Espacios. Vol. 36 (Nº 11) Año 2015. Pág. 5
Renato BREITENBACH 1; Daniele NESPOLO 2; Fernando Fantoni BENCKE 3; Ilciane Maria Sganzerla BREITENBACH 4
Recibido: 17/02/15 • Aprobado: 15/04/2015
4. Desenvolvimento da pesquisa
5. Análise e intrepretação dos resultados
RESUMO: |
ABSTRACT: |
A inovação pode ser um novo produto ou serviço, uma nova tecnologia de processo de produção, um novo sistema administrativo ou uma nova estrutura organizacional, ou ainda um novo plano ou programa (DAMANPOUR, 1991) e, a inovação tecnológica de produto ou processo pode ser considerada aquela que sido implementada e introduzida no mercado – inovação de produto – ou utilizada no processo de produção – inovação de processo, (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico [OCDE], 1999).
Estudos clássicos sobre inovação comumente se referem a organizações que interagem com ambientes relativamente estáveis e cujos produtos e tecnologias apresentam longos ciclos de vida, o que ocorre com empresas pertencentes a setores industriais tradicionais, não significativamente afetados por revoluções tecnológicas ou por novas preferências de mercado.
Na visão de Robert (1995), há vinculação entre a quantidade de mudanças e a quantidade de oportunidades de mercado, e por este motivo, o monitoramento permanente permite utilizar em benefício da empresa, convertendo em novos negócios, contínua e repetidamente. Entretanto, o termo inovação por vezes tem um sentido pouco compreendido, devendo ser diferenciado da invenção principalmente por que estas estão associadas a descobertas de tecnologia, patentes, design e fórmulas. A inovação tem dimensão mais ampla e deve ocorrer tanto no desenvolvimento de novos produtos, como em processos e design, podendo ser de forma incremental ou de ruptura, dependendo do nível de interferência que produz nos processos ou na tecnologia do produto.
A consolidação de uma ideia em produto, serviço ou processo, como algo novo ou aprimorado, capaz de criar valor adicional pela sua implementação, resulta na inovação – ideia absorvida pela criatividade. Incremental ou radical (Barr, 1999), a inovação acaba sendo definida como um reflexo da competição (Mañas, 1993), relacionada ao aspecto socioambiental ou econômico.
O conceito de inovação, até a década de 60, esteve diretamente ligado ao produto, equipamento e processos na área de manufatura e havia um grande distanciamento entre as atividades e o processo de gerenciar a equipe (MCKENNA, 1997). Aos poucos, as empresas voltaram-se a projetos que se tornaram mercadológicos, como o fato de buscar a inovação contínua, agregar valor, melhorar o grau de competitividade da empresa no mercado (KANTER; KAO, 1998).
Importa ressaltar que a gestão da inovação passa, por vezes, pela inovação na gestão, pois as empresas que investem em inovação acabam se tornando referência em sua gestão, uma vez que atuam em equipes multidisciplinares de curto, médio e longo prazo, contemplam competência, experiência e visão (NONAKA; TADEUSCHI, 1995). A inovação na gestão é compreendida pelo processo de ideias e o fato de inovar a organização (JASSAVALLA, 2007). Considerada sistêmica, contempla estratégias, governança, modelo organizacional, processos e recursos para gerar a cultura organizacional voltada à inovação. Assim, para Schneider e White (2004) o aspecto histórico explica essa trajetória da inovação, dando um sentido maior à inovação contínua, evidenciando que a mesma agrega valor e melhora o nível de gestão da empresa no mercado.
A inovação busca melhoras na gestão (MCKENNA, 1997), mas a mesma não ficou imune aos aspectos complexos e de difícil solução. Nadler e Tushman (2000) apontam que os gestores lidam frequentemente com mudanças de mercado e novas situações a cada dia que exigem ousadia e desafios a enfrentar. Em um ambiente ainda marcado pelo conservadorismo, o maior obstáculo da inovação é se defrontar com resistências das pessoas às novas ideias.
Dessa forma, a partir desse panorama verifica-se a existência de fatores que a inovação enfrenta para ser consolidada em uma organização (KANTER; KAO, 1998). De fato, atualmente, é comum encontrar o ambiente de trabalho como uma variável que pode influenciar no gerenciamento da gestão da inovação. A inovação na gestão pode ser otimizada quando a organização cria grupos interdisciplinares para criar algo novo, por meio de interações (KOTLER, 1995), favorece o trabalho em equipe e promove ações criativas. Essa condição torna-se propícia ao desenvolvimento de novos produtos (JASSAWALLA; SASHITALL, 2002).
Nas últimas décadas, as diferenças nos processos de inovação foram estudadas por diferentes abordagens teóricas e enfocando diferentes objetos de análise – empresas, setores industriais, ou mesmo comparações internacionais. De qualquer forma, a inovação é categorizada através de estudos em Neoclássicos e Schumpeterianos, Radical e Incremental, Sustentadora e Disruptiva, bem como estudos sob a influência da Resource-Based View of The Firm ou RBV.
Diante da importância do tema, vislumbrada a partir da introdução, no presente estudo objetivou-se analisar artigos teóricos e empíricos publicados sobre a inovação na área de gestão de inovação no Brasil, em publicações nacionais A1, A2, B1 e B2 de periódicos ligados a área da Administração, no período compreendido entre 2007 a 2011.
