Espacios. Vol. 35 (Nº 2) Año 2014. Pág. 10 |
O pensamento enxuto aplicado ao processo de transferência de conhecimento entre organizações: associação entre desperdícios e barreiras ao fluxo de conhecimento em uma cadeia produtivaLean thinking applied to the process of knowledge transfer among organizations: Association between waste and barriers to the flow of knowledge in a supply chainDiego Jacob KURTZ 1. Fernando Antônio FORCELLINI 2, Gregório VARVAKIS 3 Recibido: 19/11/13 • Aprobado :03/01/14 |
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1. IntroduçãoEm um contexto de rede, o sucesso de cada processo está intimamente relacionado às interações sinérgicas dos agentes inseridos, sendo que as organizações buscam selecionar recursos complementares que objetivam a transferência de conhecimento entre as organizações na rede. A rede é utilizada como o canal para essa transferência de conhecimento e relacionamento de capacidades (Pereira e Pedroso, 2003). A falta de processos bem definidos referentes à troca de informações constituem-se de barreiras ao fluxo de conhecimento dentro e entre organizações. Algumas das principais barreiras ao fluxo de conhecimento impostas pelas organizações consistem no bloqueio ou ineficácia do canal de comunicação entre o provedor e recebedor de conhecimento (KPMG, 1998; Shin, Holden, Schmidt, 2001; Guo e Wang, 2008). Se o fluxo encontra-se congestionado ou mesmo inacessível, não poderá contribuir para a tomada de decisão e execução de ações que demandem a utilização de conhecimento (Schutte & Snyman, 2006; Guo & Wang, 2008). Uma forma de maximizar a utilização dos mecanismos de coordenação em uma rede e as interações entre os agentes nela inseridos está na aplicação do pensamento enxuto, ou pensamento enxuto. De acordo com Womack & Jones (1998), o pensamento enxuto consiste em uma forma de especificar valor, alinhar na melhor sequência as ações que criam valor, realizando estas atividades sem interrupção realizando-as de forma cada vez mais eficaz. Consiste em fazer mais com menos, ao mesmo tempo em que se aproxima cada vez mais de oferecer aos clientes exatamente o que eles desejam. Visando suprir os gaps relacionados às barreiras e entraves aos fluxos entre organizações inseridas em uma rede ou em cadeias produtivas, o presente artigo buscará nas teorias que embasam o pensamento enxuto e a gestão do conhecimento contribuições que possibilitem incrementar as interações no âmbito intra e interorganizacional. Conforme abordado no trabalho de Greef & Freitas (2012), que atenta para a inexistência da correspondência explícita entre a mentalidade enxuta e a Gestão da Informação, o presente trabalho vai além e assume ainda que é perceptível a carência de estudos que abordem a associação os termos referente à temática de fluxos de conhecimentos entre organizações em uma cadeia de valor. Os princípios e a utilização do pensamento enxuto irão conduzir e suportar a investigação realizada a respeito dos fluxos de conhecimento entre organizações. Neste sentido, o objetivo do presente trabalho consiste em associar e discutir as diferentes, porém complementares correntes teóricas do pensamento enxuto e de compartilhamento de conhecimento. A partir da análise dos resultados obtidos por meio da relação e integração entre estas duas abordagens, será possível identificar por meio de estudos futuros, propostas de melhorias com base na associação da visão dos desperdícios do pensamento enxuto e barreiras ao fluxo de conhecimento. O estudo busca contribuir para a construção de modelos voltados a processos de transferência de conhecimento entre organizações em redes, ou dentro de uma cadeia de valor. 