Espacios. Vol. 37 (Nº 15) Año 2016. Pág. 19
Jussara Grapiglia FERREIRA 1; Claudia Lehnemann TANNHAUSER 2; Uiliam Hahn BIEGELMEYER 3; Alice Munz FERNANDES 4; Tania CRACO 5; Rejane REMUSSI 6; Danielle Nunes POZZO 7; Rosecler Maschio GILIOLI 8
Recibido: 16/02/16 • Aprobado: 28/03/2016
4. Análise e discussão dos resultados
RESUMO: O empreendedorismo configura-se como um dos propulsores do desenvolvimento sócio econômicodo planeta. Todavia, a inserção da mulher neste meio ainda é alvo de polêmica, mesmo que esta seja responsável por 51,2% do total dos empreendimentos iniciais no país. Com vistas a isso, este estudo teve por objetivo identificar o perfil da mulher empreendedora participante do Grupo Jogo de Damas, assim como suas características empreendedoras, desafios enfrentados na gestão de seus negócios e a forma como estas estruturaram seus empreendimentos. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa quantitativa com finalidade descritiva, por meio de um questionário estruturado. Os resultados obtidos demonstraram que como motivação para o empreendedorismo feminino prevalece à oportunidade e não a necessidade, o principal desafio para o desenvolvimento de tal atividade consiste na dupla jornada da mulher (casa e negócio), assim como o preconceito da sociedade em determinados setores econômicos. |
ABSTRACT: The entrepreneurialism sets as one of the propellant of the development socioeconomic of the planet. However, the woman's insertion in this environment is still a subject of controversy, even she is responsible for 51,2% of the total of the initial enterprises in the country. With a view on it, this study had the objective to identify the profile of the entrepreneurial woman who participates of the group "Jogo de Damas", as like their entrepreneurial characteristics, faced challenges in the management of their business and the way they organize their enterprises. Therefore, it has developed a quantitative research with a descriptive goal, through a structured questionnaire. The obtained effect showed as motivation for the female entrepreneurialism prevails the opportunity and not the necessity, the main challenge for the development of this activity consists in the woman's Double run (house and business), as the preconception of the society in determined economic sectors. |
Segundo Schumpeter (1982) compreende-se como empreendedor o indivíduo que alterar a ordem econômica por meio da introdução de novos produtos/serviços no mercado, por intermédio de novas maneiras de gerenciar ou pela descoberta de novas tecnologias, materiais ou recursos. Todavia, com a avanço tecnológico e a globalização, alguns paradigmas sociais foram quebrados, dentre estes, o empreendedorismo feminino. .
De acordo com dados do relatório daGEM - Global Entrepreneurship Monitor (2014) o percentual de empreendedores iniciais do gênero feminino (51,2%) se tornou maior do que o masculino (48,8%). Desse modo, observa-se que as mulheres empreendedoras também influenciam positivamente na realidade econômica do país. A partir desse exposto, este estudo objetiva identificar as o perfil empreendedor das mulheres que integram o Grupo Jogo de Damas. Para tanto, identificou-se as características empreendedoras, os desafios enfrentados na gestão de seus negócios assim como o tipo de empreendedorismo adotado por estas mulheres.
O Jogo de Damas consiste em um grupo fechado da rede social Facebook, criado por mulheres e para mulheres, reunindo empreendedoras de várias áreas. As integrantes do grupo acreditam que empreendedorismo, negócio e carreira também são "coisas" de mulher, e falam sobre estes assuntos de um jeito simples e feminino, compartilhando aprendizados, experiências e opiniões.
A pesquisa realizada possui abordagem quantitativa e finalidade descritiva. Os resultados demonstraram que as empreendedoras são relativamente jovens, enfatizando o fato de que as mulheres estão perdendo o medo de empreender e iniciando cada vez mais cedo este desafio. Também se percebe que estas investem mais em qualificação do que empreendedores do gênero masculino, Aspectos como o preconceito e a dupla jornada (casa e negócio) também foram elencados como desafios enfrentados na tarefa de empreender.