A base de observação para elaboração da teoria neoclássica foi a Revolução Industrial Britânica. O foco principal está vinculado à teoria dos preços e alocação de recursos, considerando que a firma assume um papel limitado (TIGRE, 1999). Importa salientar que esta teoria vigorou em um período dominado pelos conceitos liberais em que não havia intervenção do Estado, além de apoiar-se na "mão–invisível" de Adam Smith, como mecanismo auto-regulador dos sistemas de preço (DEMSETZ, 1996).
Esta abordagem é dominante nos livros de microeconomia e os elementos básicos da teoria da firma se limitam a caracterizar as empresas pelas suas transformações, produzidas a partir de funções de produção (WINTER, 1996). Os agentes são atores unitários que não tomam conhecimento das decisões dos demais e, todos produzem bens homogêneos, agindo de forma racional na busca de maximização dos seus resultados.
A teoria neoclássica apresenta como foco de interesse a teoria dos preços e na alocação dos recursos (TIGRE,1998) e nessa linha de pensamento, a utilidade de um bem está articulado com o desejo em obtê-lo e o preço a se pagar. Quanto maior a utilidade maior o desejo de consumir e maior o preço. Em função desse princípio, não se agregou importância para a inovação e diante dessas considerações, torna-se evidente a inadequação da teoria neoclássica no que tange a condição de entendimento da realidade econômica. Dentre os fatores que contribuem para esta inadequação, destaca-se a consideração do fator tecnológico como algo pré-estabelecido pelo sistema, excluindo o caráter dinâmico que inegavelmente a evolução econômica apresenta (JESUS, 2006).
As possibilidades de inovação, nessa perspectiva, são representadas pela função de produção, que especifica a produção correspondente a cada combinação de fatores (FREEMANN, 1994). A tecnologia da inovação é disponível ao mercado, seja através de bens de capital ou no conhecimento incorporado pelos trabalhadores (PORTER, 1993).
Os modelos da abordagem neoclássica concentram seu foco principal de análise sobre as tecnologias, e não sobre a inovação propriamente dita, ignorando a dimensão organizacional da inovação. Somente após a publicação da obra Teoria do Desenvolvimento Econômico de Schumpeter, em 1912, que o estudo da inovação e da dimensão organizacional ganhou destaque.
A teoria da inovação vincula-se à teoria do desenvolvimento econômico, desenvolvida por Joseph Schumpeter, capaz de observar que as longas ondas dos ciclos de desenvolvimento no capitalismo resultam da combinação ou conjugação de inovações, capazes de criar um líder na economia ou mesmo um novo paradigma, que passa a impulsionar o crescimento rápido dessa economia (KLEINKNECHT, 1990).
Os investimentos em novas combinações de produtos e processos produtivos de uma empresa interferem diretamente em seu desempenho financeiro, de modo que o empresário capitalista ocupa-se ao mesmo tempo um papel na liderança econômica, quando na tecnológica. Neste sentido, o comportamento empreendedor de introdução e ampliação de inovações tecnológicas e organizacionais constitui um fator fundamental para o desenvolvimento a longo prazo (SCHUMPETER, 1984).
Schumpeter, considerado o pai da inovação, a definia como sendo a "introdução de um novo produto ou um novo método de produção, a abertura de um novo mercado, a descoberta ou a conquista de uma nova fonte de matéria-prima ou a introdução de uma nova estrutura de mercado (BERNARDES; ALMEIDA, 1999). Schumpeter (1996), caracterizou a inovação como uma forma diferente de combinar fatores produtivos criando novos mercados e produtos. Esse conceito redunda na definição de que inovar é aprimorar técnicas produtivas que podem afetar desde a qualidade até as características do produto. A inovação é uma atividade precursora, originalmente enraizada nas competências internas da empresa, para desenvolver e introduzir um novo produto no mercado pela primeira vez (KIM; NELSON, 1995).
Assim, a inovação é centrada no desenvolvimento e aprimoramento das funções dos produtos. As inovações têm como objetivo a criação de novas necessidades. Assim, a inovação surge antes pelo lado da oferta, onde o empreendedor assume o risco da inserção de um bem que pode não ser aceito pelo mercado (TIGRE, 2006).
Por outro lado, a teoria de Schumpeter pode ser considerada inadequada, pois nos últimos anos têm ocorrido inovações que, quantitativamente, talvez tenham sido mais importantes que as inovações que influenciaram e contribuíram para a formação do pensamento Schumpeteriano (MEIER; BALDWIN, 1968). E, ainda, que poderia ser muito mais uma teoria do lucro que propriamente uma explicação ao progresso econômico (FURTADO, 1961).
No pensamento neo-schumpeteriano, o desenvolvimento empresarial se articula à internalização de práticas de pesquisa e desenvolvimento e à cotidianização da renovação de processos na atividade econômica.
As inovações tornam-se a grande responsabilidade por impactos que podem estar restritos a melhoria de um único processo ou de um produto ou tecnologia já existente. Os impactos, entretanto, podem ser maiores e atingir toda a estrutura da organização, havendo a possibilidade da produção de um novo artefato com tecnologia revolucionária, ou a introdução de um processo novo. As repercussões restritas as melhoras dos produtos e processos são causados pela inovação incremental, já que os influenciam nas estruturas de produção são desencadeados pelas inovações radicais (FREEMAN, 1988).
