Espacios. Vol. 37 (Nº 02) Año 2016. Pág. 12

Estudo sobre a origem, uso e distribuição das espécies invasoras e famílias botânicas encontradas nas praças de Cornélio Procópio – PR, Brasil

Study about the origin, use and distribution of the invading species and botanical families found at the squares in Cornélio Procópio, PR, Brazil.

Rodrigo de Souza POLETTO 1; Maria de Fátima Cirino IDALGO 2; Júlio César PIRES 3; Isabel Cristina Correia PFAHL 4; Letícia Martins KRAUSE 5; Danilo Miralha FRANCO 6; Lucken Bueno LUCAS 7

Recibido: 02/09/15 • Aprobado: 25/09/2015


Contenido

1. Introdução

2. Procedimentos Metodológicos

3. Resultados e Discussão

4. Considerações Finais

Referências Bibliográficas


RESUMO:

O objetivo do trabalho é relatar a origem, uso e distribuição das espécies invasoras e famílias botânicas encontradas nas praças de Cornélio Procópio-PR. Para tanto, realizaram-se campanhas mensais identificando as famílias e espécies, fez-se o registro fotográfico das plantas e, logo após a identificação das espécies, usou-se de diferentes bibliografias para determinar a origem, distribuições e usos das plantas. Os resultados apontaram 15 famílias e 29 espécies com origem predominantemente das Américas. As famílias Asteraceae, Cyperaceae e Euphorbiaceae foram as mais representativas, com plantas em todas as praças. Quanto ao uso, foi predominante a utilidade medicinal da família Asteraceae. Já para os usos ornamentais e alimentares, foram identificadas cinco famílias, mas com predominância da Poaceae. Conclui-se, portanto, que as praças possuem muitas espécies úteis para futuros estudos de sistemática vegetal, ecologia e biogeografia. Além disso, são fontes para estudos farmacêuticos e para a indústria de alimentos, pois há espécies de interesse alimentar, medicinal e toxicológico.
Palavras-chave: Áreas Verdes; Fitogeografia; Sistemática Vegetal.

ABSTRACT:

The aim of the study is to report the origin, uses and distribution of invasive species and plant families found at squares in Cornélio Procópio-PR. For both, there were monthly campaigns identifying families and species, became the photographic record of the plants, following the identification of the species used in different bibliographies to determine the origin, distribution and uses of plants. The results indicated 15 families and 29 species originating mainly of the Americas. The families Asteraceae, Cyperaceae and Euphorbiaceae were the most representative, with plants in all squares evaluated. About use, was prevalent medicinal utility of the family Asteraceae. Already for ornamental and food uses, five families have been identified, but with predominance of Poaceae. We conclude, therefore, that the squares have many useful species for future studies of plant systematic, ecology and biogeography. Moreover, are sources for pharmaceutical studies and the food industry as there are species of interest food, medicine and toxicology.
Keywords: Green Area; Phytogeography; Plant Systematics..

1. Introdução

Situada no Estado do Paraná, a cidade de Cornélio Procópio apresenta 20 praças distribuídas em todos os bairros. Das praças presentes no município, três delas serviram como fonte de estudos e pesquisas, essas são conhecidas como Praça Brasil, Praça José Silvestre da Silva e Praça Botafogo. Essas praças são frequentadas pela população para recreação, caminhada e uso da academia ao ar livre (das três, duas possuem equipamentos para exercícios físicos).

Essas praças, quando visitadas pelas pessoas, proporcionam momentos de reflexão sobre os valores ambientais de preservação e conservação. Há também um aumento da responsabilidade com o ambiente que as cercam, melhoria na qualidade de vida, fazendo com que a população que usufrui dessas áreas pratique princípios educativos, proporcionando um ambiente de convivência saudável a todos (Krasilchik, 1987; AB´Saber, 1991).

As praças são úteis na manutenção do clima na cidade, tornando-o mais ameno; auxiliam na ciclagem da água, contenção da força dos ventos e proporcionam aos seres humanos local de lazer e recreação e, a outros animais, oferta de alimento e abrigo. As praças são parte do ecossistema urbano, pois o local construído pelo homem traz à tona os valores paisagísticos, históricos, sociais e culturais (Rolim de Almeida; Bicudo e Borges., 2004).