Assim, além da introdução, este artigo está dividido em outras quatro seções, quais sejam: revisão da literatura, que aborda aspectos conceituais e históricos do tema empreendedorismo e empreendedorismo feminino, o método, que apresenta o delineamento da pesquisa, os procedimentos de coleta e análise dos dados. Em seguida apresenta-se a análise e discussão dos resultados, contrastando os achados empíricos com outras pesquisas e teorias. Por fim, há as considerações finais, abrangendo uma síntese dos resultados empíricos, assim como as limitações da pesquisa e sugestões para estudos futuros.
Para Dornelas (2001) o primeiro uso do termo empreendedorismo foi referenciado a Marco Polo, que tentou estabelecer rotas comerciais para o Extremo Oriente. Nesse sentido, o autor define empreendedor como sendo "aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar sobre ele, assumindo riscos calculados"(2001, p.37).
A partir do século XVII, o empreendedorismo adquiriu significado concreto, sendo associado à capacidade de assumir riscos. Assim, o empreendedor era considerado a pessoa que ingressava em um acordo contratual com o governo para desempenhar determinado serviço ou fornecer produtos estipulados (HISRICH; PETERS, 2004).
No final do século XIX e início do século XX surgem novas definições para o termo empreendedorismo, porém eclodem tambémcontradições. Cada pesquisador tende a perceber e definir empreendedores com base nas premissas da área em que atua, surgindo assim dois pontos de vistas distintos, quais sejam: os economistas que associam o empreendedor com inovação e os comportamentalistas que se concentram nos aspectos criativo e intuitivo (FILION, 1999).
O termo empreendedorismo é explicado e amplamente debatido quando entendido por economistas. Richard Cantillon escritor e economista do séculoXVII são considerados como um dos pioneiros a estudar e atribuir significado ao termo empreendedorismo, diferenciando o empreendedor do capitalista "(HISRICH; PETERS, 2004)".
Jean-Baptiste Say foi o segundo autor a demonstrar interesse pelos empreendedores. Say, assim como Cantillon, fazia distinção entre empreendedores e capitalistas, porém, associando os empreendedores a inovação. Como Say foi o primeiro a elucidar o empreendedorismo como é atualmente, pode-se considerá-lo como o pai do empreendedorismo (FILION, 1999).
Contudo, foi Joseph Schumpeter (1982) quem realmente difundiu o campo do empreendedorismo, integrando-o claramente ao conceito de inovação. Para o autor, empreendedor é a pessoa que destrói a ordem econômica existente por meio da introdução no mercado de novos produtos ou serviços, pela criação de novas formas de gestão ou pela exploração de novos recursos materiais e tecnológicos.
No campo dos comportamentalistas, se destacam os psicólogos, psicanalistas, sociólogos e outros profissionais da área do comportamento humano. O objetivo desta abordagem do empreendedorismo foi de ampliar o conhecimento sobre motivação e o comportamento humano. Max Weber, economista alemão, foi o precursor das primeiras colaborações ao assunto, recorrendo aos sistemas de valores para explicar o comportamento empreendedor (DOLABELA, 1999).
Todavia, o autor que deu início à contribuição da ciência do comportamento para o empreendedorismo, foi o psicólogo David McClelland. Para ele um dos traços mais importantes a respeito dos empreendedores era a motivação para a realização ou impulso para melhorar.McClellandfoi criticado pela falta de associação de que a opção de criar um negócio ou ser bem-sucedido como empreendedor baseia-se apenas na necessidade de realização. Contudo, sua pesquisa foi fundamental para o estudo do empreendedorismo(FILION, 1999).
