Espacios. Vol. 33 (8) 2012. Pág. 12 |
Benefícios advindos do gerenciamento de resíduos de serviço de saúde na Serra Gaúcha (Brasil)Benefits arising from the management of health care waste in Serra Gaucha (Brazil)Eliana Andrea Severo 1, Pelayo Munhoz Olea 2, Cristine Hermann Nodari 3, Julio Cesar Ferro de Guimarães 4 y Eric Dorion 5 Recibido: 21-12-2011 - Aprobado: 02-04-2012 |
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RESUMO: |
ABSTRACT:
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IntroduçãoAs instituições hospitalares estão cada vez mais regidas por leis, normas, regulamentações e portarias, de diversos órgãos e instituições Municipais, Estaduais e Nacionais. Entretanto, para Silva e Souza (2003), atualmente, as instituições hospitalares são vistas como organizações conservadoras, nas quais o gerenciamento ambiental sempre fica relegado a segundo plano, em relação a sua dimensão técnica/assistencial. O meio ambiente constitui hoje um dos temas essenciais na política governamental, cada vez mais é percebido na degradação ambiental uma ameaça à saúde e ao bem-estar social. A gestão ambiental é considerada um elemento fundamental das estratégias empresariais modernas (MERCADO, 1997). Os hospitais geram diariamente toneladas de resíduos hospitalares que podem impactar o meio ambiente, caso não aconteça a segregação e o tratamento adequado em virtude de sua periculosidade e toxicidade. Vale ressaltar, que muitos desses estabelecimentos de assistência a saúde não tomam as devidas providências com relação ao correto destino de seus resíduos (OWEIS, AL-WIDYAN; AL-LIMOON, 2005). Contudo, quando gerenciados de forma inadequada, os Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) representam fontes potenciais de impacto ao ambiente e disseminação de doenças. Em relação à questão ambiental, quando os RSS não recebem tratamento apropriado e disposição final correta, ocasionam adversos impactos à saúde pública, à segurança ocupacional, e ao meio ambiente (UYSAL; T?nmaz, 2004; DIAZ; SAVAGE; EGGERTH, 2005). Os resíduos hospitalares, embora potencialmente infectantes e perigosos, são atualmente passíveis de tratamento e manejo seguro. É possível prevenir e minimizar os efeitos negativos dos RSS quanto ao meio ambiente e à saúde humana, por meio de práticas corretas de gerenciamento, bem como medidas de preservação ambiental. Consoante isso, o gerenciamento dos RSS constitui uma ferramenta essencial para que possam conciliar maior eficiência econômica e menor impacto ambiental. Tendo em vista o contexto acima, esta pesquisa tem como objetivo analisar os benefícios advindos do gerenciamento de RSS, bem como os problemas encontrados neste gerenciamento, através da análise de cinco hospitais na Serra Gaúcha (Brasil), mediante um estudo de casos múltiplos. Resíduos de Serviço de Saúde (RSS)A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sob NBR 12.807/1993 conceitua os RSS como sendo o produto residual, não utilizável, resultante de atividades exercidas por estabelecimento prestador de serviço de saúde (BRASIL-ABNT, 1993). Devido à grande diversidade de atividades desenvolvidas, um mesmo hospital pode gerar desde resíduos absolutamente inócuos, como por exemplo, entulho de construção, até os resíduos perigosos, como por exemplo, peças anatômicas contaminadas com altas doses de medicamentos (SAURABH et al., 2009; BIRPINAR; Bilgili; ERDOGAN, 2009). O primeiro passo, portanto, é conhecer a composição do resíduo produzido no hospital. Para facilitar essa tarefa, existem sistemas de classificação que permitem enquadrar a maior parte dos resíduos em grupos com características comuns. No Brasil, existem três classificações para os RSS: a da ABNT, mais geral e voltada para a aplicação prática; a da RDC ANVISA nº 306/2004 (BRASIL-ANVISA, 2004) e a do CONAMA nº 358/2005 (BRASIL-CONAMA, 2005) com caráter mais dirigido para a aplicação legal nos serviços de saúde, onde os RSS são classificados em cinco grupos, conforme a Figura 1.