Nos ambientes de praças e áreas verdes há muitas plantas exóticas e nativas que são inclusas na classificação de muitos autores como invasoras, daninhas ou indesejadas (Kissman; Groth, 1992; Lorenzi, 2000). De acordo com Aranha (1998), o grupo de plantas invasoras ainda é pouco estudado, principalmente quando relacionado aos ambientes de praças. Segundo Scharma (1996), estudos do patrimônio cultural, histórico e ambiental podem retratar os fatos históricos locais, pois atualmente as pessoas convivem entre plantas, cimento e concreto.

Nesse sentido, o objetivo do trabalho é relatar a origem, distribuição e usos das espécies e famílias botânicas encontradas nas praças de Cornélio Procópio-PR, Brasil.

2. Procedimentos Metodológicos

2.1. Local de Estudo

O presente trabalho foi realizado em praças de Cornélio Procópio, Paraná (Figura 1), município com população aproximada de 48.420 habitantes, área territorial de 635,000 km2  e densidade demográfica de 73.89 hab./km2. A cidade possui 389 unidades de estabelecimento agropecuário contendo áreas de preservação permanente ou reserva legal. É servida por 20 praças, sendo que as localizadas na área central estão em constante manutenção, já as de área periférica possuem pouca arborização e cuidados (CORNÉLIO PROCÓPIO, 2015; IBGE, 2015).

Figura 01: Localização da cidade de Cornélio Procópio-PR, 2014.

2.2 Coleta de Dados e Levantamento das Espécies

Para o desenvolvimento do trabalho, foram avaliadas três praças em diferentes locais da cidade. As praças escolhidas foram: Praça Brasil (Praça 1); Praça José Silvestre da Silva (Praça 2); Praça Botafogo (Praça 3), pois estão localizadas em bairros diferentes da cidade (Figura 2). Em campanhas mensais de observação a campo, toda a área das praças foi vistoriada por meio de caminhada lenta; com o auxílio de prancheta e lápis, fez-se caracterização das plantas e identificação de todas as famílias e espécies consideradas invasoras. Essas análises foram realizadas de agosto de 2013 a junho de 2014. As campanhas foram efetuadas até que não houvesse mais identificações de novas espécies nos locais avaliados.

Figura 02: Localização das praças Brasil, José Silvestre
da Silva e Botafogo de Cornélio Procópio-PR, 2014.

Durante as campanhas houve registros fotográficos das espécies. As identificações dos exemplares vegetais localizados nas praças foram feitas no Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Ensino de Botânica e Educação Ambiental (LIPEBEA) da Universidade Estadual do Norte do Paraná e com consultoria da Empresa Arboretu´s. Alguns reconhecimentos, importâncias das plantas, origem e sua distribuição foram realizados com consultas a estudos expressivos da área, como Joly (1966), Kissmann e Groth (1992); Lorenzi (2000); Lorenzi e Souza (2001), Gonçalves e Lorenzi (2007). A lista de espécies foi baseada no novo sistema de classificação das plantas com flores APGIII.

3. Resultados e Discussão

No total, foram encontradas 29 espécies distribuídas em 15 famílias. Dentre as famílias identificadas, as mais representativas no que diz respeito ao número de espécies foram a Asteraceae, com um total de sete espécies, e a Poaceae, com um total de cinco espécies, seguidas das famílias Amaranthaceae, Convolvulaceae, Euphorbiaceae e Solanaceae, ambas com três espécies (Figura 3 e Tabela 1). Resultado semelhante quanto às famílias dominantes foi relatado por Souza e Poletto (2005), que estudaram as praças da cidade de Garça-SP.

O predomínio de espécies das famílias Asteraceae e Poaceae já era esperada, pois são famílias que colonizam diferentes ambientes, que são geralmente populosas em números de plantas e possuem vários mecanismos de dispersão e dormência das sementes, fatores que favorecem essa colonização de vários ambientes e grandes áreas (Figura 3 e Tabela 1) (Souza; Poletto, 2005).

