Espacios. Vol. 36 (Nº 17) Año 2015. Pág. 14
Antonio Edson AMARAL 1; Antonio Carlos de CAMPOS 2; Umberto A. SESSO FILHO 3; Rossana Lott RODRIGUES 4; Antonio Carlos MORETTO 5; Emerson Guzzi Zuan ESTEVES 6; Paulo Rogério Alves BRENE 7
Recibido: 14/05/15 • Aprobado: 04/08/2015
3. Metodologia, base de dados e agregações
RESUMO O trabalho busca investigar a importância dos insumos intermediários importados por intensidade tecnológica na indústria de transformação brasileira para os anos de 2000, 2004 e 2009. Utiliza-se como base dados as Matrizes de Insumo-Produto disponível em NEREUS (Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo). Os setores foram agregados e classificados de acordo com a metodologia da OCDE para intensidade tecnológica. Os resultados mostram que os maiores coeficientes de penetração das importações estão nos setores de alta e média alta tecnologia e que os setores que estão deixando de gerar um aumento do efeito multiplicador de produção na indústria de transformação quando os insumos intermediários são importados são: 3 - Equipamentos de rádio, TV e comunicações; 4 - Material de escritório e informática; 6 - Veículos automotores, reboques e semi-reboques; 7 - Produtos químicos, exclusive farmacêuticos; 9 - Borracha e produtos plásticos; 12 - Carvão, produtos do petróleo refinado e combustível nuclear e 14 - Alimentos, bebidas e tabaco. |
ABSTRACT: The work investigates the importance of intermediate inputs imported by technological intensity in Brazilian manufacturing industry for the years 2000, 2004 and 2009. It is used as a basis the data input-output matrices available in NEREUS (Regional Economics and Urban Core University of São Paulo). The sectors were aggregated and classified according to the OECD methodology for technological intensity. The results show that the major import penetration ratios are in the sectors of high and medium high-tech and that the sectors that are failing to generate increased production multiplier effect in manufacturing when intermediate inputs are imported are: 3 - radio equipment, TV and communications; 4 - Office supplies and computer; 6 - Vehicles, trailers and semi-trailers; 7 - Chemicals, pharmaceuticals exclusive; 9 - Rubber and plastic products; 12 - Coal, refined petroleum products and nuclear fuel and 14 - Food, beverages and tobacco. |
Os processos de intensificação das políticas liberalizantes dos anos de 1990 trouxeram para o Brasil uma melhor condição de mercado dada uma melhora na produção. As reformas desse período buscaram alcançar a desregulamentação econômica, com maior flexibilidade dos controles de preços e queda em algumas proteções de mercado, bem como outras restrições regulatórias em relação ao investimento, relacionadas à liberalização do setor externo e às privatizações de indústrias e serviços públicos.
O processo de intensificação da internacionalização da economia brasileira resultou em uma estrutura produtiva mais competitiva, porém, estes ganhos de competitividade ocorreram, em parte, via importações de componentes e de tecnologia. Morceiro et al (2012) colocam que, entre o início de 1996 até o primeiro semestre de 2005, a produção industrial, o consumo das famílias e as importações cresceram praticamente no mesmo ritmo, sendo que, a partir do segundo semestre de 2005, houve um nítido descolamento dos três agregados. No período de 2005 a 2008 as importações como mais do que dobraram e supriram a lacuna entre o consumo das famílias e produção industrial. Em outras palavras, as importações como um todo cresceram porque a produção industrial do país não acompanhou o aumento do consumo das famílias.
Para Marconi e Rocha (2012) no longo prazo o processo de apreciação cambial gera mudança na pauta exportadora de um país no sentido de aumento na exportação de bens primários e elevação das importações de manufaturados provocando uma redução da participação da manufatura no valor agregado. As razões que explicam o aumento do consumo das famílias no Brasil também justificam, direta ou indiretamente, o aumento robusto das importações, especialmente se associadas a outros fatores como a insuficiência de investimentos para a ampliação da capacidade produtiva industrial. Esta situação é similar à observada por Britto (2003) para o Brasil em relação à produção industrial nos anos 1990, que também dependia de certa proporção de insumos importados. Em seu modelo, a produção industrial cresceu, mas com aumento dos componentes importados.
Ainda nesse contexto, a taxa de câmbio real apreciada nos países emergentes, quando não neutralizada pelos gestores da política econômica, acaba por desestimular as exportações de manufaturados e estimular a participação das importações dos mesmos na oferta global da economia, tanto na forma de bens finais como de bens intermediários. Uma das motivações para elevar as importações neste cenário de valorização cambial é a compensação da redução da receita em moeda nacional (Reais) com as exportações, por meio da redução dos custos em Reais dos insumos importados mais baratos. Este processo pode reduzir a participação da indústria de transformação no valor adicionado desestimulando as exportações de manufaturados.
Assim, percebe-se que após a intensificação das políticas liberalizantes nos anos de 1990, todos os países em desenvolvimento passaram a associar crescimento e desenvolvimento à sua capacidade de atrair investimentos produtivos em setores intensivos em conhecimento e tecnológica a fim de produzir bens e serviços em escala cada vez maior, com maior valor agregado, variedade, diversificação e sofisticação tecnológica. Desta forma, o problema de pesquisa que este trabalho se depara é pautado pelo seguinte questionamento: Como tem evoluído a importação de insumos intermediários por intensidade tecnológica na indústria de transformação brasileira nos anos de 2000, 2004 e 2009? Assim o trabalho tem como objetivo geral identificar e analisar os insumos intermediários importados na indústria de transformação brasileira entre os anos de 2000 a 2009 por intensidade tecnológica, mostrando quais setores está deixando de ganhar em produção com o ingresso de insumos intermediários para suprir a indústria de transformação brasileira. De forma específica espera-se: 1) Analisar em quais setores se observa tendência de elevação ou redução da dependência de insumos intermediários importados principalmente de alta e média alta tecnologia; 2) Avaliar se existe perda ou ganhos de produção com a utilização de insumos intermediários importados na indústria de transformação nacional no período de 2000, 2004 e 2009; 3) Em caso de perdas, identificar o que tem ocorrido com a estrutura produtiva (elos da cadeia) da indústria de transformação brasileira.
O trabalho irá tratar dos insumos intermediários importados na indústria de transformação brasileira. Como visto anteriormente, diversos autores têm estudado quais as implicações do processo de intensificação das políticas liberalizantes a partir de 1990 na indústria de transformação e a inserção do Brasil no comércio mundial. Existem autores que defendem que esta maior participação dos insumos intermediários importados pode ser benéfica para os países em desenvolvimento uma vez que melhora a competitividade da indústria via transbordamento e aprendizado tecnológico. Este trabalho busca inserir na discussão a utilização de insumos intermediários importados a partir de Matriz Insumo-Produto (MIP) disponíveis em NEREUS (Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de são Paulo), sob uma ótica de intensidade tecnológica utilizando a classificação da OCDE (2005) que servirá de subsídio para futuros estudos e/ou formulação de políticas públicas direcionadas à indústria de transformação brasileira. A substituição do uso de insumos intermediários manufaturados produzidos domesticamente pelos insumos intermediários importados motiva a discussão sobre a transferência de tecnologia dos países avançados para os países em desenvolvimento.
O trabalho tem como objetivo identificar e analisar os insumos intermediários importados na indústria de transformação brasileira entre os anos de 2000 a 2009 por intensidade tecnológica, mostrando quais setores está deixando de ganhar em produção com o ingresso de insumos intermediários para suprir a indústria de transformação brasileira.
