Espacios. Vol. 34 (11) 2013. Pág. 14


Vantagem competitiva no Circuito das Águas Paulista: Cluster de produtores de água mineral

Competitive Advantage in Circuito das Águas Paulista: Cluster of mineral water producers

Vinicius Giraldi GAMBETTA 1 y Reinaldo DIAS 2

Recibido: 22-08-2013 - Aprobado: 05-10-2013


Contenido

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RESUMO:
Este trabalho procurou fazer uma reflexão sobre o papel da nação como proeminente do desempenho superior da indústria nacional, no caso a indústria de água mineral engarrafada, pelo motivo de o Brasil importar mais água que exportar e como a formação de Clusters (agrupamentos) de empresas deste setor poderia fortalecer a dinâmica nacional para que o país obtivesse um desempenho superior na competição internacional. Foi utilizado como referência teórica principal Michael Porter, autor da teoria dos Clusters e contribuinte para a teoria das Vantagens Competitivas. Através de bibliografias foi identificado dados do mercado nacional de água mineral como produção, consumo, empregos, a dinâmica nacional e os determinantes da competitividade brasileira. Com base nesses dados, foi elaborado um estudo de caso de caráter exploratório e qualitativo sobre a concentração de empresas produtoras de água mineral engarrafada no Circuito das Águas Paulista, composto pelas cidades de Socorro, Serra Negra, Pedreira, Monte Alegre do Sul, Lindóia, Águas De Lindóia, Jaguariúna e Amparo, identificando o cluster, sua cadeia produtiva e seu estágio de desenvolvimento, bem como as possíveis oportunidades de atração para novos empreendimentos, as externalidades positivas e efeitos multiplicadores trazidos para a região pela concentração dessas empresas, verificando que teoria dos Clusters poderia se constituir como uma melhor forma de organização espacial para a exploração do recurso água mineral.
Palavras Chave: Arranjo Produtivo Local; água mineral; vantagem competitiva.

ABSTRACT:
This paper work attempted to reflect about the nation’s role as prominent superior performance of its domestic industry, in this case the bottled mineral water industry, by means of Brazil imports more water than exports, and how the formation of Clusters of companies in this sector could strengthen the national dynamic for the country to obtain a superior performance in the international competition. Michael Porter, the Cluster Theory author and a Competitive Advantage Theory contributor, was used as main theoretical reference. Data from the domestic mineral water industry as production, demand, employments, national dynamics and Brazil’s competitive determinants, were indentified through bibliographies. Based on this data, it was elaborated an exploratory and qualitative study of the concentration of bottled mineral water companies in the Circuito das Águas Paulista, region formed by the cities of Socorro, Serra Negra, Pedreira, Monte Alegre do Sul, Lindóia, Águas de Lindóia, Jaguariúna and Amparo, indentifying the Cluster, its productive chain and its development phase, as well as possible opportunities of attraction for new ventures, the positive externalities and the multiplier effects brought to the region by the concentration of this companies, verifying how the Cluster theory could classify itself as a better spatial organization to explore mineral water.
Key words: Cluster; Mineral Water; Competitve Advantage.


1. Introdução

O Brasil é uma das nações que possuem os maiores volumes de água doce do mundo e por consequência uma vasta variedade de águas minerais. Seria de se presumir, através de um reflexo teórico, que o Brasil, como nação, possuísse vantagens comparativas (como economias de escala que reduzem o custo e disponibilidade de fatores), fazendo com que se tornasse o líder no mercado mundial de água, trazendo superávits na balança comercial. Porém, o Brasil importa mais água do que exporta. Isso deixa evidente que não é mais apenas a disponibilidade de fatores que trará um desempenho superior e sustentado ao longo prazo para uma nação. É necessário diagnosticar o desempenho superior sustentado das indústrias nacionais através de outra teoria: da criação de vantagens – a vantagem competitiva. Esta como fator principal para que as empresas nacionais criem inovações e busquem vantagens fortalecendo seu desempenho superior no mercado. Além disso, a localização concentrada das empresas e justamente a sua vulnerabilidade frente à maior facilidade de comércio no mercado global torna o país sede e todas as suas características endógenas (como conhecimento, tecnologias) o principal determinante para a sustentação da vantagem competitiva nas empresas, fortalecendo-as mutuamente. Decorrente da constante necessidade da supremacia da competitividade nacional frente a outras nações, bem como a teoria contemporânea de Cluster, que prevê que as vantagens competitivas são criadas (e não herdadas) através de processos altamente localizados e que a dinâmica da indústria nacional influencia neste processo deriva-se a questão problema deste trabalho: É possível a formação de um cluster (APL) de produtores de água mineral na região do Circuito das Águas Paulista?

A partir disso, foram elaborados os objetivos com base nas teorias de Cluster e de Vantagens Competitivas, buscando identificar no mercado regional de água mineral a possibilidade de que a aglomeração das empresas produtoras de água mineral engarrafada na região possa gerar vantagens competitivas e externalidades positivas para o Circuito das Águas Paulista e para o mercado nacional. O objetivo geral do trabalho foi verificar a possibilidade e os fatores que poderiam contribuir para a formação do cluster na região bem como os benefícios que poderiam ser trazidos ao mercado local. Já como objetivos específicos: identificar instituições de ensino e pesquisa que possam contribuir para a formação e consolidação do cluster (APL) de água mineral na região do Circuito das Águas Paulistas; Identificar a cadeia de valores do setor e seus processos; Identificar a possibilidade de atração de novos empreendimentos relacionados ao mercado de água mineral na região do Circuito das Águas Paulistas; Analisar a competitividade da região.