Figura 1 Os RSS representam uma parcela significativa de resíduos sólidos e são compostos por diferentes divisões geradas nas suas seções, compreendendo: material perfurocortante, contaminado com agentes biológicos; peças anatômicas; produtos químicos, tóxicos e materiais perigosos como solventes; quimioterápicos; produtos químicos fotográficos; formaldeído; radionuclídeos; mercúrio; vidros vazios; caixas de papelão; papel de escritório; plásticos descartáveis; resíduos alimentares. Segregar adequadamente cada grupo desses resíduos é extremamente importante para a eficiência da segregação de RSS. Problemática dos RSSAtualmente, a gestão RSS é tema emergente na problemática ambiental (ABDULLA; QDAIS; RABI, 2008). Vários estudos têm relatado que as quantidades de resíduos gerados por hospitais variam por alterações na legislação local (ASKARIAN; VAKILI; KABIR, 2004; MOHEE, 2005; FISCHER, 2005; BDOUR et al., 2007).Studies have also discussed the opportunities for waste reduction through better management practices for both infectious and general wastes ( Nesse cenário, também, tem-se discutido as oportunidades para a redução de resíduos por meio de melhores práticas de gestão, tanto de resíduos contaminados como resíduos comuns (ALMUNEEF; MEMISH, 2003; TUDOR; Noonan; Jenkin, 2005)[Almuneef and Memish, 2003] and [Tudor et al., 2005] ).For better knowledge of medical waste generation and management, we conducted a survey to investigate the types and quantities of medical waste generated from healthcare related establishments in Taiwan.. Em termos de diretrizes para o gerenciamento, o que se observa no cenário nacional, é a falta de definição de uma política comum nas áreas da saúde e meio ambiente, enquanto os geradores ficam sem saber que atitude tomar, a sociedade, como um todo, assiste a um confuso cenário com diferentes abordagens para cada Estado e, por vezes, situações diferenciadas de um município a outro, a exemplo do que ocorre no Rio Grande do Sul (SCHNEIDER et al., 2004). Contudo, percebe-se que a responsabilidade pelo tratamento e destinação final dos RSS envolve vultosos recursos financeiros. No Brasil, considerando que os valores praticados no mercado podem variar muito de uma região para outra, a estimativa para tratamento dos resíduos hospitalares é em média R$1.000,00/tonelada, um hospital com 700 leitos produz aproximadamente 20 toneladas/mês de resíduos hospitalares, gerando o gasto de R$20.000,00/mês com o tratamento dos resíduos (NAIME; RAMALHO; NAIME, 2007). Entre as inúmeras modalidades de serviços, as atividades hospitalares podem desempenhar um papel central na mitigação ou expansão dos impactos socioambientais associados ao setor. Os hospitais, entre todas as atividades de serviços, são um dos principais consumidores de energia elétrica, além de gerarem quantidade significativa de resíduos (TOLEDO; DEMAJOROVIC, 2006). Os RSS, muitas vezes, não recebem tratamento e destinação final adequada e diferenciada conforme sua natureza, tendo por destino final o mesmo local utilizado para descarte dos demais resíduos urbanos, elevando a possibilidade de contaminação por doenças infectocontagiosas. Neste contexto, o hospital poderá desencadear epidemias, tanto pelo variado número de portadores de doenças, como também, pelos resíduos gerados (LOBO; DONAIRE, 2007). No que tange a periculosidade, os RSS apresentam riscos para a saúde de quem manipula os resíduos, mais especificamente para os profissionais da saúde e para os colaboradores que atuam nos serviços de higienização e limpeza das instituições de assistência à saúde (SCHNEIDER et al., 2004; SILVA; HOPPE, 2005; DIAZ; SAVAGE; EGGERTH, 2005). Conforme Ribeiro Filho (2001), os RSS contribuem para o aumento de riscos, o nível dos riscos está apresentado na Figura 2. A estrutura interna de um hospital pode contribuir para o aumento do risco, existindo falta de higiene, desconhecimento dos procedimentos corretos, falta de instalações ou equipamentos adequados. No entanto, externamente ao ambiente hospitalar, os riscos ocorrem para as pessoas que transitam próximo ou dentro