1. Introdução
A poluição sonora, tanto em forma de música ou ruído é um fator que está presente em todos os ambientes que o ser humano está inserido. Existe ruído na indústria, em casas noturnas, ruído doméstico e tantos outros locais habitados e frequentados. Tanto é a preocupação que já existe até dia mundial (INAD –International Noise Awareness Day) para a conscientização sobre este mau que afeta a população e por este motivo já é considerado um problema de saúde pública devido aos males ocasionados pela exposição a altos níveis de intensidade de ruído. Dentro do ambiente fabril, cabe ao engenheiro de segurança juntamente com o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) e a direção de fábrica encontrar e propor soluções para que o indivíduo, neste caso o trabalhador, não esteja exposto a eventos que sejam prejudiciais para a sua saúde.
Unterleider, Jung e Thimotheo (2008), afirmam ser a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) como uma doença ocupacional de grande incidência nos países industrializados, destacando ainda que essa doença é a que mais ocorre nas industrias brasileiras, causando sérios problemas à saúde dos trabalhadores.
Com tamanha presença de ruído, é fácil encontrar soluções e equipamentos que visam proporcionar a segurança para trabalhar com este tipo de agente agressor a saúde. Embora essa grande oferta de soluções nem sempre atenda o que realmente se procura e o fato de ter grande oferta, aumenta-se também a probabilidade de se escolher, de forma subjetiva, algum protetor auditivo ineficiente.
Visando delimitar e estabelecer condições de aplicação, este estudo, abordou os PA como EPIs de proteção e se utilizou um ambiente industrial/fabril como fonte de ruído. Existe uma extensa gama de equipamentos e soluções para proteger o trabalhador e mesmo assim, se percebe que em alguns casos não se seguem boas práticas para a escolha do equipamento correto para o posto de trabalho. A decisão de qual protetor auditivo utilizar pode ser tomada de duas maneiras: a primeira de forma científica através de métodos e técnicas, já a segunda maneira pode ser de forma subjetiva, sendo por: estética, indicação de terceiros, imposição e principalmente pelo fator custo. Entretanto, a escolha subjetiva pode acabar sendo, equivocadamente, utilizada após a aplicação do método científico, por exemplo: suponha-se que através de cálculos se obteve a necessidade de um protetor de 22dB (decibel) NRRsf (Noise Redution Rate Subject Fit) e com esta característica, existem diversas marcas e modelos. Acarretando assim, a dúvida de escolher qual modelo eleger para o uso. Essa escolha de modelo, não pode ser através de escolha subjetivo, deve se também utilizar a técnica. Todo parâmetro subjetivo é difícil de mensurar, pois na grande maioria das vezes, o critério utilizado é, por exemplo, a escolha através da cor do equipamento.
O objetivo deste estudo é verificar e discutir o risco presente na escolha de protetores auditivos utilizando avaliação subjetiva, ao invés do método científico com utilização de técnicas reconhecidas. Existem diversos modelos de PA que possuem o mesmo valor "médio" de atenuação, independente do método e técnica utilizada para encontrar este valor de atenuação. Entretanto ao se realizar uma comparação pareada de dois modelos diferentes de PA, mas com mesmo valor de atenuação ao se isentar de conhecer mais informações sobre o ambiente de trabalho, acaba-se utilizando a escolha subjetiva, por motivos como: cor, acabamento, marca e outros parâmetros já citados.
2. Audição, percepção sonora e ruido
2.1. Audição e percepção sonora
Para proteger e avaliar os riscos é fundamental que se conheça o objeto que se visa dar proteção. Neste caso, o objeto é o Sistema Auditivo (SA) e então é necessário conhecer suas limitações (condições de contorno), os órgãos internos e externos que compõe o SA e o funcionamento geral de como o individuo percebe e sente o evento auditivo. O SA se divide em três partes: Ouvido Externo (OE), Ouvido Médio (OM) e Ouvido Interno (OI).
Conforme a ABEL (2013), o ouvido é o órgão mais sensível, complexo e discriminativo do corpo humano. Entretanto o ouvido humano não é igualmente sensível em todas as frequências: ele é menos sensível para frequências muito baixas e/ou muito altas e mais sensível para as frequências intermediárias (entre 1kHz e 5kHz). Por exemplo, um tom de 200Hz deve ser cerca de 10dB mais alto para dar a mesma sensação subjetiva que um tom de 1kHz.
