Espacios. Vol. 36 (Nº 14) Año 2015. Pág. 3
Juliano DENICOL 1; Ricardo Augusto CASSEL 2; Ricardo Gonçalves de Faria CORRÊA 3
Recibido: 27/03/15 • Aprobado: 12/04/2015
RESUMO: Com o cenário formado pela competição entre cadeias de suprimentos e não mais entre empresas, intensa globalização, manutenção das competências centrais e terceirização dos demais serviços, a gestão das relações entre os agentes independentes da cadeia de suprimentos torna-se fator relevante para o aumento da competitividade. Na construção civil, pela característica complexa do produto, a relação da construtora com seus fornecedores de materiais e serviços é fundamental para o sucesso da execução dos empreendimentos e estratégica para a organização como um todo. Os suprimentos representam um percentual significativo dos custos das construções, dado que demonstra o potencial de lucratividade passível de ser atingida ao estruturar uma gestão estratégica de suprimentos na construção civil. Tendo em vista a complexidade desta cadeia e a representatividade de seus custos associados, o presente artigo tem como objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura acadêmica sobre métodos para seleção e avaliação de desempenho de fornecedores da construção civil. A revisão foi feita através de buscas em bases de dados internacionais e baseada em artigos publicados em um período de 10 anos, de 2003 a 2013. Os resultados proporcionam um panorama dos conceitos e metodologias utilizados, explicitando-se nas conclusões as lacunas existentes a serem exploradas em pesquisas futuras. |
ABSTRACT: With the backdrop formed by competition between supply chains and not between companies, intense globalization, maintenance of core competencies and outsourcing other services, the management of relations between independent agents in the supply chain becomes a relevant factor for increasing competitiveness. In construction, the complex feature of the product, the relationship with their suppliers of construction materials and services is critical to the successful execution of projects and strategic for the organization as a whole. Supplies represent a significant percentage of the construction cost, which demonstrates the potential profitability that can be achieved when designing a strategic supply management in construction. Given the complexity of the chain and the representation of its associated costs, this paper aims to conduct a systematic review of the academic literature on methods for supplier selection and performance evaluation in the construction industry. The review was performed by searching in international databases and based on articles published in a 10 years period, from 2003 to 2013. The results provide an overview of the concepts and methodologies used, highlighting gaps in the conclusions to be explored in future research. |
O cenário de competição entre cadeias de suprimentos, a manutenção das competências centrais pelas empresas e a terceirização das demais atividades, aumentou a dependência dos fornecedores e transformou o relacionamento com os parceiros da cadeia em uma questão estratégica e crítica para o sucesso do processo produtivo (Corrêa, 2010; Simchi-levi et al., 2003). Em comparação com outros setores industriais, a discussão sobre a cadeia de suprimentos da construção é recente, sendo que os pesquisadores procuram aplicar conceitos e técnicas já utilizados por indústrias mais maduras, para gerir suas cadeias e solucionar problemas de uma indústria fundamentada em projetos com trocas descontínuas (Biesek et al., 2008; Eriksson; Pesamaa, 2013; Liu; Wang, 2006).
O setor da construção civil é caracterizado pela alta especialização de seus agentes, o que ocasiona grande segmentação e aumenta as relações transacionais entre os elos da cadeia. O cenário é composto por um empreiteiro principal que integra e controla os fluxos de capital, informação e logístico. Este empreiteiro é responsável pela contratação de sub-empreiteiros e fornecedores de materiais e serviços, estando sempre em sintonia com a equipe de arquitetos e as demandas do cliente (He; Tan, 2010).
Segundo Bemelmans et al. (2012) vários estudos apontam que os empreiteiros principais gastam 90% das suas receitas de projeto comprando bens e serviços de seus fornecedores, o que explicita uma grande dependência dos fornecedores e a sua influência no sucesso da obra (Hinze; Tracey, 1994; Nobbs, 1993; Vrijhoef; Koskela, 2000). Na construção civil, os materiais e serviços possuem grande parcela do custo total do empreendimento, cerca de 60%, portanto a escolha dos fornecedores corretos está diretamente relacionada com uma possível redução do custo total oriunda desta margem significativa (Formoso; Revelo, 1999).
A realização de cotações e a escolha do menor preço não é uma política aceitável dentro desse novo contexto, uma vez que geralmente a qualidade mostra-se pobre, gera inúmeros conflitos e possui riscos de interromper o fluxo da cadeia. Embora no Brasil a mudança cultural ocorra de forma mais lenta, os clientes corroboram a tendência visto que alteraram suas prioridades, preferindo critérios como inovações, sustentabilidade e velocidade ao preço (Bayazit et al., 2006; Bemelmans et al., 2012; Eriksson; Pesamaa, 2013). O sistema de contratação tradicional orientado pelo preço é estático e não fornece informações sobre outros critérios que contribuam para o desempenho global da cadeia de suprimentos, como a flexibilidade na execução de projetos complexos (Rahman; Kumaraswamy, 2005).