de uma área de disposição de resíduos, sujeitas a contrair doenças, mesmo que não tenham contato direto com eles, mas sofram ações dos vetores que se proliferam nestes locais (DESCARPACK, 1997). Figura 2 Devido ao potencial poluente contra o meio ambiente e infeccioso contra a saúde humana, os RSS exigem atenção especial e técnicas corretas de manejo e gerenciamento (CAMARGO et al., 2009). Isso abarca desde a etapa de geração até o momento de disposição final. Os empregados de higienização hospitalar precisam estar preparados para executar os procedimentos de descontaminação, desinfecção e limpeza. Os funcionários das empresas que prestam serviços aos hospitais e os próprios funcionários dos estabelecimentos de saúde precisam ser conscientizados e treinados para que promovam a segregação adequada dos resíduos (BRASIL-ANVISA, 2004). Neste cenário, emerge também o desenvolvimento de tecnologias menos nocivas ao meio ambiente, ou tecnologias limpas, como são conhecidas, cujas origens encontram-se na atividade de regulação pelo Estado fortemente desenvolvidas nos Estados Unidos e Europa desde início dos anos 70 (MERCADO; TESTA, 2002). Contudo, atualmente tanto as empresas quanto as instituições hospitalares também podem se utilizar dessas tecnologias limpas em prol da diminuição do risco para a saúde e da preservação do meio ambiente. A responsabilidade no que tange as questões de saúde pública e ambiental apresenta-se como um compromisso e um dever de todos aqueles que estão envolvidos direta ou indiretamente com a saúde pública, mas fundamentalmente, de cada indivíduo em particular (SCHNEIDER et al., 2004). Da construção de uma consciência coletiva do bem comum, que é a saúde e o ambiente, é que depende o futuro das gerações que vierem a nos suceder. MetodologiaEste estudo se caracteriza por ser uma pesquisa qualitativa, por meio de estudo de casos múltiplos (YIN, 2005). De acordo com Malhotra et al. (2005), a pesquisa qualitativa proporciona uma melhor visão, e, consequentemente uma melhor compreensão do problema, também é apropriada para enfrentar situações de incerteza, quando os resultados conclusivos diferem das expectativas. Para tanto, neste estudo, através da pesquisa qualitativa, analisaram-se os benefícios advindos do gerenciamento de RSS, bem como os problemas encontrados neste gerenciamento em cinco hospitais da Serra Gaúcha (Brasil). Primeiramente, por meio de uma revisão bibliográfica, buscaram-se estudos já realizados na área, para uma base conceitual do referencial teórico. Quanto aos meios de investigação, a técnica de coleta de dados ocorreu a partir das entrevistas individuais, semi-estruturadas em profundidade (HAIR et al., 2005). As entrevistas foram realizadas com os gestores responsáveis pelo gerenciamento de resíduos e questões ambientais. As entrevistas duraram em média 55 minutos. Por razões éticas e para preservar a confidencialidade das informações específicas de cada Hospital, a identificação utilizada para os Hospitais, será H1, H2, H3, H4 e H5. Conforme Bardin (2004), a análise de conteúdo visa por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos, a descrição do conteúdo das mensagens bem como indicadores de informações suplementares que possibilitam a inferência de conhecimento. Para a análise e interpretação dos dados, o método utilizado se deu através da Análise de Conteúdo, segundo Bardin (2004). Estudo de Casos: Os Cinco Hospitais da Serra GaúchaA região da Serra Gaúcha representa o segundo maior Polo Metal-Mecânico Produtivo no Brasil. A região é conhecida pelo seu alto nível de empreendedorismo, com uma taxa de aproximadamente 14 pessoas por empresa, o que coloca a região próxima das taxas mais altas de empreendedorismo mundial. No sistema de saúde da Serra Gaúcha foram analisados 5 hospitais que têm crescido devido a um aumento da demanda nos serviços de saúde, em parte causada pelo crescimento populacional e pelo processo de descentralização dos cuidados de saúde. Conforme as informações extraídas do CNES (2009) segue a caracterização dos cinco hospitais participantes da pesquisa (Figura 3).