Com o avanço nos equipamentos eletrônicos para avaliar o Nível de Pressão Sonora (NPS), houve a necessidade de criar circuitos internos (circuitos eletrônicos, filtros e compensações) que proporcionassem uma correção dos níveis de energia medido, de modo a simular o comportamento do ouvido humano.
Segundo ABEL (2013), atualmente se tem 4 classificações, sendo:
- O circuito "A" foi originalmente concebido para aproximar-se das curvas de igual audibilidade para baixos NPS (Níveis de Pressão Sonora), próximo de 50 dB;
- O circuito "B" foi originalmente concebido para aproximar-se das curvas de igual audibilidade para médios NPS (Níveis de Pressão Sonora), próximo de 75 dB;
- O circuito "C" foi originalmente concebido para aproximar-se das curvas de igual audibilidade para altos NPS (Níveis de Pressão Sonora), próximo de 100 dB;
- O circuito "D" foi originalmente concebido para aproximar-se das curvas de igual audibilidade para altíssimos NPS (Níveis de Pressão Sonora), próximo de 120 dB.
Portanto, com o nível de pressão sonora, medido por espectro, em qualquer circuito é possível realizar as transformações para se chegar a outros circuitos de compensação. É importante se conhecer estes valores de correlação entre as escalas de medição, pois em alguns casos, este procedimento se faz necessário para o dimensionamento do PA que será empregado ao usuário.
O Anexo 1 da NR-15 utiliza valores corrigidos para a escala A. Desta maneira, as magnitudes de ruído são expressas em dB (A). Por sua vez, os fabricantes de protetores auditivos (PAs) também fornecem, em sua grande maioria, valores de atenuação em dB(A). Sendo assim, uma facilidade em calcular/dimensionar os equipamentos de proteção.
2.2. Ruído
Acusticamente, o ruído é constituído por várias ondas sonoras com relação de amplitude e fase distribuídas anarquicamente, provocando uma sensação desagradável, diferente da música (ALMEIDA, 2000). O ruído, de um modo geral, pode ser definido como um som indesejável. Tem-se a definição subjetiva do ruído como "toda sensação auditiva desagradável" (FERNANDES, 2002).
Segundo Santos (1995), som é uma modificação da pressão que ocorre em meios elásticos, propagando-se em forma de ondas ou oscilações mecânicas, longitudinais e tridimensionais. Resulta de um movimento vibratório de partículas materiais, muitos corpos podem servir como fonte sonora, porém devem ter uma característica vibrátil.
Basicamente, podem-se eleger três fatores que contribuem significativamente com a agressão causada ao sistema auditivo do ser humano. Estes fatores são: intensidade sonora, frequência da onda sonora e o tempo de exposição. Este último fator, denominado tempo de exposição é um fator muito difícil de considerar, pois apesar de sua unidade ser dada em minutos, algo relativamente fácil de quantificar, cada organismo possui suas próprias características fisiológicas o que determina o quanto agravante está sendo a exposição para os mesmos valores de intensidade e frequência.
De qualquer forma, as normas vigentes não classificam os ouvintes e/ou indivíduos expostos. O registro destacado apenas serve de colocação para uma futura discussão, pois com certeza, a fisiologia deve ser considerada. Como exemplo final, seria considerar que sensação auditiva vinculada ao tempo de exposição para um recém-nascido seja o mesmo para um adulto de aproximadamente 40 anos.
O primeiro fator apresentado chamado de Intensidade é de fácil reconhecimento, pois em palavras mais simples é o volume do ruído. Vale também ressaltar que cada indivíduo possui uma Sensação de Volume Sonoro, entretanto a Intensidade é quantificada, segundo as normas, de forma objetiva e através de equipamentos calibrados a fim de se manter o mesmo referencial e ser possível a repetitividade das medições.