A falha no fornecimento pode ser causada por fator humano, capacidade de produção ou objetivos diferentes dos entes da cadeia, entre outras. Contudo, quando ocorre a falha, o contratante tem que recorrer ao mercado e pagar taxas mais altas para manter o cronograma de projeto. Caso seja um produto estratégico de difícil acesso no mercado ou inviável economicamente, as perdas serão amplificadas e o cronograma atrasado (Jiang; Huang, 2010).
A seleção de fornecedores é um problema multicriterial que envolve fatores qualitativos e quantitativos, tendo seus resultados frequentemente afetados pelo julgamento humano (Jiang et al., 2005). Há diversas metodologias multicriteriais sendo criadas e aplicadas para melhorar o processo de aquisição, o que evidencia uma conscientização do setor da construção de que adotar o menor custo local não proporciona menor custo total de projeto (Darvish et al., 2009).
Para realizar a seleção é necessário um processo de avaliação, onde mensura-se as capacidades técnicas e motivacionais dos fornecedores em atender os requisitos demandados, a fim de selecionar o melhor fornecedor para a tarefa. A avaliação também pode ser utilizada após a seleção, para fazer o controle de desempenho dos fornecedores que já fazem parte do portfólio, com o objetivo de mitigar riscos, reduzir custos e criar a cultura de melhoria contínua (Biesek et al., 2008; Eriksson; Pesamaa, 2013; Soroor et al., 2012).
Manter um portfólio com um grande número de fornecedores tende a proporcionar um preço melhor pelo estímulo da concorrência e diminuir o risco de uma interrupção da cadeia pelo fornecimento, porém há um aumento nos custos de gestão associados e dificuldades para estabelecer relações mais próximas de longo prazo. Portanto, é necessário atenção a este trade-off ao efetuar uma redução da base de fornecedores, de modo que seja possível gerenciá-los de forma mais eficaz, criar parcerias e desenvolvê-los, convergindo objetivos e estratégias (Costa; Tavares, 2012; Jiang; Huang, 2010).
Por meio de uma revisão sistemática da literatura este artigo pretende entender quais métodos estão sendo aplicados para seleção e avaliação de fornecedores na construção civil. Desta forma, este estudo visa responder duas questões: (i) quais métodos e técnicas qualitativas e quantitativas têm sido utilizadas para selecionar os fornecedores, e (ii) quais os modelos de classificação de fornecedores utilizados para auxiliar na definição de estratégias de relacionamento e gestão.
Este artigo começa com uma descrição do método utilizado para a realização da revisão sistemática da literatura. Os resultados são apresentados na sequência com uma análise descritiva das publicações selecionadas para revisão. Após apresenta-se uma discussão dos tópicos mais relevantes encontrados na literatura. Finalmente, as implicações e possíveis lacunas para pesquisas, são discutidas nas conclusões.
Diante do volume de dados resultante das buscas em bases eletrônicas, é recomendável a adoção de uma metodologia para estruturar a revisão, portanto, neste estudo optou-se pelo método proposto por Tranfield et al. (2003), advindo de adaptações de Clark e Oxman (2001) e National Health Service Dissemination (2001), que propõe uma sistemática adequada para a realização de revisões na área de gestão e negócios. A metodologia foi adaptada a partir de princípios específicos utilizados em revisões sistemáticas da área médica, uma vez que nesta área já havia uma metodologia confiável e bem estruturada de agregação do conhecimento (Tranfield et al., 2003).
Segundo Tranfield et al. (2003), a revisão sistemática é composta por três estágios: planejamento, condução e disseminação. Dentro de cada estágio são definidas etapas que devem ser seguidas com a finalidade de conferir qualidade e credibilidade à revisão. O estágio de planejamento da revisão possui as fases de identificação das necessidades da revisão, preparação da proposta de revisão e desenvolvimento do protocolo da revisão. O estágio de condução da revisão possui as fases de identificação da pesquisa, seleção dos estudos, avaliação da qualidade dos estudos, extração e monitoramento dos dados e síntese dos dados. O estágio de disseminação da revisão possui a apresentação de recomendações e a colocação de evidências em prática. Cada estágio e fase deste estudo estão descritos nas subseções a seguir.