Nesse sentido, existem duas dimensões pelos quais podem ser diferenciadas: a inovação incremental e radical. A inovação incremental tem relação com o ambiente interno da empresa (ABERNATHY, 1978; TIDD et al, 1997). A segunda dimensão está no externo e intimamente relacionada ao impacto no mercado. Tanto a inovação incremental como a inovação radical pode acontecer em qualquer situação de inovação seja por produto, processo, posição e paradigma (FERNANDEZ, 2005).
A inovação radical é fruto do desenvolvimento de novas tecnologias ou novos produtos e processos (TIDD et al, 1997). Na inovação radical, ou também inovação distintiva, o produto, serviço ou processo manterão características a partir daquele do qual foi desenvolvido, mas apresentando novas características, capazes de proporcionar funções que não existiam no original (BAPTISTA, 1999). Este tipo de inovação pode ser evolucionária da tecnologia, quando busca desenvolver produtos que ainda não sejam conhecidos para necessidades já bem conhecidas de mercado, ou evolucionária de mercado, quando busca implementar tecnologia existente em um mercado novo e desconhecido (LYNN; AKGÜN, 1998). Existe uma grande incerteza em relação à aceitação dos produtos.
As teorias incrementais, por sua vez, referem-se ao aumento de novas funções ou mudanças nos produtos já existentes. De modo geral, objetivam melhorias em produtos que já possuem boa aceitação no mercado, mas também, podem ser implementadas no sentido de conquistar um público que pode ainda se mostrar resistentes. As inovações incrementais representam o ciclo difusor de um modelo inovador (PELAEZ; SZMRECSÁNYI, 2006).
Na inovação incremental, o novo produto, serviço ou processo mantendo as suas funções básicas, incorpora novos elementos em relação ao anterior (BAPTISTA, 1999), ou seja, objetiva-se melhorar o desempenho e a funcionalidade dos produtos, serviços e processos para atender a determinados consumidores ou para reduzir os custos, por exemplo. (LYNN, 1998). A inovação incremental está baseada nas pequenas mudanças, que no mercado são mais constantes e estão relacionadas com a melhoria do que já está sendo produzido.
Segundo Christensen (1996), existem dois tipos de inovação: a sustentadora e a disruptiva. Conforme o autor, uma inovação sustentadora é uma tecnologia que resulta em um produto ou serviço melhor, enquanto a disruptiva consiste em uma ruptura que traz, inicialmente, um produto pior em relação ao modo como o mercado faz sua avaliação. Ao mesmo tempo, traz também um novo conjunto de atributos, capazes de permitir o uso do produto de uma maneira diferente daquelas que existiam anteriormente.
A teoria da inovação disruptiva trabalha com a ideia de que as empresas já estabelecidas em um mercado têm maior (alta) probabilidade de vencer os novos concorrentes, quando refere-se à inovações progressivas e sustentáveis, no momento em que o alvo das melhorias radicais ou incrementais são clientes exigentes e dispostos a pagar mais por um produto melhor (CHRISTENSEN, 1996). Entretanto, essas mesmas empresas estabelecidas tendem a perder para novos concorrentes que oferecem soluções disruptivas mais baratas e mais simples, ou até mesmo produtos e serviços que sejam mais convenientes e atendam às necessidades de clientes menos exigentes.
A teoria da inovação disruptiva define que as empresas líderes tendem a ter sucesso quando se direcionam para as inovações sustentáveis, ou seja, oferecem soluções mais aprimoradas a seus principais clientes, enquanto os novos concorrentes tendem a ter sucesso quando concorrem no campo das inovações disruptivas, que contemplam o oferecimento de soluções viáveis, simples e de baixo custo e que sejam receptivas pelos clientes, que os atuais concorrentes não atendem ou não pretendem atender (CLEMENTE; CAMEIRA, 2006).
Já no conceito da abordagem analítica denominada Resource-Based View of The Firm ou RBV o conceito de inovação é categorizado de outra forma. Esta teoria visualiza a empresa como tendo vários e diferenciados recursos produtivos e estratégicos. A elaboração de um produto novo é entendido como uma necessidade não atendida pelo mercado e esta teoria surge para atender às inovações, às mudanças correspondendo as demandas dos consumidores e para auxiliar as empresas a entenderem seus potenciais e replicá-los com eficácia (DURAND, 1999).
A visão baseada em recursos pressupõe o conhecimento organizacional como um dos componentes das competências que diferenciam uma organização, pois é percebido como fonte fundamental para obtenção de retornos acima da média (SPENDER, 1996; MCEVILY, 2000). Há quem sugira que vantagens baseadas no conhecimento sejam difíceis de ser imitadas quando as razões para o desempenho superior de uma empresa sobre seus concorrentes não podem ser controladas ou identificadas (DIERICKY; COOL, 1989). Uma premissa fundamental da RBV está em que as competências organizacionais, por alguns autores denominadas de recursos (BARNEY, 1991; BARNEY; FUERST; MATA, 1995), são heterogêneas e imóveis, e formam a base da vantagem competitiva sustentável da organização (LADO; WILSON, 1994; BARNEY; FUERST; MATA, 1995).