Figura 03: Número de espécies invasoras nas diferentes famílias botânicas das praças
Brasil, José Silvestre da Silva e Botafogo, de Cornélio Procópio-PR, 2014

Quanto à distribuição das famílias e espécies, a Praça Brasil (Praça 1) foi identificada com o maior número de famílias (11) e de espécies (24), seguida da Praça José Silvestre da Silva (Praça 2), com 7 famílias e 14 espécies, e da Praça Botafogo (Praça 3), com 6 famílias e 9 espécies (Tabela 1).

Dentre as espécies encontradas, as medicinais foram as mais indicadas, seguidas das alimentícias e, por fim, das ornamentais e tóxicas. De acordo com Lorenzi (2000), Lorenzi e Souza (2001), Souza e Lorenzi (2005), Pinto et al (2008) e Austin (2014), na relação da origem das espécies com seu uso medicinal percebe-se que há uma predominância das Américas, seguidas da Ásia, Europa e regiões pantropicais e subtropicais. Quando analisadas as espécies de uso alimentar, houve mais indicações do Continente Americano e América do Sul, já a América Central, Ásia, Mediterrâneo e África foram indicadas apenas uma vez. As plantas consideradas ornamentais são oriundas essencialmente da América do Sul. As consideradas tóxicas são do Brasil (1) e do Mediterrâneo. (Figura 4). Isso confirma que as diferentes colonizações colaboraram com o estabelecimento de inúmeras plantas existentes no Brasil, marcantes nas praças.

Figura 04: Número de espécies invasoras e seus usos relacionados às diferentes regiões de origem,
identificadas nas praças Brasil, José Silvestre da Silva e Botafogo, de Cornélio Procópio-PR, 2014

Como já citado anteriormente, a Asteraceae foi a família mais representativa em número de espécies invasoras. Isso provavelmente ocorreu porque é a maior família dentre as angiospermas, com aproximadamente 1.600 gêneros e 23.000 espécies – no Brasil há 300 gêneros e 2.000 espécies (Souza; Lorenzi, 2005). Possui distribuição cosmopolita e muitas espécies invasoras de porte herbáceo e com dispersão de seus propágulos pelo vento (Lorenzi, 2000). Tem também sua importância econômica, seja na culinária ou no setor de paisagismo, sendo de fácil  cultivo e resistente. Margaridas e girassóis são espalhados nos ambientes, adornando mesas de restaurantes, balcões de lojas, fachadas inteiras de casas, enfim, há uma infinidade de usos ornamentais (Araújo, 2014). Das espécies encontradas nas praças destacam-se a Emilia coccinea (Sims) F.Don, a Tridax procumbens L.ea Partherium hysterophorus L., distribuídas em todos os locais analisados. Isso se deve provavelmente à dispersão por sementes, facilmente levadas pelo vento. No que se refere à espécie Partherium hysterophorus, ela foi introduzida recentemente no território nacional e vem infestando os estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Norte do Paraná (Lorenzi, 2000). As principais utilidades das espécies identificadas são: 1) uso medicinal – Chaptalia nutans (L.) Pol., Sonchus asper (L.) Hill., Taraxacum officinale Weber, Tridax procumbens e Partherium hysterophorus; 2) uso alimentício – Emmilia coccinea e E. sonchifolia (L.) DC. (Tabela 1) (Cruz, 1995; Lorenzi, 2000).

Já a família Poaceae tem 668 gêneros e 10.035 espécies, sendo que as suas sementes apresentam uma gama bem variável de adaptações, desenvolvidas para obter sucesso no momento da dispersão (Araújo, 2014). Para a economia humana essa família vegetal é a de maior relevância. Dentre alguns dos seus representantes temos o milhotrigo, centeioaveiacana de açúcarcevada e arroz. Alguns são cultivados para a construção civil, como o Bambu na Ásia. Outros são cultivados para alimentar animais, como o milho no México. Já Souza e Lorenzi (2005) expõem que essa família possui distribuição cosmopolita, havendo por volta de 180 gêneros e 1.500 espécies somente no Brasil. Essa família é considerada a principal dentre as Angiospermas, sendo a mais útil quanto ao potencial econômico relacionado à alimentação, ornamento, medicina e como espécies invasoras. Ela foi identificada em todas as praças analisadas, sendo que dentre as espécies encontradas foram identificadas a Paspalum notatum Flugge e a Paspalum sp., com importância ornamental e alimentar, respectivamente; e a Rhynchlytrum repens (Willd.) C.E.Hubb., com potencial medicinal. Um exemplo na literatura de planta da mesma família com outros usos são a Panicum dichortoniflorum L. é útil na alimentação de animais e o Sorghum halepense (L.) Pers.é tóxico aos animais (Nóbrega et. al, 2006). Entretanto, mesmo com esse potencial cosmopolita sua distribuição nos locais de estudo foi limitada a duas praças (Tabela 1).