A revisão foi realizada com o objetivo de identificar e agregar o conhecimento gerado atualmente sobre métodos utilizados para seleção e avaliação de desempenho de fornecedores da construção civil. Evidencia-se a necessidade pelo fato do setor contar com uma cadeia de suprimentos fragmentada, possuir grande dependência de seus fornecedores e alta representatividade dos custos associados a estes.
A proposta da revisão é buscar e avaliar os trabalhos publicados em revistas ou congressos que apliquem métodos para seleção e avaliação de desempenho de fornecedores da construção civil. As publicações podem estar relacionadas a qualquer tipo de fornecedor da cadeia da construção, desde que demonstrem a utilização de métodos para melhorar a avaliação, seleção ou relacionamentos entre os agentes da cadeia de suprimento.
A revisão possui a seguinte questão de pesquisa: quais métodos estão sendo utilizados para seleção e avaliação de desempenho de fornecedores da construção civil? Foram selecionadas publicações que apresentaram modelos teóricos ou métodos quantitativos detalhando o processo de seleção e avaliação de desempenho. A estratégia de busca foi, primeiramente, vincular a seleção e avaliação de fornecedores com a área da construção civil. Posteriormente expandiu-se a busca ao vincular os fornecedores de materiais e serviços com a cadeia de suprimentos da construção civil. Foram incluídas somente publicações em língua inglesa e que, no momento da busca nas bases de dados digitais, estivessem com seu conteúdo acessível na íntegra em formato 'pdf'. Com a finalidade de mapear o conhecimento gerado atualmente, foram aceitos apenas trabalhos publicados no período de dez anos entre 14/01/2003 e 14/01/2013.
A estratégia de busca das publicações foi realizada através de sete expressões-chave: "Supplier*", "Evaluation*", "Selection*", "Construction", "Supply Chain*", "Material*" e "Service*". A ordem, palavras-chave e os operadores de combinação utilizados nas buscas estão relacionados na Tabela 1. Foi utilizada a técnica chamada de "truncagem", onde a utilização do símbolo (*) permite que o radical antes do símbolo seja completado com variações, aumentando a eficácia da busca ao captar diferentes terminologias. As buscas foram efetuadas utilizando a opção das bases de dados em localizar as expressões-chave no título, resumo ou palavras-chave das publicações.
Tabela 1: Estratégia de busca das publicações. Fonte: Elaboração própria.
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Palavras-chave e Operadores de combinação |
Busca 01 |
Supplier* AND Evaluation* AND Selection* AND Construction |
Busca 02 |
Supplier* AND Evaluation* AND Construction |
Busca 03 |
Supplier* AND Selection* AND Construction |
Busca 04 |
Supplier* AND Supply Chain* AND Material* AND Construction |
Busca 05 |
Supplier* AND Supply Chain* AND Service* AND Construction |
Apenas estudos publicados em periódicos internacionais foram selecionados. Portanto, foram definidas para as buscas duas bases de dados internacionais renomadas: Scopus e Web of Science.
A avaliação da qualidade das publicações foi realizada conforme os seguintes critérios: conteúdo relacionado especificamente com fornecedores dentro da cadeia de suprimentos da construção civil, clareza de nomenclatura e relações dos agentes referidos no estudo, detalhamento da descrição e aplicação das técnicas quantitativas e modelos teóricos.
As buscas nas bases de dados foram exportadas para o software Mendeley, consolidando uma lista única de resultados e logo após excluindo-se as duplicações. O Mendeley permite a visualização das seguintes informações referente às publicações: título, autor, local de publicação e ano. Durante o refinamento dos trabalhos foram feitas anotações no espaço disponibilizado pelo software, com o objetivo de organizar as abordagens apresentadas em cada artigo para posterior comparação.
Após a seleção das publicações que efetivamente contribuíram para responder a questão de pesquisa, foram extraídas as seguintes informações com a finalidade de mapeá-las: quantidade de publicações por ano, por país, por instituição de origem, por autor e por local de publicação.
A apresentação de recomendações possui a finalidade de dividir as publicações filtradas em grupos, de acordo com suas características em comum, apresentando sua contribuição central para a área. As publicações foram divididas em três categorias, apresentadas na seção discussões.
A colocação de evidências em prática relaciona-se com a interpretação dos resultados e identificação de lacunas de pesquisa que poderiam ser exploradas em futuras pesquisas sobre quais métodos e modelos deveriam ser utilizados ou combinados.