Os comportamentalistas estiveram à frente das pesquisas na área do empreendedorismo por 20 anos, até o início dos anos 80. Embora inúmeras definições tenham sido citadas ao longo das pesquisas, até agora não foi possível estabelecer um perfil psicológico absolutamente científico do empreendedor. No entanto, outras ciências sociais têm propiciado uma série de linhas mestres para uma melhor compreensão do empreendedorismo. Apesar disso, os estudos e pesquisas sobre as características empreendedoras tem ajudado inúmeros empreendedores a situarem-se melhor (FILION, 1999).
Durante os séculos, os papéis dos indivíduos na sociedade foram definidos, cabendo à mulher cuidar do lar e dos filhos, ao passo que cabia ao homem a responsabilidade de sustentar o lar, garantindo a sobrevivência de sua raça. A partir da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, aliada às duas primeiras Guerras Mundiais, o desenvolvimento tecnológico e a evolução da maquinaria impulsionaram a revolução feminina, quando os homens ingressaram nos exércitos e as mulheres foram conquistando seu espaço na sociedade e consequentemente no mercado de trabalho(ESPÍNDOLA, 2007).
Além de conquistarem seu espaço na sociedade, as mulheres precisaram enfrentar o preconceito e a desigualdade na determinação do ingresso no universo do mercado de trabalho. A fim de zelar pela segurança e bem-estar das mulheres, a Constituição Federal criada em 1934, em seu artigo 113 define que "todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, nem distorções, por motivo de nascimento, sexo, raça (...)."
Segundo dados da pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor) publicados em 2014, no Brasil o número de mulheres empreendedoras nas fases iniciais do negócio, superam os homens. Assim, nas fases inicias os homens respondem a 48,8% dos negócios e as mulheres a 51,2%. No que se refere a empreendimentos estabelecidos, por sua vez, os homens são responsáveis por 54,9% e 45,1% do total dos negócios brasileiros.
Segundo Gomes, Santana e Silva (2005), o empreendedorismo feminino consegue provocar impactos significativos no desenvolvimento econômico de um país e na redução da pobreza, haja vista sua relevância nas esferas econômica, sociale política.
Nos últimos anos, estudos demonstram a existência de um novo perfil de mulher no mercado de trabalho. A pesquisa realizada pelo SPC Brasil (2014), focada no perfil da mulher brasileira empreendedora, demonstra que esta possui consciência de sua função à frente do próprio negócio e encara isso com elevado grau de autoestima e confiança. Os resultados indicaram também que há s tipos de empreendedoras quais sejam: a empregadora (que possui funcionários ou auxiliares atuando no negócio) e a empreendedora que trabalha por conta própria (não possui auxiliares nem ajudantes). Mais de 70% das empreendedoras escolheram o ramo de atividade baseado em seus conhecimentos e habilidades para abertura de seu negócio, principalmente mulheres que atuam no setor de serviços e com o perfil por conta própria. Os principais ramos de atividade da ocupação atual podem ser definidos da seguinte forma: 20% salões de beleza, incluindo clínicas de estética e serviços particulares, 12% restaurante, bar, lanchonete, bufê e similares, 7% comércio de tecidos, vestuário e armarinho, calçados e similares conserto e confecção de roupas.
Os dados apresentados reforçam a percepção de que as características femininas devem ser aplicadas como vantagens no mundo dos negócios. Assim, aspectos antes considerados como geradores de preconceito e discriminação, tornam-se diferenciais nos mercados competitivos. Dentre estes, destaca-se a flexibilidade e a empatia social, o quecontribui positivamente para que as mulheres se dediquem aos preparativos e tarefas que a jornada de empreender exigem (FLORIANO, 2013).
Como empreendedoras, as mulheres possuem também o desafio de se manterem atualizadas e aproveitarem as oportunidades que o mercado oferece quase que diariamente. Assim, conforme pesquisa desenvolvida pelo SEBRAE (2013), o grau de escolaridade das mulheres empreendedoras é superior ao dos homens. Entre as mulheres detentoras de um negócio próprio, 14% possuiensino superior completo ou ainda pós-graduação, 4% estão em curso superior em andamento e 35% possuem ensino médio (completo ou incompleto). No grupo dos homens empreendedores, estes números são inferiores, sendo que 9% destes possuem ensino superior completo ou pós-graduação, 2% cursam ensino superior incompleto e 25% têm ensino médio (completo ou incompleto).