2. Referencial teórico

2.1. Vantagem competitiva

A princípio, a vantagem era baseada no âmbito da disponibilidade de fatores de produção (insumos básicos, como matéria prima, mão de obra e capital), denominando-se vantagem comparativa, sendo que todas as nações eram consideradas iguais umas as outras em termos tecnológicos (OHLIN, 1933). Porém é inviável desconsiderar as diferenças tecnológicas e que os fatores peculiares como matéria prima, mão de obra e capital de cada país não se permutam entre as nações. No atual momento do comércio e globalização tal teoria tem pouca aplicação na realidade, a não ser para as indústrias dependentes de tais custos de fatores, como sendo parte predominante de sua produção, mas, com frequência, essas estruturas só garantem baixos rendimentos médios sobre o investimento, não garantindo um desempenho superior na competição entre nações. (PORTER, 1993)

Para desenvolver um desempenho superior, as vantagens passam a serem criadas pelo resultado de habilidades e de capacidade de gestão e não mais estão enquadradas no paradigma de que a vantagem em uma indústria (setor) é herdada (DIAS, 2008). A vantagem passa a ser competitiva e é derivada de como a empresa emprega os recursos para garantir um desempenho superior aos seus concorrentes. Além disso, a eficiência deixa de ser estática e a competição entre as indústrias torna-se dinâmica, impulsionada por inovação e mudança, retornando como uma progressão de novos processos, produtos, características do mercado e como valor. Para isso, a gestão estratégica da empresa é empregada em como podem ser obtidas vantagens competitivas derivadas de custos e de diferenciação, bem como quais os determinantes da vantagem competitiva em contextos nacionais que desenvolvem um desempenho superior para a indústria (PORTER, 1993).

2.1.1. Os determinantes da vantagem competitiva

Porter (1993) identificou que existem quatro determinantes para a obtenção da vantagem competitiva, e a sua inter-relação a denominou de Diamante Nacional. Além desses, fundamentou o papel do governo que pode influenciar no sistema de um setor. Quanto mais favorável é a dinâmica entre os determinantes, maior a capacidade de êxito na indústria, desde que as empresas tenham competência o suficiente para alcançar e manter a vantagem competitiva, através da geração constante de inovações.

O primeiro determinante se refere a Fatores. São representados por fatores básicos e adiantados ou de acordo com sua especificidade: generalizados e especializados. Fatores básicos são provenientes de recursos naturais, mão de obra não especializada, condições geográficas e climáticas. É evidente que os fatores básicos deixam de ser importantes na medida em que existe a fácil disponibilidade para os concorrentes, anulando a vantagem competitiva fortemente atrelada a custo. Relacionados a isso, estão os fatores generalizados que incluem a infraestrutura comum do país, como o sistema viário, educação e a disponibilidade de capital. Os fatores adiantados podem ser considerados como infraestrutura moderna, informação digital, institutos de ensino e pesquisa. Os fatores especializados envolvem conhecimentos e fatores específicos na indústria. Os fatores avançados e especializados são gerados no país, mas muitas vezes dependem de uma base estruturada de fatores básicos e generalizada para que possam ser mantidos (PORTER, 1993). A competitividade do café mineiro, por exemplo, se deu por fatores básicos e avançados, como tecnologias avançadas de produção e cultivo. O resultado foi um café de alta qualidade, com selo e certificado de origem, o que acabou tornando o café do serrado mineiro requisitado por diversos países, sendo responsável por 15% da produção nacional (GHELLI, 2003).

A Demanda é outro determinante que influencia toda dinâmica de um setor. As necessidades da demanda, seu grau de sofisticação e o poder de compra pressionam as empresas nacionais a inovarem contendo a procura por produtos importados mais sofisticados que os nacionais. A segmentação estabelece características distintas entre grupos determinados, com padrões de consumo diferentes, podendo ser um viés para a sofisticação dos consumidores. Isso acaba por significar que é possível obter vantagens através da sofisticação do produto, pressionando as empresas a investir em qualidade. Já se a sofisticação condisser não apenas com a necessidade nacional, mas também com a demanda internacional, as necessidades internas do país se tornam a fonte de vantagem competitiva, não só nacionalmente, mas como uma vantagem precursora para a competição internacional. O tamanho da demanda e seus padrões de crescimento que desenvolve, interfere na dinâmica da indústria nacional. A saturação da demanda força as empresas a inovarem e a se aperfeiçoarem continuamente, funcionando como uma espécie de filtro das empresas mais fracas que atuam no país (PORTER, 1993).

Mercados correlatos são setores relacionados à determinada indústria e se caracteriza como um dos determinantes da vantagem competitiva. É responsável por desenvolver atividades correlacionadas ao setor, formando a cadeia de valor, complementando os produtos daquela indústria, podendo fornecer ou aperfeiçoar fatores disponíveis às empresas do setor. As inovações provenientes de mercados correlatos, quando estes são internacionalmente competitivos, acabam por proporcionar vantagens potenciais para as empresas. Fornecedores passam a ter um papel mais importante e podem proporcionar um ritmo de inovação mais acelerado dentro de um setor, tornando o ambiente ainda mais dinâmico e fortalecido se as empresas estiverem geograficamente concentradas. Podem proporcionar também oportunidades em novos mercados, pois aumenta a possibilidade de desenvolvimento de novos produtos complementares e gera demanda agregada (PORTER, 1993). A indústria petroquímica é um importante mercado correlato a diversas outras indústrias, que necessitam do petróleo (fator) para a produção dos produtos. O desenvolvimento de fatores avançados e políticas públicas neste mercado poderiam influenciar na geração de vantagem competitiva em mercados correlatos e na indústria petroleira nacional (BARROS, 2007).