A Tabela 2 sintetiza os resultados da aplicação da metodologia supracitada, evidenciando que foram analisados 409 resumos, os quais após o processo de filtragem convergiram para a seleção de 31 artigos. Na Figura 1 observa-se a quantidade de publicações por ano e nota-se, através da linha de tendência, que a pesquisa sobre o tema mantém-se constante a partir de 2005, tendo um pico de extremo interesse em 2010 e uma alta menos expressiva em 2012. A ausência de estudos nos dois primeiros anos corrobora a afirmação de que trata-se de uma área de interesse recente no setor da construção.
Tabela 2: Seleção de artigos através da estratégia de busca. Fonte: Elaboração própria.
Base de Dados |
Scopus |
Web of Science |
Número de artigos encontrados |
385 |
251 |
Total de artigos encontrados |
636 |
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Artigos repetidos |
227 |
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Total de resumos analisados |
409 |
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Artigos selecionados para leitura completa |
87 |
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Artigos excluídos por indisponibilidade digital |
31 |
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Total de artigos completos analisados |
56 |
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Artigos excluídos por critérios de qualidade |
25 |
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Total de artigos selecionados |
31 |
Figura 1: Número de publicações por ano e linha de tendência (média móvel, dois períodos).
Fonte: Elaboração própria.
Observou-se um número expressivo de publicações na China, catorze de trinta e um, onde a expansão econômica e a grande demanda populacional por obras de habitação e infra-estrutura impulsionaram estudos na área da construção civil, conforme Figura 2. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar com quatro publicações, um número pouco expressivo perante a China, porém relevante por ser o dobro em relação às publicações dos países seguintes da lista, que possuem somente dois trabalhos. Os demais estudos estão divididos entre países com uma ou duas publicações, sem dominância geográfica entre eles.
Figura 2: Número de publicações por países. Fonte: Elaboração própria.
Somente uma instituição possui mais de uma publicação dentre os trabalhos analisados, trata-se da chinesa Huanzhong University of Science and Technology. Dentre os autores com mais de uma publicação, destaque para dois autores com duas publicações cada: Liu, Zhenyuan da mesma universidade chinesa dominante e Beach, Roger da University of Bradford na Inglaterra. Nesta revisão os periódicos mais visados para publicações sobre métodos de seleção e avaliação para fornecedores na construção civil foram o Automation in Construction com 4 trabalhos e o International Journal of Project Management com 3 publicações. Considerando que foram selecionados 16 trabalhos presentes em Journals e 15 artigos de congressos, os dois Journals dominantes juntos são o destino de quase metade dos artigos publicados em Journals.
Verificou-se na literatura que a seleção de fornecedores da construção é abordada através de seções bem definidas, portanto, a discussão foi dividida em três categorias: (i) Métodos Quantitativos para Seleção e Avaliação de Fornecedores; (ii) Tipos de Seleção e Relacionamentos; e (iii) Modelos de Classificação de Fornecedores.
Métodos multicriteriais de apoio à decisão (Multiple Criteria Decision-Making – MCDM) são ferramentas muito úteis para os gerentes fundamentarem suas decisões complexas. Existe um grande número de técnicas e softwares que foram desenvolvidos na área de gestão de operações para auxiliar a tomada de decisões em problemas multicriteriais (Azambuja; O'brien, 2012).
A avaliação e seleção de fornecedores é um problema multicriterial, que engloba fatores tangíveis e intangíveis. É importante realizar uma análise multicriterial verificando as habilidades (conhecimento técnico e capacidade de produção) e os aspectos motivacionais (filosofia de trabalho e reputação). A importância de cada critério pode variar de um projeto para outro, o que torna a avaliação difícil, envolvendo muitos trade-offs (Eriksson; Pesamaa, 2013; Jiang et al., 2005).
Os métodos quantitativos multicriteriais utilizados pelas publicações desta revisão sistemática estão consolidados na Tabela 4. Os métodos mais utilizados, por ordem decrescente, foram: AHP (Analytic Hierarchy Process), Grey Theory, Análise de sensibilidade, ANP (Analytic Network Process), Teoria dos Conjuntos Difusos (Fuzzy Set Theory) e Modelagem Matemática. Conforme Bayazit et al. (2006), a literatura demonstra que o método AHP é o método multicriterial mais aplicado, corroborando os resultados desta revisão, onde verificou-se sua aplicação em seis estudos.