Para Munhoz (2000) as mulheres, de um modo geral, desenvolvem um estilo individual quando administram, visto que sua abordagem de liderança éreflexo de um aprendizado que geralmente enfatiza valores, comportamentos e interesses voltados para a cooperação e relacionamentos.
Após pesquisa realizada junto a pequenas empresas dirigidas por mulheres, Martins et al. (2010) constatou que existe um perfil predominante para a mulher empreendedora, destacando as seguintes características: inovadora, inquieta, sempre busca construir o futuro, e jamais espera que isto aconteça por si. Lobo (2002) complementa citando as quatorze qualidades femininas encontradas nas mulheres executivas estudadas e entrevistadas por ele, quais sejam: relacionamento interpessoal, paciência, ética, intuição, emotividade, transcendência, amor ao próximo, capacidade para ouvir, inapetência pelo poder, serenidade, foco no processo, versatilidade, perfeccionismo e criatividade. Dentre essas características, a intuição corresponde aquela de maior destaque no ambiente de trabalho de acordo com a pesquisa.
Por sua vez, Machado (1999)apresenta um retrato do comportamento gerencial predominante em mulheres empreendedoras, conforme expõem o Quadro 1.
Quadro 1 - Tendência do comportamento gerencial de mulheres empreendedoras
Objetivos |
Estrutura |
Estratégia |
Estilo de liderança |
Culturais e sociais |
Ênfase na cooperação |
Inovativa |
Poder compartilhado |
Segurança e satisfação no trabalho |
Baixo grau de formalismo |
Busca de qualidade |
Motivar os outros |
Satisfação dos clientes |
Busca de integração e de boa comunicação |
Busca de sobrevivência e crescimento |
Valorizar o trabalho dos outros |
Responsabilidade social |
Descentralização |
Busca satisfação geral |
Atenção às diferenças individuais |
Fonte: Machado (1999, p.5).
De acordo com Machado (1999), nos empreendimentos conduzidos por mulheres há uma tendência para que os objetivos sejam transparentes e disseminados entre todos os envolvidos da organização. A influência do ambiente externo no ambiente interno é evidenciada pela complementaridade entre os dois, bem como na influência da cultura para a construção de padrões de comportamento dentro da organização (BIEGELMEYER et al., 2015). Eventualmente os colaboradores possuem uma cultura divergente da cultura organizacional ocasionado pelo processo de formação das imagens e das representações mentais advindos das relações sociais e do contexto ao qual está inserido, levando-o a moldar-se às regras adotadas na organização a qual está vinculado (BIEGELMEYER et al., 2015).
Na percepção de Cracoet. al. (2015), existe a necessidade de gerenciar a cultura organizacional, principalmente durante uma transição no intuito de criar aversões a estas mudanças. Nesse sentido, a cultura organizacional configura-se como um importante fator a nível estratégico no momento que a organização implanta uma inovação influenciando decisivamente neste processo.
De acordo com Carreira, Ajamil e Moreira (2001), a maximização do número de mulheres no mercado de trabalho não alterou significativamente suas funções e afazeres tradicionaisrelacionados à casa e aos filhos. Todavia tal transformação não refletiu em contrapartida masculina no que se refere à divisão do trabalho doméstico. Assim, fazendo ironia à dupla jornada feminina Lobo (2002, p. 143) questiona "hoje é possível conciliar trabalho e família? " e em seguida responde "claro[...] "mas principalmente quando se é homem e se tem uma mulher que cuide dos filhos e do lar".
No que se refere à motivação para empreender, inclusive para mulheres,Hisrich e Peters, (2004) apontam como primordial a auto motivação para suportar frustrações, correr riscos e enfrentar adversidades. "nada menos que a motivação seria suficiente para inspirar o empreendedor a suportar todas as frustrações e adversidades." Nesse mesmo sentido um ambiente de trabalho estimula a motivação e alavanca a vontade dos indivíduos de desempenharem suas funções e contribuírem com o processo inovativo.