O contexto do trabalho é baseado no cenário do fim da década de 1980 e início da de 1990, quando o Brasil passou por um processo de intensificação das políticas liberalizantes, e que, associado ao acirramento da concorrência internacional, causou implicações (como aumento da concorrência, reestruturação da produção, por exemplo) na indústria de transformação, com impactos sobre os setores. Assim, a hipótese inicial deste trabalho é de que a intensificação das políticas liberalizantes, ocorrida a partir de 1990, ao contribuir para o acirramento da concorrência internacional, aumentou o acesso das indústrias brasileiras às importações de insumos intermediários, principalmente de alta e média alta tecnologia, e que a indústria de transformação brasileira estaria deixando de maiores ganhos de produção em alguns setores, dada a transferência de tecnologia via importações de insumos intermediários e o comércio internacional com países intensivos em P&D (líderes tecnológicos), foram mais prejudiciais do que benéficos.
Além desta introdução o trabalho apresenta uma revisão da literatura sobre tecnologia e importações no Brasil pós-processo de intensificação das políticas de liberalização de comércio dos anos de 1990, estudos empíricos do uso de insumos intermediários importados, a relação entre insumos intermediários importados, indústria de transformação e efeito multiplicador setorial de produção. Por fim, serão tecidas as considerações finais.
As políticas liberalizantes de 1990 trouxeram consigo um maior acesso das firmas brasileiras ao comércio internacional. Esse acesso resultou em maior participação dos insumos intermediários importados no processo produtivo e com novas tecnologias importadas inseridas nos insumos intermediários importados, uma vez que parte deles vem de economias avançadas. Para Bonelli et al (1997) a liberalização comercial promove mudanças na estrutura produtiva que aperfeiçoam a utilização de insumos e melhoram a qualidade do produto final. O resultado é o barateamento dos custos de produção, com implicações positivas sobre a estabilização dos preços. A expansão das importações de matérias-primas e de bens de capital beneficiou-se ainda das taxas de juros dos empréstimos externos menores do que a soma das vigentes no país, e da desvalorização cambial esperada. Isso tem contribuído para melhorar a competitividade da produção nacional.
Para Kume et al (2000) a partir de 1988 no Brasil, teve início a implementação de uma política de importação, com a intenção de induzir a uma alocação mais eficiente de recursos por meio da competição externa. Foram realizados, então, três programas de reduções tarifárias, respectivamente, nos períodos 1988-1989, 1991-1993 e 1994, seguidos de um pequeno retrocesso no período 1995-1998, quando o financiamento de déficits comerciais crescentes, proporcionados tanto pela valorização da taxa de câmbio quanto pela ampliação da abertura comercial no início do Plano Real, tornou-se inviável em decorrência da crise mexicana de dezembro de 1994. Segundo estes mesmos autores, as mudanças ocorridas na política de importação no período 1988-1994 atenderam, de maneira geral, as expectativas do mercado. Na primeira fase, correspondente ao biênio 1988-1989, foram realizadas duas reformas tarifárias, respectivamente, em junho de 1988 e em setembro de 1989, que buscaram eliminar a parcela redundante da tarifa nominal, sem efeitos significativos sobre o volume de importações. No período 1991-1993, eliminaram-se, inicialmente, as BNTs e os regimes especiais de tributação, sendo implementado posteriormente, um cronograma de redução gradual das tarifas de importação. A terceira etapa, ocorrida em 1994, esteve associada às reduções tarifárias promovidas no início do Plano Real, visando disciplinar os preços domésticos através de uma competição externa maior. Lall (2000) coloca que outra explicação parcial é que o consumo dos produtos mais sofisticados é mais sensível a variações na renda, ou seja, a elasticidade-renda das importações é mais elevada nos bens de maior intensidade tecnológica. Assim, houve um aumento generalizado na proporção dos insumos importados e os maiores aumentos ocorreram nos setores de maior intensidade tecnológica.
Coutinho, Hiratuka e Sabbatini (2003), ao realizarem um balanço dos efeitos do processo de abertura sobre a produção industrial brasileira, constataram que houve redução do valor agregado, no País, em todas as cadeias industriais complexas, onde parte crescente da produção estaria sendo substituída por importados; perda de espaços da oferta doméstica de bens finais pela ocupação de parte do mercado por produtos importados; e, em muitos casos, substituição da produção brasileira por importações, ainda que a escala do mercado brasileiro permitisse uma produção eficiente. Assim, a abertura estaria promovendo uma "reespecialização" em segmentos de menor intensidade tecnológica em prol de insumos importados de maior intensidade tecnológica.
Para Xavier e Souza (2006) o Plano Real, em 1994, inaugurou uma etapa de apreciação real da taxa de câmbio, que afetou a competitividade externa brasileira ao desestimular a agregação de valor no País diante do aumento de importações. Apenas a partir do segundo semestre de 1996, foram realizadas minidesvalorizações cambiais, resultando em lenta e gradual depreciação real da moeda brasileira. Essas desvalorizações cambiais, por sua vez, também influenciaram a competitividade brasileira, pois, especialmente para setores que dependem de importação, seja de matéria-prima, seja de bens de capital, acarretaram aumentos de custos para as empresas nacionais. Acrescenta ainda que à medida que as empresas brasileiras têm enfrentado barreiras para exportar mesmo os produtos menos sofisticados, nos quais apresentam vantagens de produção, parece claro que aí está um desestímulo para a sofisticação da produção, pois, em segmentos mais sofisticados, as barreiras comerciais poderiam ser ainda maiores. Esse cenário, portanto, também estaria contribuindo para a especialização comercial brasileira em segmentos menos elaborados, ou seja, uma especialização comercial intra-industrial regressiva.
Nassif (2005) afirma que a concepção e a implementação inicial do processo de liberalização comercial no Brasil foi prudente em dois aspectos fundamentais. O primeiro aspecto diz respeito a execução do programa de reforma tarifária entre 1990 e 1994, em especial as reduções previstas nas alíquotas aduaneiras de importação. Já, o segundo, o respeito ao princípio da escalada tarifária, instaurando-se imediatamente alíquotas zero ou próximas de zero apenas para as importações de bens em cuja produção o país detivesse inequívoca vantagem comparativa ou nas compras externas de commodities com baixo valor adicionado. O autor ainda divide os impactos da abertura comercial em dois aspectos: 1º.) os benefícios "estáticos" estão relacionados basicamente aos ganhos proporcionados à sociedade como um todo, derivados, por sua vez, da possibilidade de ampliar o volume e variedade de bens importados a preços relativamente menores do que os prevalecentes na fase pré-liberalização; e 2º.) os benefícios "dinâmicos" dizem respeito às possibilidades de induzir o progresso técnico na fase pós-liberalização, por meio da criação e disseminação de tecnologia ao longo do sistema econômico, permitindo, em última instância, potencializar o desenvolvimento econômico do país.
Alguns números foram apresentados por Nassif (2005) sobre a evolução dos coeficientes de penetração das importações brasileiras entre 1990 e 2001. Esses índices, que resultam do quociente entre o valor da produção e o consumo aparente (valor da produção + importações – exportações), permitem captar diretamente os efeitos inter-setoriais exercidos pela maior pressão competitiva sobre a realocação de recursos, uma vez que as firmas vão sendo forçadas a promover a reestruturação tecnológica e/ou organizacional de seus métodos produtivos tão logo se implementa o programa de eliminação das barreiras não-tarifárias e de redução de alíquotas de importação. Entre 1990 e 1998, o coeficiente de penetração das importações na indústria de transformação brasileira sofreu um aumento expressivo, tendo evoluído de 5,9% em 1990 para 12,4% em 1998, correspondendo a um incremento acumulado de 110% no período. Nota-se também que, a despeito das fortes desvalorizações cambiais ocorridas no período subseqüente, o indicador continuou evoluindo, alcançando 15,4% em 2001, ou seja, uma variação acumulada de 161% entre 1990 e 2001.