Foram encontradas duas espécies da família Amaranthaceae: a Amaranthus hybridus L.e a Gomphrena celosioides Mart.(Tabela 1). Segundo Souza e Lorenzi (2005) e Judd (2009), essa família também tem distribuição cosmopolita (como citado no relato da família Asteraceae), não crescendo apenas na região do Hemisfério Norte, são amplamente distribuídas em regiões temperadas e tropicais do globo. No Brasil o número de gêneros chega a 20, com mais de 100 espécies, as quais são utilizadas de diversas formas – na medicina, como ornamento, consideradas invasoras –; sendo que muitas espécies têm o hábito de crescer em ambiente aberto. Esse comportamento explica o fato de a pesquisa encontrar as duas espécies em mais de um local de estudo, pois as praças recebem grande incidência de luz. É importante ressaltar que algumas espécies de Gomphrena (paratudo) têm tanto aplicação na medicina popular como na agricultura (Lorenzi, 2000). Plantas comuns em nosso convívio são o conhecido periquito, do gênero Alternanthera, havendo espécies ornamentais como a Alternanthera dentata (Moenth) Stuchlik. e a Alternanthera ficoidea (L.) P. Beauv. (Lorenzi; Souza, 2001) e daninhas como a Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze, a A. philoxeroides (Mart.) Standl, a A. pungens Kunth. e a A. tenella Colla (Lorenzi, 2000).

A Apocynaceaecontém 5.000 espécies e 450 gêneros, distribuídos principalmente nas regiões subtropicais do mundo todo. São plantas de hábitos variados, sendo que o habitat mais comum são os campos e matas. Há algumas plantas venenosas e outras medicinais. Está entre as dez famílias de angiospermas mais numerosas atualmente, com importância econômica expressiva, graças às espécies conhecidas como "peroba", utilizadas exaustivamente em movelarias e na construção civil. Há outras espécies medicinais, usadas como componentes bioativos no tratamento de câncer (Araújo, 2014). Na pesquisa (Tabela 1) foi encontrada a Peschiera fuchsiaefolia (A.DC.) Miers, originária do Brasil, conhecida popularmente como leiteiro, considerada tóxica para o gado e ser humano (Lorenzi, 2000; Araújo, 2014).

Quanto à família Commelinaceae, têm-se no Brasil 13 gêneros e 60 espécies. Porém, das plantas daninhas encontradas nas praças de Cornélio há apenas um representante: a Commelina benghalensis L.(Tabela 1), planta ornamental (Souza; Lorenzi, 2005). Provavelmente não houve grande incidência dessa espécie porque, de acordo com Lorenzi (2000), ela cresce melhor em solos férteis, úmidos e ambientes sombreados, assim, a falta de irrigação e a alta incidência luminosa nas praças acabam prejudicando a sua permanência no ambiente.

A família da Ipomea grandiflora (Dammer) O'Donell e da Dichondra microcalyx (Hallier f.) Fabris(Tabela 1)é a Convolvulaceae,que inclui 55 gêneros e cerca de 1.650 espécies essencialmente tropicais, ocorrendo desde desertos e restingas até florestas tropicais, especialmente na beira da mata (Austin, 2014). Essas duas espécies em especial são originárias da América do Sul e usadas para fins ornamentais (Lorenzi, 2000). É comum que sejam encontradas apenas nos trópicos, nas mais variadas vegetações. Desenvolvem-se melhor em ambientes abertos como campos e dunas de restinga. Já, economicamente, elas são importantes no setor paisagístico, com a cultura de exemplares ornamentais, como também na agricultura, com a produção da batata-doce (Araújo, 2014).