A pesquisa realizada configura-se como descritiva em relação a sua finalidade, o que, segundo Gil (1999) visa descrever as características de uma determinada população, por meio da utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. Quanto à abordagem do problema, caracteriza-se como uma pesquisa quantitativa que intenta assegurar a precisão dos resultados e possibilitar às inferências (GIL, 1999). Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se um questionário estruturado combinando perguntas abertas e fechadas. Nesse sentido, Gil (1999) salienta que para a elaboração do questionário a quantidade de questões deve ser considerável, todavia nãoem excesso para não tornar-se cansativo, e nem em um número muito limitado a ponto de impedir a obtenção de informações necessárias para a realização da investigação.
Assim, o questionário foicomposto por 17 questões, agrupadas em dois grupos. O primeiro refere-se ao perfil das respondentes, abordando variáveis como idade, área de formação e nível de escolaridade. O segundo grupo contempla aspectos referentes ao perfil empreendedor das respondentes, sendo compostopelas variáveis porte da empresa, motivo de abertura do negócio, riscos e medos na abertura, origem dos recursos utilizados no empreendimento, informações relacionadas aos sócios e desafios enfrentados ao longo da gestão de seus negócios.
A população de estudo corresponde às participantes do Grupo Jogo de Damas, totalizando 1.268 mulheres. Destas aproximadamente 30% são consideradas simpatizantes, ou seja, mulheres que pretendem abrir seu próprio negócio futuramente, estudantes da área de empreendedorismo e até mesmo mulheres que gostam apenas de ler sobre o tema. Os dados foram coletados por meio do Google drivee remetido às respondentes através de um link publicado na página oficial do grupo na rede social Facebook. Desse modo, todas as integrantes tiveram as mesmas chances de responderem o questionário e integrarem a pesquisa, caracterizando-se, portanto como uma amostra probabilística por adoção.
Os questionários foram disponibilizados dia 21 de maio de 2015. Após 90 dias de publicação da pesquisa, foram recebidos 171 questionários respondidos, contudo, na tentativa de uma análise mais efetiva, na data de 13 de agosto o questionário foi publicado novamente. Ao final do mês de agosto, o número de questionários respondidos chegou a 203, desta forma, concluiu-se a coleta de dados.
Como procedimento de análise dos dados, realizou-se a contagem de frequência por meio da ferramenta da Microsoft Excel, facilitando a tabulação eletrônica de dados. Posteriormente que após convertidos em números e transformados em percentuais, demonstram-se graficamente os resultados.
Os resultados obtidos foram apresentados e discutidos em duas seções de análise A primeira destas refere-se aos dados relativos ao perfil das respondentes, ao passo que a segunda aborda aspectos do perfil empreendedor das respondentes assim como de seus negócios.
Os resultados obtidos demonstram que a faixa etária predominante no Grupo Jogo de Damascorresponde a 31 até os 40 anos, a qual pertencem 42% das respondentes. De modo geral, as empreendedoras são relativamente jovens, sendocerca de 70% delas com idade inferior a 40 anos, o que demostra que as mulheres estão iniciando o desafio da atividade empreendedora ainda no início de carreira. Concomitante a isso, uma pesquisa realizada pelo Portal da Mulher Executiva (2014) demonstra que a média de idade das empreendedorasé de 40 anos, sendo a idade mínima de 18 anos e máxima acima de 60 anos, indo de encontro ao constatado na pesquisa.