O último determinante é o de Rivalidade que diz respeito ao contexto nacional em que as empresas competem, envolvendo suas estruturas organizacionais, o modo como são administradas e a suas interações. A aglomeração e a saturação de empresas do mesmo setor estimulam uma rivalidade agressiva e também um apoio mútuo na busca de vantagens. A rivalidade interna influencia a busca por vantagens frente aos concorrentes, forçando as empresas a inovarem na busca por um desempenho superior. Outros determinantes também podem estimulam rivalidade, como por exemplo, uma demanda interna saturada e a influencia da sofisticação da demanda internacional pressionando o setor para a competição global, na disponibilidade e facilidade de criação de fatores que acaba por atrair novas indústrias do mesmo segmento ou indústrias correlatas e de apoio (PORTER, 1993).

O governo também tem papel importante no estímulo à geração de vantagens competitivas e na dinâmica dos determinantes, uma vez que pode trabalhar como regulador ou facilitador dentro do ambiente, fazendo com que as empresas tomem posições para competir à ação do governo. Também é importante ressaltar a importância dos fatores geográficos nas decisões políticas e de como o Estado influenciará na estratégia regional (BARROS, 2007). O governo pode afetar cada um dos determinantes de maneira positiva ou negativa, mas não pode continuar sendo, junto à disponibilidade de fatores, um influenciador isolado para as vantagens da indústria nacional, em que o governo estabelece políticas (como externas e monetárias) para a proteção da indústria, mas sim ser um estímulo aos outros determinantes na geração de vantagens (PORTER, 1993).

2.2. Cluster

A dinâmica nacional, portanto, é influenciada pelo modo como as empresas competem e acaba por ser a base de como os determinantes serão empregados e desenvolvidos em prol de um desempenho superior da indústria nacional, bem como um fator de impulso para o avanço do país, demonstrando que o país sede tem fundamental importância na competição globalizada. Neste sentido a interação regional entre toda cadeia produtiva de um setor vai afetar, e acaba sendo afetada, pela dinâmica nacional. As empresas acabam por se agruparem (cluster), dividindo a cadeia de valor onde uma ou um subgrupo de empresas ficam responsáveis por determinada atividade na cadeia e em que os fatores herdados do ambiente são propícios para a atração das empresas na cadeia de valor, fazendo com que o agrupamento, a sua inter-relação e a relação com cadeias de valor correlatas, que são atraídas para a região, torne as empresas capazes de gerar inovações mais rapidamente, pressionadas pela rivalidade entre as empresas aglomeradas. Isso desperta a necessidade dos concorrentes locais e dos nacionais de também avançarem na busca de inovação, provando para estas que o desenvolvimento de novas vantagens competitivas é necessário. As empresas deixam de ficar a mercê dos fatores básicos e herdados, pois estes no geral são comuns a todos e passam a supri-los pela criação de vantagens competitivas como a geração de tecnologias (PORTER, 1993). Isso acaba por gerar externalidades positivas que são benefícios gerados a partir da ação de um agente que são disseminados aos outros, como produtividade, conhecimento, economia de escala e escopo e demanda agregada (DIAS, 2008). Essa é a base da teoria dos Clusters, do inglês que significa aglomerado ou agrupamento, foi o termo utilizado por Porter (1993) para designar um agrupamento geograficamente concentrado de empresas de uma mesma indústria (podendo incluir mercados correlatos) que estão inter-relacionadas. Por estarem em um mesmo local geográfico, as empresas passam a competir mais fortemente entre si, o que estimula toda a dinâmica do setor (inter-relação entre os determinantes da vantagem competitiva) gerando assim maiores inovações. No Brasil, segundo Cassiolato E Lastres (2003) o termo utilizado é Arranjo Produtivo Local (APL).

Os vínculos e as inter-relações entre os agentes ocorrem de maneira diferente, o que proporciona aos Clusters uma identidade cultural. A semelhança cultural que se forma entre as empresas aglomeradas tornam o intercambio de informações, conhecimentos, e o modo de administrar mais fácil e dinâmico (PORTER, 1993). De um modo geral, os Clusters passam por três etapas de desenvolvimento. Arranjos incipientes, sendo primeira etapa em que existe baixa cooperação e inter-relação entre as empresas, pouca ou nenhuma iniciativa para estímulos de geração de inovações e geralmente obtêm-se vantagens a partir de fatores herdados; Arranjos em Desenvolvimento, onde novos empreendimentos são atraídos para a região e a interação entre as empresas se intensifica quando passam a defender interesses regionais ainda com pouca inter-relação com o poder público; e o ultimo estágio é o Cluster desenvolvido, onde existe ampla interação entre as empresas e o poder público, facilitando a cooperação pela troca de conhecimento com maior facilidade de gerar inovações. Os possíveis estrangulamentos na cadeia de produtiva são supridos pela vinda de mais empresas e investimentos (CASTRO, 2009).