Os resultados do autor mostram ainda que, com relação à composição das importações, foi confirmada, mesmo que parcialmente, a predição teórica em comércio internacional segundo a qual os setores com menores ganhos de eficiência técnica tendem a aumentar a participação de suas respectivas importações no total das compras externas de um país. De acordo com as teorias de comércio internacional, os setores com menores ganhos de eficiência técnica são justamente aqueles cujas taxas de incremento da produtividade tendem a ser menores, em virtude da incapacidade de enfrentar a pressão competitiva exercida pelo aumento das importações. A liberação de recursos produtivos desses setores tende a potencializar os ganhos de eficiência nas indústrias com maior capacidade de enfrentar a concorrência com importados.
Morceiro et al (2012) mostra que no período de 2005 a 2008 as importações brasileiras mais do que dobraram e supriram a lacuna entre o consumo e a produção industrial, ou seja, nos últimos anos as importações cresceram porque a produção industrial do país não acompanhou o aumento do consumo da população - ajuste intensificado em 2010 e 2011. Em geral, as razões que explicam o aumento do consumo das famílias, também justificam, direta ou indiretamente, o aumento robusto das importações, especialmente se associadas a outros fatores como, por exemplo, a insuficiência de investimentos para a ampliação da capacidade produtiva industrial. Considerando que entre os anos de 2000 a 2008 cerca de 60% das importações brasileiras são constituídas de bens intermediários, o impacto dessas compras na economia brasileira merece destaque. Para os autores a participação dos insumos importados incorporados aos bens produzidos no Brasil têm se elevado de forma muito rápida desde 2003. Esse resultado significa que o processo de substituição de fornecedores nacionais por estrangeiros está acelerado e, por conseguinte, as cadeias produtivas estão se tornando menos articuladas entre si. Por outro lado, a participação das empresas transnacionais na produção industrial brasileira dos bens de maior intensidade tecnológica é muito substantiva e os processos produtivos desses bens são muito mais dispersos e internacionalmente integrados do que aqueles de menor intensidade tecnológica.
Morceiro et al (2012) destaca que no período recente, alguns fornecedores locais com maiores margens de lucro puderam sobreviver momentaneamente, pois adotaram estratégias defensivas de diminuição da capacidade produtiva e aumento da importação de componentes, partes e peças para atuar, estritamente, como montadores ou revendedores de produtos fabricados no exterior. No entanto, aqueles fornecedores que já esgotaram as possibilidades dessas estratégias são substituídos por fornecedores estrangeiros. Além da transferência de valor adicionado – rendas geradas pelas atividades diretas e indiretas – para o exterior, o aniquilamento de um fornecedor doméstico acarreta a extinção não apenas de capacidades produtivas, mas, principalmente, o desperdício de uma série de capacidades inovativas, organizacionais e de gestão e de conhecimentos tecnológicos acumulados ao longo dos anos, aspectos que os nossos indicadores não são capazes de captar. As capacidades e conhecimentos perdidos pela indústria doméstica, dificilmente poderão ser recuperados se o cenário macroeconômico não se reverter, pois requer um tempo não desprezível para que sejam resgatados os aprendizados.
No tocante aos estudos empíricos destca-se a análise de Schor (2004). A autora em um modelo de dados de painel para o Brasil, entre os anos de 1986 a 1998 para uma amostra de 4484 empresas, estudou se a heterogeneidade produtiva foi responsável pelas reduções tarifárias dentro da indústria manufatureira. O trabalho objetivou explicar os efeitos da liberalização comercial sobre a evolução da produtividade das empresas. Para a autora é fato que há uma diferença substancial entre e dentro da indústria em relação à heterogeneidade na produção, nos insumos utilizados e na produtividade dentro do setor manufatureiro.
A hipótese do trabalho de Schor (2004) é que há um aumento na disponibilidade de insumos estrangeiros (bens intermediários e de capital) em que a autora considera que afeta a produtividade da empresa. O trabalho considera o impacto da redução tarifária sobre os mercados de bens intermediários e de capital. As razões para isso é porque insumos importados podem ser utilizados por empresas indiretamente, uma vez que a maior parte dos insumos locais para fabricação sofre remanufatura e porque testa o impacto da política comercial mais diretamente.
Num primeiro resultado de Schor (2004) o efeito de tarifas nacionais sobre a produtividade das empresas é identificado e destaca que a liberalização do comércio é visto como uma forte redução nominal de tarifas, que eleva o grau de concorrência nos mercados internos, que por sua vez empurra as empresas para reduzir as ineficiências. Por outro lado uma menor liberalização comercial mas com redução de tarifas sobre insumos, reduz os custos das importações aumentando o acesso a insumos intermediários estrangeiros e bens de capital das empresas nacionais. Para a autora a redução global de tarifas nominais conduz não só a uma redução de tarifas sobre insumos, mas também cria um incentivo para as empresas adotarem estratégias de terceirização que do ponto de vista teórico a tecnologia incorporada de insumos importados podem explicar ganhos de produtividade quando os fluxos comerciais aumentam.
Outro resultado da autora é que durante a década de 90 as importações cresceram 170 %, quase 10,5% ao ano, as importações de bens de capital aumentaram em 196% e de bens intermediários 259%, ou seja, a concorrência comercial e um novo acesso a melhores insumos contribuíram para aumentar a produtividade após a liberalização comercial. A redução de tarifas leva a uma redução também no preço dos insumos importados necessários a produção. Certamente aumenta a oferta desses insumos que são muitas vezes considerados como tendo uma melhor relação qualidade/preço podendo aumentar a produtividade através da tecnologia incorporada transferida de economias mais avançadas para os países importadores de insumos.
Outro estudo empírico é o de Muendler (2004), onde buscou-se estudar os efeitos da liberalização comercial ocorrida no Brasil a partir de utilizando-se de um período de grandes mudanças para as barreiras comerciais internas no Brasil o autor destaca que a revogação de barreiras comerciais pode exercer um impacto positivo na mudança da produtividade e no crescimento a nível nacional. O autor analisa três mecanismos distintos de comércio que podem resultar em produtividade para as empresas. 1) Impulso Competitivo, onde a remoção de barreiras comerciais internas aumenta a concorrência no mercado de produtos. 2) Impulso de Insumo Estrangeiro, na qual equipamentos de alta qualidade e bens intermediários permitem que as empresas adotem novos métodos de produção. 3) Eliminação Competitiva, pois o aumento da concorrência estrangeira elimina empresas ineficientes. A partir destes canais busca explicar como a remoção de barreiras comerciais internas do Brasil afetou a produtividade entre empresas de médio e grande porte.
Os resultados de Muendler (2004) mostram que o impulso competitivo aumenta a eficiência das empresas consideravelmente em resposta a um aumento da pressão da concorrência vinda do exterior. Para o impulso de insumo estrangeiro os resultados mostraram que em muitos setores a eficiência dos equipamentos estrangeiros e dos insumos intermediários é maior do que a eficiência dos insumos nacionais. As empresas precisam usar insumos de alta qualidade a fim de obter ganhos de produtividade. Por outro lado, o autor destaca que os insumos estrangeiros nem sempre são utilizados de forma mais eficiente do que os insumos nacionais. Por fim para a eliminação competitiva contribui positivamente para a evolução da produtividade como um todo.