A inovação não fica confinada a produtos fabricados. Pode ser encontrada também em serviços ou em processos e enquanto novos produtos são vistos como o ponto máximo da inovação no mercado, o processo de inovação da gestão se apresenta como um ponto estratégico. A vantagem competitiva está exatamente em fazer algo que ninguém mais pode, ou fazer algo melhor do que todos (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2005).
A teoria Baseada em Recursos (RBV) sustenta que o crescimento e sucesso das organizações estão diretamente ligados ao controle e ao uso efetivo de recursos heterogêneos e únicos, difíceis de serem imitados (PENROSE, 1959; RUMELT, 1984). Ao empreender esforços de inovação, as organizações alavancam os seus recursos para novos usos, além de construir novos recursos estratégicos, competências ou capacidades estratégicas.
Os recursos estratégicos têm tendência a serem recursos intangíveis por natureza, mas nem todos os recursos intangíveis são estratégicos (MICHALISIN; SMITH; KLINE, 1997). O conhecimento e o capital humano (DIERICKX; COOL, 1989; BARNEY, 1986), base fundamental para a inovação, pode ser considerado como um recurso estratégico, ou pelo seu valor, raridade, difícil imitação ou por não ser facilmente substituível, diferenciando-se os recursos e capacidades baseadas em conhecimento como um pilar essencial da vantagem competitiva das organizações (GRANT, 1996), podendo, inclusive, avançar para uma vantagem competitiva sustentável (MICHALISIN; SMITH; KLINE, 1997). As inovações baseadas no conhecimento impactam positivamente o desempenho das organizações. (MCGRATH; MACMILLAN, 2000).
O presente estudo, de caráter qualitativo, objetivou a análise dos estudos teóricos e empíricos publicados entre 2007 e 2012 na área de gestão da inovação no Brasil. Foi realizada uma busca em publicações nacionais A1, A2, B1 e B2 ligados à área da Administração, utilizando como termo descritor gestão da inovação.
A partir dessas consultas, foram localizadas 82 revistas com categorias A1, A2, B1, B2 e pesquisadas em todas elas a mesma temática. Em um primeiro momento, foram excluídos artigos repetidos, resumos de capítulos de livro ou referências de livros, artigos que não apresentavam o texto completo para consulta, que não abordavam especificamente o tema e aqueles que, mesmo com um foco em inovação, não investigavam ou articulavam com a gestão.
Após essa seleção restaram 57 artigos, analisados em relação às temáticas, principais achados, linhas teóricas, delineamento e instrumentos empregados. Cabe ressaltar que todos eles tiveram como foco de estudo a gestão da inovação no âmbito brasileiro e todos eles foram produzidos predominantemente por pesquisadores administradores.
O objetivo geral deste trabalho foi identificar as perspectivas teóricas de estudos de inovação na área de gestão no Brasil.
Como objetivos específicos para o trabalho, foram identificados:
O método utilizado será a pesquisa qualitativa que conforme faz referência Marconi e Lakatos (1999, p. 73), "sua finalidade e colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito sobre determinado assunto". Através desta pesquisa serão procurados diferentes artigos e autores que tenham publicado sobre gestão da inovação no Brasil, a fim de que se possa diagnosticar o viés e as principais contribuições à gestão.
Trata-se de uma revisão bibliográfica que envolveu a análise de artigos teóricos e empíricos. A revisão bibliográfica consiste na tentativa de explicar um problema, utilizando o conhecimento disponível a partir das teorias publicadas em livros ou obras congêneres, onde o investigador levanta o conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para auxiliar a compreender ou explicar o problema objeto da investigação (KÖCHE, 1999). Entre outros, este método permite a ampliação do grau de conhecimento sobre o tema, sistematizando o estado da arte neste momento (KÖCHE, 1999).
A partir da leitura dos artigos localizados, todos publicados no Brasil, foi possível perceber que os 57 estudos predominantemente referiram-se ao quanto a gestão das organizações engajaram-se, principalmente nos últimos anos, em um processo de inovação, quer sejam produtos ou processos propriamente ditos. Os estudos ainda evidenciam como a inovação torna-se uma condição essencial à competitividade empresarial, sendo condição básica para o seu desenvolvimento e, por vezes, sobrevivência. Por outro lado, as pesquisas reforçam a importância da gestão da inovação como um fator que deve ser mantido em contínuo processo de desenvolvimento para a efetividade da implantação de programas (BIANCOLINO; RIGGO; MACCARI, 2011; CASSINI; TOMASI, 2010; CLON; FERREIRA; SAMPAIO, 2012; CRISÓSTOMO, 2009; FIGUEIREDO; ANDRADE; BRITO, 2011; GUIDELLI; BRESCIANI, 2009; LIMA; MENDES, 2007; MOURA; BOTTER; SILVA, 2009; PEREIRA; KRUGLIANSKAS, 2005; SGUARIO; TOMAEL, 2011).
De modo geral, tais estudos enfatizaram as mudanças ocorridas nas organizações que implementaram a gestão da inovação em suas práticas. Ficou evidenciado que em organizações muito inovadoras, as mudanças tendem a ter uma conotação mais abrangente, voltada para os processos mais globais da organização, influenciando até mesmo a forma de concepção da gestão, suas políticas, o desenvolvimento das pessoas e as relações com o mercado, passando, por que não dizer, por uma inovação na gestão.