Com predominância na formação de um Cluster, estão as MPMES (Micro, Pequenas e Médias empresas), que podem se classificar através de seu faturamento bruto anual: até R$ 2,4 milhões – microempresa; entre R$ 2,4 milhões e R$ 16 milhões – pequena empresa; entre R$ 16 milhões e R$ 90 milhões – média empresa (BNDES, S/D). As MPMES são caracterizadas por um organograma enxuto e sua flexibilidade de produção. Possuem um papel essencial na aglomeração, pois são as primeiras geradoras de emprego e renda em uma região (JULIEN, 2010). Além disso, se especializam em uma parte da cadeia produtiva e terceirizam outras fazendo com que as ligações entre fornecedores e até mesmo entre concorrentes como forma de cooperação seja estimulada (DIAS, 2008), tornando-se assim, as principais canalizadoras da rivalidade interna e, portanto na criação de ambientes mais competitivos com economias abertas e geradoras de conhecimento e informação (PORTER, 1993). As MPMES recebem influências ainda mais intensas na nova competição global, pois muitas vezes sofrem com a competição de produtos internacionais, derrubando a competitividade comparativa (através de fatores) que essas empresas detinham, forçando-as a gerarem inovações, porém, como a capacidade individual das MPMES é limitada (CEZARINO; CAPOMAR. 2006) a aglomeração geográfica e a inter-relação destas empresas no ambiente junto aos agentes políticos e sociais se torna um facilitador da disseminação de conhecimentos e inovações (LASTRES; Et AL. 2002).

3. Metodologia

Com base nas metodologias apresentadas por Gil (2002) e através do referencial teórico acima, foi realizado um estudo de caso de caráter exploratório, descritivo e qualitativo para a possibilidade do detalhamento e caracterização da unidade-caso, ou seja, o mercado de água mineral do Circuito das Águas Paulista. A coleta de dados foi desenvolvida através de pesquisa bibliográfica, como livros, artigos, dissertações, periódicos, revistas e pesquisa documental. Foram analisados as teorias de Vantagem Competitiva e Cluster e informações do mercado nacional de água mineral detalhando os determinantes da competitividade nacional. Com base nesses dados foi desenvolvido um estudo de campo elaborado com entrevistas de modo a aprofundar-se na caracterização dos agentes locais (empresas produtoras, órgãos públicos e entidades correlatas) da região do Circuito das Águas Paulista e como a inter-relação entre eles era feita, verificando se existe o desenvolvimento de um cluster de produtores de água mineral na região, estudando os fatores que poderiam contribuir para sua formação e as externalidades positivas que poderiam ser geradas. Além disso, foram estudados por pesquisas bibliográficas outros Clusters de produtores de água mineral engarrafada no Brasil, podendo fazer um comparativo entre o Circuito das Águas Paulista e os outros arranjos produtivos do mesmo setor verificando como a teoria dos Clusters vem sendo desenvolvida para este mercado possibilitando o seu melhor desenvolvimento.

4. Resultados e discussões

4.1. A indústria nacional de água mineral

Apesar de possuir 15% das águas potáveis do mundo (LANCIA, CARRAMILLO, ARAGÃO, 1996), o que reflete em uma ampla disponibilidade deste fator, não possui desempenho superior na competitividade entre os países como seria demonstrado na teoria de vantagens comparativas. Ao invés disso, o Brasil apresenta uma série de déficits na comercialização externa de água mineral engarrafada. Em um período de nove anos analisados, em apenas dois anos o Brasil exportou mais água do que importou (FONSECA, 2009), fato muito relevante para a caracterização da competitividade nacional.

A água mineral é herdada do país. Recebe influência de outros fatores de recursos físicos como o clima, a vegetação e a composição do solo, o que remete a água mineral a uma dependência geográfica (COELHO; Et al., 2005). Um fato importante é que a água brasileira classifica-se nos padrões dos Estados Unidos e da Europa como uma água de “muito baixa mineralização” e que em alguns casos seria desclassificada como mineral. Porém isso está valorizando-a pelo fato de ser mais leve. Essa baixa mineralização é consequência da característica do solo e de como a água permanece em aquíferos rasos e de fluxo rápido (MME/BIRD, 2009). A oportunidade de aproveitar esse fator foi desenvolvida pela Danone com a marca Bonafont que possuí 1,2 mg de sódio em um litro de água, sendo considerada de baixa mineralização e leve. Criou um posicionamento no mercado diferenciado e estimulou uma demanda segmentada: as mulheres. Mas o interessante é observar que a marca Minalba possuía 0,9 mg por litro (OSCAR, 2012). Uma clara demonstração de que a vantagem competitiva foi formada a partir de um fator (no caso ter menos sódio por litro de água) desconhecido pela empresa Minalba que também possuía esta vantagem comparativa, mas não gerou inovações partir disso.

Com relação à mão de obra, foram contabilizados ao todo 14.406 empregos em 2009, sendo o mercado de minérios não metálicos que mais emprega, atingindo 19,64% do total. Do total, 979 pessoas eram de curso superior, 602 pessoas de nível técnico, 2.229 pessoas na área administrativa e 10.596 operários (DNPM, 2010).

Já com relação ao determinante demanda o consumo per capita de 2011 foi de cerca 88 litros por ano. Ainda refletiu ser baixo em relação a países como Estados Unidos onde o consumo foi de 110 litros por pessoa e 189 litros por pessoa na Itália (KULAIF, 2011). A taxa de crescimento da demanda em 2007 e 2008 representaram 15%, o que acaba atraindo investimentos nacionais e também de empresas internacionais (MME/BIRD, 2009). A demanda vem se diversificando e se sofisticando e as empresas mais consolidadas passam a investir em marketing e segmentos de demanda que procuram por um produto específico, como o público atleta, feminino e infantil (FONSECA, 2009).