Adaptação da tecnologia leva tempo por causa da complementaridade dos fatores, efeitos e rearranjos de produções necessárias para a aprendizagem. As empresas podem aprender com o tempo como integrar novos equipamentos estrangeiros para a sua produção. Então, safras mais velhas de equipamentos estrangeiros parecem prejudicar a produtividade, enquanto que investimentos mais recentes das empresas em equipamentos estrangeiros tendem a afetar a produtividade de forma positiva ou pelo menos não tão fortemente negativa. Em outras palavras, as empresas parecem aprender a programar equipamentos estrangeiros de forma mais eficaz ao longo do tempo e podem se beneficiar da tecnologia incorporada na aquisição de bens estrangeiros. Isso justifica a pouca evidência de que os efeitos da tecnologia incorporada são fontes de mudança de produtividade imediata.
Para a realização deste trabalho foi feito um corte de três períodos no tempo para qual serão analisados os dados disponíveis em NEREUS, em 2000, 2004 e 2009. A partir da base de dados foram analisados os multiplicadores de produção por intensidade tecnológica. A compatibilidade da agregação dos setores com base na MIP, CNAE 2.0 e OCDE (2005) para os setores foram agregados a 2 e a 3 dígitos, para se transformarem em 24 setores de agregação, sendo 17 setores industriais classificados pela OCDE e 7 setores não industriais contidos na MIP para o Brasil. Os setores estão agregados em 4 setores de alta tecnologia, 4 setores de média-alta tecnologia, 4 setores de média-baixa tecnologia, 5 setores de baixa tecnologia e outros 7 setores contidos na MIP porém não classificados por intensidade tecnológica.
Uma economia funciona, em grande parte, para equacionar a demanda e a oferta dentro de uma vasta rede de atividades. O que Leontief (1986) conseguiu realizar foi a construção de uma "fotografia econômica" da própria economia; nesta fotografia, ele mostrou como os setores estão relacionados entre si - ou seja, quais setores suprem os outros de serviços e produtos e quais setores compram de quem. O resultado foi uma visão única e compreensível de como a economia funciona - como cada setor se torna mais ou menos dependente dos outros.
A Figura 1 mostra como é feita a utilização dos bens domésticos e importados, ou seja, como estes são utilizados na produção corrente de outros bens, na formação de capital, no consumo das famílias, pelo governo e outras demandas. O modelo de insumo-produto assume que somente os produtos domésticos são exportados, o que implica que os produtos importados devem, necessariamente, passar por um processo de produção interna antes de serem exportados. Desta forma os produtos domésticos utilizam uma combinação de insumos domésticos, insumos importados, trabalho, capital e terra para serem produzidos. O fluxograma mostra a combinação de modo a dar uma ideia de como o modelo funciona de maneira integrada.
A partir da Figura 1 observa-se que são utilizados insumos domésticos (que foram obtidos através da produção doméstica), insumos importados (objeto deste trabalho) e insumos primários (trabalho, capital, e terra) para a produção de produtos domésticos. As importações podem ser de insumos intermediários que se destinam ao processo produtivo, ou de bens finais que são diretamente consumidos pelos consumidores finais. O trabalho está interessado em investigar a intensidade tecnológica dos insumos importados na indústria de transformação brasileira.
Figura 1 - Fluxograma do modelo de Insumo-Produto
Fonte: Guilhoto (2004).
Na teoria de Leontief (1986) uma das hipóteses é a inexistência de produção conjunta ou subprodutos dentro do processo produtivo, isto é, cada produto é produzido por um único setor e cada setor produz um único produto. Porém, no mundo real, entretanto, não é isto o que acontece. Por exemplo: a) a indústria automobilística pode produzir carros e autopeças, da mesma forma que as autopeças também são produzidas no setor de autopeças; b) uma fazenda que produz leite pode produzir como subproduto a carne e outra que produz a carne pode produzir o leite como subproduto; e assim sucessivamente. O Quadro1 sumariza o sistema de insumo-produto em que são consideradas as matrizes de produção e de uso e recursos.
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Produtos |
Setores |
Demanda Final |
Produção Total |
Produtos |
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U |
E |
Q |
Setores |
V |
Z |
Y |
X |
Importações |
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M |
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Impostos Indiretos Líquidos |
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T |
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Valor Adicionado |
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W |
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Produção Total |
Q' |
X' |
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Quadro 1 - Esquema do sistema de Insumo-Produto com indústrias (setores) e produtos
Fonte: Guilhoto (2004).
A matriz de produção informa o que cada indústria (setor) da economia produz de cada produto, enquanto que a matriz de usos e recursos fornece a quantidade de insumos que cada setor utiliza para realizar a sua produção, ou melhor, o seu conjunto de produtos.
Assumindo-se que existam n setores e m produtos na economia, tem-se que:
V é a matriz de produção de dimensão nxm, onde o elemento vij corresponde ao bem j produzido pelo setor i;
U é a matriz de uso de dimensão mxn, onde o elemento uij é o valor do produto i utilizado pelo setor j em seu processo de produção;
Z é a matriz de uso de dimensão nxn, onde o elemento zij é o valor do setor i utilizado pelo setor j em seu processo de produção;
E é o vetor de demanda final, por produto, de dimensão mx1;
Y é o vetor de demanda final, por setor, de dimensão nx1;
M é o vetor de importações totais realizadas em cada setor, de dimensão 1xn;
T é o vetor do total dos impostos indiretos líquidos pagos em cada setor, de dimensão 1xn;
W é vetor do total do valor adicionado à produção gerado em cada setor, de dimensão 1xn;
Q é o vetor de produção total, por produto, de dimensão mx1;
X é o vetor de produção total, por setor, de dimensão nx1.
Q' e X' são definidos analogamente para os vetores coluna.
As matrizes Z, de consumo intermediário setor por setor, e Y, da demanda final por setor, definidas originalmente no sistema de Leontief, não são usualmente apresentadas pelos órgãos estatísticos, mas são aquelas que se pretende obter através das combinações das outras matrizes. De forma a se obter o sistema de insumo-produto originalmente definido por Leontief, são utilizadas geralmente duas hipóteses com relação ao modo de produção e participação das indústrias no mercado de produtos.
A tecnologia baseada na indústria assume que o mix de produção de um dado setor pode ser alterado, porém este setor mantém a sua participação constante no mercado dos bens que produz. Isto implica que o setor pode alterar o seu mix de produção de forma a manter a sua participação nos diversos mercados em que atua. A tecnologia baseada no produto assume que o mix de produção de um dado setor não pode ser alterado, mas permite que a participação deste setor no mercado dos bens que produz se altere.
No caso da tecnologia baseada na indústria, Guilhoto (2004) e Guilhoto e Sesso Filho (2005) e (2010) define, inicialmente, as matrizes:
B representa a matriz de coeficientes técnicos de cada setor em relação a cada produto utilizado como insumo. D determina, por sua vez, a proporção, para cada produto, dos setores que o produzem. Esta proporção será fixa.
Pela definição de D, conclui-se que:
Sabe-se que:
onde i é um vetor coluna cujos elementos são todos iguais a 1.
Substituindo-se a equação (3) em (4), tem-se:
Considerando-se a tabela anterior, temos que:
E, ainda, segundo a equação (1), , logo:
Esta equação mostra o produto total por setor (X) pré-multiplicado pela matriz que representa quanto cada setor utiliza de cada produto no seu processo de produção (B), somado à demanda final por produto, o que corresponde à produção total de cada produto.
Substituindo X por DQ:
Define-se acima o enfoque produto por produto com a tecnologia baseada na indústria. Note que o primeiro produto do enfoque se refere ao vetor Q de produção total por produto e o segundo produto se refere à demanda final por produto dada pelo vetor E.