As mudanças ocorridas nas empresas pouco inovadoras, por sua vez, denotam uma ênfase de caráter mais administrativo-financeiro, identificando aspectos mais restritos aos processos organizacionais. É o que denunciou uma investigação com 12 atores organizacionais que responderam a oito questões abertas que envolveram a investigação dos significados associados à mudança organizacional, as explicações subjacentes a práticas de inovação na gestão e a percepção de seus impactos (BASTOS; SOUZA; COSTA; PEIXOTO, 2011).
Estudo anterior (OLIVEIRA; MENDEL, 2010), realizado com 29 profissionais de uma empresa de telecomunicações, analisou a percepção dos profissionais da área comercial de uma empresa de telecomunicações sobre a realidade de trabalho frente a fatores determinantes de inovação organizacional. O estudo revelou que o atual contexto de mudanças sociais, políticas, econômicas e tecnológicas tem conduzido organizações a enfrentarem o desafio permanente de adequação às novas demandas do mercado global, exigindo revisões e atualizações constantes no ambiente organizacional. A capacidade de inovar, como competência organizacional, tem papel estratégico para empresas que buscam vantagens competitivas sobre a concorrência.
No mesmo sentido, apontam Heinzen e Mattos et al (2011), além de serem encontrados estudos evidenciando mudanças ocorridas no processo de gestão das empresas, com consequente desencadeamento de novos departamentos, de abertura de oportunidades profissionais com perfis diferenciados, exigindo igualmente uma postura inovadora, conduzindo também ao fato da inovação propiciar o desenvolvimento de organizações complexas e competitivas (KUSTHER; BINOTTO; SIQUEIRA et al, 2009).
Ainda, Guidelli e Bresciani (2009), identificaram a percepção de trabalhadores de atendimento ao cliente sobre a capacidade de inovação das empresas que trabalham. Neste estudo de levantamento exploratório com 97 empregados mostrou que as mudanças decorrentes da inovação não atingem somente os produtos ou processos, mas o desenvolvimento de capacitação individual e coletiva das pessoas Ao mesmo tempo, o principal aspecto apontado pelos entrevistados é o acesso às informações de produtos e serviços, o que se relaciona com a comunicação interna à organização, principalmente no que se refere ao conhecimento da inovação para possibilitar atender o cliente com todas as informações necessárias.
A revisão da literatura sobre a temática da inovação traz interessantes desdobramentos e um deles refere-se à inovação e o empreendedorismo. Mesmo que se vislumbre o empreendedor como um ator individualista, por meio de uma associação com a literatura neo-schumpeteriana mais recente, centrado na temática da inovação, demonstrou-se que a união entre essas duas abordagens pode trazer relevantes contribuições para uma melhor compreensão do empreendedorismo e o impacto na inovação (VALE; WILKINSON; AMÂNCIO, 2008).
Outra temática amplamente abordada nos estudos refere-se ao processo de transferência da tecnologia da inovação da universidade para a sociedade. Através de uma pesquisa descritiva e exploratória, por meio de uma abordagem qualitativa e da estratégia de estudo de caso, foi realizada uma análise do projeto de extensão "Apiários Rio do Mel" da Universidade junto à unidade de agricultura familiar da região Centro-Sul do Paraná, caracterizado pela cooperação entre a Universidade, agricultores e Governo do Estado do Paraná. Os resultados mostram que o processo adotado pode auxiliar em uma efetiva transferência de tecnologia sustentável baseada no desenvolvimento econômico (FREITAS; MACANERO; KUHL et al, 2012). A partir disso, pode-se pensar na importância dessa parceria Universidade e sociedade no que se refere à transferência de inovação e sua sustentabilidade na gestão (BARROS; CLARO; CHADDAD, 2009; DONA; SEGATTO, 2010; FREITAS; MAÇANEIRO; KUHL et al, 2012).
Badin (2003), por sua vez, ressaltou a análise dos trabalhos clássicos sobre o processo de globalização, para que sejam intuídos os principais aspectos político-econômicos que devem ser levados em conta para uma gestão eficaz e inovadora ao mercado externo. Concluiu-se que é necessário um grande esforço na busca de informações dos países-alvo, não apenas em relação ao seu potencial mercadológico, mas também quanto à representação política dos concorrentes locais, seu grau de organização sociopolítica, além de outros. O estudo apresenta uma tabela e matriz de caráter de orientação que visa auxiliar a obtenção, análise e escolha da melhor estratégia a se selecionar produtos e países alvos.
De modo geral, a partir dos estudos revisados, percebe-se que o desenvolvimento tecnológico que vislumbre a geração de inovação, por mais que esteja sendo cada vez mais investigado, ainda é um campo a ser efetivamente estimulado no país, tanto em instituições de pesquisa quanto em empresas nacionais. Esta busca por novas formas de organização inicia-se pela busca de maior base de conhecimento sobre suas práticas, através de pesquisas em instituições que tenham adotado com sucesso diferentes modelos de gestão baseados na inovação. Há das empresas acerca das contribuições e dos impactos positivos que as relações de interação e cooperação promovem à gestão da inovação, envolvendo parcerias entre fornecedores, clientes e concorrentes, sendo este último pouco explorado, além de se ainda de forma limitada. E, ainda, há contribuições no sentido de promover melhorias na avaliação das fontes de informação para o aprendizado inovativo.