2 Pensamento EnxutoDe acordo com Womack & Jones (1998), o pensamento enxuto é construído por cinco passos principais. O ponto de partida para a Mentalidade Enxuta consiste em definir o que é Valor. A segunda etapa consiste na definição da cadeia de valor, onde os processos são definidos como aqueles que efetivamente geram valor, aqueles que não geram valor mas são importantes para a manutenção da qualidade e, por fim, aqueles que não agregam valor e devem ser evitados ou reformulados. A terceira etapa consiste na fluidez dos processos. Conforme abordado pelo Lean Institute Brasil (2002) o efeito da criação de um Fluxo de Valor pode ser sentido na redução dos tempos de concepção de produtos, de processamento de pedidos e em estoques. Para efeitos deste trabalho, por se tratar de um fluxo de intangíveis, estoques serão abordados como informações ou conhecimentos estagnados, ou até subutilizados devido à problemas de fluidez dos processos. Ter a capacidade de desenvolver, produzir e distribuir rapidamente dá ao produto uma "atualidade", aumentando a capacidade da organização em atender a necessidade dos clientes. O quarto passo consiste na produção puxada, ou seja, a produção ocorre apenas diante de uma necessidade explicitada. Puxar a produção resulta em redução de custos, esforços, tempos e espaços. A última etapa do processo consiste na perfeição. O princípio que envolve este processo baseia-se na evolução e melhorias constantes, de modo que todos os stakeholders tenham conhecimento do processo como um todo, podendo dialogar e buscar continuamente melhores formas de criar Valor. A seguir serão abordadas as categorias de desperdícios existentes, que auxiliam na identificação de falhas nos processos e auxiliam na prescrição de alternativas à solução de problemas. 2.1 Desperdícios da abordagem do Pensamento EnxutoLacunas que permeiam os processos e prejudicam o desempenho da organização apenas serão identificadas a partir do momento em que os desperdícios estiverem explícitos. Para efeito deste trabalho, considerar-se-á a mesma abordagem utilizada por Locher (2008), que aborda oito categorias principais de desperdícios, de acordo com o Quadro 1. Quadro 1. Desperdícios da abordagem Pensamento Enxuto.
Fonte: Adaptado de Locher (2008); Asif et al. (2010). Os oito desperdícios apresentados consistem em entraves ao desempenho organizacional. A seguir, serão apresentados os conceitos referentes ao fluxo de conhecimento e suas respectivas barreiras nas organizações. 3. Fluxo De ConhecimentoFluxo de conhecimento é definido como o processo de “movimentação” do conhecimento a partir de uma fonte para um receptor e sua subseqüente absorção e utilização, com a finalidade de melhorar a capacidade da organização em executar as atividades (Zhuge, 2002). Para Yoo, Suh e Kim (2007), o fluxo de conhecimento é inerente à funcionalidade e aparência dos processos de negócios correspondentes, podendo-se identificar problemas dentro dos processos de negócios por meio da análise do fluxo de conhecimento relacionado. A clara identificação e a otimização do fluxo de conhecimento pode garantir a efetiva utilização do conhecimento na organização, reforçando assim a dinâmica entre o conhecimento e os processos de negócios. De acordo com os autores, o redesenho dos processos com base no fluxo de conhecimento reduz os custos e o tempo de realização das tarefas / atividades, mantendo o padrão de qualidade, tornando os processos de negócios mais flexíveis. Para que os processos sejam otimizados, o fluxo de conhecimento decorrente deve estar paralelamente sequenciado. A identificação e mapeamento do fluxo existente são estrategicamente importantes para as organizações por três principais aspectos: (1) o fluxo do conhecimento transmite o know-how gerado em uma sub unidade para outros locais dentro da organização; (2) fluxos de conhecimento facilitam a coordenação dos fluxos de trabalho que ligam várias sub unidades dispersas geograficamente; (3) os fluxos de conhecimento permitem que as organizações capitalizem oportunidades de negócios que exigem a colaboração de várias sub unidades (Yoo; Suh; Kim, 2007). É indiscutível a relevância de se compreender a dinâmica dos fluxos de conhecimento dentro das organizações. Do mesmo modo, acredita-se que esta compreensão pode ser ampliada ao nível interorganizacional (relações entre organizações) e de cadeia produtiva como um todo, uma vez que os fluxos de conhecimento podem ajudar na coordenação dos fluxos de trabalho entre organizações (próximas e/ou geograficamente dispersas) e na maneira como essas organizações colaboram entre si, identificando quais conhecimentos são relevantes em situações específicas e quem (qual organização) possui estes conhecimentos. 