Decorrido da sofisticação da demanda, empresas de embalagem (mercado correlato) investem na diversificação de embalagens para a indústria de água mineral, principalmente nas garrafas PET de 300 a 2000 ml (SOARES, 2012). Além disso, o mercado de máquinas e equipamentos também prospera, fruto de ser a parcela mais significativa de investimento das empresas produtoras de água mineral engarrafada. Em 2009 foram investidos cerca de R$ 76 mi na indústria de água mineral, sendo representado por aproximadamente 45% em aquisição e reforma de equipamentos de produção. Esse dado reflete a demanda por equipamentos e possibilita, portanto, o desenvolvimento de outras indústrias agregadas à de água mineral havendo a demanda e investimento também em serviços para infraestrutura (DNPM, 2010).

Com relação à rivalidade e estratégia, o mercado de água se encontrou bastante competitivo em 2012, chegando a um total de 500 marcas (OSCAR, 2012). Como comparativo à alta competitividade interna no Brasil, nos EUA a concorrência é oligopolizada compreendendo cerca de 10 produtores (IBWA, S/D). Os produtores se localizam em maior concentração no estado de São Paulo, o qual possuía 258 concessões de lavra (direito de explorar o mineral) em 2008, seguido de Minas Gerais e Rio de Janeiro com 89 e 84 concessões respectivamente (FONSECA, 2009). Essa concentração deve-se a outros determinantes como regiões onde fatores de custo de produção são mais baratos e onde existe maior concentração de demanda para a redução com custos logísticos. Pela água engarrafada possuir baixo valor agregado, as empresas, em especial as MPMES, acabam por competir regionalmente também por não possuírem eficiência na logística o que impacta no custo do produto (MME/BIRD, 2009).

A produção de água mineral no Brasil e potável de mesa foram de 4,37 Bi de litros em 2008 ante a 3,73 Bi de litros em 2001 (FONSECA, 2009) e mais de seis bilhões de litros em 2011 (KULAIF, 2012), sendo o quarto maior produtor de água mineral em 2009 no mundo (FRASÃO, 2009). As MPMES detinham 74,78% da produção do mercado em 2008 (MME/BIRD, 2009), porém têm perdido espaço para as grandes, que em 2011, as oito maiores empresas (Schincariol, Grupo Edson Queiroz, Coca-Cola, Nestlé, Flamin, Dias D’Ávila, Danone, e Mocellin) representaram 45,3% da produção nacional (KULAIF, 2012). A diminuição da participação das MPMES na produção nacional pode ser justificada principalmente pelo investimento das grandes empresas e o capital estrangeiro direcionado ao Brasil para aquisições (influenciadas pela qualidade da água brasileira e a demanda aquecida), pesquisa e desenvolvimento de produto, diferenciações e logística, diferente das MPMES nacionais que em sua maioria são de administração familiar informal e deixam de investir no desenvolvimento de produto e logística. Essa dinâmica resulta em uma ampla competição local voltada para a guerra de preço com produtos de baixo valor agregado e pouca diferenciação (MME/BIRD, 2009).

4.2. Clusters de água mineral no brasil

Existem trabalhos realizados por pesquisadores sobre o estudo de Clusters de empresas produtoras de água mineral, o que demonstra começar a ser um tema pertinente que pode promover a melhor gestão da água mineral. O APL da Grande Natal (Rio Grande do Norte) abrange as cidades de Natal, Parnamirim, Macaíba, Extremoz compondo 15 empresas ao todo. Neste cluster já foram promovidas ações que traçaram objetivos e desenvolveram projetos compartilhados. Estavam envolvidos no projeto agentes como o PROCOMPI (Programa de Apoio à Competitividade das Micro e Pequenas Indústrias) e o SEBRAE (Serviços de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Outro agente que promove a cooperação entre as empresas do cluster da Grande Natal é a SINCRAMIRN (Sindicado das indústrias de Cervejas, Refrigerantes, Águas Minerais e Bebidas em Geral do Rio Grande do Norte). Uma das metas era aumentar o volume de produção em 5% e reduzir o desperdício em 10% no ano. Também foram realizadas ações de marketing para campanha estudo do consumidor, assessorias jurídicas e consultorias ambientais, de gestão e de produção. Outro fato é que as empresas estão profissionalizando sua gestão para a sobrevivência no mercado extremamente pulverizado, com baixa diferenciação nos produtos e grande competitividade, forçando as empresas a investirem em marketing e logística (PEREIRA, 2010).

O Cluster de Itapecerica da Serra no estado de São Paulo, composto pelos municípios Embu – Guaçu, São Lourenço da Serra, Juquitiba e Itapecerica da Serra, possui seis empresas mineradoras e engarrafadoras que foram responsáveis por 16 % da produção estadual em 2008, em que cada empresa produzia a média entre 1,2 a 5 milhões de litros por mês. A articulação entre os empresários ainda é incipiente, porém existiu a cooperação entre as prefeituras para subsidiar estudos e a formulação de políticas dirigidas à gestão do recurso água mineral na região, promovendo externalidades para o cluster. Uma vantagem das empresas é a proximidade com um dos maiores centros de consumo do país, a região metropolitana de São Paulo, bem como o fator de infraestrutura (rodovias) bem estruturado que garantem escoamento do produto também para os portos de Santos e Paranaguá (CABRAL, 2008). 