Quanto ao nível de escolaridade, cerca de 60% das respondentes possuem curso superior completo, das quais 13% já são pós-graduadas e 24% especialistas. Os resultados da pesquisa corroboram com os achados apresentados no referencial teórico, do qual as mulheres estão realmente investindo em qualificação e aumentando o índice de escolaridade entre os donos de negócios iniciais. No que se refere à área de formação, observou-se que 17% são graduadas em comunicação social, 15% administração, 9% psicologia, 6% marketing, engenharia e informática com 5% cada uma e por fim, arquitetura, contabilidade, fotografia, letras e pedagogia, correspondendo a 3% cada. Assim, em uma análise abrangente, percebe-se que mesmo em pequeno número, as respondentes adentram em áreas historicamente não administradas por mulheres, como engenharia e informática, por exemplo
No que se refere à relevância do empreendimento, 67% das respondentes o possuem como única fonte de renda, ao passo que somente 33% afirmam possuir outra fonte de renda, como emprego em outra empresa ou recebimento de aposentaria, por exemplo.
No que se refere ao perfil empreendedor das respondentes, verificou-se que 52% das empresas iniciaram suas atividades a partir do ano de 2012, demonstrando que nesse período o número de empresas abertas ultrapassou a quantia de empresas criadas ao longo de 22 anos, correspondendo a48% dos empreendimentos.
Ressalta-se que a taxa de mortalidade das empresas iniciantes está diminuindo a cada dia. Em entrevistaao site Relações do Trabalho (2014), Luiz Barreto, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (SEBRAE) destaca que a taxa de "mortalidade"das empresas está minimizando-se nos últimos 10 anos, de modo que em julho de 2013 a sobrevivência destas atingiu76%, sendo que há 10 anos esse índice correspondia a 50%. Desse modo, observa-se a maximização da capacidade das micro e pequenas empresas de superar dificuldades nos primeiros dois anos do negócio, período considerado crítico devido à falta de experiência da gestão e o não reconhecimento da empresa no mercado.
No que se refere ao setor de atuação das empresasao quais as empreendedoras se dedicam, percebe-se a predominância no setor de serviços (62%), seguido do comércio e serviços (23%), onde se destacam os ramos alimentício,incluindobuffet, bar, cafeteria, restaurante entre outros similares (18%), vestuário, incluindo confecção e conserto de roupas, vendas, entre outros (7%), assim comosalões de beleza, incluindo serviços estéticos e clínicas na área (6%). Ressalta-se que mais de 70% das empreendedoras graduadas atuam em um ramo de atividade baseado em sua área de formação.
Quanto ao motivo de empreender, constatou-se que a maioria das mulheres que abriram seu próprio negócio, o fizeram pela satisfação pessoal e desejo de autonomia. Em seguida a identificação de oportunidade de negócio também foi destacada, equivalendo a 32% das respondentes. Entretanto, 19% das empreendedoras afirmaram que a motivação surgiu por meio de dificuldades financeiras e como forma de complementação da renda familiar, caracterizando-se como empreendedorismo por necessidade.
Os resultados obtidos com a pesquisa corroboram os achados pela GEM (2013), ondeo empreendedorismo por necessidade está sendo substituído pelo empreendedorismo por oportunidade. Assim, a proporção de mulheres que iniciam um negócio objetivando a maximização da renda têm diminuído em comparação com aquelas que o fazem por identificação de oportunidade de mercado e investimento em novos segmentos.
Com relação àpropensão de risco na abertura de um negócio própriopercebeu-se que 63% das respondentes tiveram receiode assumir, o que impulsionou a obtenção de maximização de conhecimento relacionado a este. Em contrapartida, noque tange à origem dos recursos, a pesquisa constatou que o capital inicial da maior parte das empreendedoras foi proveniente das economias pessoais. Apenas 39% das empreendedoras iniciaram seus negócios recorrendo a empréstimos com terceiro, conforme demonstra a Figura 1.
Figura 1 – Origem dos recursos das empreendedoras
Fonte: Resultados da pesquisa.