3.1 Barreiras ao fluxo de conhecimentoA transferência de melhores práticas internamente é crítica às organizações e crucial frente ao desenvolvimento relacionado à capacidade competitiva. Assim como existem empresas que possuem dificuldades em reproduzir melhores práticas oriundas de outras organizações, existem situações que impedem ou dificultam a reprodução de práticas e/ou transferência de conhecimento dentro das organizações (Szulanski, 1996). Arrow (1969) e Teece (1977) já apontavam para barreiras relacionadas à transferência como reflexo do custo deste processo. Szulanski (1996) atenta ainda para outros trabalhos – Hippel (1994) - que abordam a noção de sticky information para descrever informações que são difíceis de transferir, também sendo oriundas do incremento do custo para a realização desta transferência. Inferir que apenas o custo consiste em uma barreira às transferências pode ser um tanto limitado, outras variáveis qualitativas também estão envolvidas e também atuam diretamente nos fluxos. Szulanski (1996) salienta ainda que, via de regra, informações que não fazem parte da rotina da organização (novos conhecimentos e/ou informações), tendem a ser transmitidas de forma mais difícil que as trocas já estabelecidas e institucionalizadas. Ambiguidade e baixa confiabilidade referente aos conhecimentos transmitidos se constituem de barreiras às trocas. Os entraves ao fluxo de conhecimento ocorrem em níveis distintos (emissor, receptor, contexto onde o fluxo ocorre) (Quadro 2). A nível de emissor, as principais barreiras às transferência de conhecimentos são a baixa motivação de transmitir aliada à não percepção de valor referente aos conhecimentos a serem compartilhados. Quanto ao receptor, além da baixa motivação referente à recepção do conhecimento transmitido, a baixa capacidade de absorção e retenção dos conhecimentos também são entraves ao fluxo. Os entraves no contexto organizacional estão relacionados à cultura que não promova à interação e estímulo às trocas. O grau de afinidade entre os atores envolvidos também é um aspecto relevante. Quadro 2. Barreiras e entraves ao fluxo de conhecimento interorganizacional.
Fonte: Szulansk, 1996 Corroborando com Szulanski (1996), Alves & Barbosa (2010) abordam que o compartilhamento de conhecimento é mediado por diversos fatores que determinam o sucesso das trocas, da captação e do próprio entendimento dos conteúdos e mensagens. Partindo de um levantamento da literatura relacionada à temática, Alves & Barbosa (2010) alegam que a falta de processos bem definidos à troca de informações constituem-se de barreiras ao fluxo de conhecimento dentro e entre organizações. A partir da definição de fatores chave diretamente relacionados ao fluxo de conhecimento (cultura organizacional, motivação, confiança, reciprocidade, canais e ferramentas para o relacionamento, poder e status, premiações e sistemas de recompensa, tecnologia e natureza do conhecimento), os autores abordam que o uso adequado da informação e do processo de trocas podem ser considerados como um dos principais pilares do sucesso organizacional. 4 MetodologiaEsta pesquisa pode ser considerada exploratória-descritiva, conforme abordado por Vergara (2007). Exploratória devido às pesquisas relacionadas à Gestão do Conhecimento serem ainda relativamente recentes, mais ainda quando abordadas a sob a temática dos fluxos de conhecimento associados ao pensamento enxuto. Estudos sobre fluxo de conhecimento e pensamento enxuto para o redesenho e melhoria dos processos são recentes, particularmente quando relacionados à cadeias produtivas referindo-se a processos de criação, disseminação e uso do conhecimento. Descritiva, pois busca identificar, descrever e analisar quais as principais barreiras ao fluxo do conhecimento entre os atores inseridos nas organizações abordadas, associando-as aos desperdícios da abordagem Enxuta, a partir da exposição das características de uma população, estabelecendo correlações entre as variáveis estudadas. Quanto aos meios de investigação (Vergara, 2007), este trabalho foi construído por meio de uma pesquisa bibliográfica, investigação a campo, e finalmente um estudo de múltiplos casos. A partir da revisão bibliográfica buscou-se identificar a relevância do pensamento enxuto, associando os principais desperdícios desta abordagem às barreiras ao fluxo de conhecimento. 