Espacios. Vol. 35 (Nº 10) Año 2014. Pág. 11 |
Estudo de casos em acreditação hospitalar no Brasil: Benefícios e dificuldadesCase studies on hospital accreditation in Brazil: Benefits and difficultiesThayse Boucinha de Sousa MIRANDOLA 1, Glauco Henrique de Sousa MENDES 2 Recibido: 14/06/14 • Aprobado: 17/07/14 |
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1. IntroduçãoPor estarem relacionados à sobrevivência e ao bem-estar das pessoas, os serviços de sáude, em especial, os serviços hospitalares deveriam apresentar um bom nível de qualidade. Entretanto, muitos desses serviços no Brasil ainda deixam a desejar em termos de qualidade e produtividade, o que torna a melhoria dos serviços de serviço hospitalares, sobretudo no setor público, um desafio (Rodrigues et. al, 2013; Andrade e Santos, 2012). Entre as ações visando a melhoria de qualidade dos serviços hospitalares está a implantação de Programas de Acreditação Muitos países adoram o programa de acreditação hospitalar como uma estratégia de melhoria da qualidade, sendo os Estados Unidos, um dos pioneiros na implantação de métodos de avaliação da qualidade dos serviços médico-hospitalares (Feldman et. al., 2005). No Brasil, as primeiras iniciativas brasileiras de avaliação da qualidade dos serviços de saúde foram implantadas na década de setenta. Entretanto, foi só com a criação do Programa Brasileiro de Acreditação Hospitalar, na década de noventa, que a Acreditação ganhou maior projeção no país (Shiesari; Kisil, 2003). O sistema brasileiro de Acreditação, operacionalizado pela Organização Nacional de Acreditação (ONA) busca promover a implantação de um processo permanente de avaliação e de certificação da qualidade dos serviços de saúde, buscando garantir a qualidade na assistência à saúde, bem como o cuidado humanizado. No Brasil, estima-se que apenas 5% dos hospitais possuem certificado de acreditação (ONA, 2013). É um número tímido em relação ao total de hospitais do país, mas há um processo lento e contínuo de adesão. Diversos autores apontam os benefícios advindo com a acreditação (Ovretveit; Gustafson, 2002; Greenfield; Braithwaite, 2008; Pomey et al, 2010). Entre eles, estão a melhoria da gestão hospitalar e melhoria da qualidade da assistência prestada ao usuário. Também, a acreditação pode ser um diferencial de mercado ao garantir reconhecimento social à instituição (Feldman et. al, 2005). Entretanto, esses mesmos autores apontam para a necessidade de mais pesquisas a fim de se determinar os reais benefícios da acreditação hospitalar. O artigo analisa o processo de acreditação em dois hospitais brasileiros, descrevendo os benefícios e as dificuldades enfrentadas durante a implantação da acreditação. Para os hospitais brasileiros, esta pesquisa se mostra relevante por buscar conhecer as práticas de gestão da qualidade nos hospitais estudados e identificar os principais problemas existentes na implantação da acreditação. Como estratégia de pesquisa optou-se pela abordagem qualitativa e exploratória. A abordagem de casos múltiplos é adequada, já que permite observar e analisar um determinado fenômeno. Para Eisenhardt (1989), o método de casos múltiplos tem sido amplamente utilizado na área de gestão como forma de análise de dados qualitativos e para construção de novas teorias. 2. Revisão Teórica2.1. Acreditação HospitalarA acreditação hospitalar teve origem nos Estados Unidos a partir do Programa de Padronização Hospitalar (PHH) em 1924, que estabelecia padrões de qualidade da assistência aos pacientes. Em 1950, o número de hospitais aprovados pelo Programa já chegava a mais de três mil hospitais (Feldman et al, 2005). Um ano depois (1951), foi criada a Comissão Conjunta de Acreditação dos Hospitais (CCAH). A CCAH delegou o programa americano de acreditação à Joint Commission on Accreditation of Hospitals (JCHAO). Na década de 60, como a maior parte dos hospitais americanos já havia atingido os padrões mínimos preconizados inicialmente, a Joint Commission modificou o grau de exigência. Com isso, em 1970, publicou o Accreditation Manual for Hospital contendo padrões ótimos de qualidade, considerando também processos e resultados da assistência (Feldman et al, 2005). A partir dos anos 80, os programas de acreditação foram adotados por outros países. Inicialmente, nos países de língua inglesa (Canadá e Austrália) e depois na Europa. Na década de noventa, para países da América Latina e Ásia. No Brasil, a acreditação hospitalar teve no início no fim dos anos 80, sob a influência da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que estabeleceu