Destacou-se o trabalho de Lam et al. (2010), no qual foram analisados alguns dos métodos de seleção de fornecedores mais difundidos, com objetivo de verificar as potencialidades intrínsecas de cada abordagem, conforme Tabela 3. Fundamentados nesta análise, os autores propuseram um método que contemplasse sete características desejadas, utilizando Teoria dos Conjuntos Difusos (TCD) e Análise de Componentes Principais(ACP). A TCD foi utilizada para quantificar os julgamentos subjetivos dos tomadores de decisão e a ACP foi aplicada, na sequência, para comprimir os dados dos diversos critérios, eliminar a multicolinearidade entre eles e gerar um ranking dos melhores fornecedores. A seguir, serão discutidos os métodos AHP, ANP e TCD. O AHP pela sua relevância de aplicações perante os demais métodos, o ANP por ser uma evolução do AHP, e a TCD pelo seu potencial de utilização em conjunto com outras abordagens, criando métodos híbridos.
Tabela 3: Comparação das características dos modelos. Fonte: (Lam et al., 2010).
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Tabela 4: Métodos quantitativos utilizados. Fonte: Elaboração própria.
O AHP proposto por Saaty (1980) é um excelente método de apoio à decisão, especialmente quando há necessidade de quantificar critérios qualitativos e um pequeno grupo de alternativas a serem consideradas. O AHP demanda que o tomador de decisão estruture o problema através de uma estrutura hierárquica de fatores em diferentes níveis independentes e avalie-os através de comparação par-a-par utilizando uma escala de importância, originalmente números absolutos de 1 a 9. A comparação ocorre entre critérios de um mesmo nível hierárquico considerando o impacto a ser gerado no nível mais alto (Azambuja; O'brien, 2012; Jiang et al., 2005; Lam et al., 2010; Saaty, 1980).
O processo de comparação par-a-par com muitas alternativas pode afetar a acuracidade, em função dos usuários imprimirem velocidade para chegar ao resultado. Por ser um método baseado em avaliações subjetivas, pode introduzir erro no processo de seleção, sendo muitas vezes difícil para os tomadores de decisão expressar preferências em relação aos critérios utilizando uma escala de nove valores. Outra fraqueza do método é o foco excessivo em sua mecânica de execução e a desconsideração de relações e interdependências entre os atributos de um mesmo nível (Azambuja; O'brien, 2012; Bayazit et al., 2006; Lam et al., 2010).
Bayazit et al. (2006) propuseram uma verificação através do método AHP e de análise de sensibilidade, para encontrar os fornecedores mais adequados para uma empresa de construção turca. Foram utilizados 64 critérios para a seleção, entre qualitativos e quantitativos. Segundo os autores, é raro encontrar a aplicação de análise de sensibilidade após encontrar os resultados, porém no contexto prático possui um valor alto, conferindo robustez à análise e segurança aos tomadores de decisão.
Cai (2011), utilizou o AHP combinado com Grey Theory, utilizando a linguagem C e simulação através do Excel. Para o referido autor, este método foi adequado para avaliar os fornecedores da construção da ferrovia de alta velocidade da China. Jiang et al. (2005) apresentaram um modelo de suporte à decisão baseado em custo e no desempenho das atividades bases utilizando o método AHP.
O objetivo de Soroor et al. (2012) foi desenvolver um modelo híbrido utilizando a TCD em combinação com os métodos AHP e QFD (Quality Function Deployment), com o objetivo de considerar a opinião dos consumidores e criar um ranking para selecionar os melhores fornecedores. Zhang et al. (2010) utilizaram o AHP para realizar um benchmarking. Após, avaliaram e compararam os fornecedores com o benchmark, extraindo o nível de relacionamento através do método PROMETHEE (Preference Ranking Organization Methods for Enrichment Evaluations).
O ANP, apresentado por Saaty (1996), é utilizado para capturar as interdependências e não-relacionamentos que os critérios de um mesmo nível ocasionam neles próprios e os efeitos das alternativas nos critérios. O ANP pode reduzir os erros de julgamento através da confiabilidade do processamento de informações e é amplamente utilizado em processos de seleção. No entanto, o ANP possui desvantagens, uma vez que, para capturar as interdependências, é necessária a realização de diversas comparações par-a-par a mais que o AHP, o que aumenta o esforço e o tempo (Darvish et al., 2009; Lam et al., 2010).
O modelo de Sarkis et al. (2012), combinou o AHP e o ANP com o objetivo de avaliar e formar um time de construtores. O problema foi estruturado seguindo a metodologia AHP e aplicou-se o ANP entre os sub-empreiteiros para quantificar suas compatibilidades. O resultado interferiu nos pesos já adicionados aos critérios pelo AHP. A análise de sensibilidade foi utilizada para avaliar a robustez do método, verificando o impacto da alteração de prioridades no resultado. Já Wang e Wang (2010), utilizaram o ANP para selecionar fornecedores de materiais de construção. Os autores concluíram que o ANP reflete mais realisticamente os relacionamentos presentes na sociedade, por expressar as interdependências nas relações entre os elementos.