Lembrando que a matriz D, assumindo a hipótese da tecnologia baseada na indústria, é uma matriz de proporções que redefine a produção por produto em produção por setor, veja por exemplo a equação (5), tem-se que , logo, , portanto o enfoque produto (Q) por setor (Y) na tecnologia baseada na indústria é dado por:
Para se trabalhar com os setores, segue-se a mesma lógica.
Como e , tem-se que o enfoque setor (X) por produto (Q) é dado por:
Multiplicando-se ambos os lados da equação (12) por tem-se:
A equação (19) se refere ao enfoque setor (X) por setor (Y) com a tecnologia baseada na indústria. Este enfoque, nesta tecnologia, é o que mais se aproxima do modelo original de Leontief e, portanto, é o padrão que se costuma utilizar para transformar as matrizes de produção e de usos e recursos no modelo de Leontief. Note que neste caso ter-se-ia que a matriz seria equivalente à matriz A de coeficientes técnicos de Leontief, e a matriz seria equivalente a matriz Z de consumo intermediário.Em termos práticos, para se obter um sistema semelhante ao original de Leontief, na maior parte das vezes, utiliza-se a tecnologia baseada na indústria, enforque setor por setor.
Sejam as matrizes originais, U usos e recursos, Q produção e M importações. Levando em consideração que a matriz de importações disponível em NEREUS não inclui as importações de bens finais (vetor), pode-se supor que a matriz de importações é composta de insumos importados intermediários.
Para o multiplicador de produção, segue-se a metodologia proposta por Miller e Blair (2009) em que, dada a equação, , o multiplicador setorial de produção do setor j será:
em que MPjé o multiplicador de produção e lij é um elemento da matriz inversa de Leontief.
O valor calculado representa o valor total de produção de toda a economia que é produzido para atender a variação de uma unidade na demanda final do setor j.
A partir de uma variação da metodologia utilizada para calcular os multiplicadores setoriais de produção, pode-se calcular esses multiplicadores setoriais porintensidade tecnológica.O efeito multiplicador de produção por importar insumos intermediários por intensidade tecnológica é mostrado na Tabela 4 para 2000, 2004 e 2009.
O Coeficiente de Penetração dos insumos intermediários é calculado da seguinte forma: insumos intermediários importados + produção / insumos intermediários importados.
Estes valores referem-se a como tem evoluído a entrada de insumos intermediários na indústria de transformação brasileira, buscando evidenciar se o país esta ou não, deixando de ganhar em produção com a importação de insumos intermediários.
A Tabela 1 mostra a quantidade de insumos intermediários utilizado na produção por setor e o quanto destes insumos intermediários é importado de outros países, os setores estão classificados por intensidade tecnológica, e os valores estão em termos monetários e percentuais para os anos de 2000, 2004 e 2009. No geral, há pouca variação percentual entre os setores e anos, ficando o destaque para os setores: 3 - Equipamentos de rádio, TV; 4 - Material de escritório e informática (alta tecnologia) e 12 - Carvão, produtos do petróleo refinado e combustível nuclear (media baixa tecnologia). Pode-se observar ainda uma estabilidade em quase todos os setores quando compara-se os percentuais de cada ano. Percebe-se também pelos números que as proporções são menores para os setores classificados como de baixa tecnologia, em torno de 9% em média, para cada um dos três anos analisados.
Tabela 1 – Valor e participação dos insumos intermediários nacionais e importados na produção
da indústria de transformação brasileira por grupos de intensidade tecnológica, 2000, 2004 e 2009.
Em milhões de Reais e Percentual (%)
2000 |
2004 |
2009 |
|||||||
Setores |
Insumos Intermed. |
Insumos Import. |
% |
Insumos Intermed. |
Insumos Import. |
% |
Insumos Intermed. |
Insumos Import. |
% |
Alta Tecnologia |
|
|
|||||||
1 – Farmacêutica |
7,237 |
873 |
|
10,682 |
1,500 |
14,0 |
16,920 |
1,979 |
11,7 |
2 - Instrumentos médicos de ótica e precisão |
1,907 |
434 |
|
3,581 |
853 |
23,8 |
5,191 |
1,059 |
20,4 |
3 - Equipamentos de rádio, TV e comunicações |
13,243 |
3,592 |
|
21,160 |
5,617 |
26,5 |
17,281 |
4,290 |
24,8 |
4 - Material de escritório e informática |
3,734 |
1,494 |
|
4,970 |
1,860 |
37,4 |
11,351 |
4,430 |
39,0 |
Média Alta Tecnologia |
|
|
|||||||
5 - Máquinas e equipamentos elétricos |
11,402 |
1,983 |
14,8 |
18,984 |
3,187 |
16,8 |
33,691 |
5,010 |
14,9 |
6 - Veículos automotores, reboques e semirreboques |
35,600 |
6,801 |
16,0 |
90,686 |
14,567 |
16,1 |
138,188 |
19323 |
14,0 |
7 - Produtos químicos, exclusive farmacêuticos |
45,084 |
8,321 |
15,6 |
90,532 |
17,796 |
19,7 |
107,590 |
19,129 |
17,8 |
8 - Máquinas e equipamentos mecânicos |
13,755 |
2,058 |
13,0 |
32,994 |
4,762 |
14,4 |
47,454 |
6,343 |
13,4 |
Média Baixa Tecnologia |
|
|
|
|
|
||||
9 - Borracha e produtos plásticos |
14,023 |
3,031 |
17,8 |
25,556 |
5,107 |
20,0 |
31,384 |
6,916 |
22,0 |
10 - Produtos minerais não metálicos |
9,905 |
1,091 |
09,9 |
15,766 |
1,845 |
11,7 |
27,498 |
2,969 |
10,8 |
11 - Produtos metálicos |
30,780 |
4,585 |
13,0 |
67,454 |
10,721 |
15,9 |
88,591 |
14,043 |
15,9 |
12 - Carvão, produtos do petróleo refinado e combustível nuclear |
34,613 |
8,297 |
19,3 |
62,272 |
21,294 |
34,2 |
91,101 |
19,428 |
21,3 |
Baixa Tecnologia |
|
|
|||||||
13 - Produtos manufaturados não especificados e bens reciclados |
9,549 |
927 |
08,8 |
12,378 |
1,198 |
09,7 |
15,982 |
1,438 |
09,0 |
14 - Alimentos, bebidas e tabaco |
92,571 |
4,849 |
05,0 |
184,071 |
7,001 |
03,8 |
27,5895 |
9,079 |
03,3 |
15 - Têxteis, couro e calçados |
29,812 |
2,972 |
09,1 |
46,690 |
4,175 |
08,9 |
54,516 |
5,634 |
10,3 |
16 - Móveis e produtos das indústrias diversas |
9,730 |
999 |
09,3 |
15,909 |
1,657 |
10,4 |
21,302 |
2,099 |
09,9 |
17 - Madeira e seus produtos, papel e celulose |
16,010 |
1,582 |
09,0 |
30,991 |
3,052 |
09,8 |
36,975 |
2,941 |
08,0 |
Outros Setores |
|
|
|||||||
18 – Agricultura |
33,246 |
2,949 |
08,1 |
74,451 |
7,855 |
10,5 |
102,456 |
9,148 |
08,9 |
19 - Industria Extrativa |
15,776 |
1,691 |
09,7 |
40,983 |
4,642 |
11,3 |
67,277 |
7,167 |
10,7 |
20 - S.I.U.P |
26,474 |
1,844 |
06,5 |
46,622 |
3,954 |
08,5 |
68,667 |
5,191 |
07,6 |
21 – Construção |
48,667 |
3,661 |
07,0 |
62,465 |
4,913 |
07,9 |
119,506 |
8,695 |
07,3 |
22 – Comércio |
40,329 |
2,746 |
06,4 |
66,040 |
4,799 |
07,3 |
125,939 |
8,351 |
06,6 |
23 - Serviços |
217,115 |
13,879 |
06,0 |
330,652 |
21,418 |
06,5 |
566,956 |
34,536 |
06,1 |
24 - Serviços Públicos (Educ. Saud. Adm. e Seg. Social) |
64,897 |
3,625 |
05,3 |
114,116 |
7,088 |
06,2 |
197,824 |
11,523 |
05,8 |
Total |
825,458 |
84,282 |
10,2 |
1,470,003 |
160,862 |
10,9 |
2,269,538 |
210,720 |
09,3 |
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em 2000 para o setor 3 - Equipamentos de rádio, TV e comunicações(alta tecnologia) dos 13.243 bilhões de insumos intermediários utilizados noprocesso de produção, 3.592 bilhões foram de insumos intermediários importados, o que corresponde a 21%. Já em 2004 ocorreu um aumento dos insumos intermediários importados utilizados no processo produtivo passando para 27%, ou seja, dos 21.160 bilhões de insumos intermediários utilizados no processo de produção, 5.617 bilhões são de insumos intermediários importados. Para 2009 ocorreu uma redução para 25%, dos 17.281bilhões, 4.290 bilhões são insumos intermediários importados.