4.3. Unidade caso: circuito das águas paulista

A unidade do estudo de caso deste trabalho foi o mercado de água mineral do Circuito das Águas Paulista, composto pelas cidades de Jaguariúna, Pedreira, Amparo, Serra Negra, Monte Alegre do Sul, Lindóia, Águas de Lindóia e Socorro, localizado na Serra Da Mantiqueira, com um grande potencial hidrográfico (www.circuitodasaguaspaulista.sp.gov.br, S/D).

Pelos dados de Santana (2012), foi somado 44 concessões de lavra da indústria de água mineral na região em 2012, sendo estimado um número de 25 empresas em atividade, segundo entrevistado D. Segundo Bernardes (2009) a maioria das empresas produtoras de água mineral engarrafada se concentram nas cidades de Serra Negra, Lindóia e Amparo, como observado na tabela 01. Além disso, existiam mais seis requerimentos de lavra. A lavra de mais antiga concessão é datada no ano de 1940 nas cidades de Lindóia e Amparo. Isso pode demonstrar que o mercado local vem há muito tempo se consolidando, já que o primeiro relato de concessão de lavra no Brasil, segundo os dados de Santana (2012) são de 1935. 

Tabela 1 - Número de Concessões de lavra de água mineral por cidade no Circuito das Águas Paulista, 2012.

Cidades

Nº de Concessão de Lavra

Proporção

PEDREIRA/SP

1

2,3%

JAGUARIÚNA/SP

1

2,3%

MONTE ALEGRE DO SUL/SP

1

2,3%

ÁGUAS DE LINDÓIA/SP

4

9,1%

SOCORRO/SP

5

11,4%

AMPARO/SP

6

13,6%

SERRA NEGRA/SP

12

27,3%

LINDÓIA/SP

14

31,8%

Total

44

100%

Fonte: Dados fornecidos por Santana DNPM, 2012.

Entre as três empresas que concederam os dados de produção, foi levantado um total de 22,6 milhões de litros produzidos no ano de 2011, representando 0,36 % da produção nacional, e cerca de 2% da produção estadual, com base nos dados de Santana (2012). É importante observar também que a participação do estado na produção nacional caiu ao longo dos anos. Em 2004, foi responsável por 37% da produção (DNPM, 2005). Em 2010, a participação do estado caiu para 23% (DNPM, 2011) chegando a 19% em 2011 (KULAIF, 2012).

4.3.1. Fatores na região

Nem todas as lavras de água mineral da região possuem fins de engarrafamento e produção. Sua vantagem para região não vem apenas da aglomeração de empresas e do tradicionalismo do circuito neste mercado. Existe uma influência entre diversos setores que utilizam a água, como turístico, agricultura e outras bebidas. A água vem servindo como vantagem comparativa para o desenvolvimento da indústria cervejeira da região. A empresa Ashby se instalou na cidade de Amparo em 1993 buscando a qualidade da água mineral (www.ashby.com.br, S/D). A Dortmund em Serra Negra também buscou a estratégia da utilização da água da região por se demonstrar de fácil extração e pelo fato da cidade ser turística para promover a marca, segundo entrevistado E.

Quanto ao fator de educação, através do levantamento da matriz curricular encontradas nos cursos das universidades que estão inseridas no Circuito das Águas Paulista, foi aferido que não existem matérias específicas voltadas para o mercado de água mineral. Também foi observado que as faculdades não compõem todos os cursos dos quais uma mineradora e produtora de água mineral engarrafada precisam se dispor de profissionais com curso superior, como engenheiro de minas, geólogo e biólogo ou químico. Existe apenas uma unidade fixa do SENAI localizada na cidade de Jaguariúna que comporta dois cursos de formação continuada voltados para a indústria de alimentos e bebidas que somados representam 36 horas de aprendizagem.

Em geral, em uma empresa mineradora e engarrafadora de água mineral de pequeno porte, necessitam-se cerca de 20 funcionários (fator mão de obra), variando de acordo com as linhas de produção que a empresa possui (LUIZ, 2009), sendo a sua maior parte integrante da área de produção, fato este verificado pelas empresas entrevistadas. Foi identificado que, como a maioria dos funcionários estão na produção, geralmente são pouco qualificados e possuem nível escolar básico. A mão de obra qualificada encontrada estava na área da qualidade das empresas, composta geralmente por químicos. Ao todo no estado de São Paulo foram quantificados 3.422 empregados no mercado (DNPM, 2010). Um dos benefícios da localização das empresas na região, segundo Entrevistado A, é que a mão de obra operária é treinada internamente pelas empresas e quando saem, estão aptas a trabalhar em outras produtoras de água mineral e o custo de transação acaba se tornando baixo.

Outro fator destacado pelos entrevistados foi a infraestrutura precária das rodovias no período do estudo. Isso engloba a segurança e o custo do produto, além da região já se localizar em uma serra dificultando o transporte principalmente das embalagens de 10 e 20 litros.