O segundo fator considerado é a frequência da onda sonora. Embora o foco do estudo não seja explanação de conceitos de acústica pode-se considerar de maneira geral, que frequência é o número de vezes que o ciclo se repete
O terceiro e último critério é chamado de tempo de exposição. Este critério é determinado por norma, independente do indivíduo. Se o tempo de exposição para o valor de intensidade for menor que o estabelecido na norma, não há risco de dano para o sistema auditivo (conforme norma). Apesar de ser um parâmetro extremamente pessoal que deveria considerar as características fisiológicas de cada indivíduo, na norma não se tem esta descrição.
Portanto, a fim de atender a norma, basta não ter exposição em um intervalo de tempo maior que o determinado na NR 15. Na grande maioria das vezes, ao se utilizar um dosímetro para o Cálculo do Nível Sonoro equivalente, este equipamento, já fornece também o tempo de exposição.
2.3. Norma
Este estudo visa como descrito anteriormente, verificar e discutir o risco presente na escolha de protetores auditivos utilizando avaliação subjetiva, ao invés do método científico com utilização de técnicas reconhecidas. O critério, ou melhor exemplificando, a norma que será utilizada como referência é a Norma Regulamentadora NR 15 em seu Anexo 01.
Não é alvo desta pesquisa as normas e o conhecimento dos métodos e processos para ensaio de eficiência de atenuação dos protetores auditivos. Dentre os regulamentos mais utilizados, cita-se: ANSI S3.19 - 1974; ANSI S12.6 - 1984, ANSI S12.6 - 1997 - partes A e B e ISO 4869-1:1990 (EN-24869-1:1992) – (fonte: LARI – Laboratório de Ruído Ambiental – UFSC).
Portando, para validação final se o sujeito está exposto ao risco será utilizada a tabela de Limites de Tolerância para Ruído Contínuo ou Intermitente da NR-15, Anexo 01. Estes limites encontram-se descritos no Quadro 1.
Quadro 1: Limites de Tolerância para Ruído Contínuo ou Intermitente.
Fonte: NR15 Anexo-01, 2014.
Com base no Quadro 1, é possível a verificação de que apenas duas variáveis (nível de ruído e tempo de exposição) indicam se o usuário exposto ao ambiente ruidoso está em condições agravantes para sua integridade.
Através da avaliação do local e do conhecimento da norma vigente, pode-se retirar as condições de contorno para validar se existe ou não risco para o sujeito, conforme norma.
A norma NR-15 em seu Anexo 01 não faz exclusividade ao uso de um determinado equipamento para mensurar o nível de pressão sonora, sendo permitido o uso de dosímetros ou medidores de NPS equipados ou não com filtros de banda de oitava.
Justamente a ausência de obrigação de equipamentos equipados com filtros de banda de oitava faz com que exista a possibilidade da determinação do PA não ser a mais adequada, pois não se obteve informações mais consistentes sobre o ruído presente no ambiente.
Equipamentos equipados com filtros de bandas de oitava possuem um custo mais elevado aos demais dosímetros sem este recurso. Este motivo descrito anteriormente (custo) e a não exigência (obrigação) da norma para esta ferramenta, faz com que, as medições e análises de ruídos em ambientes sejam na grande maioria, realizadas apenas com dosímetros não equipados com filtro de bandas.
2.4. Proteção
Devido a nossa percepção auditiva se dar em forma não linear, a perda auditiva também segue esta lógica, ou seja, o processo de perda é lento e progressivo, além de ser irreversível, só se consegue perceber os danos e lesões quando estão em um processo avançado.
A melhor proteção é evitar o ruído eliminando a fonte. Infelizmente na maioria dos casos não se pode adotar esta solução e então por preservação a saúde e integridade do trabalhados, deve-se primeiro achar formas de se atenuar esta fonte com sistemas de absorção e isolamento acústico, por exemplo, no caso de um motor em funcionamento, deve-se procurar enclausurar a fonte. A proteção para o trabalhador deve vir após os procedimentos anteriores. Deve-se ficar claro, que a proteção da saúdo do trabalhador é extremamente mais importante que qualquer outra atividade, embora as atividades de reduzir/eliminar a fonte de ruído devam ser realizadas anteriormente a proteção humana, pois em alguns casos mesmo com o EPI correto e bem dimensionado não se consegue chegar a limites aceitáveis sem se realizar ações na fonte produtora do ruído.
Como regra geral, a orientação é tratar de atenuar/eliminar em primeiro plano a fonte causadora da perturbação e após sim, projetar a proteção para o trabalhador.