Outro destaque é o setor 4 - Material de escritório e informática (alta tecnologia), que passam de 29% em 2000 para 39% em 2009. O setor 6 - Veículos automotores, reboques e semi-reboques (média alta tecnologia), conseguiu reduzir a participação dos insumos intermediários importados no seu processo de produção de 16% em 2000 para 14% em 2009, indicando uma melhora dos insumos intermediários nacionais neste setor.
Há também uma variação na utilização dos insumos intermediários importados no processo de produção no setor 12 - Carvão, produtos do petróleo refinado e combustível nuclear (média baixa tecnologia), variando de 19% em 2000, para 34% em 2004 e recuando para 21% em 2009. A variação entre os anos de 2000 e 2004 reflete uma maior necessidade destes tipos de insumos intermediários importados em 2004. Porém Sant"anna (2013) mostra que há uma redução na dependência externa relacionada a este setor, dai o índice retroceder para 21% em 2009, esta redução esta ligada ao aumento no volume de investimentos do Brasil neste setor. O setor 23 – Serviços (outros), com grande contribuição nos insumos intermediários, revela que apenas 6% dos insumos intermediários para o seu processo produtivo são importados nos três anos analisados 2000, 2004 e 2009.
O valor absoluto que a indústria de transformação brasileira está importando de insumos intermediários por intensidade tecnológica encontra-se na Tabela 2 para os anos estudados 2000, 2004 e 2009. Pode-se perceber na Tabela 2 que há uma forte relação entre a classificação dos setores e a intensidade tecnológica dos insumos intermediários importados. Setores classificados como de alta tecnologia e média alta tecnologia têm a origem de suas importações de insumos de alta tecnologia, e importam mais este tipo de insumo, enquanto, setores de baixa e média baixa tecnologia importam mais insumos de baixa e média baixa tecnologia, o que já era esperado. Os dados do IPEA (2013, pg 35) mostram que a dependência de acordo com sua classificação está relacionada com o volume de investimentos destinados a cada setor e sua classificação tecnológica, quanto menos o volume de investimentos maior a dependência deste setor em relação aos insumos intermediários importados.
Tabela 2 – Insumos Intermediários Importados por Intensidade Tecnológica
na indústria de transformação brasileira, 2000, 2004 e 2009
em milhões de reais
2000 |
||||||
Intensidade Tecnológica |
Ins. Import. |
Alta |
M-Alta |
M-Baixa |
Baixa |
Outros |
Alta Tecnologia |
6,393 |
4,356 |
1,145 |
474 |
73 |
347 |
Média Alta Tecnologia |
19,162 |
805 |
11,291 |
5,307 |
264 |
1,496 |
Média Baixa Tecnologia |
17,004 |
120 |
3,637 |
2,992 |
158 |
10,097 |
Baixa Tecnologia |
11,328 |
154 |
2,444 |
1,497 |
3,394 |
3,839 |
Outros Setores |
30,394 |
2,877 |
6,600 |
6,051 |
1,764 |
13,102 |
2004 |
||||||
Intensidade Tecnológica |
Ins. Import. |
Alta |
M-Alta |
M-Baixa |
Baixa |
Outros |
Alta Tecnologia |
9,831 |
6,454 |
1,959 |
835 |
67 |
516 |
Média Alta Tecnologia |
40,313 |
1,040 |
24,138 |
11,561 |
331 |
3,242 |
Média Baixa Tecnologia |
38,966 |
47 |
6,861 |
5,984 |
191 |
25,883 |
Baixa Tecnologia |
17,083 |
97 |
4,151 |
2,686 |
4,603 |
5,546 |
Outros Setores |
54,669 |
4,957 |
13,586 |
10,106 |
2,355 |
23,665 |
2009 |
||||||
Intensidade Tecnológica |
Ins. Import. |
Alta |
M-Alta |
M-Baixa |
Baixa |
Outros |
Alta Tecnologia |
11,758 |
7,618 |
2,342 |
879 |
110 |
810 |
Média Alta Tecnologia |
49,804 |
1,244 |
27,231 |
16,368 |
527 |
4,435 |
Média Baixa Tecnologia |
43,357 |
83 |
8,521 |
8,373 |
327 |
26,054 |
Baixa Tecnologia |
21,191 |
131 |
4,816 |
3,489 |
6,206 |
6,549 |
Outros Setores |
84,611 |
6,071 |
16,890 |
16,194 |
3,678 |
41,777 |
Fonte: Elaborado pelo autor .
Para verificar o comportamento de entrada dos insumos intermediários importados na indústria de transformação busca-se calcular o coeficiente de penetração dos insumos intermediários importados. A média do coeficiente de penetração dos insumos intermediários importados por intensidade tecnológica na indústria de transformação brasileira é apresentado na Tabela 3 para 2000, 2004 e 2009.
Tabela 3 – Média do Coeficiente de penetração dos Insumos intermediários Importados
por intensidade tecnológica na indústria de transformação brasileira, 2000, 2004 e 2009.
Intensidade Tecnológica |
2000 |
2004 |
2009 |
Alta Tecnologia |
35,3% |
38,6% |
35,6% |
Média Alta Tecnologia |
25,8% |
24,0% |
21,7% |
Média Baixa Tecnologia |
9,7% |
9,3% |
9,2% |
Baixa Tecnologia |
5,4% |
4,3% |
4,9% |
Outros Setores |
6,6% |
7,2% |
6,1% |
Fonte: Elaborado pelo autor.
Estes coeficientes de penetração são positivos para indústria de transformação na medida em que para alta intensidade tecnológica há pouca variação percentual de 2000 para 2009 passando de 35,3% para 35,6% respectivamente. Para média alta intensidade houve uma redução de 25,8% em 2000 para 21,7% em 2009, isso mostra que o país está deixando de importar insumos intermediários em setores estratégicos classificados como de alta e media alta tecnologia, indicando uma melhora em P&D interno nestes setores. No geral, pode-se verificar que os valores mais altos em percentuais foram encontrados para os setores de alta e média alta tecnologia, com grande diferença em relação a média baixa, baixa tecnologia e outros setores não classificados como industriais pela OCDE. Para baixa tecnologia o coeficiente de penetração foi de 5,4% em 2000, e 4,9% em 2009. Os percentuais do coeficiente de penetração são maiores em setores com maior intensidade tecnologia devido ao investimento nestes setores serem menores, quanto maior o investimento em determinado setor menor a sua dependência externa em termos de insumos intermediários. Os setores de alta a média alta tecnologia aparecem nos indicadores do IPEA (2013) como de maior relevância para o resto do mundo do que para o Brasil em termos de investimento.