Para selecionar um fornecedor, os contratantes precisam avaliar critérios qualitativos como reputação, relacionamento, inovação, entre outros. Tais informações subjetivas, imprecisas e incertas precisam ser traduzidas em dados quantitativos para tomar a decisão. A Teoria dos Conjuntos Difusos, primeiramente introduzida por Pearson (1901) e difundida por Zadeh (1965), é um dos métodos utilizados para resolver este tipo de problema. Ela é projetada para representar matematicamente a incerteza e a imprecisão, sendo uma ferramenta estruturada para lidar com a subjetividade necessária em processos de decisão (Lam et al., 2010).
A utilização da escala de um a nove, proposta pelo AHP, não permite a consideração de incertezas e imprecisões ao avaliar os atributos. Em situações em que o tomador de decisão não consegue expressar a priorização de um critério sobre o outro com total certeza, são necessárias expressões linguísticas. As expressões, por sua vez, são quantificadas pela TCD através de funções de pertencimento, como a triangular, que as traduzem em números difusos triangulares, em um processo chamado de fuzzyficação. Após, realiza-se o processo de desfuzzyficação, onde os números fuzzy são transformados em uma única variável, resultando em métodos híbridos, como o AHP-Fuzzy (Soroor et al., 2012).
Para Zou e Yu (2008), o método da TCD avalia em profundidade as incertezas, contudo em algumas situações, a fim de chegar a uma função por grupo de elementos, os indicadores são manipulados, de forma que um indicador em branco ganha um valor e um intervalo. Portanto, há perda de informações em diferentes níveis, proporcionando erro de avaliação. Como sugestão, os autores desenvolveram um método de avaliação através da Grey System Theory, que possui característica semelhante à TCD ao quantificar questões qualitativas. Igualmente à abordagem difusa, o método é adequado para contextos em que as informações são fornecidas ou captadas incompletas ou em formatos inadequados. A tradução das questões subjetivas ocorre por meio de uma análise estatística, a correlação Grey.
Os trabalhos foram posicionados em relação a pré-qualificação, ao tipo de relacionamento tratado na seleção e aos modelos de classificação dos fornecedores utilizados, Tabela 5.
O processo de pré-qualificação de fornecedores consiste em verificar, através de um grupo de critérios, se os fornecedores atendem aos requisitos mínimos determinados pelo contratante e por normas técnicas. Após a seleção de um número significativo de fornecedores habilitados, aplica-se uma ferramenta de análise multicriterial para avaliá-los com base em outro grupo de critérios, mais extenso. Nesta revisão, somente três publicações mencionaram a pré-qualificação, sendo que todas enfatizaram o critério qualidade como dominante para pré-qualificar o fornecedor (Bemelmans et al., 2012; Darvish et al., 2009; Xipei; Xiong, 2010). O trabalho de Darvish et al. (2009) considera como critério adicional a saúde financeira do fornecedor. Xipei e Xiong (2010) classificaram como critério qualificador a responsabilidade dos fornecedores, que engloba o atendimento às legislações e padrões mínimos determinados pela contratante. Segundo os autores, a responsabilidade é comprovada mediante apresentação de documentação em uma reunião (Breefing Meeting).
A cadeia de suprimentos da construção civil é apresentada na Figura 3, onde são evidenciados os relacionamentos e possibilidades de seleção entre os entes. A cadeia é composta pelo cliente, empreiteiro principal, sub-empreiteiro principal, sub-empreiteiros e fornecedores. As publicações foram analisadas em relação à seleção e aos relacionamentos entre os agentes da cadeia da construção, e os resultados encontram-se na Tabela 5. Foram identificadas três áreas: Seleção de sub-empreiteiros e de fornecedores (materiais e/ou serviços), Seleção de sub-empreiteiros e Seleção de fornecedores de materiais. O resultado permite criar um panorama dos estudos, evidenciando dois pólos concentradores dentre as três áreas encontradas, sendo que foram relacionados 16 estudos com a primeira área e 11 com a terceira. A prática de seleção somente com o sub-empreiteiro e relacionamento com o mesmo não foi muito explorada pelos autores, tendo incidência de apenas 4 estudos.