Apesar de na primeira impressão, soar estranho focar na fonte de ruído e não na pessoa, a resposta lógica é a seguinte: Antes do isolamento acústico da fonte, altos índices de pressão sonora serão encontrados requerendo assim EPIs com dimensionamento muito maior e dependendo do caso, nem assim, se obterá valores aceitáveis para trabalho no local. Com atenuação do ruído da fonte, além de redução de custo na compra de EPIs mais complexos, se consegue também atender muitas vezes a proteção dos demais trabalhadores que trabalham indiretamente ao entorno da fonte.
Os primeiros sintomas de perda auditiva notam-se com a dificuldade para perceber sons agudos, do tipo: apitos, campainhas, telefones, pessoas conversando normalmente. Os próximos sintomas destacam-se pela tontura e o zumbido intermitente no ouvido.
Mesmo que se tenha uma perda parcial da audição, já se percebe grande influência negativa na qualidade de vida, causando danos perda da auto-estima, insegurança ansiedade, depressão, alterações do sono, isolamento e maior irritabilidade.
Há diversos modelos de protetores auditivos, onde cada tipo/modelo depende da aplicação onde ele será utilizado. Basicamente, a classificação se dá conforme a sua forma se inserção e por consequência, sua construção. Com esta imensa gama de Protetores Auditivos (PAs) determinar a vida útil é extremamente complicado, pois depende da: qualidade do protetor, forma de manuseio, ambiente onde é utilizado e até mesmo da maneira que ele é guardado para um uso futuro. Há estudos que apontam que um protetor tipo concha pode durar de 6 meses a 3 anos e um PA tipo plug de espuma expandida com superfície porosa apenas dois dias. Por via de uso e por conhecimentos adquiridos estes períodos apresentados são intervalos onde o protetor pode perder até 3dB de sua atenuação original, ou seja, de quando ele foi fabricado e estava em perfeitas condições de uso.
2.5. Determinação de protetores auditivos
Fica evidente que a utilização de PAs diminui o NPS que é recebido pelo ouvinte. Gerges (2000) afirma que isto pode ser verificado pela simples colocação dos dedos nos ouvidos obtendo uma boa redução do ruído. Entretanto, o mesmo Gerges (2000) reforça que a atenuação obtida depende de diversos outros parâmetros, sendo eles: (i) o usuário, dependendo das condições físicas individuais, como o formato e a geometria do ouvido, e a experiência do usuário no uso do protetor auditivo; (ii) o tipo de protetor, e suas características de projeto para redução de ruído, como materiais utilizados, dimensões, etc.; e (iii) o ambiente, que apresenta diferentes níveis de ruído em função das atividades que produzem várias amplitudes de ruído em diferentes faixas frequência.
Unterleider, Jung e Thimotheo (2008) apresentam que independente do método de trabalho escolhido, para avaliar o desempenho e a seleção do protetor auditivo, existem outras variáveis muito mais importantes que influenciam na correta identificação do nível de atenuação alcançado pelos protetores, apontando principalmente uma enorme variabilidade da atenuação físico-mecânica entre indivíduos.
A metodologia indicada para a avaliação é através do Método Longo (ML) que, segundo Gerges (2000) é apontado como método o mais indicado para o cálculo da atenuação do protetor auditivo em comparação com o método NRR, uma vez que o ML considera as peculiaridades do ambiente de trabalho em estudo.
Entretanto, a utilização do ML para determinação do PA é consideravelmente mais complexa, pois é necessário um Medidor de Nível de Pressão Sonora com filtro de bandas e este equipamento possui um custo elevado e é indispensável para a utilização deste método e por fim, também exige um número maior de contas e procedimentos.
Perante um cenário onde se deseja verificar qual melhor escolha do protetor auditivo (PA) sem sombra de dúvidas a metodologia através do Nível de Redução de Ruído (NRR) é muito mais fácil e rápida que o Método Longo ML, pois este método considera o índice de NRR como base para o cálculo de atenuação. Como dito anteriormente, tanto o NRR como NRRsf são números "únicos" e simplificados. O NRR por sua vez, foi desenvolvido/obtido a partir de fórmulas baseadas em um ambiente de ruído padrão (ruído rosa).