A adoção de forma jurídica de sociedade com responsabilidade limitada seria uma opção interessante de modo de empreendimento, o que se refere tanto a divisão do trabalho, quanto na complementação de habilidadese recursos. Todavia, 43% das respondentes afirmaram que administram e controlam seus negócios sem a necessidade de parceria com sócios. Assim, 37% das empreendedorasafirmaram possuir um único sócio, 15% mencionaram ter dois sócios, seguido por três sócios e quatro ou mais, correspondendo a 3% e 2%, respectivamente. Nesse sentido, Dornelas (2007) corrobora afirmando que empresas de sucesso são construídas por pessoas qualificadas e com objetivos comuns.
Quanto ao vínculo com os sócios, pode-se perceberque o cônjuge representa 33% dos casos, seguido pelos amigos, com 32%. Em contrapartida, sociedade com mãe corresponde a 17%, pai a 6%, cunhado também 6% e filhos 3%. Por sua vez, a Figura 2 expressa o número de funcionários contratados em cada empreendimento. Ressalta-se que 41% das mulheres trabalha sozinha em seu negócio, não percebendo necessidade de contratação de mão-de-obra
Figura 2 – Número de funcionários por empreendimento
Fonte: Resultados da pesquisa.
A pesquisa indicou que a jornada comum de oito horas de trabalho diárias passa a ser ampla para aquelas mulheres que têm o seu próprio negócio. Quase metade das empreendedoras (47%) trabalham entre 10 e 12 horas por dia em seu negócio, sobretudo no início do empreendimento., Em seguida, 31% afirmam trabalhar entre 8 e 10 horas por dia. Constatou-se que 14% das empreendedoras dedicam menos de 6 horas ao seu empreendimento, entretanto, vale ressaltar que estas mulheres, em sua maior parte, trabalham também em outras empresasrefletindo na minimização de tempo a ser dedicado ao empreendimento. No que tange a dupla jornada feminina 45% das empreendedoras apontam não ter o auxílio de nenhuma ajuda no cuidado com seu lar (doméstica ou babá) e 29% contam com a ajuda de uma pessoa apenas em algumas vezes. Apenas 26% das empreendedoras dispõem de ajuda nas tarefas de casa. Tal achado corrobora com o constatado por Carreira, Ajamil e Moreira (2001) de que apesar do número de mulheres estar aumentando cada dia no mercado de trabalho, estas continuam sendo as responsáveis pelos afazeres domésticos e cuidados com os filhos.
Nesta mesma linha, a pesquisa do SPC Brasil (2014) indica que 47% das mulheres empreendedoras ainda se responsabilizam sozinhas pelas tarefas de casa. Nota-se, portanto, que apesar dos novos papéis assumidos pela mulher, não houve uma quebra de paradigma. Ao contrário, apenas foi incorporado mais um elemento à identidade feminina, assim a dupla ou até mesmo tripla jornada das empreendedoras está sendo incorporada naturalmente ao cotidiano das mulheres.
Com relação às dificuldades enfrentadas na abertura do empreendimento, constatou-se que o maior desafio para as empreendedoras consiste em conseguir conciliar trabalho e família, assim como a escassez de tempo. O preconceito também foi considerado como impactante na presença feminina no desenvolvimento do empreendedorismo, sobretudo em alguns setores e/ou segmentos econômicos. A Figura 3 demonstra os desafios elencados pelas mulheres empreendedoras.
Figura 3 – Desafios enfrentados pelas mulheres no empreendedorismo
Fonte: Resultados da pesquisa.
No que se refere às características e habilidades empreendedoras por meio de estatística descritiva simples, verificou-se que a característica "comprometimento e dedicação" obteve a maior de todas as médias, equivalendo a 4,86, seguida pela "persistência" com média igual a 4,83. Estas características se tornam evidentes ao longo da pesquisa, pois se pode perceber na mulher empreendedora a disposição de despender um esforço para a concretização de seus projetos, conforme demonstra Figura 4.
Figura 4 – Características e habilidades das empreendedoras
Fonte: Resultados da pesquisa.