A melhoria do produto ofertado pelo setor da construção está diretamente relacionada à utilização das práticas de gestão da cadeia de suprimentos (Supply Chain Management – SCM). O principal desafio, dentro da segmentada cadeia de suprimentos da construção civil, é a gestão dos relacionamentos com os fornecedores (Supply Relationship Management – SRM). O relacionamento nos setores com demanda descontínua, baseados em projetos com caráter singular e complexo, dificulta o estabelecimento de parcerias e relações business-to-business de longo prazo, resultando em custos adicionais para todos os elos da cadeia. A proximidade em uma relação de parceria nem sempre é ideal, sendo adequada somente para alguns casos em que o fornecedor é estratégico, onde há co-criação, customização elevada e incertezas. A integração de compradores e fornecedores através do gerenciamento sistêmico da cadeia de suprimentos estimula a consolidação de relações de longo prazo que tendem a melhorar o desempenho dos envolvidos e a diminuir os riscos (Biesek et al., 2008; Eriksson; Pesamaa, 2013; He; Tan, 2010; Ho et al., 2007).
Tabela 5: Tipos de seleção e relacionamentos dos agentes e modelos de classificação dos fornecedores.
Fonte: Elaboração própria.
Bemelmans et al. (2012) apresentaram uma revisão da literatura com 50 artigos visando explicitar o que tem sido pesquisado sobre o relacionamento empreiteiro-fornecedores, bem como os temas de pesquisa dominantes. Os autores ressaltaram que só encontraram uma revisão de literatura anterior (Li et al., 2000) e salientaram a necessidade de outras pesquisas.
Segundo Bayazit et al. (2006), o relacionamento comprador-fornecedor baseado somente no custo não é mais aceitável. O aumento da importância de decisões de seleção de fornecedores está forçando as organizações a repensar suas estratégias de aquisição e avaliação, a fim de alcançar o fornecedor certo. O objetivo da pesquisa de Ho et al. (2007) foi descobrir como as empresas de construção do Vietnã e Taiwan fazem a gestão de seus relacionamentos com os fornecedores e o atual alcance e importância de cada critério, para então comparar os dois países. Para tanto, os autores realizaram uma survey com 37 empresas no Vietnam e 35 em Taiwan e corroboraram estudos anteriores ao afirmar que os critérios qualitativos possuem grande influência no processo de seleção.
Figura 3: Cadeia de suprimentos da construção civil. Fonte: Adaptado de (Beach et al., 2005).
Costa e Tavares (2012) consideraram como critério de relacionamento a expectativa futura de desempenho, que é avaliada no final do contrato, através de itens qualitativos e quantitativos. A abordagem de recompensa por desempenho, que pode atingir no máximo 20% do valor do contrato, divide parte do risco entre compradores e fornecedores, sendo muito relevante em especial no contexto de contratos públicos. Já Eriksson e Pesamaa (2013) criaram e testaram um modelo de integração comprador-fornecedor baseado em práticas colaborativas de aquisição por clientes. Segundo os autores, os clientes privados fazem uso mais adequado e eficaz de análises multicriteriais do que os clientes públicos, os quais deveriam melhorar suas ferramentas de análises para deixar de utilizar a seleção orientada pelo preço.
Zhang et al. (2010) desenvolveram um modelo de avaliação de relacionamento com o fornecedor onde o relacionamento é dividido em 4 níveis, em conformidade com o Capability Maturity Model Integration (CMMI). Os dois primeiros níveis descrevem os relacionamentos tradicionais de rivalidade que vigoram atualmente, sendo que o nível 2 pode ser considerado uma transição do estágio de relacionamento tradicional para o cooperativo. Rahman e Kumaraswamy (2005) discutiram a importância de criar um grupo único de critérios para selecionar consultores, empreiteiros, sub-empreiteiros, fornecedores e clientes, para trabalhar de forma colaborativa em parcerias.
A pesquisa de Beach et al. (2005) criou um mapa conceitual com base na literatura e na extensa pesquisa prática sobre as interfaces das relações de parceria no setor da construção e identificou as razões porque as empresas devem reavaliar a natureza das relações com fornecedores e clientes.
O estudo de Micheli et al. (2008) visou entender a relação entre seleção de fornecedores e gestão de riscos de suprimentos (Supply Risk Management – SRiM). Gestão de riscos de suprimentos está fortemente relacionada com riscos oriundos da seleção de fornecedores inadequada. O resultado do estudo confirmou que a seleção de fornecedores é considerada um método para gestão de riscos de suprimento. Os autores salientam que os métodos não deveriam ser mutuamente excludentes, mas implantados juntos e coordenados para atingir a mitigação de riscos e exploração de outras atividades.
Os modelos de classificação de fornecedores possuem a finalidade de agrupá-los em categorias para definir estratégias comuns de aquisição, relacionamento, desenvolvimento, aplicação de critérios de seleção, etc. Bildsten et al. (2010) visaram classificar as diversas estratégias para os diferentes materiais de construção e definir categorias de itens a serem adquiridos, através da abordagem proposta por Kraljic (1983), que adota uma estratégia para classificar aquisições de acordo com um modelo de análise de portfólios com 4 categorias (estratégico, restrição, influente e não-crítico).