Visando demonstrar a facilidade de aplicação do método NRR, o cálculo utiliza o ruído rosa com 100dB em cada banda de frequência e subtrai-se dois desvios padrão das atenuações médias do protetor para cada banda de frequência. Ainda após é aplicado um fator de segurança onde no final, subtrai-se novamente 3dB do valor final. A norma NIOSH desde 1982 passou a recomendar que os valores de NRR fossem reduzidos na proporção apresentada (GERGES, 2000):
- Protetor do Tipo concha – Reduzir em 25%;
- Protetor tipo plug com materiais expandidos - Reduzir em 50%;
- Demais protetores tipo plug – Reduzir em 70%.
Para se medir o NPS no ambiente, deve se utilizar escala de compensação "C" no Medidor de Pressão Sonora e este equipamento não precisa apresentar a leitura em bandas de frequência, ou seja, o equipamento também após a leitura devolve um único número.
É claramente visível a diferença entre os dois métodos de avaliação, apesar de o Método Longo (ML) ser amplamente mais indicado a sua utilização esbarra no alto custo de um medidor de NPS com filtros para bandas de frequência.
Segundo Francisco (2001), o ML é similar ao NRR com exceção de três parâmetros: O ML propõe a análise espectral do ruído do ambiente de trabalho, ao contrário do Ruído Rosa; O ML não considera uma redução de dB no final como fator de segurança; O Método Longo considera bandas de 1/1 oitava com frequências centrais também para as frequências de 4kHz e 8kHz, e no NRR são consideradas as médias aritméticas dos dados de 3,15 e 4kHz para 4kHz, e 6,3 e 8kHz para 8kHz.
3. Metodologia
A metodologia utilizada para a realização do estudo está voltada para intervir na realidade que é utilizada para proteção ao ruído. Tendo assim o estudo com fortes características práticas que o levam a ser caracterizado como pesquisa-ação (PRODANOV, FREITAS, 2013).
Este estudo se deve ao interesse coletivo na resolução de um cenário tema da pesquisa: Escolha de Protetores Auditivos, que apesar de se resguardar em norma vigente, com poder mais eficaz quando se conhece em maior intensidade os fenômenos físicos presentes.
Como elemento bibliográfico utilizou-se a NR-15, NHO-01 Norma de Higiene Ocupacional, Folhetos técnicos de PAs e outros volumes pertinentes. Como ferramenta de pesquisa, foi realizada uma breve entrevista/diálogo com usuários e operários que utilizam protetores auditivos em seus postos de trabalho para coleta das avaliações de critérios subjetivos que os levaram a preferir um modelo ao outro. Instrumentos de medição de nível de pressão sonora, dosímetro, calibradores e analisadores de espectro foram empregados também para se quantificar as grandezas físicas envolvidas no estudo.
Como critério de conhecimento, foi realizado pesquisas de diversos fabricantes de medidores de nível de pressão sonora com filtro de bandas de oitava, pois é no custo elevado deste equipamento que justifica a sua não utilização.
Em síntese a metodologia da aplicação da pesquisa as etapas: um posto de trabalho da indústria teve seu ruído avaliado através de um dosímetro, por consequência do uso do dosímetro, não foi possível utilizar o método longo (ML) para dimensionamento do PA. O Método simplificado foi utilizado, e um protetor auditivo foi dimensionado de modo a atender NR-15 em seu anexo 01. De posse do protetor dimensionado, alguns modelos de diferentes marcas com o mesmo valor de atenuação, conforme dimensionamento foram apresentados para os entrevistados e então, estes foram indagados a escolher um modelo e justificar de forma subjetiva, o porquê da escolha.
4. Aplicação e análise dos resultados
Conforme descrito de forma simplificada na metodologia, as etapas para verificação do Nível de Pressão Sonora no posto de trabalho, foram avaliadas com auxílio de um dosímetro de ruído, marca Instrutherm DOS-500. Este equipamento, não possui filtro de bandas de oitavas, o que não permite utilizar o Método Longo. Ao se optar pelo dimensionamento de PA com o método longo (ML) é necessário, se saber o nível de pressão sonora (NPS) em cada frequência específica, conforme visto anteriormente, no seguinte range:125Hz, 250Hz, 500Hz, 1kHz, 2kHz, 4kHz e 8kHz.