Pode-se pensar ainda no que diz respeito ao potencial de contribuição para a gestão da inovação, pois os estudos revelam que os resultados auxiliam a teoria, evidenciando as estratégias de inovação, mas que, no entanto, por mais que as pesquisas sejam apoiadas em arcabouços validados cientificamente, os mesmos carecem de uma aplicação mais empírica, limitando conclusões a partir delas.
Em relação ao delineamento, não se observou uma diferença entre os artigos com classificação A1 e A2 e B1 e B2. Os estudos apresentaram predominantemente caráter qualitativo do tipo descritivo (ANDRADE, 2007; ANDRADE; OLIVEIRA, 2008; BOUZADA; BARBOSA, 2009; CARLOS; OLIVEIRA, 2005) e estudo de caso (GUIDELLI; BRESCIANI, 2007; MENDES; LOPES; GOMES, 2011; MENEZES; KNEIPP; BARBIERI et al, 2011). Alguns estudos com classificação B1 e B2 apresentaram caráter quantitativo (CABRAL, 2007; GOMES; KRUGLIANSKAS, 2009; MELLO; AGOSTINHO, 2007; VERSCHOORE; BALESTRIN, 2008) e apenas três artigos foram conduzidos por uma análise bibliométrica (BALESTRIN; VERSCHOORE; REYES, 2010; POLETTO; ARAÚJO; MATA, 2011; PERIN; SAMPAIO; HOOLEY, 2007).
Percebe-se que os estudos revisados focalizaram, de forma geral, o aprofundamento da compreensão da gestão da inovação. A metodologia empregada relacionou-se aos objetivos desses estudos, ou seja, o foco na inovação de produtos ou processos como uma condição primordial para uma gestão voltada ao desenvolvimento e à competitividade. Os estudos quantitativos procuraram relacionar os conceitos de inovação, os processos de gestão do conhecimento de marketing e o desempenho de novos produtos no mercado.
Poderia ser apropriada uma ampliação no leque de investigações na gestão da inovação envolvendo as parcerias consideradas importantes, como fornecedores, clientes e concorrentes. Tais tópicos poderiam ser investigados quantitativamente, uma vez que se percebeu uma escassez de estudos referentes a essas especificidades e pela metodologia poderia se relacionar tais pontos.
Quanto aos estudos revisados, por predominar o caráter qualitativo, o instrumento de coleta de dados mais frequentemente utilizado foi a entrevista semidirigida com gestores (MELLO; AGOSTINHO, 2007; VERSCHOORE; BALESTRIN, 2008; MENEZES; KNEIP; BARBIERI; GOMES, 2001) para investigar, por exemplo, a prática da responsabilidade social em empresas que atuam de forma inovadora. Em outros estudos, o instrumento mais frequentemente empregado foi o questionário (GUIDELLI; BRESCIANI, 2007; HEIZEN; MATOS; CAMPOS; PALADINI, 2011; KUSTHER; BINOTTO; CASAROTTO, 2009), para investigar, como exemplo, a percepção do trabalhador em relação às características das empresas inovadoras e os fatores que influem no seu bem estar, bem como o levantamento das atividades que a empresa propicia visando a melhoria da qualidade de vida no trabalho, neste caso com foco maior à inovação na gestão que propriamente à gestão da inovação propriamente dita.
Também foram utilizadas as técnicas de levantamento de dados e análise de documentos, que procuraram avaliar como a experiência de duas empresas juniores, por exemplo, podem ser úteis para as empresas de pequeno porte, no campo de gestão de pessoas e como estas empresas se constituem em um campo de aprendizagem para alunos de administração e como é inserido o processo de inovação neste contexto (PICCHIAI, 2008). Tanto os questionários como o levantamento de dados e análise de documentos pareceram adequados e em consonância aos objetivos pretendidos em cada uma das investigações.
Com relação ao predomínio do uso de entrevistas semidirigidas nos estudos revisados, mostraram-se apropriados para pesquisas qualitativas por facilitar a apropriação e aprofundamento maior. Além disso, quanto à utilização de questionários nos outros estudos, favoreceu a ampliação da avaliação da gestão da inovação no Brasil, uma vez que levantou novas variáveis e aspectos a serem considerados. Portanto, percebe-se que os instrumentos, de uma forma geral, foram corretamente escolhidos, levando em consideração os propósitos das pesquisas.
Nos artigos de gestão da inovação publicados no Brasil, nas categorias pesquisadas para a elaboração deste artigo, facilmente perceptível é a predominância de textos com viés para os ensinamentos schumpeterianos, praticamente em igualdade com aqueles que abordam situações em que se revela a inovação radical ou incremental. Da totalidade analisada, praticamente a metade (46,15%) estão focados nesta linha de pensamento. A inovação disruptiva é pouco explorada (6,41%), assim como a inovação sob a ótica da visão baseada em recursos (RBV), que não representa mais que 7,69% das publicações analisadas. Ressalta-se, contudo, que a visão baseada em recursos tem se manifestado com maior intensidade em 2010 e 2011, o que pode representar um crescimento na produção de artigos nesta linha.