Para todos os setores faz necessário pensar em toda cadeia produtiva na qual o setor está envolvido, principalmente para aqueles que apresentam um alto coeficiente de penetração dos insumos importados intermediários, uma vez que políticas públicas fazem-se necessária para fortalecimento da cadeia produtiva especificamente nestes setores. Vale falar ainda que em todos os setores pesquisados neste trabalho há pouca variação percentual de um ano para outro, ou seja, pouco varia percentualmente de 2000 para 2004 e 2009.
A partir dos resultados descritivos do comportamento dos insumos intermediários importados na indústria de transformação brasileira passa-se a apresentar o cálculo para verificar qual o efeito multiplicador de produção por importar insumos intermediários. O valor calculado do multiplicador de produção representa o valor total de produção da economia que é acionado para atender a variação de uma unidade na demanda final de cada setor. Em outras palavras, o efeito multiplicador (direto e indireto) mostra que cada um Real injetado na produção de determinado setor, é gerado 1 Real de efeito direto no próprio setor e mais x reais nos demais setores de efeito indireto para suprir a demanda total da economia.
O efeito multiplicador setorial de produção por importar insumos intermediários é mostrado na Tabela 4 para 2000, 2004 e 2009. De a acordo com a tabela quando se compara o efeito direto e indireto importando insumos intermediários e não importando insumos intermediários, verifica-se um aumento do efeito multiplicador de produção quando os insumos intermediários são incorporados na produção em todos os setores e para os três anos analisados. No setor 6 - Veículos automotores, reboques e semi-reboques, por exemplo, mostra que para cada R$ 1,00 de aumento da produção neste setor em 2000, gera-se mais R$ 1,15 de produção por efeito indireto quando há a importação de insumos intermediários. Já sem a importação de insumos intermediários este efeito indireto aumenta para R$ 1,63, ou seja, a indústria de transformação nacional deixa de ganhar R$ 0,48 de produção/comercialização de bens intermediários com a importação destes para cada R$ 1,00 de aumento de produção no setor. Esta mesma tendência de resultado pode ser verificada para os anos de 2004 e 2009 para o mesmo setor, conforme Tabela 4.
Tabela 4 – Efeito Multiplicador de Produção setorial (I.I.I.) e (Não I.I.I.) a Importação de Insumos Intermediários na indústria de transformação brasileira por intensidade tecnológica para 2000, 2004 e 2009
2000 |
2004 |
2009 |
|||||||
Setores |
I. I. I.1 |
Não I. I. I. |
∆2 |
I. I. I. |
Não I. I. I. |
∆ |
I. I. I. |
Não I. I. I. |
∆ |
Alta Tecnologia |
|
|
|||||||
1 – Farmacêutica |
1,77 |
1,97 |
0,20 |
1,83 |
2,10 |
0,27 |
1,74 |
1,94 |
0,20 |
2 - Instrumentos médicos de ótica e precisão |
1,59 |
1,83 |
0,24 |
1,69 |
2,00 |
0,31 |
1,61 |
1,84 |
0,23 |
3 - Equipamentos de rádio, TV e comunicações |
2,08 |
2,68 |
0,60 |
2,18 |
2,87 |
0,69 |
2,09 |
2,62 |
0,53 |
4 - Material de escritório e informática |
1,96 |
2,71 |
0,75 |
2,06 |
2,89 |
0,83 |
2,00 |
2,72 |
0,72 |
Média Alta Tecnologia |
|||||||||
5 - Máquinas e equipamentos elétricos |
2,06 |
2,45 |
0,39 |
2,03 |
2,43 |
0,40 |
2,04 |
2,38 |
0,34 |
6 - Veículos automotores, reboques e semirreboques |
2,15 |
2,63 |
0,48 |
2,34 |
2,87 |
0,53 |
2,29 |
2,71 |
0,42 |
7 - Produtos químicos, exclusive farmacêuticos |
2,13 |
2,58 |
0,45 |
2,14 |
2,67 |
0,53 |
2,10 |
2,50 |
0,40 |
8 - Máquinas e equipamentos mecânicos |
2,00 |
2,33 |
0,33 |
2,10 |
2,48 |
0,38 |
2,04 |
2,35 |
0,31 |
Média Baixa Tecnologia |
|
|
|
||||||
9 - Borracha e produtos plásticos |
2,14 |
2,65 |
0,51 |
2,17 |
2,71 |
0,54 |
2,02 |
2,46 |
0,44 |
10 - Produtos minerais não metálicos |
1,95 |
2,20 |
0,25 |
1,93 |
2,21 |
0,28 |
1,96 |
2,19 |
0,23 |
11 - Produtos metálicos |
1,99 |
2,31 |
0,32 |
1,96 |
2,29 |
0,33 |
1,95 |
2,26 |
0,31 |
12 - Carvão, produtos do petróleo refinado e combustível nuclear |
2,28 |
2,78 |
0,50 |
2,18 |
2,83 |
0,65 |
2,17 |
2,59 |
0,42 |
Baixa Tecnologia |
|||||||||
13 - Produtos manufaturados não especificados e bens reciclados |
1,83 |
2,03 |
0,20 |
1,82 |
2,03 |
0,21 |
1,74 |
1,90 |
0,16 |
14 - Alimentos, bebidas e tabaco |
3,72 |
4,16 |
0,44 |
4,67 |
5,27 |
0,60 |
5,19 |
5,74 |
0,55 |
15 - Têxteis, couro e calçados |
1,63 |
1,78 |
0,15 |
1,58 |
1,72 |
0,14 |
1,47 |
1,58 |
0,11 |
16 - Móveis e produtos das indústrias diversas |
1,97 |
2,23 |
0,26 |
2,04 |
2,34 |
0,30 |
1,96 |
2,20 |
0,24 |
17 - Madeira e seus produtos, papel e celulose |
1,94 |
2,17 |
0,23 |
2,01 |
2,27 |
0,26 |
2,07 |
2,29 |
0,22 |
Outros Setores |
|||||||||
18 – Agricultura |
1,61 |
1,77 |
0,16 |
1,67 |
1,87 |
0,20 |
1,65 |
1,82 |
0,17 |
19 - Indústria Extrativa |
1,78 |
1,97 |
0,19 |
1,89 |
2,12 |
0,23 |
1,88 |
2,08 |
0,20 |
20 - S.I.U.P |
1,67 |
1,79 |
0,12 |
1,65 |
1,79 |
0,14 |
1,69 |
1,82 |
0,13 |
21 – Construção |
1,80 |
1,98 |
0,18 |
1,74 |
1,93 |
0,19 |
1,78 |
1,94 |
0,16 |
22 – Comércio |
1,43 |
1,50 |
0,07 |
1,43 |
1,52 |
0,09 |
1,42 |
1,49 |
0,07 |
23 - Serviços |
1,54 |
1,64 |
0,10 |
1,56 |
1,67 |
0,11 |
1,54 |
1,63 |
0,09 |
24 - Serviços Públicos (Educ. Saud. Adm. e Seg. Social) |
1,47 |
1,53 |
0,06 |
1,49 |
1,58 |
0,09 |
1,47 |
1,53 |
0,06 |
Fonte: Elaborado pelo autor
1 – Importando Insumos Intermediários (I. I. I.)
2- Este valor é a diferença entre o efeito multiplicador considerando a importação de insumos intermediários e não considerando essa importação.