As informações de saída do dosímetro podem ser visualizadas na figura 01, onde fica claro, o valor de NPS a qual o trabalhador está exposto e a ausência de NPS para os valores de frequências que são descritas em manuais e folhetos técnicos de protetores auditivos. Através do uso do dosímetro, o responsável por dimensionar o PA, fica sujeito ao erro, uma vez que a leitura feita do ambiente/posto de trabalho é falha e com poucas informações se comparada com as informações que estão disponíveis do manual de PAs.
Figura 1:Informações de saída do Dosímetro utilizado na pesquisa.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2013.
Ao se consultar, qualquer CA de protetor auditivo, percebe-se que neste documento, há o valor de atenuação para cada frequência e um valor "final" de atenuação para o PA. A Tabela 1 demonstra um exemplo.
Tabela 1: Tabela de Atenuação de PA com CA nº: 14.235.
Fonte: Certificado de Aprovação, 2013.
Algumas marcas fabricantes de PA além de fornecerem os valores de atenuação nas freqüências descritas anteriormente, pode-se encontrar também valores para as freqüências de 3,15kHz e 6,3kHz. Obviamente, quando mais valores de atenuação o fabricante informar, mais preciso e com maior nível de segurança será a indicação do protetor auditivo recomendado.
O impasse está inserido no seguinte item: de que adianta, o Protetor Auditivo fornecer os valores de atenuação também em cada frequência isolada, se no final a escolha do protetor pelo responsável do dimensionamento levar em consideração o único número de NRRsf ou NRR. Neste ponto, está a lacuna em branco, onde diversos modelos apresentam o mesmo valor de atenuação do protetor, mas com diferentes valores de atenuação para cada frequência.
Logo, o dimensionamento correto não deve apenas ser em uma única variável sendo esta o NRRSF ou até mesmo o NRR. Embora para atender a NR-15 em seu Anexo Nº1, baste apenas após a inserção do PA se ter um NPS menor ou inferior aos 85dB (A).
Para facilitar a compreensão cenários da indústria foram avaliados com ajuda do analisador de espectro (equipamento capaz de fornecer valores de NPS em frequências pontuais (125Hz, 250Hz, 500Hz, 1kHz, 2kHz, 4kHz e 8kHz). Para facilitar a compreensão, será utilizado um setor isolado da empresa onde a frequência de 1kHz possuía magnitude relativamente discrepante das demais. Sendo assim, dentro dos modelos existentes no mercado será analisado em relação a exposição a apenas este valor de frequência. Para situações reais e em campo, devem-se analisar todos os níveis de ruído em todas as frequências.
As barras de nível apresentadas na Figura 2 foram desenvolvidas com base em leituras do Nível de Pressão Sonora e do analisador de espectro em ambiente fabril e podem ser consideradas como valores cabíveis e existentes. Cada ambiente ou cenário deve ter sua a medição do NPS com filtro de bandas de oitava, desta forma, é possível verificar a magnitude de cada frequência.
Figura 2: Exemplo de cenário com respectivos valores de Nível de Ruído
para cada valor de frequência fornecido por fabricantes de PA.
Fonte: elaborado pelos autores, 2013.
É comum em ambiente fabril ruído com componentes tonais (apitos, zumbidos ou chiados) em seu espectro de frequência e nestas situações é fundamental analisar em qual frequência há pico na magnitude do ruído e por consequência, optar por PAs que atenuem com maior eficiência esta frequência da componente tonal. Considera-se componente tonal quando em uma determinada frequência seu valor de magnitude é consideravelmente maior que as demais do espectro.
A Figura 3, apresenta uma componente tonal na frequência de 1kHz. Pode-se perceber que a amplitude é, neste exemplo consideravelmente maior que os restantes dos valores.
Figura 3: Exemplo de componente tonal em 1kHz, encontrado em apitos de fundo.
Fonte: elaborado pelos autores, 2014.