4.1 Coleta de dadosO estudo de campo consistiu na investigação empírica in loco dos elementos para a explicação dos fenômenos estudados, incluindo a coleta de dados em campo por meio de entrevistas semiestruturadas junto aos gestores de três agroindústrias de uma cadeia produtiva. O detalhamento e aprofundamento das informações obtidas das organizações foram realizados a partir do estudo dos múltiplos casos analisados. Os processos considerados foram aqueles que tangem as relações entre organizações – agroindústrias e fornecedores de matéria prima - dentro da cadeia produtiva. As barreiras ao fluxo de conhecimento e os desperdícios foram analisados neste contexto. O foco central desta etapa da pesquisa foi obter de forma mais detalhada os fluxos de conhecimento (referentes às práticas transferidas, rotinas institucionalizadas) existentes entre as organizações envolvidas, para, em um segundo momento, associar às respectivas barreiras e desperdícios de acordo com a abordagem enxuta. 4.2 Identificação de desperdícios e barreiras ao fluxo de conhecimentoOs questionamentos ocorreram em função de obter as rotinas e práticas (ligadas a GC ou não) realizadas, bem como as barreiras/entraves para sua implantação. A coleta de dados permitiu visualizar quais os mecanismos de coordenação (Grandori e Soda, 1995) utilizados pelas agroindústrias e as respectivas etapas do processo de transferência de conhecimento (Szulansk, 1996) entre as organizações. A identificação e o mapeamento do fluxo foram realizados com base na proposta de alguns autores que abordam o tema a partir da modelagem dos fluxos (Shultz, 2001; Zhuge, 2002; Yu, Suh, Kim, 2007). Para fins deste estudo, serão consideradas como cliente do processo a agroindústria. Estas são fornecedoras de insumos e assistência técnica à produção, ao passo que cabe aos produtores integrados o fornecimento de matéria prima para a agroindústria. Os desperdícios da abordagem Enxuta apresentados no Item 2.1.2 foram selecionados de acordo com o manual “Value stream mapping for lean development” (Locher, 2008) e associados às barreiras ao fluxo de conhecimento identificadas por Szulanski (1996). A associação ocorreu em função das similaridades identificadas na descrição de ambos os conceitos. Como produto desta associação, buscou-se integrar as abordagens destacando suas complementariedades. O objetivo é contribuir com as pesquisas e propostas de futuros estudos empíricos que utilizem estas abordagens de forma convergente para a prescrição e alternativas às soluções de problemas em contextos semelhantes. A abordagem Enxuta é vista aqui como um recurso facilitador à compreensão dos fluxos de intangíveis (fluxo de conhecimento). Neste sentido, os desperdícios considerados neste contexto associam-se aos desperdícios referentes a informações e conhecimentos. 5 Resultados E DiscussãoA identificação de barreiras ao fluxo de conhecimento ocorreu a partir dos resultados obtidos nas entrevistas realizadas junto aos gestores de cada agroindústria. Foi possível observar diferentes níveis críticos de ponderação para cada barreira identificada. A Figura 1 apresenta os referentes às barreiras aos fluxos de conhecimentos. Figura 1. Distribuição das barreiras ao fluxo de conhecimento nas organizações estudadas. Foi possível identificar que as principais barreiras ao fluxo de conhecimento se relacionaram às variáveis relacionadas a baixa confiabilidade, relutância em aceitar e absorver conhecimento externo, falta de capacidade de absorção do conhecimento, baixa capacidade de retenção do conhecimento e baixo nível de compartilhamento devido ao receio à perda de espaço, autonomia e/ou superioridade. Estas barreiras corresponderam a 83% das respostas dos gestores entrevistados. Analisando apenas as barreiras críticas, observou-se que a relutância em aceitar e absorver conhecimento externo e a baixa capacidade de absorção do conhecimento – baixa percepção de valor, por meio da não assimilação e não aplicação de novos conhecimentos por parte dos fornecedores – corresponderam a 52% do peso entre estas variáveis. Com base nos constructos da abordagem Enxuta, o Quadro 3 a seguir irá apresentar a associação dos desperdícios identificados às barreiras ao fluxo de conhecimento. Quadro 3. Associação desperdícios do Pensamento Enxuto às barreiras ao fluxo de conhecimento.