uma série de padrões de qualidade para os hospitais da América Latina. Se tais padrões fossem atendidos, dariam ao hospital a condição de "Acreditado". O objetivo foi criar mecanismos de melhoria dos serviços hospitalares e ter parâmetros para promover esse aperfeiçoamento (ANVISA, 2004). Em 1997, o Ministério da Saúde criou uma comissão de especialistas para desenvolver a Acreditação no país. Neste período, foi publicada a primeira edição do Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar, que estabelecia padrões de qualidade e segurança. Em maio de 1999, surgiu a Organização Nacional de Acreditação (ONA), uma entidade não governamental e sem fins lucrativos com a atribuição de coordenar o sistema de acreditação. As primeiras ações da ONA foram: criação de normas técnicas, credenciamento de instituições acreditadoras, formulação de um código de ética e desevnvolvimento de programas de qualificação e capacitação de avaliadores (Shiesari; Kisil, 2003). Para Manzo (2009) a acreditação é uma estratégia para a melhoria da qualidade dos serviços hospitalares. A Acreditação consiste num processo de avaliação voluntário, periódico e reservado, que tende a garantir a qualidade da assistência por meio de padrões previamente aceitos. O fato de uma empresa de saúde ter seu sistema de gestão da qualidade acreditado passa confiança aos clientes internos e externos, bem como a socieade (ONA, 2013). 2.2. Acreditação Hospitalar no BrasilA ONA tem o objetivo de promover a implantação da avaliação e certificação da qualidade dos serviços de saúde em todas as organizações prestadoras de serviços de saúde, que voluntariamente optam por aderir à acreditação. Além dos hospitais, outras organizações prestadoras de serviços de saúde podem obter a acreditação da ONA (ONA, 2012). O processo de avaliação e certificação dos hospitais é realizado pelas instituições acreditadoras. Uma instituição acreditadora é uma organização de direito privado, com ou sem fins econômicos, credenciada pela Organização Nacional de Acreditação, com a responsabilidade de proceder à avaliação e certificação da qualidade dos serviços, dentro do processo de acreditação, em nível nacional (ONA, 2012). Para fins de Acreditação, as organizações de saúde são definidas como organizações jurídicas e legalmente constituídas, podendo ser: hospitais, laboratórios, unidades de atenção domiciliar, nefrologia e terapia renal substitutiva, hemoterapia, ambulatório e/ou pronto atendimento, diagnóstico por imagem, radioterapia e medicina nuclear, serviços de manipulação, processamento de roupas para serviços de saúde, programas da saúde e prevenção de riscos, serviços de dietoperapia, serviços de esterilização e reprocessamento de materiais. Os padrões de qualidade estabelecidos no Manual de Acreditação Hospitalar são dispostos em graus crescentes de complexidade. Na avaliação, compara-se o que é observado nas organizações avaliadas com o padrão considerado como referência, presente no manual. Se existir conformidade entre as práticas do hospital e os padrões estabelecidos no Manual, então, o hospital recebe o título de acreditado. Segundo os padrões definidos pela ONA (2012), uma organização hospitalar pode ser certificada em três níveis de complexidade:
2.3. Benefícios da acreditação.Os benefícios da acreditação têm sido investigados a partir de diferentes enfoques e abordagens de pesquisa. Os reais impactos da acreditação não são um consenso e demandam mais pesquisas nesta área (Ovretveit; Gustafson, 2002; Greenfield; Braithwaite, 2008; Pomey et al, 2010). Greenfield e Braithwaite (2008) realizaram uma revisão sistemática da bibliografia a fim de estudar os potenciais benefícios da acreditação, cujos resultados são sistematizados no Quadro 1.
Quadro 1 : Impactos do processo de acreditação Após análise dos resultados, Greenfield e Braithwaite (2008) identificaram que em apenas dois fatores existe consenso sobre os benefícios da acreditação: criação de um ambiente favorável à realização de mudanças organizacionais e contribuição para o desenvolvimento dos profissionais de saúde. Outros potenciais benefícios, segundo os autores, não podem ser generalizados. Porto e Rego (2005) destacam a valorização dos aspectos humanos da acreditação ao oportunizar melhorias das relações humanas e trazer maior envolvimento das pessoas. A ONA também faz referencia a outros benefícios, tais como: construção de equipe e melhoria contínua; útil instrumento de gerenciamento; critérios e objetivos concretos adaptados à realidade brasileira; caminho para a melhoria contínua (ONA, 2012).