Entre as diversas opções de protetores auditivos PAs, deve-se buscar, o equipamento que melhor atenue dentro do espectro medido no ambiente de trabalho. Pode-se ocorrer, de o valor final de atenuação (NRRSF ou NRR) do PA ser o mesmo, mas com valores diferentes de atenuação em cada frequência. Utilizando o exemplo da existência de componente tonal em 1kHz, a escolha de um PA de mesmo valor de atenuação apenas por custo ou estética, pode-se deixar o usuário exposto ao ruído nesta frequência, embora o valor final de atenuação do protetor seja o mesmo pode haver uma exposição devido a falta de proteção onde (na frequência) o usuário fica recebendo maior valor de NPS.
Este fato pode ser visualizado na Figura 4 retirada de um catálogo de fabricante de EPI.
Figura 4: Dois modelos de protetores auditivos. Mesmo valor de NRRSF
e valores diferentes de atenuação para a frequência de 1kHz.
Fonte: adaptado pelos autores da edição e reprodução de manual de fabricante de PA.
A Figura 4 deixa claro, que a primeira opção é a mais indicada pois, em 1kHz o valor de atenuação é maior. Embora, ambas opções atendem ao solicitado pela norma em vigência. A questão de escolha subjetiva dos protetores auditivos entra nesta etapa. O responsável pelo dimensionamento do PA, que na maioria dos casos esbarra na falta de equipamento que faça leitura isolada do NPS em cada frequência, acaba escolhendo entre um destes modelos apresentados acima através de critérios subjetivos, como: estética, cor, acabamento e talvez custo.
As entrevistas com os usuários de PAs, técnicos de segurança do trabalho, compradores e colaboradores administrativos na empresa de realização da pesquisa, também seguiu a lógica acima. Os modelos de protetores auditivos com mesmo valor de NRRsf foram apresentados e se coletou as respostas/motivos de escolha.
Durante a entrevista dos funcionários, foram realizadas três perguntas diretas, além da identificação do mesmo. Tais perguntas estavam visando conhecer o entrevistado e sua opinião de decisão sobre o modelo de PA escolhido. As perguntas realizadas encontram-se no Quadro 2.
Quadro 2: Perguntas aos entrevistados.
QUESTIONÁRIO para ENTREVISTA: |
1) Em sua opinião, é importante a utilização de Protetores Auditivos dentro da indústria? |
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2) Qual destes 3 modelos que estou te apresentando você escolhe?
Ambos possuem o mesmo valor de atenuação. |
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3) Por favor, me diga os motivos que te levaram a escolher este PA? |
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Fonte: Elaborado pelos autores, 2013.
Após a aplicação da entrevista não houve surpresa em relação às respostas apresentadas pelos usuários submetidos ao questionário. A primeira pergunta visava introduzir o assunto ao entrevistado e mostrar ao pesquisador a opinião do mesmo sobre o uso do EPI e, portanto, estes dados não foram tabelados. Foram entrevistados um total de 85 (oitenta e cinco) colaborados, entre funcionários de fábrica (operadores de processo, supridores, operadores de empilhadeira, estoquistas, torneiros entre outros) e funcionários técnicos administrativos (engenharias de produto, processo e manufatura, compras, técnicos de segurança do trabalho, gerentes e diretores). O objetivo de entrevistar também técnicos administrativos se dá devido ao fato que muitas vezes a escolha de algum produto, ferramenta ou alteração dentro da fábrica, se dá justamente por estes setores que não estão ligados diretamente a Produção. As respostas encontradas foram agrupadas e apresentadas conforme Figura 5.
Figura 5: Tabulação dos resultados: respostas subjetivas em respostas por entrevistados.
Fonte: elaborado pelos autores, 2013.
Grande parte dos entrevistados, próximo de 90% (75 indicações), optou pelo equipamento da mesma cor do uniforme da empresa, sendo este um fator totalmente subjetivo. Estes resultados comprovam que sem a utilização de medidor de Nível de Pressão Sonora equipado com filtro de banda de oitava, acaba-se não utilizando as informações de atenuação em cada frequência de 125Hz a 8kHz, e então se baseando apenas no valor final de atenuação do PA. Embora, o não uso de equipamento com este recurso esteja dentro da normativa, uma vez que se permite utilizar dosímetro para tais medições.