Fonte: do autor. De acordo com esta associação e considerando as barreiras críticas elencadas pelos gestores, os subitens a seguir irão discorrer a respeito dos desperdícios no processo de transferência de conhecimento entre as organizações estudadas. 5.1 Baixa confiabilidade (ausência de comprovação das práticas propostas pelas agroindústrias)Tempo de espera: O tempo de espera constitui-se a uma barreira no fluxo de informações e ou conhecimentos entre os agentes da rede. A ausência da comprovação das práticas pelo fornecedor do conhecimento neste caso poderá gerar incertezas no recebedor e ter como consequência a não compreensão ou realização de determinada tarefa, resultando em entrave do processo. Excesso de processamento: A não confiança e heterogeneidade da base de conhecimento entre os atores inseridos na rede poderá resultar em processos de comunicação desnecessários, uma vez que não existe total comprovação daquilo que realmente objetiva-se transmitir. Conforme salientado por Arruda & de Luna (2006), há dois elementos de processos desnecessários: o primeiro seria aquele que adiciona mais valor do que os clientes estejam dispostos a pagar (intensificado neste caso pela falta de comprovação), ou ainda permitir que trabalho não adicionador de valor seja adicionado aos processos. Tudo aquilo que adiciona custo ao processo de transferência de conhecimento devido a falta de comprovação de sua efetividade não é valor. Sendo necessária à investigação e aprimoramento da clareza daquilo que se deseja transmitir, caso contrário o processo deverá ser eliminado. Defeitos e correção: A dúvida diante da realização ou não de determinada prática aumenta diante da ausência de um benefício claro oriundo de sua utilização. Retrabalhos, neste caso, podem ter sua origem no fornecimento equivocado de instruções, solicitações incompletas, descumprimentos de prazos e podem ter um alto custo de oportunidade quando a percepção de valor não está clara para cliente. No contexto estudado, o retrabalho pode ser também consequência de outros desperdícios oriundos da baixa confiabilidade no emissor dentro do processo de compartilhamento, como a realização de processos desnecessários, por exemplo. Transporte e movimentação desnecessária: Baixos índices de confiabilidade por parte do receptor do fluxo de conhecimento podem fomentar a busca por fontes alternativas ou fontes externas de conhecimento, devido a ausência de comprovação das práticas. Isto faz com que nenhum valor seja agregado ao seu trabalho. Partindo-se do princípio Enxuto que os fluxos devem ser otimizados para que ações sejam realizadas em um menor período tempo, a simplificação e, neste caso, a explicitação de forma clara do trabalho é uma rica fonte de redução do desperdício de movimentação. 5.2 Relutância em aceitar e baixa capacidade de absorção: baixa capacidade de valorar, assimilar e aplicar novos conhecimentosTempo de espera: Para que determinada rotina seja incorporada, os conhecimentos transmitidos pelo emissor devem ser absorvidos pelo receptor. Corroborando com Asif et. al. (2010), o presente trabalho considera que a baixa capacidade em aceitar ou absorver conhecimentos enviados pelo emissor apresenta efeitos similares a indisponibilidade de especialistas na rede, por exemplo, uma vez que a não absorção do conhecimento interrompe o fluxo, levando à espera e entraves nos processos, usualmente conduzindo também à outros desperdícios como defeitos e correção. Quanto maior for o tempo de espera, maior será o tempo de institucionalização das rotinas em uma organização. Excesso de processamento: A baixa capacidade de aceitação (associada a baixa percepção de valor diante daquilo que está sendo recebido) e compreensão (referente à heterogeneidade da base de conhecimento) pode levar a realização de processos desnecessárias uma vez que aquilo que realmente deseja-se transmitir não é absorvido devido a estes dois fatores principais. O valor, neste caso não será criado, pois princípios básicos das da abordagem