3. Método de PesquisaO presente trabalho pretende trazer uma contribuição empírica. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva. A questão de pesquisa está associada a avaliar os benefícios e as dificuldades advindos com o processo de implantação da acreditação hospitalar. Para tanto, foram realizados dois estudos de casos com base no trabalho de Yin (2001). Esta técnica de pesquisa justifica-se pois o contexto é relevante e se busca relatar e analisar os resultados (benefícios e dificuldades) da implantação da acreditação em dois hospitais. A primeira etapa da pesquisa constituiu no levantamento de estudos no tema do artigo a fim de subsidiar a elaboração da revisão bibliográfica e o planejamento dos casos. Após sua conclusão, foi feito o roteiro de pesquisa a ser aplicado nos hospitais selecionados, o qual era composto por cinco seções de perguntas abertas, sendo elas: Caracterização do Hospital, Planejamento e Controle da Qualidade, Busca pela Acreditação Hospitalar, Mudanças para a Acreditação, Benefícios gerados pela Acreditação. Em seguida, iniciou-se a busca por hospitais dispostos a colaborar com a pesquisa. As entrevistas foram realizadas com os responsáveis pela implantação da Acreditação nos hospitais pesquisados. Outras fontes de evidências fornecidas pelos entrevistados também serviram de referência para a elaboração dos casos deste artigo. Com todos os dados coletados e outras informações adquiridas por meio de sites e estudos, fez-se a redação dos casos e posterior análise crítica. Os dados são de natureza qualitativa, o que também conduz para a estratégia do estudo de caso, devido ao caráter usual da natureza dos dados nesse tipo de abordagem. A análise dos dados seguiu o método indutivo, no qual, a partir de constatações particulares, busca-se chegar a conclusões genéricas. Para maior confiabilidade da pesquisa, foi usada a técnica da triangulação dos dados por meio da utilização de várias fontes de evidências, quando possível. Os hospitais participantes terão seus nomes omitidos neste artigo. Ambos estão localizados no Estado de São Paulo (Brasil) e possuem o certificado da ONA. Algumas caracterítisticas dos hospitais estão no Quadro 2. O primeiro estudo de caso (Hospital A) foi realizado num hospital especializado em oftalmologia, que possui certificado de Acreditado Pleno (nível 2). A pessoa entrevistada foi a Gerente de Administração e Qualidade do hospital. Já o segundo estudo de caso foi realizado no Hospital B, sendo este um hospital geral, com inúmeros serviços prestados e que possui o certificado de Acreditado Pleno (nível 2). A pessoa entrevistada foi o Gerente de Qualidade. Nos dois casos, os respondentes assumiram um papel importante no processo de implatanção da acreditação, o que os qualifica na descrição e análise desse fenômeno. O quadro 2 apresentam características dos hospitais participantes.
Quadro 2: Caracterização dos hospitais participantes A descrição dos casos seguiu as fontes de evidência adotadas e a consideração dos tipos de validade anteriormente apontados. Ao se decidir pela estratégia de múltiplos casos, deve-se ter clara a limitação quanto à impossibilidade de que seus resultados sejam generalizados. Contudo, essas limitações não comprometem as contribuições desta pesquisa. 4. Resultados4.1 Hospital AO Hospital A é um hospital de pequeno porte especializado na área de oftalmologia. Foi fundado em 1991 e passou por ampliações estruturais a partir de 2001. Originalmente era uma clínica oftalmológica, mas identificou a necessidade de não depender de outros hospitais para realização de intervenções cirúrgicas. Além de atender seu próprio corpo médico, presta também serviços a outros oftalmologistas que não possuem as instalações, estrutura e equipamentos adequados em seus consultórios médicos. Pode ser considerado um hospital de alta complexidade em oftalmologia e oferece serviços de clinica, cirurgia, adaptação de lentes de contato e distribuição de medicamentos de Glaucoma. A relação do hospital com a gestão da qualidade não começa com a acreditação. Já em 2003, o Hospital A foi o primeiro hospital oftalmológico do Estado de São Paulo a conquistar a certificação de qualidade ISO 9001, a qual é mantida até os dias autais. Com a publicação da nova norma em 2008, houve uma nova certificação. A norma ISO 9001:2008 é uma norma internacional que estabelece requisitos para a estruturação de um sistema de gestão da qualidade. Isto trouxe benefícios na organização dos processos e no maior foco ao cliente. Apesar da certificação ISO 9001:2008, os gestores do hospital começaram a pensar em alternativas para aprimorar a gestão