A Brassicaceae comporta cerca de 400 gêneros e 4.000 espécies; possui distribuição cosmopolita e, no Brasil, está representada por 10 gêneros e cerca de 50 espécies (1 rara), ocorrendo de norte a sul (Souza; Lorenzi, 2005). A única espécie encontrada foi a Lipidium virginicum L., planta medicinal oriunda do Continente Americano (Tabela 1), (Lorenzi, 2000), na praça José Silvestre da Silva (Praça 2).

Com cerca de 120 gêneros e 4500 espécies a família Cyperaceae tem espécies por todo o mundo, conhecidas como cosmopolitas, sendo particularmente abundantes em habitats úmidos, pantanosos ou ribeirinhos das regiões subárticas e temperadas. Algumas espécies dessa família possuem uma beleza particular e são, portanto, cultivadas em vasos e jardins, como o Cyperus alternifolius L. (planta pára-sol), cultivado vulgarmente nas regiões quentes como planta aquática ornamental (Souza; Lorenzi, 2005; Judd, 2009). Nas campanhas a campo foi identificada a Cyperus brevifolius (Rottb.) Hassk(Tabela 1), conhecida popularmente como tiririca e que tem uso medicinal (Kar; Borthakur, 2008).

Outra família é a Euphorbiaceae, a qual inclui cerca de 300 gêneros e aproximadamente 6.000 espécies distribuídos em todo o mundo (Cronquist, 1981; Souza; Lorenzi, 2005). No estudo foram encontradas as espécies medicinais Chamaesyce prostrata (Aiton) Small – em todas as praças – e a Phyllanthus tenellus Roxb. – apenas em dois locais (Tabela 1) (Lorenzi, 2000).

A Oxalidaceaeabrange cerca de 950 espécies distribuídas nas regiões tropicais e subtropicais do globo, sendo a América do Sul e a África Austral seus principais centros de dispersão (Lourteig, 1983). Certas espécies desse gênero são cultivadas pelas lindas flores que produzem. Outro exemplo é o gênero Averrhoa, a conhecida e apreciada carambola, introduzida no Brasil e originária da Malásia. (Joly, 1966). No Brasil ocorrem apenas dois gêneros, sendo um deles  o Oxalis, do qual foi identificado uma espécie na praça 2, a Oxalis corniculata L., conhecida como azedinha e muito utilizada como alimento (Tabela 1), (Souza; Lorenzi, 2005).

Segundo Souza e Lorenzi (2005), a família Plantaginaceaeabrange 200 gêneros e aproximadamente 2.500 espécies, sendo que no Brasil temos 19 gêneros com 120 espécies. Muitas das espécies no Brasil são de uso medicinal e ornamental, como a Plantago tomentosa Lam., encontrada na praça 2 (Tabela 1).

Tem-se também a família Portulacaceae,que possui por volta de 400 espécies, divididas em cerca de 30 gêneros, sendo na sua enorme maioria ervas, mas com algumas poucas espécies em forma de arbustos ou árvores (Souza; Lorenzi, 2005). Entre nós são comuns as várias formas das verdadeiras onze-horas (Portulaca) e uma erva ruderal utilizada como verdura e, na medicina popular, a beldroega (Portulaca) (Joly, 1966). São cosmopolitas, ocorrem em sua maioria em regiões quentes, sendo mais raras em regiões mais frias (Watson; Dallwitz, 2014). Nas campanhas feitas nas praças da cidade encontrou-se, na praça 1 (Tabela 1), a espécie Talinum triangulare (Jacq.) Willd., originária da América Central e muito usada como ornamento e alimento (Lorenzi, 2000).

De acordo com Souza e Lorenzi (2005), a Rubiaceae comporta cerca de 550 gêneros e aproximadamente 9.000 espécies no mundo. Já no Brasil há 130 gêneros e 150 espécies, sendo considerada uma das mais importantes famílias da Flora Brasileira. Pinto et al. (2008) relatam que a Richardia brasiliensis Gomes, originária da América do Sul, é usada na medicina popular (Tabela 1).