Figura 3 Os cinco hospitais, no ano de 2009, possuíam 942 leitos, contaram com 4.651 profissionais e realizaram 683.134 atendimentos. Destes cinco hospitais participantes da pesquisa, três hospitais, depois de passar por avaliações de seus processos, foram certificados pela Organização Nacional de Acreditação (ONA) em virtude de seu nível de qualidade. Um dos hospitais possui Acreditação Nível 3, e dois hospitais possuem Acreditação Nível 1. Resultado e DiscussõesOs benefícios advindos do gerenciamento ambiental mais citado nos cinco hospitais analisados estão demonstrados na Figura 4. Os cincos hospitais segregam corretamente os RSS de acordo com os Grupos A, B, C, D e E em virtude de sua periculosidade e toxicidade, conforme consta na legislação. Os cinco entrevistados destacaram a diminuição da quantidade de resíduo como o fator mais importante advindo do gerenciamento de resíduos. No H5, através da adoção de novas práticas de segregação, os resíduos não infectados foram segregados para os coletores de resíduo comum. Enquadraram nesse caso, o papel toalha não contaminado da Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) e a prospecção do gesso não contaminado. Neste contexto, o H5 obteve uma redução nos seus resíduos infectantes, em média 10.000 litros/mês, ocasionando uma economia mensal de R$2.000,00 no tratamento de resíduos infectantes. Figura 4 No H4 houve também uma redução nos resíduos orgânicos após a formulação de novo cardápio com a equipe responsável pela nutrição. Neste contexto, buscou-se fazer um trabalho junto aos pacientes, pois diariamente sobravam muitos resíduos alimentares. Para tanto, a equipe de nutrição realizou uma pesquisa, onde os pacientes conseguiram opinar e sugerir um cardápio mais saboroso, sem que fosse alterada a dieta do paciente. A diminuição de acidentes com material perfurocortante aparece como o segundo fator mais citado pelos entrevistados. Vale ressaltar, que muitas vezes as agulhas eram descartadas nos coletores errados, normalmente nos sacos de resíduos recicláveis, ocasionando ferimentos nas pessoas que faziam o transporte desse material. De acordo como o H5, no ano de 2009 não aconteceu acidentes de trabalho com agulhas segregadas inadequadamente. Segundo o H4 e o H3 diminuíram os acidentes com perfurocortantes, pois aconteceram treinamentos com os funcionários para a correta segregação. No H4 aconteceu 3 descartes incorretos e no H3 5 descartes inadequados. Tanto no H4 como no H3 esses dados foram registrados pelo Controle de Infecção Hospitalar que tratou de conscientizar os colaboradores quanto a importância da correta segregação dos resíduos. Algumas novas práticas ambientais também trouxeram benefícios nos hospitais analisados. Destaca-se que as novas práticas ambientais podem ocasionar benefícios tanto para o hospital, como para o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente, conforme relata uma série de estudos na área (Askarian; Vakili; Kabir, 2004; Oweis; Al-Widyan; Al-Limoon, 2005; Abdulla; Qdais; Rabi, 2008). Neste cenário, no H5 e H4 as bombonas de sabonete líquido foram reutilizadas para descarte de materiais perfurocortantes. Após o uso do sabonete líquido, as bombonas foram devidamente lavadas e readaptadas, colocou-se uma etiqueta com o símbolo de contaminado e infectante para identificar o recipiente (Figura 5). Essa prática trouxe redução nos custos de compra com o coletor rígido apropriado para o descarte do material perfurocortante, conforme relata o H4 economizaram-se em média R$ 1.250,00 mensais com a compra desse coletor. No H4 acontece campanha para reutilização do óleo de cozinha da comunidade da Serra Gaúcha. O Hospital conta com um programa que recebe o óleo de cozinha descartado, comporta esse material em um único recipiente, e posteriormente faz a doação para uma empresa que o reutiliza na fabricação de sabão em barra. No H2, o óleo de cozinha descartado do hospital também é doado para uma empresa terceirizada. Já o H5 descarta mensalmente cerca de 130 