoria institucional que convergem com o significado de instituições para a Teoria da Inovação, sugerem que a partir do aumento da interação entre organizações de um campo organizacional, estas passem a refletir cada vez mais regras institucionalizadas e legitimadas.
Assim, para a Teoria Institucional, valores, crenças, significados e sentidos sustentam as instituições por serem socialmente compartilhadas pela interpretação, em que a racionalidade é intersubjetiva e não objetiva, em contraste com a teoria da inovação que reconhece a necessidade de adoção de formas isomórficas para obtenção da legitimidade, mas tem uma visão mais funcionalista, mais prática, mais determinista. Para a teoria da inovação, a leitura do ambiente é mais objetiva, reconhece as forças e pressões ambientais e age sobre elas, reconhece padrões isomórficos, analisa a legitimação obtida, mas não enfatiza com a mesma ênfase da Teoria Institucional o entendimento de realidade socialmente construída.
Ou seja, as interpretações da Teoria Institucional são mais semelhantes com a Abordagem Sócio-Técnica da Inovação, apesar de também possuir semelhanças com a Abordagem de Sistemas Setoriais de Inovação e Inovação Tecnológica.
Dessa forma, a Abordagem de Sistemas Setoriais de Inovação e Inovação Tecnológica assemelham-se as interpretações da Teoria Institucional em sua contribuição teórica que abrange as distinções entre instituições formais e informais, reguladora, normativa e tipos cultural-cognitivos das instituições. Ou ainda, pela ênfase em placas sinalizadoras em que define o que as organizações devem fazer e orientam seu comportamento de maneira a tornar o processo de aprendizado e de mudança uma visão evolucionista, incorporando a influência institucional como fator que ordena e regula o comportamento. Assemelha-se na forma como esses agentes percebem a realidade, como enxergam as transformações e como aprendem.
Já, a Teoria Institucional assemelha suas interpretações de forma mais ampla com a Abordagem Sócio-Técnica da Inovação, pela ênfase na cognição, ações e interações dos agentes como moldados pelas instituições , que incluem normas , rotinas , hábitos comuns, práticas estabelecidas, regras, leis e normas. Ambos utilizam a comunidade inter-organizacional como unidade de análise, entendida como grupos sociais que compartilham de uma particular percepção e selecionam agendas, normas e preferências.
As semelhanças da Teoria Institucional com a Abordagem Sócio-Técnica da Inovação estão também nas mudanças de longo prazo, com atenção dada à aprendizagem social e mudança institucional, reconhecimento do aspecto cognitivo e de uma abordagem do construtivismo social. Ambos voltam a atenção para o exame dos elementos da rede relacional e dos sistemas culturais, que modela e sustentam a estrutura e ação da organização, em que as estruturas cognitivas são constituídas de compreensões internalizadas de cada ator, a partir de sua interpretação da realidade social em que atua.
Dessa forma, para as duas teorias, institucionalização é o que define o andamento e repercussão dos sistemas inovadores. As obrigações normativas entram na vida social primeiramente do que fatos, a difusão da inovação só ocorre quando as normas são aceitas na coletividade. Instituições são estruturas sociais que atingiram alto grau de flexibilidade, compostas pelos elementos do isomorfismo, dando estabilidade e significado a vida social, uma concepção socialmente construída e legitimada.
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1. Professora na Universidade Tecnológica Federal do Paraná e doutoranda em Administração da Universidade Positivo. email: andridpc@gmail.com
2. Professora do Programa de Pós Graduação da Universidade Positivo
3. Professor da Unicentro e doutorando em Administração da Universidade Positivo
4. Doutoranda em Administração da Unviersidade Positivo