O resultado é que quando importa-se insumos intermediários deixa-se de aumentar a produção em todos os setores da indústria de transformação, nos três anos analisados 2000, 2004 e 2009. Estes efeitos multiplicadores setoriais de produção são próximos dos encontrados por Porsse et al (2003) para os setores de têxtil (2,05), material elétrico (2,05), construção civil (1,77) e comércio (1,42) e Sesso Filho et al (2006) para os setores maquinas e equipamentos elétricos (2,02), veículos automotores (2,00) indústria da borracha (2,01) farmacêuticos (1,80) e construção civil (1,70), vale ressaltar que os valores devem ser considerados com certa restrição para efeito de comparação uma vez que são oriundos de base de dados e agregações diferentes das utilizadas neste trabalho.
Pode ser verificado com o cálculo do efeito multiplicador de produção que, quando se internaliza os insumos intermediários na produção o efeito multiplicador de produção é maior para todos os setores, em especial para aqueles setores que são classificados como de alta e média alta tecnologia. O setor 3 - Equipamentos de rádio, TV e comunicações (alta tecnologia) quando este setor importa insumos intermediários está deixando de ganhar 0, 60 Reais para cada um Real investido no setor em 2000, 0,69 em 2004 e 0,53 em 2009. O setor 4 - Material de escritório e informática (alta tecnologia) deixa de ganhar 0,75 Reais em 2000, 0,83 em 2004 e 0,72 em 2009, para cada um Real investido no setor. O setor 9 - Borracha e produtos plásticos (media baixa tecnologia) os valores são 0,51 para 2000, 0,54 para 2004 e 0,44 para 2009. Para o setor 12 - Carvão, produtos do petróleo refinado e combustível nuclear (media baixa tecnologia) deixa de ganhar em produção 0,50 Reais em 2000, 0,65 em 2004 e 0,42 em 2009 para cada um Real produzido no setor. Os setores que mais estão deixando de ganhar com a importação de insumos intermediários são os setores classificados como de alta e media alta tecnologia.
Outro ponto a ser destacado são os valores mais elevados para o ano de 2004 em relação a 2000 e 2009, que pode se explicado pelo baixo crescimento do PIB em 2003, aproximadamente 0,5%, e uma política cambial sobrevalorizada em 2004 em relação a 2003, o efeito é um maior ingresso de insumos intermediários importados em 2004. Para Lacerda e Nogueira (2011) a partir de 2004, e ainda com maior intensidade em 2006 e 2007, o processo de valorização contínua do real diante das demais moedas tem representado consequências negativas para a estrutura produtiva brasileira. Para os autores embora a sobrevalorização do real possa trazer resultados de curto prazo, por exemplo, no combate à inflação, no médio e longo prazo ela inviabiliza o desenvolvimento. Os resultados dos autores mostram que enquanto a produção nacional de bens intermediários cresceu 5% em 2007, a de insumos intermediários importados cresceu quatro vezes mais e ficou em 20%.
Para uma melhor visualização do exposto na Tabela 4, buscou-se montar o Gráfico 1 destacando quais setores estão deixando de ganhar em produção e o comportamento dos dados entre os anos analisados 2000, 2004 e 2009.
Gráfico1 – Possíveis Ganhos de Produção Setorial com a não Importação de Insumos
Intermediários na indústria de transformação brasileira, 2000, 2004 e 2009.
Fonte: Elaborado pelo autor
Pode-se observar que os setores que mais estão deixando de ganhar em produção com a importação de insumos intermediários são os setores classificados como de alta e media alta tecnologia.O setor 3 - Equipamentos de rádio, TV e comunicações (alta tecnologia);o setor 4 - Material de escritório e informática (alta tecnologia);o setor 9 - Borracha e produtos plásticos (media baixa tecnologia); o setor 12 - Carvão, produtos do petróleo refinado e combustível nuclear (media baixa tecnologia) são os que estão em destaque.
Da mesma forma pode ser destacado que os valores são mais elevados para o ano de 2004 em relação a 2000 e 2009, que pode se explicado pelo baixo crescimento do PIB em 2003, aproximadamente 0,5%, e uma política cambial sobrevalorizada em 2004 em relação a 2003, o efeito é um maior ingresso de insumos intermediários importados em 2004.
Os resultados parecem ser contrários aos encontrados por Schor (2004) em que o aumento do acesso a insumos intermediários estrangeiros e bens de capital por parte das empresas nacionais tem contribuído para o aumento da produtividade das empresas. Para a autora a tecnologia incorporada nos insumos estrangeiros pode explicar ganhos de produtividade quando os fluxos comerciais aumentam. As razões para isso é porque insumos importados podem ser utilizados por empresas indiretamente.
Outro autor citado foi Muendler (2004), onde destaca que as empresas adotam equipamentos e bens intermediários de alta qualidade isso permitem as empresas a adotarem novos métodos de produção, em muitos setores, a eficiência dos equipamentos estrangeiros e dos insumos intermediários é maior do que a eficiência dos insumos nacionais. As empresas precisam usar insumos de alta qualidade a fim de obter ganhos de produtividade.
Por outro lado, o autor destaca que os insumos estrangeiros nem sempre são utilizados de forma mais eficiente do que os insumos nacionais. Em outras palavras, as empresas parecem aprender a programar equipamentos estrangeiros de forma mais eficaz ao longo do tempo e podem se beneficiar da tecnologia incorporada na aquisição de bens estrangeiros. Isso justifica a pouca evidência de que os efeitos da tecnologia incorporada são fontes de mudança de produtividade imediata.
Schor (2004) destaca que a intensificação do processo de liberalização comercial certamente aumentou a oferta dos insumos intermediários que são, muitas vezes, considerados como tendo uma melhor relação qualidade/preço podendo aumentar a produtividade através da tecnologia incorporada transferida de economias mais avançadas para os países importadores de insumos.
Ao contrário do destacado por Schor (2004) e Muendler (2004) para o Brasil, este trabalho mostra que o ingresso de insumos intermediários importados faz com que a indústria de transformação brasileira deixe de ganhar em produção em todos os setores. Vale ressaltar que, a simulação deste trabalho com o fechamento da economia deixando de importar insumos intermediários leva diretamente a maiores multiplicadores de produção em todos os setores pesquisados, porém, como ressalta os autores Schor (2004) e Muendler (2004) para o Brasil não necessariamente houve ganhos de produtividade, uma vez que para se mensurar o impacto total na produtividade a que se considerar outros fatores, tais como: qualificação de mão de obra, investimentos, arranjos institucionais e etc. A indústria de transformação brasileira está deixando de aumentar sua produção em prol da importação de insumos intermediários principalmente de alta e média alta tecnologia. Esta importação de insumos faz com que não haja incentivos em P&D internamente deixando de produzir este tipo de insumo.
Os resultados mostraram que os maiores coeficientes de penetração das importações estão nos setores de alta e média alta tecnologia. Outro resultado do trabalho é que os setores 3 - Equipamentos de rádio, TV e comunicações; 4 - Material de escritório e informática; 6 - Veículos automotores, reboques e semi-reboques; 7 - Produtos químicos, exclusive farmacêuticos; 9 - Borracha e produtos plásticos; 12 - Carvão, produtos do petróleo refinado e combustível nuclear e 14 - Alimentos, bebidas e tabaco são os que mais estão deixando de gerar um aumento do efeito multiplicador de produção na indústria de transformação quando os insumos intermediários são importados.
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1. Doutor em Economia pela Universidade Estadual de Maringá e Técnico de Nível Superior da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: amaral@uel.br
2. Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: accampos@uem.br
3. Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: umasesso@uel.br
4. Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Londrina. E-mail:rlott@sercomtel.com.br
5. Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: acmoretto@uel.br
6. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: esteves@sercomtel.com.br