litros de óleo de cozinha, esse resíduo é vendido para uma empresa terceirizada ao custo de R$0,55/litro, sendo reutilizado para reciclagem. O H5 arrecada mensalmente R$71,50 com essa ação ecologicamente correta. Figura 5 Corroborando com Mercado e Testa (2002) que destacam que as tecnologias limpas são capazes de produzir cada vez menores impactos ambientais, algumas tecnologias limpas também foram observadas nos hospitais analisados. No H5 trocaram-se as lâmpadas comuns por outras que consomem menos energia, os monitores dos computadores foram trocados por monitores de Liquid Cristal Display (LCD) que visam também consumir menos energia, e a não emissão de radiações nocivas. No H5 está sendo iniciado um projeto para reutilização das águas da chuva. Para tanto, está sendo colocado 5 caixas de concreto para a coleta de água, que posteriormente será reutilizada para regar o jardim e lavar o pátio externo. Pretende-se economizar 5% no consumo de água do hospital. No H4 foi implantado sensor de presença nos banheiros, diminuindo o consume de energia elétrica, todas as torneiras foram trocadas por torneiras de pressão de 18 segundos, acabando com os vazamentos de água. O H4 tem como meta colocar sensor de presença nos corredores e escadaria do hospital. Consoante isso, essas tecnologias limpas implementadas pelo H5 e H4 beneficiaram a redução de custos nos hospitais bem como ocasionaram ações ecologicamente corretas. O H3 criou programas de cunho ambiental, tanto interno quanto externo, em 2009 os investimentos em ações ambientais foram de 0,044% em relação ao seu faturamento anual. Para o público interno foram desenvolvidos os programas:
Para o público externo foi desenvolvido o programa:
Problemas Encontrados no Gerenciamento de RSSNo que tange os problemas encontrados nas práticas de gerenciamento de RSS adotadas nos hospitais da Serra Gaúcha, o mais destacado pela maioria dos entrevistados foi a falta de conscientização e comprometimento dos funcionários em relação à segregação de RSS. No H2 alguns funcionários acabam segregando inadequadamente, misturam o resíduo reciclável com o contaminado, ou vice versa, assim o hospital acaba gastando mais com o tratamento dos resíduos. Para o H4 ainda deve-se melhorar o conhecimento do profissional sobre a importância da segregação, o grande desafio é tentar gerar menos resíduo. Perante o exposto, questiona-se o treinamento que efetivamente acontece com os funcionários dos hospitais, percebe-se que o treinamento não ocasiona eficiência e comprometimento na segregação dos resíduos, pois a falta de conscientização e comprometimento dos funcionários foi evidenciada por quatro entrevistados. Outro problema, ressaltado pela maioria dos entrevistados, foi a ausência de participação dos médicos nos treinamentos de segregação de RSS, seja por falta de tempo ou por desinteresse. Vale ressaltar, que muitos médicos não trabalham em tempo integral e os atendimentos ocorrem em dias e horários variados, nem sempre compatíveis com os dias de treinamento. Quatro entrevistados relataram que no ano de 2009 houve acréscimo de resíduos infectantes com a epidemia da Gripe A H1N1. Com o surto que aconteceu no País, os hospitais se precaveram, aumentou o uso de máscaras e luvas pelos funcionários, em virtude do registro de casos de Gripe na região. Consoante a isso, a quantidade de resíduo infectante aumentou, bem como os valores gastos para o seu tratamento e disposição final. O destino dado aos efluentes hospitalares também foi destacado por três dos entrevistados, ou seja, três hospitais não possuem Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), lançam seus efluentes na rede coletora, contaminando os corpos de água da região. A devolução do efluente hospitalar ao meio ambiente deverá prever o tratamento da água, seguido de lançamento adequado no corpo receptor (BIRPINAR; BILGILI; ERDOGAN, 2009). Segundo a RDC ANVISA nº 306/2004 os resíduos líquidos provenientes de esgoto e de águas servidas de estabelecimento de saúde