da qualidade que, para eles, supriria as lacunas que o sistema ISO deixava. Foi então que, em abril de 2011, o Hospital A tornou-se o primeiro hospital da região a obter a Acreditação (nível 1) da ONA. Conforme apontado pelo respondente, a Acreditação da ONA estabele padrões de qualidade mais adequados à realidade das organizações de saúde, enquanto a ISO traz requisitos gerais que podem ser implantados em qualquer tipo de organização. Um ponto importante de diferenciação que motivou a implantação da acreditação foi que ela enfatizava procedimentos relativos à gestão de risco e segurança aos pacientes. No ano de 2013, houve a conquista da Acreditação Plena (nível II). Os principais processos para a conquista do Nível 2 foram: gerenciar os riscos, monitorar indicadores e integrar os processos da orgnaização, incluindo médicos, funcionários, fornecedores e serviços terceirizados. A responsável pela gestão da qualidade afirma: "Para o hospital, a acreditação representa uma distinção recebida pela qualificação evidenciada e, ao mesmo tempo, sinaliza aos clientes e à comunidade que o Hospital A alcançou um padrão de qualidade nacionalmente reconhecido". Em relação ao Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar, a responsável pela gestão da qualidade afirma que todos os itens, referentes ao nível 1 e 2, que envolviam a oftalmologia foram cumpridos. Se num primeiro momento houve a ênfase na estrutura (acreditado), a segunda acreditação focou na melhoria da gestão por meio de um melhor gerenciamento dos processos clínicos e administrativos. A coordenação dos trabalhos para implantação da acreditação coube à Gerencia de Administração e Qualidade, que também foi responsável pela certificação ISO 9001:2008. Para a respondente, como o Hospital A já possuía uma cultura interna e experiência na adoção de modelos da qualidade, a implantação da qualidade foi um processo sem muitas dificuldades. Para a acreditação, o Hospital A não precisou passar por nenhuma mudança mais significativa em suas instalações físicas ou recursos técnicos, dado que o prédio e os equipamentos eram novos e voltados para os procedimentos da área de Oftalmologia. Isto foi um ponto importante, sobretudo, na obtenção da acreditação nível 1. As principais mudanças foram de caráter organizacional, pois foi necessário repensar o organograma para que houvesse uma responsabilidade maior dos médicos dentro das áreas de risco, para que eles pudessem ver o quão necessário era o sistema de gestão da qualidade e que sem o comprometimento deles não seria possível a implantação do programa de acreditação. Além disso, várias comissões responsáveis por área foram criadas como, por exemplo, as comissões de Qualidade, de Óbito, de Transplante de Córnea e também a Comissão de Perfurocortante. Quanto aos benefícios da acreditação, a responsável pela qualidade afirmou que ela trouxe benefícios não só para o hospital, mas também para funcionários e pacientes, o que é ainda mais importante em sua visão. Portanto, houve benefícios para todos os segmentos envolvidos. No caso dos funcionários, a acreditação propiciou o desenvolvimento dos profissionais envolvidos já que foram dados treinamentos para elevar sua capacitação. Desta maneira, eles foram mais valorizados em termos de conhecimento e isto estimulou uma mudança no plano de cargos e salários do Hospital A. Para os pacientes, a acreditação enfatizou questões de seguranças nos procedimentos realizados. A segurança ao paciente aumentou. Conforme aponta a respondente, "tudo está dentro dos padrões das normas reguladoras 1 a 33 da Anvisa, enfim, os mais beneficiados: os pacientes. Agora o serviço prestado pelo hospital é de melhor qualidade e oferecido com maior segurança.". O hospital relatou que a acreditação resultou em melhorias nos indicadores de qualidade relativos à satisfação dos pacientes. Outro benefício refere-se ao gerenciamento. A melhora do hospital foi de grande valor, pois segundo a respondente houvea preservação da historia da empresa pelo fato de tudo estar devidamente controlado e guardado. Em virtude da certificação da ISO 9001:2008, muito dos processos já estavam mapeados e documentados. Porém, outros processos também passaram pelo mapeamento e formalização com a acreditação. Há também indicadores, metas e objetivos definidos, além da maior preocupação com o nome da marca do Hospital A. Em suma, os benefícios apontados com a implantação da acreditação no Hospital A podem ser resumidos em:
Em relação às dificuldades na implantação da acreditação, o hospital citou duas principais: dificuldade em conquistar o comprometimento do médico e encontrar tempo treinar e dissiminar as novas práticas para todos os setores do hospital. Quando perguntado se a burocracia exigida estava entre as dificuldades enfrentadas, a respondente afirmou que a formalização dos processos não foi uma grande dificuldade, já que havia uma experiência acumulada com a implantação primeira ISO 9001. Também apontou que os beneficios do gerenciamento de processos superavam eventuais dificuldades neste ponto. 4.2. Hospital BO Hospital B é um hospital geral criado em 1999 e pertence a uma cooperativa médica. O Hospital B oferece inúmeros serviços, tais como: Quimioterapia; Laboratório; Diagnostico; Hemoterapia; Unidade de Tratamento Intensivo (UTI); Maternidade. O hospital é de grande porte, oferecendo 202 leitos gerais, 29 leitos de UTI (16 UTI Adulto, nove UTIs Neonatais e quatro UTIs Pediátricas). O Hospital B busca ser referência em sua região. Este fator levou os diretores do hospital em buscar a acreditação hospitalar. O mercado mais competitivo, já que a cidade no qual está instalado é um importante centro médico regional, também serviu de fator motivado para a melhoria da gestão. Segundo o respondente, o certificado seria um diferencial competitivo, o que atrairia uma maior parcela da população, principalmente dos conveniados. Este foi o principal motivo para que se iniciasse a implantação do sistema de acreditação. Em relação às seções do Manual Brasileiro de Acreditação, o entrevistado afirma que todas elas, referentes aos níveis I e II, foram devidamente atendidas. Em 2010, o Hospital B conquistou a Acreditação Plena da ONA (nível 2). Ainda segundo o respondente, a acreditação representou um grande avanço na melhoria dos serviços prestados, especialmente por transmitir maior confiança e credibilidade aos seus clientes. Outro fator que influenciou a decisão pela acreditação foi o desejo de padronizar os processos do hospital e, conseqüentemente, conseguir reduzir seus custos. Para a implantação da acreditação, o Hospital B precisou passar por mudanças em suas instalações, como por exemplo, em seu almoxarifado e na área da farmácia. Nesta houve a necessidade de separação dos materiais esterilizados dos não esterilizados, implantação do sistema de controle de temperatura ambiente e outras modificações. Por fim, o hospital Hospital B adotou ações para classificação do risco no atendimento de urgência e criação de normas para notificação de eventos. Em relação aos procedimentos, muitos deles passaram a ser informatizados. Para o respondente "com relação à rotina, o que mais mudou, na gestão, foi o fato de que antes era praticamente tudo manual, enquanto hoje é tudo pelo sistema. O papel foi praticamente extinto". Aacreditação reforçou a necessidade de garantir a qualidade nos processos operacionais. Foram desenvolvidas ações para implantação de protocolos multidisciplinares e procedimentos interligados entre diversos setores do hospital. A implantação da qualidade ficou sob a responsabilidade do setor de Qualidade. Entre as principais responsabilidades do setor estão: controle de documentos, avaliação interna e notificações de eventos (a não conformidade é observada e notificada pelo sistema para posterior análise critica e realização de um plano de ação). O hospital faz gestão por meio de indicadores, cujos registros são mantidos por meio do sistema SoftExpert. Mensalmente, todos os indicadores são avaliados. Os padrões de referência utilizados para efeito de benchmarkin são o Programa de Estudos Avançados em Administração Hospitalar (PROAHSA) e dados de outros hospitais da rede. O hospital realiza reuniões mensais, nas quais são apresentados os resultados e o desempenho do hospital para a gerência e diretoria a fim de que todos tenham conhecimento da situação geral da instituição. Em função dos resultados, planos de ação são elaboarados para corrigir eventuais distorções. Quanto aos benefícios da acreditação, o gerente da qualidade afirmou que houve muitas melhorias. Primeiro a acreditação mudou positivamente a postura dos funcionários. Com a mudança de cultura, houve maior comprometimento das pessoas com a qualidade de asssistência ao paciente. Porém, este não foi uma mudança tranquila como será relatado a seguir. Outro benefício foi em relação à melhoria dos processos, pois houve a implantação de "rotinas" padronizadas que focavam a segurança do paciente e o controle dos riscos, o que anteriormente não acontecia. Além disso, o corpo funcional está muito mais capacitado para cumprir esses padrões. A grande dificuldade durante o processo de acreditação foi alcançar o envolvimento das pessoas. Para o gerente da qualidade, foi difícil conseguir o comprometimento de todos, uma vez que mudar a maneira de pensar e agir das pessoas em um curto espaço de tempo não foi uma tarefa fácil. O maior foco de resistência veio do corpo médico que tinha difuldades em cumprir os novos procedimentos adotados. Entretanto, com o tempo as pessoas foram se conscientizando e entendendo que a acreditação foi uma estratégia de melhoria das condições gerais do hospital. Ainda segundo o respondente, outro desafio é manter tudo funcionando da mesma maneira de quando se obteve a acreditação. 