A Solanaceae está distribuída em 150 gêneros e cerca de 3.000 espécies (Souza; Lorenzi, 2005). O gênero Solanum é o maior, contendo quase metade do total das espécies. Esses indivíduos podem ser facilmente encontrados na América do Sul. Solanaceae é bastante importante economicamente. Nessa família estão incluídos a batata (Solanum tuberosum L.), a beringela (S. melongena L.), o pepino (S. muricatum Ait.), o tomate (Lycopersicon esculentum Mill.) e a pimenta (Capsicum spp.). As Solanaceae também são bastante consumidas, devido aos efeitos de seus alcaloides: estimulante no caso do tabaco (Nicotiana tabacum L.) ou alucinógenos no caso da Datura suaveolens H. et B ex Willd. São também importantes na ornamentação, destacando-se as espécies de Brunfelsia, Datura e Petunia (Watson; Dallwitz, 2014). As plantas dessa família identificadas nas praças foram a jurubeba, Solanum paniculatum L., muito usada na medicina caseira, e a Solanum americanum Mill., cujos frutos são usados como alimento (Lorenzi, 2000). Ambas são originárias do Continente Americano (Tabela 1).

A Verbenaceae abrange 36 gêneros e cerca de 1.000 espécies. O habitat preferencial dessa família é o neotropical, mas sua distribuição geográfica pode se estender por áreas subtemperadas. A importância econômica das verbenáceas fica por conta de algumas espécies, por exemplo, as ornamentais, que são cultivadas e aproveitadas no paisagismo (Souza; Lorenzi, 2005). Um exemplo é a espécie Lantana canescens Kunth, planta ornamental encontrada na praça 3, com grande potencial para infestar pastagens e terrenos baldios (Tabela 1) (Lorenzi, 2000).

Dentre todas as 15 famílias e suas importâncias, tanto medicinal, ornamental como alimentícia, a pesquisa identificou um total de 29 espécies, distribuídas nas três praças analisadas, conforme mostra a Tabela 1.

Tabela 01 - Lista das Famílias, Nomes Científicos, Nomes Populares, Origem e Usos das Espécies
Invasoras Encontradas nas Praças Brasil, José Silvestre da Silva e Botafogo da Cidade de Cornélio Procópio-PR, 2014

Famílias/Nomes Científicos

Nomes populares

Origem

Usos

Praças

1

2

3

AMARANTHACEAE

 

 

 

 

 

 

Amaranthus hybridus L.

caruru

América Tropical

A

X

 

X

Gomphrena celosioides Mart

perpétua

América do Sul

M

 

 

X

APOCYNACEAE

 

 

 

 

 

 

Peschiera fuchsiaefolia (A.DC.) Miers

leiteiro

Brasil

T

X

 

 

ASTERACEAE

 

 

 

 

 

 

Chaptalia nutans  (L.) Pol.

língua-de-vaca

Continente Americano

M

X

 

 

Emmilia coccinea (Sims) F.Don

serralha

África

A

X

X

X

Emmilia sonchifolia (L.) DC.

serralha

Ásia

A

X

X

 

Partherium hysterophorus  L.

losna-branca

Continente Americano

M

X

X

X

Sonchus asper (L.) Hill.

dente-de-leão

Europa

M

 

X

 

Taraxacum officinale Weber

dente-de-leão

Europa e Ásia

M

X

 

X

Tridax procumbens L.

erva-de-touro

América Central

M

X

X

X

BRASSICACEAE

 

 

 

 

 

 

Lepidium virginicum L.

mastruz

Continente Americano

M

 

X

 

COMMELINACEAE

 

 

 

 

 

 

Commelina benghalensis L.

trapoeraba

Ásia

M

X

X

 

CONVOLVULACEAE

 

 

 

 

 

 

Ipomoea grandiflora (Dammer) O'Donell

corda-de-viola

América do Sul

O

X

 

 

Dichondra Microcalyx (Hallier f.) Fabris

dicondra

América do Sul

O

X

 

 

CYPERACEAE

 

 

 

 

 

 

Cyperus brevifolius (Rottb.) Hassk

tiririca

Pantropical e subtropical

M

X

X

X

EUPHORBIACEAE

 

 

 

 

 

 

Chamaesyce prostrata (Aiton) Small

quebra-pedra

América Central

M

X

X

X

Phylanthus tenellus Roxb.

quebra-pedra

Brasil

M

X

X

 

OXALIDACEAE

 

 

 

 

 

 

Oxalis corniculata L.