devem ser tratados antes do lançamento no corpo receptor ou na rede coletora de esgoto, sempre que não houver sistema de tratamento de esgoto coletivo atendendo a área onde está localizado o serviço (BRASIL, ANVISA, 2004). Os três entrevistados estão conscientes da problemática do destino inadequado dos efluentes e estão procurando solucionar este problema. Entretanto, o alto valor para implantação da ETE tende a ser analisado em detalhes, de tal forma a diminuir os custos operacionais, pois a receita na maioria dos hospitais é limitada aos valores propostos pelos planos privados de saúde e pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Percebe-se que há falta de recursos financeiros para fazer cumprir a legislação. Outro problema enfatizado pelo entrevistado do H5 se trata da disponibilidade de empresas especializadas na incineração de resíduos infectantes. Na região da Serra Gaúcha, existe somente uma empresa terceirizada que faz a incineração desses resíduos. Isso restringe a possibilidade de se fazer orçamentos com outras empresas do ramo, na busca de um preço mais baixo, pois os custos para incineração são altos. ConclusõesNo que tange os benefícios advindos do gerenciamento ambiental, constatou-se que os RSS exigem atenção especial, bem como técnicas corretas de gerenciamento, pois, devido a sua toxicidade, são potencialmente poluentes e impactantes no meio ambiente e na saúde humana. Os hospitais que se isolarem, ou ficarem à margem do processo, com o objetivo de só obter lucro, serão ultrapassados por aqueles que buscam a qualidade em saúde humana e qualidade em serviços de saúde e meio ambiente. Pode-se afirmar que a implantação da segregação de resíduos propiciou benefícios nos hospitais estudados. Para todos os hospitais, ocasionou uma redução de RSS, bem como o uso de materiais ambientalmente corretos, além da redução de custos e a eliminação de desperdícios. Vale ressaltar que em um hospital, houve a criação de programas de cunho ambiental que trouxeram benefícios para a comunidade local. Todos esses benefícios perante a problemática ambiental contribuem para a preservação dos recursos naturais e da saúde humana. Em quatro hospitais analisados, os problemas advindos do gerenciamento de resíduos abarcam a falta de conscientização e comprometimento dos funcionários em relação à correta segregação de RSS, assim fica questionada a eficácia dos treinamentos aplicados aos funcionários, pois se fossem eficientes, o problema não aconteceria. Também foi ressaltada a ausência de participação dos médicos nos treinamentos de segregação de RSS. Neste contexto, o destino dos efluentes líquidos hospitalares, também é enfatizado pelos três hospitais que não possuem ETE, confirmando, de certa forma, a dificuldade de implantar uma ETE, devido ao alto custo, bem como aos poucos recursos financeiros disponíveis nos hospitais. Problema secundário se trata da falta de empresas especializadas em incineração de RSS. A relevância da proposta deste estudo está no fato de que as informações levantadas propiciarão à comunidade acadêmica e aos profissionais das áreas afins, uma melhor compreensão em torno da segregação de RSS, de seus benefícios e problemas no que tange a saúde pública e o meio ambiente. Por fim, destacam-se as limitações deste estudo no que se refere à sua capacidade de generalização, visto que foi explorada a realidade de 5 hospitais. Por conseguinte, sugere-se uma análise mais abrangente, avaliando os benefícios ocasionados pelas práticas de segregação de RSS, aplicadas diretamente a outros hospitais de determinada região. Em acréscimo, são pertinentes estudos que enfoquem a comparação entre regiões, setores ou até mesmo diferentes percepções entre diversos atores inseridos neste contexto. ReferênciasAbdulla, F, Qdais, H. A., Rabi, A. (2008), Site investigation on medical waste management practices in Northern Jordan. “Waste Management” 28 (2), p. 450-458. Almuneef, M., Memish, Z. 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