5. Discussão e considerações finaisOs hospitais A e B possuem características distintas em termos de especialidades e porte. Isso faz com que cada um reflita de uma maneira diferente a respeito dos benefícios e dificuldades da acreditação. Apesar das suas diferenças, foi possível buscar implicações que sustentam os impactos positivos e negativos da acreditação. Assim, esta seção tem por objetivo realizar uma breve discussão dos resultados, buscando confrontar a prática (trazida por meio dos estudos de casos) com a teoria exposta na revisão bibliográfica. Uma primeira implicação refere-se à importância da participação dos profissionais de saúde no processo de Acreditação hospital. Nos dois casos houve resistências iniciais ao sistema no início do processo, sobretudo do corpo médico. Entretanto, com o passar do tempo, essas resistências foram sendo minimizadas e os gestores apontaram par um nível adequado de comprometimento.. Portanto há evidências de que os processos de acreditação geraram mudanças organizacionais, sobretudo nas atitudes frente à acreditação. A implantação da acreditação não foi considerada um grande desafio pelos hospitais estudados. Neste sentido, o comprometimento da alta administração foi imprescindível, cabendo a ela dar o exemplo a ser seguido pelos subordinados, dominar a metodologia proposta e utilizá-las em suas atividades. (Macinati; 2008). Tanto no Hospital A como no Hospital B, a acreditação foi implantada como estratégia de melhoria da qualidade e melhoria de imagem dos hospitais.. Os hospitais também citaram como benefício a maior capacitação dos funcionários, advinda dos treinamentos a que os profissionais de saúde foram submetidos em virtude da acreditação. Este ponto ficou evidente no Hospital A. Deste modo, há evidências de que os processos de acreditação tiveram impactos positivos no desenvolvimento profissional do corpo funcional. Além de ser um beneficio para o próprio funcionário, o próprio hospital se beneficia. Outra implicação diz respeito aos benefícios em relação à melhoria da qualidade prestada aos usuários e maior preocupação quanto às práticas de gerenciamento de riscos e de segurança para pacientes e demais profissionais de saúde. Assim, os resultados reforçam a idéia de que a acreditação é tida, atualmente, como um diferencial de mercado na medida em que garante reconhecimento social à instituição certificada. Os estudos de casos mostraram que a acreditação hospitalar tem capacidade de gerar melhorias organizacionais quanto à gestão de processos, ao aumento da satisfação dos clientes com os serviços hospitalares, ao desenvolvimento dos profissionais de saúde e contribui para a melhoria de imagem pública dos hospitais acreditados. Entretanto, não foram encontradas evidências que ela é capaz de gerar benefícios financeiros aos hospitais pesquisados. Entre as principais dificuldades, destaca-se a falta de comprometimento de determinados segmentos funcionais. A principal limitação do estudo refere-se à limitação em generalizar os resultados encontrados, já que apenas duas organizações hospitalares foram estudadas. As propostas para trabalhos futuros consistem da exploração mais aprofundada dos impactos da acreditação em um número maior de hospitais. ReferênciasAGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Acreditação: a busca pela qualidade nos serviços de saúde. Revista Saúde Pública. V.38, n.2, p.335-336. 2004. Andrade, D.M.; Santos, A.C. (2012). Profissionalização da organização hospitalar: transformações vivenciadas em um hospital com a adoção de práticas administrativas. Espacios. v. 33, n.11, p.12. Burmester, H.; Pereira, J.C.; Scarpi, M.J. (2007) Modelo de Gestão para organizações de Saúde. Revista de Administração em Saúde, Porto Alegre, v.9, n.37, p.125-132. Feldman, L.B.; Gatto, M.A.F.; Cunha, I.C.K.O. (2005) História da evolução da qualidade hospitalar:dos padrões à acreditação. 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1. Email: thaysemirandola@hotmail.com. Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos (SP), Brasil
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