Importa ressaltar também que 60% dos estudos analisados são de natureza empírica, utilizando-se principalmente do estudo de caso, contra 40% de estudos com contribuições teóricas. Curioso nesta análise que também é semelhante a incidência, entre teóricos e empíricos, das linhas schumpeteriana e radical/incremental, praticamente idênticos em quantidade de produção. Os estudos que envolvem inovação e a visão baseada em recursos praticamente inexistem sob a forma de contribuição teórica, o que também ocorre com as publicações na linha de inovação disruptiva e sustentadora.
Percebeu-se significativamente o direcionamento dos artigos de inovação para outras linhas que não necessariamente as propostas para este estudo. Destacam-se estudos com direcionamento principalmente para as redes de cooperação (BALESTRIN; VERSCHOORE; REYES JUNIOR, 2010), integração universidade-empresa-governo (FIGUEIREDO; ANDRADE; BRITO, 2009), capacidades dinâmicas (MACIEL; SATO; KATO, 2012), incubadoras (FIGUEIREDO, 2008), transferência de tecnologia (FREITAS et al, 2012), competências tecnológicas (MOURA et al, 2008) e sustentabilidade (BOEHE; ZAWISLAK, 2007). Entre estes, pode-se apontar que os estudos relacionados a redes de cooperação predominam sob a forma de contribuição teórica, enquanto os empíricos são mais variados, havendo pequena predominância de artigos voltados para a integração universidade-empresa-governo, para as incubadoras e transferências de tecnologia.
Os reflexos causados pela inovação tecnológica desencadearam na criação de uma série de novas funções e atribuições nas organizações, abrindo-se portas para os profissionais com perfil diferenciado, exigindo das empresas, uma postura igualmente inovadora. Sob a influência de conhecimentos schumpeterianos, há contribuições no sentido de que a manutenção dos níveis de lucratividade em função dos gastos com inovação dos setores da indústria de transformação nacional dependem de uma maior eficiência no uso destes recursos, com o intuito de alcançar ou, se possível, ultrapassar os padrões tecnológicos internacionais.
Mais especificamente no ramo de energia e informática, estudos comprovaram como políticas públicas afetam o comportamento destas empresas no processo de inovação. O limitado interesse das empresas destes setores por inovação reforça a ideia de que políticas de inovação não podem englobar apenas ações voltadas para o lado da oferta, nem podem ser dissociadas de políticas voltadas para o fortalecimento do ambiente institucional.
Percebeu-se ainda a busca por relação entre a gestão tecnológica e a prática dos inovadores, tendo por base o trabalho de filósofos e sociólogos, além de outros trabalhos que procuraram analisar a evolução histórica da inovação na gestão de pequenas empresas, e que o processo de estruturação da função de P&D da organização ocorreu pela incorporação de recursos e competências externas, havendo certa incidência de artigos escritos sob a influência de conhecimentos schumpeterianos envolvendo a relação universidade-empresa-governo aos fatores sustentabilidade, redes de cooperação e transferência de tecnologia.
Entende-se que menos três agentes (o governo, a indústria e as instituições de ensino e pesquisa) devem atuar solidariamente na criação e no desenvolvimento do conhecimento e que o governo brasileiro é um importante parceiro para as empresas interessadas em investir em P&D e, no entanto, não é visto desta forma pelas outras partes desta relação.
No que diz respeito à sustentabilidade, há evidências de que as empresas que possuem investimentos em eco-eficiência nos produtos e processos, desenvolvem parcerias com universidade para geração de tecnologia, acompanham as demandas de mercado e apresentam o conceito de sustentabilidade integrado na cadeia de valor empresarial. Ressalta-se, entretanto, que uma característica pouco explorada pelas empresas consiste na inclusão da gestão sustentável na ampliação do sistema de produto-serviço. Os resultados apresentam indícios de que o processo adotado, por meio de uma rede de fomento, compreende uma realidade efetiva de intervenção social e de transferência de tecnologia sustentável, baseada no desenvolvimento econômico, preservação ambiental e promoção social.
Quanto aos artigos voltados para a teoria da inovação radical e inovação incremental, há contribuições que levam para questões relacionadas à incerteza ambiental, das capacidades dinâmicas, em que a ordem do dia ou a questão estratégica é a inovação dos recursos, ou seja, a transformação, a renovação ou o desenvolvimento de uma nova capacidade funcional, capaz de prover a organização de condições para se manter viva no mercado.
Neste sentido, explicita-se que o Brasil, há aproximadamente 10 anos, se coloca entre os principais países em desenvolvimento absorvedores de investimentos diretos estrangeiros, convivendo com uma nova realidade, na medida em que assume posição de destaque entre os maiores investidores no exterior. E, com o propósito de serem capazes de competir internacionalmente, grandes empresas brasileiras têm adotado uma estratégia de expansão e crescimento internacional.
A aceleração desse processo de internacionalização de empresas brasileiras que vem ocorrendo nos últimos anos promove importantes impactos nas práticas, processos organizacionais e talvez seja possível que o Brasil não esteja formando recursos humanos suficientes para competir em mercados avançados em ciência e tecnologia. Ampliar a compreensão dos motivos que levam as organizações a implementarem diferentes práticas de gestão constitui uma forma de identificar-se empresas com distintos perfis de inovação, as diferenças entre estruturas cognitivas, associadas à intensidade de uso de novas práticas de gestão.