Trevo

Região mediterrânea

A

 

X

 

PLANTAGINACEAE

 

 

 

 

 

 

Plantago tomentosa Lam.

tanchagem

América do Sul

M

 

X

 

POACEAE

 

 

 

 

 

 

Panicum dichotomiflorum L.

capim

Continente americano

A

X

 

 

Paspalum sp.

capim

Continente americano

A

 

X

 

Paspalum notatum Flugge

grama mato grosso

Continente americano

O

X

 

 

Rhynchlytrum repens (Willd.) C.E.Hubb.

capim

África do Sul

M

X

 

 

Sorghum halepense (L.) Pers

capim-aveia

Mediterrâneo e Oriente Médio

T

X

 

 

PORTULACACEAE

 

 

 

 

 

 

Talinum triangulare (Jacq.) Willd.

beldroega

América Tropical

O e A

X

 

 

RUBIACEAE

 

 

 

 

 

 

Richardia brasiliensis Gomes

poia-branca

América do Sul

M

X

 

 

SOLANACEAE

 

 

 

 

 

 

Solanum paniculatum L.

jurubeba

Brasil

M

 

X

 

Solanum americanum  Mill.

maria pretinha

Continente americano

A

X

 

 

VERBENACEAE

 

 

 

 

 

 

Lantana canescens Kunth

cidreirinha

América do Sul

O

 

 

X

Total:

 

 

 

21

14

09

Fonte: Poletto et al. 2014. * Praça Brasil (praça 1), Praça José Silvestre da Silva (praça 2) e
Praça Botafogo (praça 3).  Importâncias: Medicinal (M), Alimentar (A), Ornamental (O) e Tóxica (T).

4. Considerações Finais

Com base nos resultados obtidos quanto à grande diversidade de número de famílias, espécies invasoras e suas utilidades, conclui-se que as plantas encontradas nas praças Brasil, José Silvestre Silva e Botafogo podem ser exploradas pela comunidade quanto aos usos medicinal, ornamental, alimentar e toxicológico, mas ela precisa conhecer tais importâncias, para assim fechar o elo das questões culturais, políticas e econômicas.

Considera-se também que o direcionamento deste estudo trouxe uma gama de conhecimentos que, se trabalhado, será útil na produção de materiais pedagógicos, lúdicos, como cartilhas e panfletos.

O estudo mostrou também que ainda são escassas as pesquisas que relacionam a origem, uso e a distribuição das plantas presentes no dia a dia das pessoas da nossa cidade, confirmando a necessidade de mais projetos que descubram novos conhecimentos. Dessa forma, a população terá mais zelo com as espécies ao seu redor, mesmo elas sendo tidas como daninhas, indesejadas ou invasoras.

Por fim, conclui-se também que é necessário um Jardim Botânico para o cultivo das espécies identificadas no trabalho, pois assim o conceito de plantas indesejadas seria repensado e os diferentes usos que os espécimes possibilitam seriam destinados ao combate, a baixo custo, das enfermidades.

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1. Universidade Estadual do Norte do Paraná: rodrigopoletto@uenp.edu.br

2. Universidade Estadual do Norte do Paraná: maria857_@hotmail.com

3. Universidade Estadual do Norte do Paraná / Bolsista PIBIC Jr: juliocesarpires_1995@hotmail.com

4 Universidade Estadual do Norte do Paraná / Bolsista PIBIC Jr: isa_pfahl@hotmail.com

5 Universidade Estadual do Norte do Paraná: letícia_krause@hotmail.com

6 Universidade Estadual Paulista/Departamento de Botânica: francodm@ibb.unesp.br

7 Universidade Estadual do Norte do Paraná: luckenlucas@uenp.edu.br


Vol. 37 (Nº 02) Año 2016

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