Não há sombra de dúvidas que, a escolha final entre modelos de mesmo valor "médio" de atenuação se dá por critérios subjetivos de quem faz o dimensionamento do PA. Pode-se apontar que esta decisão final subjetiva, no primeiro momento, não é tomada propositalmente, pois sem o equipamento adequado, não há como utilizar todas as informações disponíveis do catálogo ou folheto técnico do protetor auditivo que se tem ideia de utilizar.
Grandes valores de atenuação também não são recomendados, pois é necessário que o usuário do PA consiga ouvir algum alarme de emergência, evacuação ou até mesmo o som de funcionamento de uma máquina. Conforme o periódico da InfoSeg de nº31, é apresentado um valor considerado ideal para se atingir com o uso do protetor auditivo. A imagem com valores ideais para o Nível de Ruído dentro do ouvido protegido é apresentada na Figura 6.
Figura 6: Valores de Intensidade em dB(A) desejáveis na ouvido do usuário protegido.
Fonte: INFOSEG, 2013.
Como aplicação, é evidente se conhecer as características do local e a melhor maneira para isto é através de um analisador de espectro. Apesar do custo elevado deste equipamento, a utilização se torna viável pelos dados que podem ser coletados com seu uso. A escolha do protetor Auditivo (PA) deve ser realizada com cautela e a procura deve ser minuciosa por modelos que venham a atenuar com maior intensidade as frequências onde se há maior magnitude de Nível de Ruído dB(A).
5. Conclusões
Ao longo deste estudo, ficou evidente que na ausência de ferramentas / equipamentos que possibilitem a obtenção de mais informações físicas do ruído do posto de trabalho, induzem ao erro ou aumenta consideravelmente a probabilidade de um dimensionamento de PA de forma equivocada. Ficou claro também, que o uso de medidores de NPS dotados de filtro de bandas é ferramenta essencial, e apesar de seu custo elevado, vale o investimento. Concluiu-se também que apensar de atender as normas vigentes sobre exposição ao ruído, entre um modelo e outro de PA, acaba-se utilizando a escolha subjetiva, neste caso, a cor do PA foi o critério de grande parte dos entrevistados.
Foi possível compreender melhor o ambiente ruidoso, identificando os principais fatores que contribuem para os danos auditivos. Esclareceu-se também que em um Protetor Auditivo (PA) a atenuação de ruído não deve ser o único critério para a justificativa de escolha entre outros protetores. A escolha de protetor adequado para o posto de trabalho deve considerar outros critérios que também possuem importância significativa, como: questões de higiene, possibilidade de comunicação do usuário, conforto e adequação ao ambiente de trabalho.
A decisão final do PA escolhido deve ser feita em conjunto com uma equipe de Segurança do Trabalho e quando possível através do próprio SESMT da empresa. Acrescentando, a escolha do protetor deve ser por algum modelo reconhecido e homologado por membros certificadores para que este produto possua um CA (Certificado de Aprovação) válido.
Independente do modelo adquirido, o usuário deve receber treinamento para utilização e conservação de seu equipamento de proteção, uma vez que, um PA avariado ou foras das especificações do fabricante certamente não estará cumprindo sua principal função: proteger o usuário exposto ao ruído.
Como sugestão para próximos estudos, é interessante salientar que a norma ao tratar do tempo de exposição não diferencia indivíduos com idades diferentes, sexo ou outros parâmetros. Sendo assim, o tempo de exposição de um adolescente deveria ser diferente ao de exposição a uma pessoa idosa.
O objetivo geral do estudo foi atendido com a pesquisa, sendo evidenciado que existe um risco de equívoco ao não se conhecer adequadamente o ambiente onde se pretende utilizar o PA. Embora, que a norma vigente não exija o equipamento dotado de filtro de bandas, seu uso é fundamental para uma escolha de proteção com maior eficácia.
Referências
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ALMEIDA, S. I. C. et al. (2000). História natural da perda auditiva ocupacional provocada por ruído. Revista da Associação Médica Brasileira, v.46, n. 2.
FERNANDES, J. C. (1993). Conforto Acústico e Comportamento. In: Encontro anual de Etologia. Bauru, 1993. Anais... Bauru: UNESP.
FERNANDES, J. C. (2002). Influência dos Protetores na Inteligibilidade da Voz. < http://www.saudeetrabalho.com.br > Acesso em: 25 maio de 2014
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