4.3.2. Demanda na região

A água serviu de vantagem comparativa e de apoio ao desenvolvimento da demanda turística na região. Por volta da década de 1910, Águas de Lindóia começou a receber seus primeiros empreendimentos voltados para água, turismo e terapia: balneários (com água mineral natural) e hotéis. Francisco Tozzi, um dos pioneiros, fundou as Termas de Lindóia com a finalidade de tratamentos, hoje também voltado para o lazer. Visando também a competitividade entre outras regiões hidrominerais (como cidades em Minas Gerais e Rio de Janeiro) o governo de Águas de Lindóia estimulou o desenvolvimento da cidade para que se tornasse uma estância hidromineral. Um dos primeiros investimentos públicos realizado foi a melhoria do sistema viário, possibilitando Águas de Lindoia se conectar com as outras cidades da região, facilitando o acesso turístico na cidade (FRANCO, 2002). Com o passar do tempo a água na região adquiriu uma imagem positiva que acabou sendo conhecida nacionalmente. Consumidores muitas vezes querem consumir a água especificamente de Serra Negra, afirma o entrevistado B. O turismo foi exuberado devido às características da água na região para fins de lazer e tratamento, com isso, o comércio local também se aflorou na venda de vestuário de malhas como blusas, jaquetas, camisetas (SEVEGNANI; SACOMANO, 2008).

A demanda da regional é suprida pelas próprias empresas de água mineral engarrafada da região, embora sejam encontrados produtos das grandes empresas, pois possuem maior poder de negociação como atacado e varejo, aumentando a barganha para o fornecimento de seus produtos.

4.3.3. Mercados correlatos na região

Os Entrevistados de empresas produtoras de água mineral engarrafada afirmaram que a maioria dos insumos necessários para a produção, como garrafas, garrafões, lacres, tampas são encontrados na região ou em cidades próximas, como Campinas. O entrevistado B levantou a oportunidade da geração de um centro de logística unificado entre as empresas, como uma maneira de melhorar a eficiência logística das pequenas empresas, aumentando o seu raio de comercialização. Os entrevistados também destacaram a necessidade da realização ou da atuação de consultorias ou serviços específicos para o mercado de água, como geólogos e químicos, profissionais estes que estão em falta e são essenciais para o funcionamento das empresas, afirmou entrevistado C.

A região possui duas empresas que produzem máquinas para a produção de água mineral engarrafada. Surgiram da família Giraldi que atuava na produção de água mineral engarrafada na década de 1970. Na década de 1980, Antônio Roberto Giraldi identificou a necessidade de automação das máquinas de higienização e envase de água mineral em embalagens de 20 litros, até então manuais, para aumentar a produção e a qualidade do produto. No final da década, Antonio Roberto Giraldi, constituiu uma empresa para o comércio das máquinas, a I.G. Indústria e Comércio de Máquinas LTDA se tornando pioneiro no setor, enquanto seus outros irmãos seguiram com o gerenciamento da empresa de produção de água mineral. A constituição de uma empresa regional de equipamentos para a produção de água mineral engarrafada fez com que aumentasse a qualidade do produto da região. No final da década de 1990 surgiu outra empresa a partir da mesma família que também começou a desenvolver máquinas para produção de água mineral engarrafada. A região do Circuito das Águas Paulista passou a contar com duas empresas de máquinas e equipamentos, aumentando a rivalidade, segundo o entrevistado F.

Segundo os empresários entrevistados, a ABINAM (Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral) não atua na região do Circuito das Águas Paulista de forma direta. Mas valorizam a associação principalmente por conseguir a isenção dos impostos PIS (Programa de Integração Social) e CONFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) na água mineral. Os entrevistados também requisitaram que a ABINAM fosse mais ativa na promoção de eventos, feiras e reuniões, como forma de estimular o setor.

4.3.4. Estratégias e rivalidade na região

O mercado de água mineral nacional passou a ter ampla capacidade de produção a partir de equipamentos automáticos, e, com a demanda crescente na década de 1990 a produção nacional aumentou. Isso aumentou a competição local entre as empresas da região havendo maiores investimentos e o surgimento de novas empresas, segundo entrevistado D.

A estratégia das empresas em Serra Negra é a competição por preço e por serem pequenas caracterizadas por uma administração familiar e informal, muitas vezes não conseguem agregar valor ao produto. As empresas de Serra Negra não se aproveitam da imagem positiva da água da região para construir uma marca e elevar o preço, segundo o Entrevistado B. O entrevistado D também relatou que em Lindóia as empresas competem de maneira diferente: através da diferenciação e do maior portfólio de produtos, sustentando o tradicionalismo da cidade neste mercado, possibilitando promover a água mineral das empresas. Algumas já passam para investimentos em produtos além da água mineral engarrafada. A Lindoya Verão, por exemplo, desenvolveu um produto de hidratação para pele que tem como base a água mineral (www.lindoyaveraothermal.com.br, S/D).

Para os entrevistados as parcerias e associações são bem vindas para melhorar a competitividade e produtividade, porém afirmaram o desinteresse por parte de muitas empresas, o que se torna controverso. O entrevistado D promoveu reuniões em 2011 a fim de estabelecer uma associação entre as empresas de Serra Negra para que se evitasse a canibalização de preço, já que a maioria compete no mercado de retornáveis (10 e 20 litros), porém afirmou que somente mais uma empresa da cidade se mostrou comprometida com o projeto. A interação ainda é fraca, e os empresários não se articulam em busca de gerar benefícios em prol do setor regional, segundo a entrevistada A. César Dib, presidente da empresa Lindóia Verão, localizada na cidade de Lindóia, e o presidente Almílcar Lopes Junior da Petrópolis Paulista, desenvolveram a proposta de fomentar a parceria entre empresas produtoras, para a constituição de uma marca comum chamada Eterna. Esta iniciativa mostrou-se como uma estratégia para estancar o problema da ineficiência logística das pequenas empresas com a possibilidade da formação de cooperativas para a produção de uma marca que poderia atingir todo o país e competir com as grandes empresas (ENGARRAFADOR MODERNO, 2008).