O trabalho em equipe configura-se como uma maneira de unificar as pessoas da empresa no desempenho de diferentes tarefas, sendo uma habilidade essencial para se tornar uma empreendedora de sucesso. Quanto a isso, Leite (1994) salienta que as mulheres caracterizam-se pelo seu espírito cooperativo, o que faz com que as empreendedoras acreditem em seus colaboradores, obtendo assim resultados positivos para a organização por meio de sua equipe.
As característica e habilidades como criatividade, autoconfiança, liderança e paciência ficaram com médias semelhantes. Desse modo, confirma-se que são características importantes na mulher empreendedora, sendo que todas estas se encontram listadas entre as quatorze qualidades femininas encontradas nas mulheres executivas em uma pesquisa desenvolvida por Lobo (2002). Ainda que a capacidade de assumir riscos tenha sido uma das características que apresentou menor média, ao longo da pesquisa, evidenciou-se a relação de risco comempreendedorismo. Neste sentindo, Dornelas (2007, p.35) salienta que "o empreendedor que calcula o risco sabe antecipadamente quais as ações que deverá ter que tomar caso o pior aconteça, ou seja, estabelece cenários alternativos".
A pesquisa realizada teve como objetivo identificar o perfil empreendedor das mulheres que integram o Grupo Jogo de Damas. Para tanto, identificou-se as características empreendedoras, os desafios enfrentados na gestão de seus negócios assim como o tipo de empreendedorismo adotado por estas mulheres. Os resultados encontrados demonstraram que as empreendedoras são relativamente jovens, enfatizando o fato de que as mulheres estão perdendo o medo de empreender e iniciando cada vez mais cedo este desafio.
Observa-setambém que 51,2% das empreendedoraspossuem curso superior completoem distintasáreas de estudo, a fim de se qualificar e manter seu negócio prosperando já que a maioria destas possuem seu empreendimento como única fonte de renda. A pesquisa apontou ainda que a maioria dos empreendimentos iniciaram suas atividades a partir do ano de 2012, correspondendo a 52% dos negócios. Desse modo, ultrapassa-se a quantia de empresas criadas ao longo de 22 anos (48%), passando já pela fase de consolidação, ou seja, já consolidadas. Observa-se também que as empreendedoras atuam predominantemente no setor de serviços, como alimentício, vestuário e estética.
Os resultados indicaram ainda que as respondentes se envolvemintensamente com seus empreendimentos, dedicando-lhesentre10 e 12 horas diárias de trabalho. Outro fato interessante é que praticamentea metade das empreendedoraspreferem trabalhar mais horas ao dia, a dividir a direção da empresa com um sócio, que, geralmente representa a figura do cônjugeou amigos, ou seja, pessoas de convívio próximo.
Como desafios para empreender, as respondentes citaram a dificuldade em organizar sua vida pessoal com sua vida profissional, considerando a existência de escassez de tempo. Estas dificuldades podem ser associadas à sobrecarga de trabalho, refletindo na minimização de tempo com a família.Ressalta-se também o preconceito enfrentado pelas mulheres nesse ramo, haja vista que ainda são minoria. Por fim, os resultados identificaram como principais características para tornar-se uma empreendedora de sucessoo comprometimento, a dedicação e a persistência. De modo geral, todas estas mulheres demonstraram que sabem dosar harmoniosamente estas e tantas outras características, tornando seu negócio sua principal fonte de renda.
Assim, a investigação teórica, complementada empiricamente pela pesquisa de campo, permitiu constatarque o empreendedorismo feminino consiste em uma conquista relativamente recente, demonstrando que não foi simples para as mulheres adquirirem seu espaço neste mercado, obter independência e ainda serem reconhecidas por suas competências.
Reconhecem-se as limitações deste estudo acerca da adoção de estatísticadescritiva como única forma de análise dos dados. Como sugestões de estudos futuros recomenda-se a replicação desta pesquisa utilizando outras formas de análise, como fatorial, por exemplo. Também se sugere a realização de pesquisa qualitativa com especialistas no tema a fim de contrastar os achados com os resultados apontados nessa investigação.
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