Algumas evidências empíricas sugerem que de fato existe um conjunto de competências organizacionais, especializada na gestão da área de TI, por exemplo, que devem ser desenvolvidas pelas empresas de forma a maximizar o valor de uso desta tecnologia em função da competitividade e resultados organizacionais. E, ainda, que o ambiente de trabalho e a cultura organizacional contribuem para um melhor gerenciamento da inovação, tornando as empresas mais preparadas para agir no mercado.
Com viés para inovação disruptiva e inovação sustentadora, sustentadora, há contribuições no sentido de que inovação deve remeter à reflexão da inovação contínua, agregando valor e melhorando o grau de competitividade da empresa no mercado, permanentemente. E que neste caminho as redes de cooperação, como elemento que indica vantagem de "gestão adaptativa", se comparado às abordagens tradicionais, contribui para acelerar o processo de aprendizado coletivo e estimula a geração de vínculos, podendo contribuir com a continuidade dos negócios.
Quando se trata de inovação associada à visão baseada em recursos (RBV), teoricamente, os estudos apontam para caminhos nos quais os recursos da empresa, envolvendo ativos e habilidades empresariais, influenciam a performance da inovação nas organizações. Os estudos associados à RBV denunciam caminhos pelos quais os recursos ativos e habilidades empresariais repercutem na performance da inovação nas organizações.
Por outro lado, mesmo quando enfatizadas as redes de cooperação, como resposta às grandes transformações econômicas, vincula-se a inovação à visão baseada em recursos. Os estudos empíricos utilizam-se da visão baseada em recursos da firma para associar as capacitações requeridas à integração de conhecimentos, internos e externos, que visem à coordenação de projetos e programas que atendam à evolução da empresa, de seus produtos, procedimentos e processos.
Considerando que este artigo teve como objetivo analisar artigos teóricos e empíricos publicados entre 2007 a 2012 sobre a inovação na gestão no Brasil, constatou-se, entre os estudos revisados, que o atual contexto de mudanças sociais, políticas, econômicas, e tecnológicas repercutem nas organizações e conduzem as mesmas para um desafio permanente de adequação às novas demandas do mercado global, exigindo revisões e atualizações constantes na gestão organizacional. A inovação, como uma competência organizacional apresenta papel estratégico nas empresas que buscam vantagens competitivas.
Foi possível perceber, ainda, a diversidade de instrumentos de coleta de dados empregada para avaliar tais repercussões. No caso, os estudos adotaram caráter qualitativo e fizeram uso de entrevistas, mesmo que outros privilegiaram o uso de questionários. Nos estudos empíricos prevaleceu o estudo de caso.
Entretanto, não se pode esquecer o fato de que ampliar a compreensão dos motivos que levam as organizações a implementar diferentes práticas de gestão constitui um objetivo primordial no entendimento do fator inovação. De fato, esse último aspecto parece ser um fator para a explicação da intensidade do uso de novas práticas de inovação na gestão, embora nem sempre seja foco de investigação nos estudos já realizados sobre o tema.
Outro ponto que merece ser abordado é a pequena produção científica sobre o tema da globalização, com seus principais aspectos político-econômicos, que precisam ser levados em consideração para uma gestão eficaz e inovadora ao mercado externo. Aponta-se para a necessidade da realização de pesquisas brasileiras nessa área. A inovação tecnológica submetida a um aspecto de desenvolvimento deve resultar da interação de pesquisadores, agentes econômicos, grupos sociais, indivíduos e órgãos estatais, configurando um ponto de convergência e nesse sentido mais estudos sobre essa temática certamente contribuirá para esse fim.
Ainda, há que se ressaltar que a temática da inovação está sendo abordada na literatura com diversos focos. Se a velocidade de forma acelerada das mudanças relacionadas a tecnologia e o acirramento da competitividade provocam esforços de pesquisa e desenvolvimento das organizações, na momento atual, verifica-se uma ausência de uma tendência de crescimento de produção interinstitucional, que ainda é inferior aos padrões internacionais, bem como na persistência da concentração da produção cientifica. Schumpeter arrisca dizer que a universidade pode se tornar irrelevante para o processo e inovação justamente pelas suas produções previsíveis.
Nessa perspectiva, sugere-se a realização de novos estudos com uma mudança de postura, direcionada ao ambiente externo. Outros temas a serem considerados em estudos futuros abrangendo essa condição seria a do impacto das atividades inovadoras no contexto socioeconômico em que estão inseridas e o estudo das variáveis utilizadas para a avaliação dos seus resultados.
Quanto à linha teórica dos artigos, enfatiza-se a predominância de artigos baseados em referencial schumpeteriano e da inovação radical e incremental. Por outro lado, importa salientar a baixa produção de artigos que vinculem a inovação à RBV, e que dos publicados nesta linha teórica, ocorreram mais recentemente.
A realização de pesquisas brasileiras pode ser útil tanto para a produção de conhecimentos válidos ao nosso contexto, como também para comparações com a realidade encontrada em outros países. Tais pesquisas podem ainda trazer subsídios para auxiliar na compreensão de processos de gestão a partir da inovação nas organizações, ou mesmo verificar determinantes de sucesso de empresas que realizam inovações.
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