Enxuta e do fluxo de conhecimento não estão sendo respeitadas: fluxo contínuo, linearidade, simplicidade e padronização dos processos. Transporte e movimentação desnecessária: A necessidade de comunicação efetiva e compartilhamento da informação pode levar a este desperdício (ASIF et al. 2010). Conforme já mencionado, a busca por outras fontes além do canal principal de comunicação aonde fluem os conhecimentos para a realização dos processos ocorre quando o emissor não aceita ou não absorve o conhecimento previamente transmitido. Defeitos e Correção: Retrabalhos são consequências de não conformidades. Uma vez que as práticas transmitidas pelo emissor não são postas em práticas devido a barreiras associadas a aceitação e baixa absorção, os objetivos originais da proposta não estão sendo seguidos, podendo conduzir à execução das tarefas de forma diferente da solicitação inicial, ou ainda, de maneira equivocada. 5.3 Baixa capacidade de reter o conhecimento: dificuldade em institucionalizar as práticas advindas do novo conhecimento adquirido no cotidiano da organizaçãoA institucionalização das práticas consiste no processo de absorção do conhecimento transmitido pelas agroindústrias e sua consequente utilização no dia a dia dos fornecedores. Tal quesito visa identificar a capacidade de unificar formas diversificadas de conhecimento em uma linguagem comum, como interpretação, tradução, formas comuns, ou normas comuns (padronizar e estabelecer as novas práticas recebidas nas atividades para o cotidiano), utilizando eficientemente as diversas fontes de conhecimento existentes para a realização e institucionalização das práticas na organização. A seguir serão descritos os desperdícios associados à barreira referente a baixa capacidade de retenção do conhecimento organizacional. Defeitos e correção: A dificuldade em institucionalizar novas rotinas oriundas de conhecimentos absorvidos poderá gerar retrabalhos, que estão associados a inúmeros fatores dentro da organização. São exemplos, a baixa capacidade de gerenciamento dos processos, escassez ou elevado turn over de recursos humanos e capital intelectual, sistemas de gerenciamento limitados (estejam estes relacionados à tecnologia ou não). Estas limitações poderão comprometer o desempenho das organizações. Contínuos retrabalhos e esforços para a manutenção de novas rotinas são desperdícios associados a esta barreira que devem ser eliminados. Excesso de processamento: Dispender esforços acima daquilo que realmente é necessário devido a baixa capacidade de institucionalização de novas práticas pode ocorrer, umas vez que este desperdício está associado a redundâncias, inspeções, desenhos equivocados de processos e tecnologias inadequadas no armazenamento de informações e planejamento de processos. Transporte e movimentação desnecessária: Este desperdício associa-se a problemas na implementação de novas rotinas por meio de trocas de informações ou documentos excessivas e / ou desnecessárias. Elevadas quantidades de entregas (ao longo do processo) que adicionam pouco ou nenhum valor para o processo global, bem como o excesso de burocracia. Considerando este desperdício de forma física, é possível ainda inferir que o constante deslocamento de técnicos / funcionários pela parte emissora do conhecimento até o receptor diante de dificuldades à implementação de rotinas também pode ser considerada uma perda. Pessoas subutilizadas: Se a organização não consegue implementar um conjunto de práticas em sua rotina de modo sistêmico, poderá subutilizar parte do capital intelectual existente diante da não explicitação de processos e estabelecimento claro de normas. Como consequência, os processos poderão envolver mais pessoas que o necessário, excluir atores – chave, trabalhar pessoas individualmente de modo que o grupo não seja beneficiado, como também a má distribuição de competências e carga de trabalho. 