4.3.5. O governo na atuação regional

Existiram ações conjuntas entre os governos municipais. O Consórcio Intermunicipal de Saneamento Básico da Região Circuito das Águas (CISBRA), segundo entrevistados G e H, ambos do poder público, promove a gestão de resíduos sólidos e futuramente promoverá a gestão de recursos hídricos, com o objetivo de fortalecer a gestão ambiental urbana da região de forma compartilhada. Além disso, foi desenvolvida uma identidade visual para o Circuito das Águas Paulista (FIGURA 01) que faz alusão de ondas em uma superfície de água.

Figura 1 Logotipo do Circuito das Águas Paulista.

Descripción: Circuito_das_Aguas_Paulista.png

Fonte: (www.amparo.sp.gov.br, S/D)

Uma das ações desenvolvidas pelo poder público de Serra Negra, segundo os entrevistados G e H, é participar da FEHIDRO (Fundo Estadual de Recursos Hídricos), como um modo de desenvolver projetos e realizar a manutenção dos recursos hídricos da cidade, principalmente as fontes públicas.

Os entrevistados G e H afirmaram também não existir articulação entre os empresários e o governo local e não identificaram ações que a prefeitura poderia tomar em benefício do mercado de água mineral da cidade e da região. O entrevistado D relatou que em 2003 uma associação dos produtores de água mineral engarrafada visava uma parceria junto à prefeitura de Serra Negra para a preservação e direito de uso do nome do município presente em todos os rótulos dos produtores de água mineral engarrafada da cidade, bem como a proteção de sua qualidade e tradicionalismo, porém o poder público não se comprometeu com o projeto.

Outro fato evidenciado é que os entrevistados afirmam ter dificuldade em auxiliar as empresas produtoras, pois muitas das decisões tomadas neste mercado são de competência estadual e federal. Os empresários também destacaram a dificuldade da comercialização pela alta taxa de impostos que o governo estadual e federal estabelece sobre a água mineral engarrafada. O imposto sobre o produto é calculado através de um preço médio do produto estabelecido pelo governo, então aplicado ao produto. Segundo entrevistado C o imposto estava sendo maior que o preço cobrado pelo produto das empresas na Região. Isso levava muitas empresas a sonegarem impostos através da omissão de notas fiscais.

Quanto à atuação do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), os entrevistados apontaram a grande lentidão dos processos e a não exigência de regulamentações padronizadas que é aplicado sobre as empresas.

Com os dados das entrevistas e pesquisas foi possível analisar a interação entre os agentes locais verificando a cadeia produtiva local, chegando ao esquema da Figura 02. Existiram limitações de pesquisa referente ao acesso de dados. Era esperado que o DNPM pudesse fornecer dados específicos da região, como a produção regional de água mineral, porém o DNPM não possuía tal nível de informação, o que acarretou na não concretização do objetivo de avaliar a participação econômica do Cluster para a economia regional. Também existiu certa resistência de algumas empresas em participarem das entrevistas, dificultando o melhor desenvolvimento do trabalho e não foi possível quantificar os empregos gerados pelo mercado de água mineral engarrafada na região.

Figura 2 Cadeia Produtiva Circuito das Águas Paulista

Descripción: cadeia produtiva 1.jpg

5. Conclusão

Verifica-se que a teoria dos Clusters poderia acelerar o processo de geração de vantagens competitivas para o mercado de água mineral do Brasil, já que as empresas competem e estão concentradas geograficamente. Foi possível caracterizar o Cluster de produtores de água mineral no Circuito das Águas Paulista em estágio incipiente, embora seja evidenciado que existe a atração de empreendimentos correlatos e de suporte para as empresas produtoras de água mineral engarrafada. As iniciativas para a formação de cooperativas e associações originadas em Serra Negra também demonstrou a falta de conscientização dos próprios empresários e do poder público, de como esse arranjo organizacional poderia proporcionar a gestão e a geração de vantagens para o mercado regional, trazendo benefícios para a administração estratégica das empresas e também do recurso hídrico da região. A dinâmica e a inter-relação entre empresas e o poder público, fato esse evidenciado nos programas do Cluster de Água Mineral da Grande Natal e de Itapecerica da Serra, não se aplicou. As empresas produtoras se caracterizaram como pequenas e possuem uma administração familiar informal, onde poucas demonstram capacidade para desenvolver estratégias de diferenciação, e estão apoiadas na vantagem comparativa da região: a qualidade da água mineral e o tradicionalismo das cidades nesse mercado, além de estarem próximas a centros de grande consumo como Campinas e São Paulo, facilitando a comercialização. Foi identificado um nível muito baixo de inovação tanto em produtos quanto em processos organizacionais, embora haja indícios de que a própria pressão dos preços esteja fazendo com que as empresas desenvolvam diferenciações, como nas empresas de Lindóia, podendo ser um gatilho para a geração de inovações na região.

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1 Universidade Presbiteriana Mackenzie, Centro de Ciências Sociais e Aplicadas: vinicius_gambetta@hotmail.com, Brasil.
2 Universidaade Presbiteriana Mackenzie, Centro de Ciências Sociais e Aplicadas: reinaldias@hotmail.com, Brasil.
Este artigo é resultado de pesquisa no âmbito do Programa de Iniciação Científica da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)


Vol. 34 (11) 2013
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