Ma e Yang (2010) também analisaram por tipo de material e não por empresas fornecedoras. Após a definição da categoria do material de construção, aplicaram grupo de critérios da categoria para selecionar os fornecedores, em seguida normalizaram os dados coletados e após aplicaram Redes Neurais para extrair o melhor fornecedor. O trabalho de Li e Gao (2010) propôs um modelo de estratégia de aquisição baseado na classificação dos recursos utilizados nos projetos de construção de grande escala. Os autores classificaram os recursos em oito categorias inseridas em um modelo tridimensional, sendo os eixos (x, y, z) representados por índice de especificidade do recurso a ser fornecido, índice de dependência dos fornecedores e índice de risco de fornecimento. Apresentaram estratégias de aquisição relacionadas a cada categoria na qual o recurso foi classificado.
Gosling et al. (2010) classificaram os fornecedores em três categorias (aprovados, preferenciais e parcerias estratégicas), de acordo com sua flexibilidade interna (oportunidade de interferência no produto) e a flexibilidade de fontes de suprimento semelhantes no mercado. Estratégias de relacionamento foram descritas para cada categoria, desde o desenvolvimento dos fornecedores estratégicos até a prática de concorrência entre as fontes em abundância que fornecem produtos padronizados.
Errasti et al. (2007) exploraram a ótica do sub-empreiteiro, que visa classificar os fornecedores de materiais em níveis estratégicos, a fim de propor níveis de relacionamento para implementação de parcerias. Segundo os autores, o sub-empreiteiro deve reduzir o número de fornecedores que utiliza e criar relações de parcerias com profundidade de acordo com a classificação estratégica do fornecedor. Biesek et al. (2008) desenvolveram um modelo de classificação dos sub-empreiteiros de acordo com sua importância para o empreiteiro principal. Para cada categoria de sub-empreiteiro (básico, avançado e específico), foram utilizados grupos de critérios distintos para avaliá-los e selecioná-los.
Constatou-se que a pesquisa sobre gerenciamento de agentes inter-organizacionais na indústria Engineer-to-Order (ETO) da construção civil ainda é imatura, uma vez que não adota uma visão sistêmica, considerando diversos critérios. A gestão da cadeia através da seleção de fornecedores fundamentada no menor custo não proporciona menor custo total de projeto e impede a exploração do potencial de uma cadeia de suprimentos balanceada com relações ganha-ganha, o que levaria as empresas à competitividade sustentável. Os fornecedores devem ser observados e gerenciados como elos importantes desta cadeia, visto que uma interrupção local compromete o fluxo e o desempenho global.
Vários estudos utilizaram revisão de literatura e pesquisa survey, de modo a entender os objetivos e estratégias das companhias, para chegar aos critérios a serem utilizados para avaliar e selecionar os fornecedores. É recomendada a criação de critérios genéricos que possam ser estendidos e adaptados às variações e especificidades de cada projeto. Alguns autores utilizaram um método para encontrar os pesos a serem atribuídos aos critérios, outros utilizaram os pesos mais frequentemente encontrados na literatura, focando sua pesquisa na classificação dos fornecedores em categorias para posterior aplicação de estratégias comuns de gerenciamento.
Foram aplicados diversos métodos multicriteriais para avaliar e selecionar, dentre os habilitados, o fornecedor (sub-empreiteiro principal, sub-empreiteiros e fornecedores de materiais e serviços) mais adequado para participar do projeto. Verificou-se que a aplicação de apenas um método proporciona perda de informação e aumento do risco de decisões equivocadas, visto que o tomador de decisão está sujeito às desvantagens intrínsecas do método. Observou-se que a combinação de dois ou mais métodos, somando suas potencialidades, oferece resultados mais satisfatórios, como TCD–ACP e TCD–AHP–QFD.
Sugere-se que pesquisas futuras explorem esta complementaridade dos métodos quantitativos para avaliação e seleção de fornecedores, assim como a integração do processo de seleção com gestão de risco de suprimentos, de forma a consolidar um grupo de critérios que, ao ser aplicado, mitigue os riscos de forma mais efetiva. Outra diretriz para estudos é a gestão da cadeia de suprimentos em indústrias Engineer-to-Order (ETO), que são orientadas por projetos e usualmente com caráter temporário, como os setores da construção, naval, aeroespacial e plataformas de óleo e gás.
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