5.4 Não compartilhamento de práticas receando perda de espaço, autonomia e/ou superioridadeO compartilhamento de práticas visando o incremento do fluxo de conhecimentos entre emissor e receptor associam-se à motivação na qual os membros possuem para compartilhar e ao nível de percepção por parte dos envolvidos frente à cooperação, incentivo mútuos e confiança, que devem ocorrer por meio da criação de um ambiente que promova a partilha de práticas e rotinas de sucesso. Este ambiente deve operacionalizar a circulação, armazenamento e acumulação de informação e conhecimento dentro das organizações de forma rápida, em tempo real, e de maneira conveniente. O não compartilhamento gera desperdícios para as organizações e serão descritos a seguir. Tempo de espera: O não compartilhamento por receio a perda de autonomia irá resultar em esperas e entraves ao fluxo contínuo, prejudicando o processo global. Os clientes – internos - terão que aguardar as entregas para dar continuidade ao processo. Quando se trata de compartilhamento de conhecimento, esta é uma questão crítica, pois o feedback (que só ocorre após as trocas) representa papel fundamental no processo de melhoria, adequação e adaptação do fluxo de conhecimento entre emissor e receptor. Membros externos também podem ser afetados e a cadeia também pode ser prejudicada diante do não compartilhamento interno. Excesso de processamento: Lacunas referentes à transferência de conhecimento entre as organizações podem conduzir a ações desnecessárias dentro dos processos entre emissor e receptor. O não compartilhamento também pode resultar em desenhos equivocados de processos, conduzindo a ações equivocadas e/ou de baixo desempenho, quando comparados a processos onde a transferência ocorre de forma eficaz. Pessoas subutilizadas: Lacunas referentes a transferência de conhecimento podem subutilizar pessoas a partir do momento em que as reais necessidades não estão disponibilizadas nos níveis de grupo e/ou organização. A alocação errônea de recursos humanos, sua utilização de forma parcial ou mesmo não utilização consiste em um entrave ao desenvolvimento do capital intelectual organizacional. A retenção de conhecimento por agentes ou grupos específicos dentro e entre as organizações consiste em um desperdício associado ao processo de transferência de conhecimento. Transporte e movimentação desnecessária: A ausência de compartilhamento de conhecimento gera buscas externas à resolução de problemas que poderiam ser solucionados internamente. Tais buscas podem gerar um maior deslocamento de recursos na busca por estas fontes externas que conduzem ainda a outros desperdícios que já foram mencionados neste item. Um ambiente que não seja propício à transferência de conhecimento – físico, conceitual ou virtual – com membros que não desejam compartilhar conduzirá a uma maior movimentação (física ou não) das partes envolvidas para a realização das tarefas. Excesso de estoque: O conhecimento entre os membros da cadeia que se acumula e não é compartilhado, possui um alto custo de oportunidade devido a não interação com demais fontes de conhecimento. Conforme em trabalho apontado por Zhuge (2006), a energia do conhecimento e intensidade dos fluxos está diretamente relacionada à quantidade de interações externas nas quais estes estão expostos. A compreensão das implicações das barreiras críticas ao fluxo de conhecimento associadas aos desperdícios da abordagem Enxuta auxiliam na análise e interpretação dos problemas enfrentados no contexto estudado. Assim como o trabalho publicado por Nave (2002), que realizou um comparativo entre diferentes métodos (six-sigma, Pensamento Enxuto, e teoria das restrições) o presente trabalho buscou aprofundar a discussão a respeito das barreiras enfrentadas pelas organizações diante do processo de transferência de conhecimento. Os desperdícios propostos pela abordagem Enxuta possibilitaram este aprofundamento, possibilitando enfocar de maneira específica pontos críticos dentro de cada barreira. 6 Considerações FinaisO presente artigo buscou associar duas correntes que apontam entraves ao andamento dos processos e, consequentemente ao desempenho das organizações. Para isso, duas abordagens foram apresentadas e associadas de modo a melhor compreender o fenômeno estudado. Foram apresentados - em um primeiro momento - conceitos referentes ao processo de transferência de conhecimento interorganizacional, fluxo de conhecimento e pensamento enxuto nas organizações. Posteriormente, visando aprofundar a compreensão a respeito da temática estudada, barreiras ao fluxo de conhecimento e os desperdícios do pensamento enxuto foram apresentados. A discussão dos resultados ocorreu em forma de análise de múltiplos casos estudados em uma cadeia produtiva do setor do agronegócio e a relação entre as agroindústrias e seus fornecedores. As barreiras ao fluxo de conhecimento foram identificadas e associadas aos desperdícios da abordagem enxuta. Por fim, barreiras ao fluxo de conhecimento consideradas críticas (Baixa confiabilidade, relutância em aceitar e baixa capacidade de absorção de conhecimento, baixa capacidade de reter o conhecimento e não compartilhamento de práticas receando perda de espaço) pelas agroindústrias foram discutidas e interpretadas em função dos desperdícios da abordagem Enxuta. Todas as barreiras críticas abordadas foram associadas aos desperdícios excesso de processamento e transporte e movimentação desnecessária. Uma possível explicação está no fato de que mesmo diante de diferentes origens das barreiras ao fluxo de conhecimento, atividades desnecessárias são realizadas quando o fluxo não ocorre de maneira eficiente, prejudicando a criação de valor. As barreiras podem ainda aumentar os custos – por meio de transporte e movimentação - oriundos da dificuldade de acesso a informações e conhecimentos necessários para o desenvolvimento dos processos. O desperdício tempo de espera foi associado a todas as barreiras críticas, com exceção da barreira referente à retenção do conhecimento e institucionalização das práticas. Neste sentido, assume-se aqui que as demais barreiras críticas são responsáveis também pelo atraso nas operações que envolvem a transferência de conhecimento. Defeitos e correção não foram associados apenas à barreira de não compartilhamento do conhecimento. Pressupõe-se que a falta de compartilhamento não necessariamente irá gerar retrabalho para as organizações envolvidas, porém o não compartilhamento poderá ser negativo quando conhecimentos críticos forem requisitados e estiverem concentrados apenas em parte da organização – estoque - ou da cadeia. O retrabalho poderá surgir quando melhores práticas não forem compartilhadas em todos os níveis. A baixa capacidade de incorporação das práticas às rotinas das organizações e baixos níveis de compartilhamento de conhecimento podem subutilizar os recursos humanos das organizações aumentando o custo de oportunidade, ao mesmo tempo em que limita o desenvolvimento do capital intelectual das partes envolvidas. A associação entre as abordagens permitiu trabalhar conceitos que anteriormente não conversavam de forma direta. A aplicação do pensamento enxuto para a otimização dos processos por meio do melhor uso dos recursos intangíveis das organizações constitui-se de uma interessante alternativa para a compreensão de fenômenos e a consequente busca por soluções. 6.1 Proposta para pesquisas futurasO presente artigo limitou-se a apresentação e associação de conceitos com base em um estudo prévio realizado junto a agroindústrias de uma cadeia produtiva. No entanto, apenas os dados referentes às barreiras ao fluxo de conhecimento foram coletados junto às organizações. Os conceitos do pensamento enxuto e identificação de desperdícios foram propostos apenas no campo teórico, necessitando de aplicação empírica para aplicação prática e validação da proposta. O mesmo estudo pode ser aplicado também a organizações em diferentes contextos visando identificar similaridades e discrepâncias entre diferentes setores industriais. ReferênciasAlves, A.; Barbosa, R. R. Influências e barreiras ao compartilhamento da informação: uma perspectiva teórica. Ciência da Informação. Brasília, DF, v. 39 n. 2, pp.115-128, maio/ago. 2010 Arrow, K. J. Classification notes on the production and transmission of technical knowledge. American Economic Review; Papers and Proceedings, 52, pp. 29-35. 1969. Arruda, I. M.; De Luna, V. M. S. Lean Service: a abordagem do Lean System aplicada no setor de serviços. XXVI ENEGEP - Fortaleza, Outubro de 2006. Asif, M.; Lowik, S.; Weusthof, W.; Bruijn, E. J. 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1 Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento Universidade Federal de Santa Catarina - Brasil diegokurtz@gmail.com |